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No ano de 2003 foi promulgado o Decreto nº 4.887/2003, com a finalidade de dar operacionalidade ao artigo 68 da ADCT. Em 2004 o Partido da Frente Liberal (PFL, atualmente Democratas) e várias organizações representativas do agronegócio ingressaram com a Ação Direita de Inconstitucionalidade (ADI) nº 3239/2003, para que o Decreto fosse declarado inconstitucional. O processo perdurou por 15 anos em trâmite no Supremo Tribunal Federal do Brasil (STF), sendo o Decreto declarado constitucional apenas em 20186 .

No embate político-jurídico foi rapidamente formado um arco de apoio ao partido ingressante da ação, formado pela Sociedade Rural Brasileira, a Associação Brasileira de Celulose e Papel, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Confederação Nacional das Indústrias (CNI). A Advocacia Geral da União (AGU) se posicionou na ADI em defesa da constitucionalidade do Decreto, assim como a Procuradoria Geral da República. Da mesma forma, foi formado um campo de intervenção em defesa do Decreto, os Amici Curiae. E em prol das comunidades quilombolas reuniram-se o Estado do Pará (através do ITERPA – Instituto de Terras do Pará), associações quilombolas de diversos Estados, assim como diversas ONG’s, entre elas, o Centro pelo Direito à Moradia contra despejo forçado (COHRE), a Justiça Global, a Terra de Direitos, a Sociedade Brasileira de Direito Público e outras.

No momento, a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) sinaliza a existência de um número superior a 6.000 quilombos no Brasil, enquanto o Estado brasileiro reconhece a existência de aproximadamente 3.500.

O Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) trabalha em cerca de 3.000 quilombos em seus procedimentos de titulação e regularização fundiária. Conforme o Relatório Racismo e Violência contra quilombolas no Brasil (2018), entre 2003 e 2018 foram emitidos 116 títulos de titulação coletiva territorial aos quilombos.

Os números do orçamento federal apontam que os recursos destinados às indenizações para fins de titulação de territórios quilombolas entre os anos de 2010 e 2018 foram reduzidos de R$ 54 milhões reais para pouco mais de R$1 milhão de reais.

Além dos dados e orçamentos, caso fôssemos realizar uma leitura da conjuntura política - jurídica, econômica e fiscal, assim como das alterações normativas, das modificações das estruturas institucionais no Governo Federal, do esvaziamento das políticas públicas (educação, saúde, participação, comunicação, cultura e agricultura familiar), dos cortes em programas sociais (bolsa família, programa mais médico e outros), da falta de representatividade política em instâncias de

6 ADI nº 3.239 contra o Decreto nº 4.887/2003, que regulamenta o artigo 68 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB/1988). O Decreto prevê o reconhecimento, demarcação e titulação dos territórios quilombolas. Disponível em <http//:www.stf.gov.br>. Acesso em :20 de mai. 2015.

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poder, acoplando os discursos do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário nos últimos 03 anos, a síntese seria : o Racismo é estruturante no Brasil.

Os dados orçamentários, as informações (várias retiradas dos sites oficiais do governo federal) e notícias sobre a temática quilombola são alterados com frequência nos últimos meses (2019). A publicação da Medida Provisória nº 870, de 01 janeiro de 2019, no dia da posse do Presidente Jair Bolsonaro, desestruturou as instituições e ministérios responsáveis pelas políticas públicas e até o momento (maio de 2019) as novas diretrizes não estão delineadas. O desafio atual é estabelecer uma rede de proteção local, nacional e internacional para atravessar um período de possíveis retrocessos. A defesa de direitos constitucionais e dos direitos humanos deve garantir o acesso cotidiano dos(as) quilombolas aos seus territórios.

Conforme demonstra o Relatório Racismo e Violência contra Quilombos no Brasil, além das violências físicas e psicológicas contra as pessoas, em várias regiões do Brasil, o que está e m curso é a transição do modelo econômico neodesenvolvimentista (2000-2012), de combinações e compensações nos quais os conflito sócio-ambientais, econômicos, culturais, raciais e políticos eram mediados por algumas instâncias de poder no Governo federal, por vezes de maneira ineficaz, para a uma lógica predatória, neoextrativista, racista e neocolonial, onde a única plataforma é a radicalização do neoliberalismo. As instituições, principalmente do Governo federal, enxergam a natureza, os modos de vida comunitários e as diferenças interculturais como inimigas.

Por outro lado, o mesmo relatório aponta que é nos quilombos, através das mulheres quilombolas, que há uma comunicação efervescente que dialoga para si e para outros grupos (movimentos sociais, organizações não-governamentais e outros), apontam para suas ancestralidades e aproximam formas de uso do comum, da produção de conhecimentos e articulação com assessoria jurídica popular, assim como evidenciam, para o mundo exterior, uma consciência étnica-racial, cultural e territorial proveniente de uma “memória biocultural” (Toledo 2015), que através da circularidade das experiências se transmite oralmente indicando as resistências (re - existências) das lutas contra todas forma de racismos e violências, e o fazem pelo bem viver7 .

7 Quilombolas (2014) – Documentário - Um filme de Ale Maciel Produção: Imagine Filmes - www.imaginecultura.com.br – Sinopse: “O modelo de desenvolvimento com abordagem territorial que o movimento da Economia Solidária e a Senaes/MTE vem debatendo e construindo com a sociedade brasileira no último período, dialoga diretamente com os valores e princípios que o movimento quilombola e as comunidades tradicionais vêm praticando cotidianamente nos seus territórios seja através da sua cultura, seja pelo aspecto ambiental – protegendo as matas, os rios, a flora e a fauna. Dentro deste contexto, a Senaes/MTE, apoiou ao movimento quilombola, por meio do Confederação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) e seu envolvimento na execução de um projeto com a finalidade de contribuir para a construção de uma política pública de economia solidária considerando a realidade quilombola. Tal iniciativa teve seu reconhecimento na medida em que Ronaldo Santos (liderança quilombola do RJ) afirmou que foi a "primeira vez que o movimento quilombola propôs e executou uma política pública em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro / Núcleo de Solidariedade Técnica (UFRJ/SOLTEC) e governo federal". Os resultados desta ação foram animadores. Eles atestam que o modelo

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José Maurício Arruti (2006: 107), ao realizar uma abordagem sobre as origens do movimento quilombola nos anos de 1990, aponta que é necessário o rompimento com as categorias tradicionais de análise dos movimentos sociais, visto que, as comunidades quilombolas constituem um campo de “re-semantização que integraliza a ideia étnico- camponesa”.

1. A EXPERIÊNCIA DO RELATÓRIO RACISMO E VIOLÊNCIA CONTRA QUILOMBOLAS NO BRASIL (2018)

O Relatório Racismo e Violência contra Quilombos no Brasil, publicado pela Organização Não Governamental Terra de Direitos8 e a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ)9, foi elaborado em parceria com o Coletivo de Assessoria Jurídica Popular “Joãozinho de Mangal” e a Associação de Advogados(as) de Trabalhadores(as) Rurais da Bahia (AATR) com o objetivo de trazer o primeiro documento sistematizado e produzido por lideranças quilombolas da CONAQ em parceira com Assessoria Jurídica Popular (AJUP) sobre os racismos no Brasil e apontar formas de resistências para manutenção de direitos conquistados no Século XX – especialmente na CFRB 1988 – dentro de um contexto de enfretamentos contra retrocessos dos direitos humanos no Século XXI.

“Os dados apresentados registram a ocorrência de 18 assassinatos de quilombolas em 2018, Números alartamentes não só pela frequência (mais de um assassinato por mês), como também pea extensão da violência (...) Para além do fato de o número de assassinatos ser preocupante, quilombolas sofreram processos múltiplos de biolencia em variadas intensidades : ameaças, torturas, prisões ilegais, despejos e negação sistemática de acesso a bens e serviços (...) parte permanente deste cenário o racismo religioso e institucional, bem como os conflitos em face de interesses políticos e econômicos transnacionais que se expandem sobre os territórios. As várias situações de violência mapeadas são reveladoras do estado de vulnerabilidade em que os quilombos se encontram atualmente, dando indicações do tipo e dos níveis dos ataques à vida, às relações culturais, às identidades, aos meios de subsistência e à posse sobre os territórios. (Relatório, 2018, p.18).

Todo esse trabalho de investigação foi pensado e construído por quilombolas, diversas instituições e pesquisadoras(es) estiveram engajadas(os) na elaboração do Relatório com ênfase no engajamento das mulheres quilombolas de diferentes regiões do país.

de desenvolvimento territorial sustentável e solidário envolve as comunidades respeitando a sua identidade, a sua própria forma de vida, os seus saberes, o jeito de fazer as coisas e viver feliz. A coerência no pensar e agir de toda equipe envolvida no apoio e realização do projeto para o etnodesenvolvimento no país possibilitou cumprir esta importante tarefa que certamente não se encerra aqui. Vida longa para o etnodesenvolvimento e as comunidades tradicionais que preservam e constroem outro modelo de desenvolvimento para o Brasil. Equipe SENAES /”em". Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=Dy1aGy1pZY4&feature=share>. Acesso em 30 mai.2019.

8 Terra de Direitos. Disponível em <https://terradedireitos.org.br/>. Acesso em: 30 de mai. 2019.

9 Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas. Disponível em <http://conaq.org.br/>. Acesso em: 30 mai. 2019

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O Relatório é uma denúncia, mas também um instrumento de pesquisa para aferição dos processos de criminalização contra lideranças, dos ataques contra os quilombos (homicídios e outros), das ameaças físicas e psicológicas (individuais e coletivas), dos atos violentos por ação e omissão do Estado, ao mesmo tempo, que demonstra a defesa permanente das quilombolas do seus territórios enfrentando os racismos (institucional, estrutural e ambiental), os discursos de ódio, de intolerância e discriminação na sociedade brasileira e nas instituições do Estado.

“O racismo é elemento estruturante dessas violências: seja o r acismo institucional – presente na historia de negação do acesso à terra ao povo negro escravizado e seus descendentes -, seja o racismo epistêmico e econômico que considera a vida negra descartável e, portanto, não humana. A elite econômica e política, em sua maioria comandada por homens brancos e descendentes de escravocratas, mantém um sistema de privilégios e riquezas que resulta da exploração do trabalho de negras e negros e do seu sistemático não acesso a políticas e recursos”. (Relatório, 2018, p. 19 ).

O recorte temporal do Relatório 2018 está compreendido entre os anos de 2008 a 2017, abrange as cinco regiões do Brasil e está organizado em seis capítulos. No primeiro capítulo o Relatório 2018 traça uma análise histórica e conjuntural sobre a dimensão das questões quilombolas no Brasil, sob o título, “O quilombo fala: Enegrecer o debate sobre violência estrutural e políticas públicas nos territórios quilombolas”. No segundo capítulo, “Mapeando a violência contra quilombos no Brasil” é apresentado um mapeamento das violências enfrentada pelos quilombos no Brasil.

No terceiro capítulo, “Avanços e retrocessos na política pública de titulação dos territórios quilombolas”, o relatório constata o racismo institucional diante da ineficácia do Estado brasileiro em titular os territórios quilombolas. No quarto capítulo, “Violência e retrocesso na luta por direitos quilombolas na Bahia”, a AATR apresenta a situação especifica do estado da Bahia que conta com 736 quilombos reconhecidos pela Fundação Cultural Palmares (FCP), ou seja, com certidões expedidas e procedimentos abertos para fins de titulação pelo Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), conforme determina o Decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003.

O estudo de caso centrado no Estado da Bahia demonstra que é nessa região do Brasil (Nordeste) que entre os anos de 2016 e 2017 o número de homicídios contra quilombolas aumentou de forma drástica, visto que foram reportados os assassinatos de 11 quilombolas apenas na Bahia. No capítulo cinco, “A importância da assessoria popular como estratégia de lutas para as comunidades quilombolas”, Carlos Frederico Marés de Souza Filho apresenta a formação da AJUP no Brasil e atuação de grupos em defesa dos direitos humanos a partir de uma perspectiva contrahegemônica e coletiva, ou seja, das medicações entre o político e o jurídico em uma

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compreensão ampliada de mobilização por direitos. O destaque é a consolidação do Coletivo de Assessoria Jurídica Popular Joãozinho do Mangal, em 2016.

Por fim, o capítulo seis, “Mulheres da CONAQ: organização e luta pela vida das mulheres quilombolas”, é apresentado pelo Coletivo de Mulheres da CONAQ criado em 2015 e que atua em consonância com as pautas antirracistas dos movimentos negros, do combate às violências impos tas aos corpos das mulheres, em uma dimensão individual e/ou coletiva,

“Os assassinatos de mulheres quilombolas ocorreram nos anos de 2008, 2013, 2015, 2016 e 2017. O número de ocorrências de assassinatos de mulheres no período mencionado coloca em discussão os seguintes elementos: (1) as violências contra mulheres são invisibilizadas com subnotificação dos casos de assassinatos de lideranças quilombolas mulheres; (2) muitos casos são considerados como feminicídios comuns e não decorrentes da luta pelo território e/ou defesa dos direitos humanos; (3) a exposição das mulheres a maior risco registra-se, sobretudo nos últimos anos, quando passaram a assumir papéis de liderança pública”. (Relatório, p. 54)

O Relatório, ao resgatar a autora Beatriz Nascimento, presta um reconhecimento a uma das intelectuais negras brasileira que colaboraram para uma outra abordagem sobre a questão racial no Brasil. Ela e Abdias Nascimento propuseram que as principais ressignificações das análises históricas e sociológicas sobre o processo de escravidão constituíram percepções que fossem narradas a partir da rebeldia dos quilombo, ao invés da repetição de jargões sobre uma ideia de resignação da população negra diante dos desafios, a tentativa política e científica de retratar uma sociedade e o Estado brasileiros sob os auspícios da democracia racial, assim como a ruptura com relatos que apenas manifestassem as violências (torturas, estupros e outras) e submissão das(os) negros. O giro epistêmico se constitui como aglutinador de outras memórias e de autoestima da população negra brasileira.

CONSIDERAÇÕES FINAIS :

A mobilização por direitos humanos a partir da realidade social, política, cultural e econômica dos quilombos não é novidade no Brasil. O Boletim Informativo NUER, em 1997, inicia uma série de estudos sobre identidade e relações interétnicas.

A Procuradora da República do Ministério Público Federal do Brasil Deborah Duprat (2007), a partir de sua atuação em defesa das comunidades quilombolas, condensou os principais contributos políticos-jurídicos de quase duas décadas após a Constituição Federal da República do Brasil (1988) para constituir um arco de defesa argumentativa contra os avanços de legislações no Congresso Nacional Brasileiro contra os direitos humanos. Na obra Pareceres Jurídicos – Direito

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dos Povos e das Comunidades Tradicionais o conceito trabalhado é o direto pluriétnico e multicultural (2007), a defesa da posse, do processo de desapropriação, das formas de titulação e delimitação dos territórios são apresentados com o intuito de aproximar o sistema de justiça da temática quilombola.

A produção de materiais, como o Relatório Racismo e Violência contra Quilombos no Brasil, é que, nas elaborações dos relatórios de violações de direitos humanos, nas formas de resistência, na promoção, na defesa destes direitos, assim como nas atividades de mapeamento territorial, nos censos demográficos e nas cartografias sociais (Acselrad 2013), se fazem perceptíveis os indicadores de políticas públicas com a finalidade de estabelecer mudanças (permanências) sociais, políticas, econômicas e culturais.

Nesse mesmo sentido, a assessoria jurídica popular trabalha em diversas frentes de produção. Por exemplo, além dos relatórios, petições e denúncias, buscou-se através da técni ca jurídica reforçar sua posição junto ao Supremo Tribunal Federal do Brasil em face do julgamento da Ação Direita de Constitucionalidade nº 3239, produzindo, em 2015, a obra Direito Constitucional Quilombola, organizada por Fernando Prioste e Eduardo Araújo (2015).

As constantes denúncias de violações de direitos humanos das(os) quilombolas por parte dos empreendimentos do capitalismo (mineração, monocultura e exploração de bens naturais), naturalização do racismo (institucional) e a ação (omissão) dos Estados em fatos denunciados perante o Sistema de Justiça (interno e internacional), demonstram que o período de defesa desses direitos de reconhecimento dos atores sociais precisam estar articulados com outras experiências, mesmo que incompletas, mas que tenham um impacto global- local.

O racismo, o classismo, o patriarcado-machismo, o imperialismo e o (neo)coloniaslimo fazem parte de uma ideologia assentada no capitalismo (neoliberalismo) que atravessa as democracias atacando suas instituições e fragilizando os grupos subalternizados, conforme aponta as autoras do Relatório,

“ Gênero, raça e classe, para ficar com ao menos três marcadores sociais importantes, estruturam as relações socioespaciais no Brasil. O processo de criminalização, ataques, ameaças, atos violentos e assassinatos presente nos quilombos possui relação direta com sua defesa e com a garantia de permanência no território. Defender seu espaço e seu modo de vida são ações historicamente negadas às e aos quilombolas, dentre outras razões, pela estrutura fundiária existente no país, consolidada ao longo da exclusão racista no acesso à terra e pela ausência de reparação ao povo negro pelos

mais de 300 anos de escravidão”. (Relatório, 2018, p.30)

Neste sentido, se a materialização da liberdade surge em contextos de conflitos por justiça social através dos enfretamentos às violências coloniais, nas lutas por dignidade e da afirmação histórica de direitos (Davis, 1981, 2018; Fanon, 1975, 2015; Porto-Gonçalves, 2016), na questão

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quilombola, o combate permanente contra o racismo é que proporciona mudanças de paradigmas na sociedade brasileira. Os conflitos também visto enquanto constitutivos da política revelam (alteram) os dados socioeconômicos e normativos, ampliam valores culturais e dinamizam mobilizações por direitos humanos, por isso, o Relatório constituí uma narrativa, feita por histórias e memórias individuais e/ou coletivas que reclamam o direito a futuros.

Por fim, se são as análises históricas, antropológicas e políticas (acadêmicas) sobre os quilombos que apontam para estes enquanto mobilizadores ou sujeitos coletivos de direitos humanos, é na ancestralidade que estão as “memórias bioculturais” (Toledo, 2015) que transcendem categorias analíticas e espaço- tempo.

O que está dado no presente, pelo quilombos e suas assessorias são sabares-fazeres da fusão do real com o utópico em uma conjuntura global-local dos direitos humanos na qual o encantamento pelo mundo parece esmorecer, o Relatório aponta para o protagonismo das mulheres quilombolas em suas lutas diárias, a partir das suas histórias (orais e escritas) e nos processos (re)existências que produzem lugares e outras fronteiras de confronto aos racismos contribuindo para expansão teórica e prática da mobilização por direitos humanos(Santos, 2007). As mulheres quilombolas ao estremecer as zonas de conforto do pacto da branquitude brasileira fazem como Zumbi e Dandara, projetam atravessar mais um século aterrorizando a Casa Grande, visto que, ninguém voltará para Senzala.

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ARAÚJO, Eduardo F. de RACISCMO E VIOLÊNCIA CONTRA

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AUTORES:

Eduardo F. de Araújo

Professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no Departamento de Ciências Jurídicas – Santa Rita. Bacharel em Direito. Especialista em Direitos Humanos. Mestre em Ciências Jurídicas. Doutorando na Universidade de Coimbra (Doutorando no Centro de Estudos Sociais). Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro-brasileiros da UFPB. Integrante do Coletivo Joãozinho do Mangal – Assessoria Jurídica Popular - da Coordenação Nacional das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – (CONAQ). Associado da Associação Brasileira de Pesquisadoras(es) Negras (os) (ABPN).

E-mail: eduardo.f.ojuara@gmail.com

Givânia Maria da Silva

Educadora e quilombola. Graduada em Letras e especialista em Programação de Ensino e Desenvolvimento Local Sustentável. Mestra em Políticas Públicas e Gestão da Educação pela Universidade de Brasília (UnB). Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UnB. Integrante do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e do Grupo de Estudo Mulheres Negras ambos da UnB. Bolsista do CNPq. Fundadora CONAQ. Associada e integrante do Conselho Fiscal da ABPN. Autora do livro Educação e Luta do Quilombo de Conceição das Crioulas, Ed. Appris, 2016.

E-mail: givaniaconceicao@gmail.com

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LA DINÁMICA EXTRACTIVA DEL CAPITAL COMO AMENAZA PARA LA REPRODUCCIÓN DE LA VIDA. ALGUNAS REFLEXIONES DESDE LA ECOLOGÍA POLÍTICA Y EL MARXISMO EN TORNO A LA NOCIÓN DE “PROYECTOS DE MUERTE* ”

Francisco Javier Hernández Hernández Benemérita Universidad Autónoma de Puebla (BUAP)

RESUMEN

Alo largo de la última década, la noción que clasifica a los diversos proyectos de carácter extractivo como algo antagónico a la vida, bajo la categoría común de “proyectos de muerte” ha cobrado relevancia tanto en su uso como en su extensión en prácticamente todos los países de América Latina, principalmente por parte de comunidades, organizaciones y colectivos que se oponen a la minería, el fracking, las hidroeléctricas o algún otro proyecto de carácter extractivo. En este sentido, cabe reconsiderar la importancia de la noción dicotómica vida-muerte en el contexto de las luchas contra los otrora llamados “megaproyectos” no sólo como una categoría de lucha o una categorí a politizada, sino también como una clave para el análisis de las repercusiones socio-ecológicas que los proyectos extractivos causan sobre las diversas formas de vida. El presente trabajo consiste en una serie de reflexiones teóricas desde la ecología política y el marxismo en torno a cómo la dinámica del capital transforma radicalmente la vida humana y no humana para hacerla susceptible de ser subsumida a la lógica del valor, refuncionalizando los flujos de materia-energía del trabajo vivo, los valores de uso y la naturaleza.

Palabras clave: Metabolismo. Ecología Política. Marxismo. Vida. Muerte.

THE EXTRACTIVE DYNAMICS OF CAPITAL AS A THREAT TO THE REPRODUCTION OF LIFE. SOME REFLECTIONS FROM POLITICAL ECOLOGY AND MARXISM AROUND THE NOTION OF "DEATH PROJE CTS"

ABSTRACT

Over the last decade, the notion that classifies the different projects under the common label of “death projects” and, therefore, to the extractive industry as something antagonistic to the life, it has become relevant in both ways, in its use and its extension in almost all the countries of Latin America, mainly by communities, organizations and colectives that oppose to the minning, the fracking, the hydroelectric or some other extractive project. It is worth reconsidering the importance of the life-death dichotomy in the context of the struggles against the so-called “megaprojects” not only as a category of struggle or a politicized category, but also a key to the analysis of the socio - ecological repercussions that extractive projects cause on different forms of life. In this sense, the present work consist of a series of theoretical reflections from political ecology and Marxism about how the dynamics of capital radically transforms human and non-human life to make it susceptible

* El presente trabajo es una síntesis de algunas de las reflexiones centrales de mi tesis “Vida, muerte y lucha en la Sierra Norte de Puebla. Una reflexión en torno a la Asamblea de los Pueblos Maseual, Totonaku y Mestizo en Defensa de la Vida y el Territorio”, presentada a examen de titulación en enero de 2019 para obtener el grado de Maestro en Sociología por el Instituto de Ciencias Sociales y Humanidades “Alfonso Vélez Pliego” de la Benemérita Universidad Autónoma de Puebla (ICSyH-BUAP), principalmente de los apartados 1.1.2. y 2.6.

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HERNÁNDEZ, Francisco Javier Hernández

LA DINÁMICA EXTRACTIVA DEL CAPITAL COMO AMENAZA PARA LA REPRODUCCIÓN DE LA VIDA.

to being subsumed to the logic of value re-functionalizing the matter-energy flows of living labor, the values of use and nature.

Keywords: Metabolism. Political Ecology. Marxism. Life. Death.

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HERNÁNDEZ, Francisco Javier Hernández

LA DINÁMICA EXTRACTIVA DEL CAPITAL COMO AMENAZA PARA LA REPRODUCCIÓN DE LA VIDA.

INTRODUCCIÓN

Ante la proliferación de proyectos mineros, hidrocarburíferos e hidroeléctricos (entre otros de corte extractivista) acaecida a lo largo de las dos últimas décadas en América Latina, numerosos pueblos y comunidades indígenas y campesinas de la región han desplegado diversos procesos de resistencia y articulación en defensa de sus territorios. Dichos sujetos de lucha han ido coproduciendo un sentido común de disidencia desde el cual se enuncia a los distintos proyectos de corte extractivista como algo antagónico a la vida, tanto en la enunciación de consignas como “SI a la VIDA, No a la Mina”, “Ríos para la VIDA, NO para la MUERTE”, “La Vida vale más que el Oro”, como en la bajo la etiqueta común de “proyectos de muerte”. Más que una metáfora bien aplicada con una gran potencia simbólica y movilizadora, se considerará aquí que, incluso en términos materiales (aunque no solamente), los distintos proyectos extractivos representan una amenaza para la vida en más de un sentido.

Pero ¿de qué manera podemos abordar que los proyectos extractivos son algo antagónico a la vida, a tal punto que la noción “proyectos de muerte” puede ser considerada como algo real, material y no meramente metafórico? Si bien el espacio dispuesto para este artículo no permite desarrollar con detalle las claves centrales desde las cuales entendemos la vida, me limito a enunciar de manera sintética algunas de las reflexiones realizadas al respecto.

Desde una perspectiva sistémica, Fritjof Capra (1998) propone que la vida no puede ser entendida desde la perspectiva del individuo, sino que toda forma de reproducción implica la realización de una serie de relaciones e intercambios metabólicos en constante flujo entre la diversidad de seres vivos, comunidades bióticas, en y con el entorno geográfico “inorgánico” y los elementos abióticos1, a manera de trama o tejido.

En el caso de los grupos humanos, a diferencia de otros animales, la forma en la que se relacionan con la naturaleza que les es externa para lograr satisfacer sus necesidades de reproducción no está determinada por el instinto. En este sentido, Bolívar Echeverría (2010) retoma la noción sartreana de que “el hombre está condenado a su libertad”, por lo cual, el ser humano requiere - y tiene la capacidad - de darse forma, tanto en la manera como lleva a cabo las relaciones metabólicas con la naturaleza que le es externa, como en la manera en que se organiza y se

1 Dentro de los aspectos del entorno geográfico “inorgánico” y los elementos “abióticos” consideramos no sólo los elementos considerados desde las ciencias como “no vivos”, como el agua, los nutrientes y minerales presentes en la tierra y la roca, etc., sino también los ciclos de los hidrológicos, el curso de los vientos, la diversidad topográfica, la cantidad de radiación solar en ciertas épocas del año, entre otros aspectos que condicionan los flujos y relaciones del metabolismo de la trama de la vida en determinada región o territorio.

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conforma como sujeto social. Tanto la forma como las relaciones, están a su vez mediadas por el lenguaje y lo simbólico, en el proceso “permanente y en marcha” de significación del mundo 2

(Gutiérrez et al., 2016). Las relaciones de producción, distribución, consumo, reproducción, cooperación comunicación y significación, así como las de poder y dominación, es decir, todas las relaciones entre sujetos desplegadas al interior del proceso de reproducción social, así como las relaciones entre sujetos humanos y la naturaleza no humana, parten del establecimiento y conformación-transformación3 de ciertas relaciones metabólicas.

Podemos decir que toda actividad humana implica una transformación, alteración o modificación metabólica en mayor o menor medida4 sobre la trama de la vida5. Toda forma y proceso de reproducción humana como es una forma de relación - o conjunto de relaciones - geo - socio-metabólica6, pues implica el establecimiento de determinadas relaciones de intercambio y transformación de materia-energía (metabolismo), así como de producción y consumo de naturaleza, relaciones sociales y objetos con valor de uso.

Sin embargo, no todas las sociedades y sus respectivos modos de producción transforman o alteran por igual las relaciones metabólicas a través de la trama de la vida. Al respecto, Jason Moore en su capitalism in the web of life (2015) refiere que las relaciones socio-metabólicas del capital han trastocado radicalmente el metabolismo de dicha trama por lo que podemos hablar ya de una nueva era geológica denominada capitaloceno.

Pero ¿qué tiene qué ver todo esto con los nuevos ciclos de despojo y devastación de las formas y condiciones de la reproducción de la vida ante la avanzada de la frontera extractivista y la intensificación de su capacidad destructiva?

El presente artículo consiste en una serie de reflexiones teóricas en torno a la forma en la que el capital actúa modificando y trastocando radicalmente los flujos metabólicos de la trama de la

2 Y en sentido inverso, lo simbólico, el lenguaje y los procesos de significación están condicionados y mediados por las relaciones materiales. En este sentido, no podemos escindir lo simbólico de lo material, sino que serán considerados como dos aspectos del mismo proceso de reproducción social.

3 Utilizo el par conformación-transformación siguiendo algunas de las nociones sartreanas retomadas tanto por Gutiérrez, Navarro y Linsalata (2016) como por Echeverría (1998, 2010), en el sentido de que la forma y las relaciones establecidas - la conformación - no son algo dado, de una vez y para siempre, sino que requieren de una reactualización - transformación constante, como proceso permanente y en marcha.

4 Respecto a los momentos de la historia de la tierra previos a la aparición del homo sapiens, o respecto a épocas en regiones específicas, previo a la llegada o asentamiento de grupos humanos.

5 Transformación no necesariamente en términos destructivos.

6 Geo-socio-metabólico refiere al metabolismo social, contemplando los aspectos de la naturaleza no humana que intervienen en determinado proceso metabólico, o que se ven afectados (en el caso de las transformaciones y/o fracturas metabólicas). Interpretación propia con base a lo expresado por Horacio Machado Aráoz, durante comunicación personal, 2018. A pesar de haber revisado la bibliografía disponible del autor, si bien utiliza en textos el término “socio - metabólico” no encontré ninguna referencia en donde utilizara el prefijo “geo” en dicho contexto, por lo que si bien, la categoría no es invención propia, la interpretación respecto a lo expresado por Horacio es responsabilidad de quien esto escribe.

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vida, refuncionalizándolos para que la materia y la energía de las formas de vida humana y no humana (la trama de la vida en su conjunto) sean susceptibles de ser incorporadas a la lógica de acumulación, valorización del valor y producción de mercancías.

El argumento central de este texto es el de que la dinámica de reproducción del capital es eminentemente extractivista en un sentido amplio del término. Si bien, nuevamente por cuestiones de espacio me es imposible desarrollar a profundidad el por qué los proyectos extractivos son proyectos de muerte, el objetivo de este artículo es el de poner sobre la mesa de discusión un posible punto de partida - entre muchos otros - para una reflexión crítica tanto de las relaciones del capital mismo, como de su lógica extractiva que le es inherente.

Para comprender la forma en la que dicho metabolismo se ve transformado y modificado por el capital, parto - siguiendo a Marx - de la figura elemental de este modo de producción: la mercancía.

1. LAFORMAMERCANCÍACOMO PUNTO DE PARTIDA

En las sociedades (y territorios) donde domina el modo de producción capitalista, los objetos con valores de uso o “riqueza”, dice Marx, “se presentan como un “enorme cúmulo de mercancías”, y la mercancía individual como la forma elemental de esta riqueza (Marx 2014, p.43)”. El bien producido como mercancía, a diferencia de los objetos con valor de uso producidos bajo otras relaciones sociales y de producción, posee un doble carácter: el de ser un objeto que tiene la cualidad de satisfacer una necesidad humana, un valor de uso; y el de poseer una cualidad de equivalencia cuantitativa respecto al resto de mercancías, que le permite ser intercambiada indiscriminadamente por cualquier otra mercancía (valor).

La forma mercancía y su particularidad de ser valor de uso y valor a la vez, conlleva a la manifestación fetichizada de los objetos producidos bajo esta forma, es decir, mediante una “relación social general de producción [que] consiste en comportarse frente a sus productos como ante mercancías, o sea valores, y en relacionar entre sí sus trabajos privados, bajo esta forma de cosas (Marx 2014, p. 96)”. Al respecto, Marx desarrolla su concepto de fetichismo para referirse al fenómeno provocado por la forma mercancía, que implica, por una parte, que los objetos producidos bajo dicha forma se presenten en el mercado como un conjunto de valores,

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esvaneciendo en apariencia sus cualidades concretas y materiales, así como los trabajos concretos cualitativamente distintos que la constituyen7 .

A grandes rasgos, el valor de una mercancía consiste en la cantidad de trabajo abstracto e indiferenciado, de acuerdo a la media del tiempo de trabajo que, en determinada sociedad con determinada tecnología y cierto grado de organización del trabajo, se requiere para producir determinada mercancía: el tiempo socialmente necesario. A diferencia de los objetos producidos como meros valores de uso, cuyo fin último es el de satisfacer alguna necesidad humana en determinada sociedad, la razón de existencia de una mercancía, el móvil de su producción, es el de ser un bien producido para su intercambio o venta en el mercado, para generar mediante su venta una ganancia, es decir, la diferencia del valor de su venta respecto al valor del costo de su producción. El origen de esta ganancia proviene en buena parte del trabajo impago al trabajador, es decir, que buena parte del valor producido en un día de trabajo por un trabajador - o determinada cantidad de trabajadores - es apropiado por el capitalista, poseedor de los medios de producción. Este trabajo impago, el plusvalor, refiere a la cantidad total de valor producido, menos el trabajo pago al trabajador bajo la forma salario (Marx, 2014).

Parte de este plusvalor producido deberá ser reinvertido por el capitalista al proceso de producción, transformándolo en capital: nuevos medios de producción y trabajo asalariado. El ciclo aquí vuelve a repetirse al poner en marcha trabajo y medios de producción - incorporados a los preexistentes -, con el fin último de producir nuevamente una mayor cantidad de valor (valorización del valor). El móvil de la producción capitalista es la producción de plusvalor, para cuya realización es indispensable la venta de mercancía que permita una ganancia lo más grande posible. Por ello, los capitalistas individuales como representantes del capital en su conjunto, procuran a toda costa reducir los costos de producción, para lo cual es condición indispensable adquirir “recursos” humanos y naturales baratos, mediante la optimización e intensificación de las formas de explotación de la naturaleza humana (trabajo) y no humana (naturaleza)8 .

7 El fenómeno del fetichismo de la mercancía es más complejo, e implica además que, puesto que la producción está encaminada a la producción de objetos como mercancías para su intercambio, y puesto que en dicho proceso de intercambio la mercancía importa respecto al valor que encierra en sí y no a su valor de uso, los objetos (que buscan a toda costa ser vendidos y comprados) parecieran establecer relaciones sociales entre sí, mientras que los sujetos se presentan como meros poseedores de mercancías, estableciéndose así relaciones cósicas entre sujetos, y relaciones sociales entre cosas. Este aspecto del fetichismo será dejado de lado en este análisis, centrándonos en cómo los objetos producidos como mercancías se manifiestan como un conjunto de valores, desvaneciéndose en la inmediatez los valores de uso y los trabajos concretos que le dieron forma.

8 Jason Moore (2015), retoma de George Caffentzis la categoría de “work-energy” para referir a la energía y la materia extraída en las relaciones de producción capitalista, tanto a la naturaleza humana (bajo la forma trabajo) como no humana (materia-energía de la naturaleza no humana). Respecto a la intensificación de la explotación de la naturaleza humana y no humana profundizaremos más adelante.

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A pesar de que, en una sociedad sujeta a las relaciones sociales y de producción capitalista, la importancia de los objetos producidos como mercancías radique en su cualidad de ser portadoras de valor; los objetos producidos no pueden prescindir de su condición de valores de uso. Ni el sistema de mercado, ni los poseedores del capital pueden prescindir de la materialidad concreta de la riqueza9. De la misma manera que el valor de uso - un objeto producido para satisfacer una necesidad humana - sólo se ve realizado una vez que es consumido, el valor de una mercancía - un objeto producido para su venta - sólo se ve realizado una vez que ha sido vendido. Para que un objeto pueda ser vendido a un comprador, el producto debe ser percibido como útil: el valor de uso debe de ser percibido de acuerdo al sistema de necesidades de una sociedad.

El capital no puede prescindir de la materialidad de los objetos y sus valores de uso, ni de la fuerza de trabajo humano10, ni de la materia y energía de la naturaleza no humana a partir de las cuales se producen las mercancías. Puesto que la producción de cualquier objeto con valor de uso - incluyendo las mercancías con su doble carácter de valor de uso y valor - requieren del despliegue del trabajo sobre la materialidad de la naturaleza no humana; y debido a que, en aras a la generación de ganancia y plusvalor el capital requiere de aumentar gradualmente el ritmo de la pro ducción, mediante la intensificación de la explotación de la energía de la naturaleza humana y no humana. El capital, en su proceso de reproducción requiere de organizar la naturaleza humana y no humana, de la cual depende.

El capitalismo, al tiempo que un modo de producción de riqueza material (bajo la forma mercancía) es una forma específica de geo-socio-metabolismo. Para que la naturaleza no humana (recursos naturales) y humana (trabajo) sean susceptibles de ser convertidos en mercancía, el capital requiere de la producción - y su reproducción ampliada - de las condiciones para dicha forma de producción (O, Connor 2001) lo cual logra transformando el metabolismo de la trama de la vida mediante la realización de separaciones e interposición de mediaciones.

De la misma manera en que la forma en la que los sujetos dan forma a su socialidad mediante la producción y consumo de los bienes producidos - que implica el establecimiento de determinadas relaciones metabólicas con la naturaleza no humana - a partir de la cual irán dando forma a su socialidad, produciendo y consumiendo la forma de su condición comunitaria de existencia (Linsalata 2011; Gutiérrez, Navarro & Linsalata, 2016); la manera en la que determinada

9 Ni siquiera en lo referente a productos más efímeros, menos tangibles o en apariencia más abstractos, como lo son los servicios en general, los servicios y productos digitales e informáticos como las aplicaciones y los programas para ordenador, o los servicios de transacciones bancarias remotas. Dichas mercancías siempre están respaldadas y funcionan con la base de una materialidad, tanto del trabajo humano como de la naturaleza no humana.

10 A pesar de la gradual y exponencial automatización de los procesos de producción que ha ido desplazando paulatinamente la fuerza humana de trabajo.

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sociedad en la que domina el modo de producción capitalista da forma a su socialidad, parte de la forma de producción y consumo de los bienes producidos bajo la forma mercancía. El Capital de Marx es, en buena parte, una exposición de cómo la forma mercancía, su modo de producción específico y las relaciones sociales que produce; tiende a condicionar y someter a su lógica gran parte de los aspectos de la vida social.

2. TRANSFORMACIONES METABÓLICAS DEL CAPITAL A TRAVÉS DE LA TRAMA DE LAVIDA: SUBSUNCIÓN DE LANATURALEZAHUMANAY NO HUMANA

El capital, para su reproducción, requiere del establecimiento de ciertas relaciones metabólicas, sociales y naturales bajo una forma específica que le permita tener a su disposición fuerza de trabajo humana y materia-energía de la naturaleza para la producción de mercancías .

La condición necesaria para que dicho trabajo-energía social-natural esté a disposición de la producción de mercancías y plusvalor, radica en que tanto el trabajo como los medios de producción11 deben haber sido previamente transformados en capital. Marx (2013), en su célebre capítulo XXIV de El Capital, sobre “la llamada acumulación originaria12”, explica cómo es que “la conquista, el sojuzgamiento, el homicidio motivado por el robo: en una palabra, la violencia (p. 892)”, son aspectos fundamentales en la conformación de dichas precondiciones para la existencia del capital como tal:

La relación del capital presupone la escisión entre los trabajadores y la propiedad sobre las condiciones de realización del trabajo. Una vez establecida la producción ca pitalista, la misma no sólo mantiene la división sino que la reproduce a escala cada vez mayor. El proceso que crea a la relación del capital, pues, no puede ser otro que el proceso de escisión entre el obrero y la propiedad de sus condiciones de trabajo, proceso que por una parte, transforma en capital los medios de producción y de subsistencia sociales, y por otra convierte a los productores directos en asalariados (Marx 2014: 893).

De esta manera, se crean las condiciones para la existencia de las relaciones sociales, de clase, metabólicas y de producción que requiere el capital. A los sujetos “liberados” de los medios de trabajo y subsistencia13 no les queda ninguna otra posesión más que su mera fuerza de trabajo, la cual están obligados a vender al poseedor del capital, a manera de cualquiera otra mercancía, para

11Que no son otra cosa mas que naturaleza no humana, previamente transformada por el trabajo humano, mas no necesariamente pre-transformada inicialmente en cuanto a su materialidad, mas sí en cuanto a las relaciones de propiedad.

12 Si bien, Marx parece ubicar el proceso de “acumulación originaria” como un acontecimiento histórico específico ocurrido paulatinamente a lo largo de los siglos subsecuentes a la caída del régimen feudal, bajo la forma de grandes cercamientos de tierra en Europa, varios autores consideran que, en realidad, los procesos de acumulación de capital vía despojo (Harvey 2004), son un proceso inherente y continuo a lo largo de la historia de la reproducción del capital (De Angelis 2012).

13 Éstos últimos, los cuales no son otra cosa mas que, fundamentalmente, aunque no sólo, son la naturaleza- tierra.

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obtener los recursos mínimos - mediando el salario - para sobrevivir y reproducirse. A su vez, se crean las relaciones de propiedad capitalistas, en las cuales la tierra y la naturaleza son susc eptibles de incorporarse al sistema de producción de mercancías, es decir, de ser transformadas en capital. La naturaleza-tierra pasa de ser mero medio de vida - conjunto y trama de vida en sí misma - y medio de producción14 para ser tratada como mercancía y/o transformada directamente en capital15 . Tras esta escisión, la vida en su conjunto, la naturaleza humana y no humana, son separadas entre sí y del proceso de reproducción de la vida misma (en sí y para sí), para ser sometidas al proceso de producción de mercancías. La naturaleza-tierra y el trabajo (trabajador como trabajo vivo y sujeto en sí y para sí), fuentes de toda riqueza, materia y fundamento de toda forma de vida, quedan de esta manera desvinculados de los ciclos vitales en sí mismos, para ser subsumidos a los ciclos de producción de mercancías y plusvalor. La precondición para las existencia de la relación de capital, es la precondición para la existencia del (geo- socio)metabolismo del capital: la disposición de la materia y energía de la naturaleza humana y no humana (trabajo y “recursos naturales”) para la producción de mercancías y plusvalor .

Es mediante la explotación de la fuerza de trabajo - que no es más que el gasto de fuerza física (trabajo-energía) por parte del trabajador - la forma fundamental en la que el capital incorpora la energía humana a su metabolismo introduciendo ésta en los procesos de valorización del valor. El capital, para reproducirse, requiere de la vida, de la fuerza vital de los trabajadores, “es trabajo muerto que sólo se reanima, a la manera de un vampiro, al chupar trabajo vivo, y que vive tanto más cuanto más trabajo vivo chupa” (Marx 2014: 279- 280).

A lo largo de su obra, Marx hace referencia al trabajo vivo de distintas maneras, refiriéndose a éste como capacidad viva de trabajo: fuerza de trabajo como tal, trabajo subjetivo, corporalidad activa del sujeto que trabaja (Dussel 1994). El trabajador mismo como corporalidad de sujeto que despliega su energía creativa en el trabajo presente16. El trabajo vivo se opone al trabajo

14 En el sentido general de producción mediante trabajo concreto de valores de uso.

15 En términos de Polanyi (1989) la tierra y el trabajo (junto con el dinero) son “mercancías ficticias”, en el sentido de que son tratadas como mercancías, mas es imposible producirlas como tales, es decir, como un objeto producido para su venta. En términos de las claves que hemos venido desarrollando, el capital requiere producir las condiciones para que la tierra y el trabajo sean susceptibles de ser tratados como mercancías mediante la realización de separaciones, en este caso, la separación de los sujetos humanos respecto de la tierra-naturaleza no humana, en y de la cual viven los primeros (la llamada acumulación originaria). Respecto a su tratamiento de unos u otros como capital o como mercancía, en determinado momento podrá ser tratada de una u otra manera (que se puede explicar desde la fórmula de Marx respecto al ciclo D-M-D’) ya que, bajo las reglas del capital, el trabajo (al principio del ciclo como única propiedad del trabajador) y la tierra y otros medios de producción (nunca bajo propiedad del trabajador) en determinado momento pueden ser comprados y vendidos, mas su poseedor en el momento de la producción, el capitalista que las ha comprado, pasa a incorporarlas como parte del capital variable y el capital fijo respectivamente.

16 El tratamiento y desarrollo de la categoría de trabajo vivo está disperso en los Grundrissse de 1857, el Urtext de 1858, los manuscritos del 1861-1863 y 1863-1865 y en el Tomo I de El Capital. La definición que aquí se hace de trabajo vivo está fundamentado en el análisis y revisión bibliográfica que el autor hace de las obras antes mencionadas en el capítulo

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muerto como trabajo pretérito objetivado. Es transformado en trabajo muerto en el momento de la producción (de mercancías17). Este trabajo objetivado se expresa en el valor contenido en una mercancía, lo mismo en el dinero, en su rol de equivalencia a cualquier forma de mercancía. El trabajo objetivado, se ve expresado a su vez en el salario: trabajo muerto cristalizado en dinero como producto de un trabajo pretérito. Éste es otorgado al trabajador a cambio de su trabajo vivo para que pueda obtener los insumos vitales - aunque sean mínimos - para su reproducción y, por ende, seguir invirtiendo su trabajo vivo - a cambio de otro salario - sobre los medios de producción capitalista para la producción de mercancías y la generación de valor - trabajo muerto u objetivado18 .

De la misma manera que la forma general de trabajo como trabajo concreto - y la forma de la riqueza como valor de uso - preceden a la existencia del trabajo como trabajo abstracto productor de valor, así como a la riqueza bajo forma mercancía - valor de uso y valor a la vez; la existencia del trabajo como trabajo vivo es condición necesaria y fuente de todo valor, más el primero precede a la existencia del último.

Ahora bien, cabe recalcar que la extracción de plusvalor, es decir, la cantidad de trabajo vivo siendo objetivado, la energía vital propia del trabajador como sujeto vivo, menos el salario - trabajo muerto como expresión de un trabajo pretérito, otrora vivo y ahora objetivado - tiene repercusiones considerables sobre la calidad y el tiempo de vida del sujeto: sobre su existencia como sujeto vivo.

Desde una lectura metabólica, el sujeto trabajador como sujeto vivo sufre estas consecuencias debido a la disparidad entre la calidad, cantidad y tiempo de trabajo vivo - energía - objetivándose en valor-mercancía como trabajo muerto (cuyo despliegue implica un desgaste físico - corporal-mental) y la cantidad y calidad de materia-energía retornada en forma salario a la que le es posible acceder para la reparación óptima de sus condiciones vitales para el trabajo: tiempo y espacio en calidad y cantidad suficientes para el descanso, esparcimiento y ocio, entre otras actividades necesarias para la reproducción - lo suficientemente duraderos, amplios, acondicionados y salubres; calidad y cantidad de nutrientes y agua necesarias para la reparación y el despliegue del

10 de su Historia de la filosofía latinoamericana y filosofía de la liberación (1994). Según el autor, la categoría de trabajo vivo sería así el concepto (y también la categoría) más simple, más originaria, la supuesta en todo el discurso dialéctico de Marx .

17 El capitalismo no es el único modo de producción donde existe la forma mercancías, mas sí el único modo de producción donde predomina dicha forma.

18 Cabe recalcar lo mencionado antes, respecto a que la condición necesaria para que el trabajo esté disponible para su venta, el trabajador habrá de estar separado previamente de los medios de producción.

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trabajo vivo, etc.19. Retomando la metáfora del vampiro, podemos decir que, el ritmo e intensidad con la que el vampiro chupa - extrae - sangre - trabajo vivo - es considerablemente mayor a los ritmos de recuperación y las necesidades metabólicas del sujeto vivo.

Lo planteado hasta el momento nos permite hacer una extrapolación de la metáfora de Marx respecto al capital como vampiro - respecto al trabajo vivo -, hacia el capital como vamp iro respecto a la naturaleza no-humana o naturaleza-tierra, aunque de una manera cualitativamente distinta. Así como el capital procura apropiarse de la mayor cantidad de trabajo vivo para la producción de mercancía-valor, lo mismo hace con la naturaleza no humana, sea esta especies vivas o elementos “abióticos”, cuya materialidad pasará a conformar la materialidad de las mercancías y los medios de producción, o habrá de ser transformada en energía para el funcionamiento cada vez más automatizado de estos últimos, para poner en marcha el sistema de distribución de mercancías y valores, o para ser transformada en un bien de consumo doméstico20 .

Si bien la naturaleza no humana como tal no produce valor, la materialidad de ésta es condición necesaria para la creación de valores de uso, y por ende de las mercancías en su doble carácter: ningún trabajo útil susceptible de ser valorizado - mediante apropiación de trabajo vivo - es vertido al vacío, sino sobre la materialidad de la naturaleza en su conjunto. Ahora bien, la naturaleza no humana no sólo precede en su existencia al capital, sino incluso a la especie humana. Vista tanto como trama de la vida en su conjunto, como diversidad de comunidades bióticas, o como multiplicidad de especies vivas, la naturaleza como tal despliega a través de su corporeidad material actividad creativa para la reproducción de la vida en su conjunto - o cada especie para la reproducción de sí misma. Respecto a esta naturaleza no humana, cuya existencia viva precede a su existencia como mero objeto21; de la misma manera que el capital procura extraer “hasta la última gota de sangre, tendón o músculo” del trabajo vivo del trabajador - de su existencia y actividad vital y corpórea como sujeto vivo, lo mismo hace con la naturaleza no humana, apropiándose de su corporeidad como existencia viva, de la materia y energía que la constituyen para transformarla en “naturaleza muerta”: en la corporeidad de la mercancía como objeto producido que contiene valor. La naturaleza como trama, como conjunto diverso e interdependiente de comunidades

bióticas y elementos “abióticos” necesarios para la vida que en su conjunto despliegan actividad

19 Estos aspectos son desarrollados en el capítulo VIII del capital, en lo referente a la jornada de trabajo.

20 Ya sea un bien de consumo no plenamente mercantilizado subsidiado por el estado para facilitar el acceso de los núcleos domésticos a la energía; ya sea directamente como mercancía, subsumida a las lógicas de compra, venta y especulación de los mercados nacionales e internacionales, como ha venido ocurriendo en Latinoamérica los últimos años con la privatización de la infraestructura productiva y distribuidora de la energía, otrora propiedad de la nación.

21 Incluso como mero valor de uso, aunque en las sociedades en las que no predomina la racionalidad instrumental respecto a la naturaleza no humana, ni la lógica del valor, los elementos de dicha naturaleza rara vez son tratados como meros objetos.

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vital y creativa, queda capturada así bajo la forma mercancía, como materialidad viva transformada en mero objeto contenedor de valor. Y así como el ritmo de la producción - tendencialmente el más rápido posible - tiene repercusiones en la existencia viva de los sujetos humanos, éste tiene repercusiones sobre la vida en su conjunto, de la cual depende. No solo por la extracción de la materia-energía de la trama de la vida, sino también por la materialidad de la naturaleza devuelta en forma de desechos del proceso de extracción, producción y consumo de las mercancías.

En este sentido podemos decir que el metabolismo del capital es fundamentalmente extractivo. Puesto que el móvil de la producción de objetos bajo la forma mercancía es la mayor ganancia, que es mayor cuanto más extrae plusvalor; el capital tiende a intensificar de manera progresiva, en la medida de lo posible, el proceso de producción. Debido a que la materialidad de las mercancías no es otra que trabajo humano y materia-energía adquirida de la naturaleza no humana; la reproducción del capital, el fundamento de su funcionamiento metabólico, implica de la extracción de la mayor cantidad posible de trabajo-energía del entramado de vida .

Los requerimientos metabólicos del capital van in crescendo, por lo éste necesita de intensificar cada vez más las formas de extracción y explotación de la naturaleza humana y no humana. Ya sea mediante la innovación tecnológica, que le permite extraer y transformar materia a una escala y ritmo mayor; ya sea mediante la reorganización y desarrollo del proceso social de producción que le permita tener a su disposición la mayor cantidad de trabajo posible; ya sea mediante nuevos ciclos de despojo y sometimiento que le permitan tener a su disposición el trabajo - energía de sociedades y territorios que hasta el momento habían permanecido al margen o parcialmente al margen de los ciclos de producción de mercancías y valorización del valor22 . También, mediante la subsunción de ámbitos de la vida social y natural que hasta el momento habían permanecido “fuera” de los procesos de reproducción del capital23 .

Debido a estos requerimientos metabólicos paulatinamente en crecimiento, cuya dinámica no tiene otro límite que el de las condiciones de producción existentes en un momento dado - desarrollo tecnológico, disponibilidad de naturaleza y trabajo lo más barato posibles, el capital requiere reproducir y ensanchar la brecha de la separación al interior de los ámbitos de la vida previamente subsumidos, así como de efectuar separaciones ex novo (De Angelis 2012) sobre sociedades y territorios hasta dicho momento no subsumidos o no plenamente subsumidos

22 La fuerza de trabajo incorporada a las sociedades capitalistas, mas desempleada, es también parte del proceso de extracción-explotación de trabajo vivo para la generación de plusvalor, puesto que al hacer presión a la baja en los precios de la fuerza de trabajo activa, permite a los empleadores retribuirles un salario mucho menor.

23 La expansión del capital hacia lo ancho y lo profundo del entramado de vida, la aceleración del metabolismo del capital no se debe únicamente a su necesidad del aumento de la productividad, sino también, como condición necesaria para no sucumbir bajo el peso de sus contradicciónes, postergando éstas al mismo tiempo que las profundiza.

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(Gutiérrez 2015; Gutiérrez y Salazar 2015; Gutiérrez, Navarro y Linsalata, 2016): el movimiento del capital a través de la trama de la vida radica en una dinámica tendencialmente totalizante en términos tanto extensivos como intensivos .

El modo de producción capitalista no es, pues, solamente un modo de producción y consumo de objetos bajo la forma mercancía, sino también una forma de reproducción social que produce relaciones sociales, subjetividades, espacios, territorios y naturaleza: produce y reproduce de manera ampliada las condiciones de producción capitalista. Ello de tal manera que le permita tener a su disposición la mayor cantidad de trabajo-energía para reproducirse: alimentarse, desarrollarse, crecer y expandirse. El geo-socio-metabolismo del capital es una ecología mundo , que requiere de reorganizar y transformar radicalmente las relaciones metabólicas del entramado de vida en su conjunto. En este sentido, el capital actúa y se despliegue a través de la trama de la vida (Moore 2015), desplegando desde sus medios cierta capacidad de energía-materialidad, mediante la cual efectúa separaciones - por ejemplo, la separación del sujeto vivo respecto a la naturaleza- tierra - e interponiendo mediaciones (Gutiérrez & Navarro 2018) - por ejemplo, los medios de producción previamente privatizados y la “retribución” de salario a cambio de la reactualización del proceso de trabajo vivo objetivándose.

Existe pues una contradicción en la relación metabólica del capital, puesto que, al mismo tiempo que su reproducción depende de la naturaleza humana y no humana pues ésta conforma la materialidad de las mercancías. Su ambición - “necesidad” - de extraer la mayor cantidad de trabajo-energía posible se realiza socavando, al mismo tiempo, los dos manantiales de toda riqueza: la tierra y el trabajador”, socavando al mismo tiempo las condiciones de existencia de toda vida posible. En la relación metabólica del capital está inscrita su contradicción con la vida, puesto que depende de ella al mismo tiempo que destruye las condiciones de su reproducción.

3. ALGUNAS REFLEXIONES FINALES PARA PENSAR LO “MORTÍFERO” DEL CAPITALYSU DINÁMICA EXTRACTIVA

Hasta el momento hemos abordado cómo es que en la lógica del capital que de entrada se presenta como un modo de producción de riqueza bajo la forma de mercancías está inscrita su dinámica extractivista. El capital para su reproducción requiere de trastocar radicalmente los flujos metabólicos de la trama de la vida para que tanto la naturaleza no humana como el trabajo sean susceptibles de ser transformadas en mercancía, dando así cuerpo (la materialidad del objeto) y sustancia (el valor extraído del trabajo) a ésta. En su movimiento tendencialmente totalizante,

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extensivo e intensivo, procura de apropiarse de la mayor cantidad de trabajo al máximo ritmo posible, destruyendo progresivamente las condiciones para su reproducción.

Ello no debería preocuparnos si la contradicción pusiera en riesgo solamente la existencia del modo y las relaciones de producción capitalista. Sin embargo, a esta altura de la crisis ecológico-civilizatoria (Machado 2013), vemos que lo que se encuentra amenazado por el capital y su dinámica de expansión extractiva es la existencia de la vida misma. Toda fuente, componente, condición y composición de toda forma de vida humana y no humana. Ante el inevitable agotamiento de la “naturaleza barata” (Moore 2015), el capital intenta postergar a costa de lo que sea -de la vida misma-, la amenaza cada vez más cercada de una crisis de escasez o subproducción, la cual es fruto de su propia contradicción entre capital y naturaleza o capital-vida. Con tal de evitar caer bajo el peso de esta contradicción, ha expandido la frontera extractiva a lo largo y ancho del orbe, al mismo tiempo que ha desarrollado tecnologías aún más destructivas que le permitan extraer “hasta la última gota de sangre” de la naturaleza-tierra. Ejemplo de ello es la implementación de la minería a cielo abierto y el fracking sobre yacimientos no convencionales.

El trastocamiento que la dinámica tendencialmente totalizante y expansiva, geo- territorial y socio-metabólica del capital ha efectuado progresiva y exponencialmente de manera radical en los flujos material-energéticos de la trama de la vida es preocupante. Al respecto, Donna Haraway (2016: 17), retomando a Ana Tising, observa que la dinámica destructiva de la lógica del capital “pude eliminar la mayor parte de los refugios a partir de los cuales diversos grupos de especies (con o sin personas) pueden reconstituirse después e eventos extremos (como la desertización, o la deforestación o, o…)”.

El capital y sus representantes - los capitalistas individuales - parecieran ser ciegos a la catástrofe a la que su propia dinámica está arrastrando hacia la destrucción tanto a la humanidad como a toda posibilidad de vida. Más allá de toda negación al respecto, encontramos dicha “desconsideración en el imperativo ético que pone como fin en sí mismo la realización de ganancia:

Si buscamos la dimensión ética en todo este asunto, la encontramos en el compromiso incondicional del capitalismo con su propia continua reproducción expansiva: un capitalista que se dedica incondicionalmente al impulso auto-expansivo capitalista está efectivamente dispuesto a ponerlo todo, incluyendo la supervivencia de la humanidad, en juego, no para cualquier ganancia o meta “patológica” sino por el bien de la reproducción del sistema en sí mismo. Fiat profitus pereat mundus (dejemos que los beneficios se hagan, aunque el mundo

perezca) es lo que presumimos es su lema (Žižek 2017).

En la lógica extractiva del capital, el despojo, la separación entre los productores respecto a sus medios de existencia, o dicho de otra manera, la separación de las sociedades respecto a las bases y condiciones materiales de reproducción de la vida - ya sea mediante el despojo o mediante

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la destrucción de éstas -, está a su vez relacionado con la separación, desestructuración y destrucción de las condiciones sociales, culturales, simbólicas y políticas de la reproducción de la vida de diversos grupos humanos; así como en la desestructuración de las condiciones ecológico - metabólicas de la vida en su conjunto.

En este contexto, los proyectos extractivos, también denominados “proyectos de muerte” (minería a cielo abierto, fracking, hidroeléctricas, entre otros) tienen diversas repercusiones: escasez y envenenamiento del agua, desvío de los embalses de los ríos, contaminación e inundación de tierras, proliferación de enfermedades, intoxicación de animales y humanos, muerte de plantas y un largo etcétera. Sin embargo, en términos metabólicos, lo preocupante radica en las modificaciones radicales que estos proyectos tienen sobre los flujos de materia-energía de la trama e la vida, los cuales causan desde daños a la salud de plantas, animales y humanos, hasta el socavamiento de las bases materiales para la reproducción de la vida humana y no humana.

Ahora bien, para concluir y en atención al desarrollo de la dinámica inherentemente extractiva-destructiva del capital, me aventuro a concluir que, el Gran Proyecto de Muerte no es la minería a cielo abierto, ni la extracción de hidrocarburos mediante fracking, ni las grandes hidroeléctricas y parques eólicos. Tampoco los transgénicos y los grandes monocultivos para la producción de biocombustibles o cualquier otro megaproyecto de corte extractivo. Todos estos son componentes esenciales en el metabolismo del Gran Proyecto de muerte: el capital, cuyo fundamento (re)productivo y geo-socio-metabólico radica en la extracción imparable e in crescendo de la materia-energía-trabajo de la naturaleza humana y no humana.

Los representantes del capital que promueven los proyectos extractivos (de muerte) niegan los estragos del modo de producción (y extracción) dominante y la matriz energética actual, o se centran en el falaz discurso del desarrollo sustentable que tiende a normalizar y banalizar la crisis ecológica, al tiempo que ofrece soluciones ficticias a esta, proponiendo soluciones ficticias (como la “minería sustentable” o las hidroeléctricas como presunta fuente de “energía renovable”. También están los que se posicionan desde los discursos del progreso, que si bien, no niegan las posibles repercusiones, tampoco las nombran. Y si las nombran, las minimizan bajo el argumento de que el progreso y la industria son necesarios para la sociedad, e incluso para la vida misma.

Sin embargo, en medio de las apariencias y mediaciones que, bajo las relaciones del capital ocultan la catástrofe, el sentido común de disidencia que está siendo producido por pueblos y comunidades en resistencia por todo Latinoamérica - y otras partes del mundo - contra los proyectos extractivos, está visibilizando todo aquello que ha sido negado. Desde este sentido, desde el cual se enuncia al extractivismo como antagónico a la vida, la noción de “proyectos de muerte”, más que

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una buena metáfora, es una amenaza real que se cierne sobre la materialidad que permite la reproducción de la vida: vale la pena tomar en serio la advertencia.

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https://diem25.org/slavoj-zizek-lecciones-del-airepocalipsis/ > recuperado 1 de diciembre de 2018. AUTOR:

Francisco Javier Hernández Hernández

Antropólogo por la Universidad de Guadalajara, Maestro en Sociología por el Instituto de Ciencias Sociales y Humanidades de la Benemérita Universidad Autónoma de Puebla (ICSyH- BUAP).

E-mail: javiherh.anthropos@gmail.com

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CO-PRODUCIR COMÚN DESDE LA INVESTIGACIÓN SOCIAL: Reflexiones a partir de lo aprendido en una experiencia de mapeo participativo con comités de agua del municipio de Cuetzalan del Progreso, México

Lucia Linsalata Benemérita Universidad Autónoma de Puebla (BUAP)

Sandra Rátiva Benemérita Universidad Autónoma de Puebla (BUAP)

Juliana Gómez Benemérita Universidad Autónoma de Puebla (BUAP)

Kevin Hernández Benemérita Universidad Autónoma de Puebla (BUAP)

RESUMEN

El presente artículo sistematiza algunos aprendizajes que se han producido desde el proceso de mapeo e investigación participativa que se co-produjo entre el equipo de la línea de Entramados Comunitarios y Formas de lo Político, del posgrado de sociología de la Benemérita Universidad Autónoma de Puebla y los comités comunitarios de agua del municipio de Cuetzalan del Progreso, estado de Puebla, México. Los principales aprendizajes de este proceso giran en torno al fortalecimiento de las luchas en defensa del agua y del territorio a través de la apropiación de ciertas herramientas cartográficas, y de las posibilidades de desbordar el extractivismo académico y del capitalismo académico, que condicionan el quehacer de la investigación crítica como apoyo y respaldo del conocimiento y las prácticas de las comunidades en sus territorios.

Palabras Claves: Co-producción de lo Común. Mapeo Participativo. Investigación Social

CO-PRODUÇÃO COMUM DESDE A INVESTIGACÃO SOCIAL: Reflexões a partir do aprendizado em uma experiência de mapeamento participativo com comitês de água do município de Cuetzalan del Progreso, México

RESUMO

O presente artigo sistematiza algumas aprendizagens que foram produzidas a partir do processo de mapeamento participativo e de pesquisa que foi co-produzido entre a equipe dos Entramados Comunitários y Formas de lo Político, da pós-graduação em Sociologia da Universidade Autônoma Benemérita de Puebla e os Comitês Comunitários de água do município de Cuetzalan del Progreso, estado de Puebla, México. As principais lições deste processo giram em torno do fortalecimento das lutas em defesa da água e do território através da apropriação de certas ferramentas cartográficas e as possibilidades de transpor o extrativismo acadêmico e o capitalismo acadêmico, que condicionam o trabalho de pesquisa crítica como apoio e endosso do conhecimento e práticas das comunidades em seus territórios.

Palavras-chave: Co-produção do Comum. Mapeamento Participativo. Investigação Social.

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INTRODUCCIÓN

¿Es posible, en medio de las contradicciones y de las prácticas de precarización y disciplinamiento del trabajo intelectual que el capitalismo académico nos impone cada vez con más fuerza y eficacia, poner en marcha procesos colectivos de investigación, comprometidos con las luchas sociales y respetuosos de los tiempos y las necesidades de los actores que las sostienen? ¿Es posible romper con el paradigma del investigador solitario y “extractivista” y abrirse a la construcción de procesos de co-investigación capaces de generar conocimientos “desde, con y para” las luchas con las que nos comprometemos? ¿Es posible poner en cuestión las jerarquías epistémicas y sociales que separan la academia del hacer cotidiano de los actores sociales que estudiamos? ¿Por qué tipo de límites y contradicciones atraviesan los procesos de investigación que intentan recorrer los caminos de la investigación participativa y la co-producción de conocimientos? ¿Qué potencialidades tienen? ¿Qué tipo de relaciones se producen y se cultivan en estos procesos? ¿Cómo se sostienen en el tiempo?

Estas preguntas nos han acompañado con insistencia a lo largo de los últimos tres años, durante los cuales, desde un grupo de investigación coordinado por la Prof. Lucia Linsalata e integrado por estudiantes de la maestría y la licenciatura en Sociología de la Bene mérita Universidad Autónoma de Puebla, hemos intentado construir en colectivo un camino de investigación y mapeo participativo al lado de los comités comunitarios de agua del Municipio de Cuetzalan del Progreso, México. En este artículo nos proponemos sistematizar algunos de los aprendizajes que hemos cosechado a partir del camino recorrido, reflexionando colectivamente en torno a cuatro ejes de problematización.

1) En primer lugar, explicaremos de qué manera hemos buscado, en medio de múltiples dificultades, superar el problema del extractivismo académico, intentando construir, desde el diseño de la investigación, un relacionamiento que fuera constructivo y provechoso no sólo para el grupo de investigación, sino también y sobre todo para las comunidades. Explicaremos los retos que esta búsqueda nos ha puesto en frente y de qué forma nos ha llevado a repensar múltiples veces nuestro actuar en campo y a construir una relación de confianza y respeto mutuo con los comités; una relación que trasciende el ejercicio puntual de la investigación y lo tiempos impuestos por la lógica del “proyecto”.

2) En segundo lugar, reflexionaremos en torno al potencial político y epistemológico del mapeo y a las posibilidades de co-producción de conocimientos, diálogo de saberes y

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fortalecimiento mutuo que hemos podido habilitar en torno a la construcción participativa de un SIG (Sistema de Información Geográfica) que tiene como finalidad organizar y sistematizar información geográfica estratégica para la gestión y defensa comunitaria del agua. Hablaremos de los usos y sentidos diferenciales que se dieron a la información producida a través de esta herramienta, a medida que tanto los comités como el equipo de investigación se fue apropiando de la misma, y de cómo, a partir de esta experiencia, se fueron tejiendo múltiples relaciones de cooperación y apoyo mutuo.

3) En tercer lugar, presentamos cómo, en la relación de co-producción de conocimiento, hemos podido construir una agenda propia de defensa del agua y cómo estamos articulando dicha agenda con nuestra disputa contra el capitalismo académico, que genera condiciones precarias y técnicas de disciplinamiento dentro de las instituciones académicas.

4) Finalmente, compartimos algunas reflexiones en torno a la forma en que hemos construido, al interior del grupo de investigación, el trabajo de co-investigación y escritura colectiva de los resultados, buscado todo el tiempo salir de la dinámica individualizante e individualizada al que nos confina el trabajo académico institucional.

No está demás aclarar que nos atrevemos a hacer este ejercicio de sistematización de lo aprendido, no con el afán de ofrecer respuestas a las preguntas que hemos puesto sobre la mesa, sino más bien con el propósito de organizar y compartir nuestra experiencia vital, en la esperanza de que, junto con otras, pueda contribuir a abrir más preguntas y a enriquecer el debate en torno al difícil camino de la investigación comprometida.

En tal sentido, exponemos nuestros aprendizajes, pues no tenemos conclusiones. Consideramos que así aportamos a la construcción de una red académica, ojalá comprometida, ojalá responsable de su hacer; pero sobretodo, esperamos contribuir desde una ética de la producción de lo común en los diversos aspectos de la vida que nos atraviesan como personas, particularmente como trabajadores y trabajadoras de las instituciones académicas.

1. CULTIVAR LOS VÍNCULOS PARA SUPERAR EL EXTRACTIVISMO ACADÉMICO

En la última década, sobre la sierra Norte de Puebla comenzó a pesar la amenaza del despojo extractivista del capital nacional y transnacional, que buscaba aprovechar los recursos naturales de su territorio a través de la imposición de lo que sus habitantes llaman “proyectos de muerte”: megaminería, extracción de hidrocarburos mediante fracking y centrales hidroeléctricas,

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muchos de ellos relacionados entre sí. Las luchas y resistencias de la sierra Nororiental de Puebla y algunos municipios colindantes de Veracruz (Centro-oriente de México, en la sierra que desciende muy cerca del Océano Atlántico) contra esos megaproyectos encontraron un lugar de articulación en la Asamblea de los Pueblos Maseual, Totonaku y Mestizo en Defensa de la Vida y el Territorio, espacio donde coordinan y apoyan las respuestas a las amenazas, asumidas como compartidas por su alcance regional (Hernández 2019).

En el municipio de Cuetzalan, la amenaza ha intentado materializarse en varios proyectos que se han topado con la resistencia tenaz de sus habitantes. Entre los intentos se cuentan: tres concesiones mineras en el sur del municipio (en la sierra de San Manuel, zona de recarga de mantos acuíferos), la construcción de una hidroeléctrica en el río Apulco, un supermercado de la empresa Walmart, un complejo turístico y la instalación de una subestación eléctrica. Los cuetzaltecos los han enfrentado gracias a un sentido arraigado de la protección del agua y el territorio, y a la organización popular, presente en grupos de distinta naturaleza, basada en la deliberación en asambleas (Linsalata 2017) y en la organización comunitar ia.

Este fuerte tejido organizativo quedó plasmado en la creación del Programa de Ordenamiento Ecológico Territorial de Cuetzalan y del Comité para el Ordenamiento Ecológico Territorial Integral de Cuetzalan (COTIC), norma y órgano concebidos de forma participativa para la planeación y protección del territorio1 .

Este mismo contexto organizativo nos permitió y nos implicó plantear los términos del proyecto de investigación de forma participativa desde el principio. Las organizaciones que trabajan en el municipio no son ajenas a la vinculación con actores de diverso tipo, incluido el académico, con quienes trabajaron en la formulación del Ordenamiento y en diversas investigaciones, llevadas a cabo por programas académicos de varias universidades públicas y privadas. A sabiendas de esto, nos propusimos contribuir con las labores de defensa del territorio a fin de no realizar una investigación desligada de los esfuerzos organizativos, que condujera a un estudio dirigido únicamente al público académico y sin beneficio alguno para las comunidades estudiadas.

1 La Ley General del Equilibrio Ecológico y la Protección al Ambiente de la legislación mexicana regula los programas de ordenamiento territorial en el país. En esta se prevé también la creación de un órgano encargado de su vigilancia. El COTIC fue creado por acuerdo del ayuntamiento del municipio de Cuetzalan del Progreso, después de haber pasado por un proceso exhaustivo de discusión comunitaria. Fue publicado el 3 de diciembre de 2010 en el Periódico Oficial del Estado de Puebla. Su particularidad radica en la amplitud en la conformación del comité: por lo menos 85 personas, delegadas de diversas organizaciones sociales, comunitarias y cooperativas del municipio se articulan allí para blindar al municipio de actividades económicas que afecten al territorio o a sus comunidades, principalmente indígenas del pueblo Maseual. Esta diversidad y amplitud, han hecho del COTIC un ejemplo de reapropiación social de las instancias legales y estatales que en muchos otros casos han servido para despojar a pueblos y comunidades de las decisiones que afectan a sus territorios.

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De esta forma buscábamos evitar caer en el extractivismo académico, el cual entendemos como una relación jerarquizada y utilitaria de producción de conocimiento en las ciencias sociales y humanas, en la que una de las partes se convierte en “los sujetos investigados”, que son quienes aportan insumos, para que la otra parte, normalmente “el investigador” se encarga de procesar y sacar del contexto, y de los cuales saca beneficio en forma de mérito académico y/o económico, generando un vaciamiento y un maltrato a quienes también participaron sin ningún tipo de beneficio o retroalimentación por el conocimiento producido. El extractivismo académico no se limita a los datos, sino que incluye ideas y nociones surgidos en la experiencia comunitaria, lo que pone en riesgo la potencialidad política que pueden tener (Grosfoguel 2016).

Es importante señalar que, para nuestro caso, las organizaciones tampoco hubieran querido establecer una relación de ese tipo con nuestro equipo, porque tenían claro cuál era la tarea para la que requerían nuestra contribución: nuestra propuesta de colaboración sobre la gestión comunitaria del agua fue respaldada porque los comités de agua y las organizaciones de Cuetzalan tenían como tarea pendiente establecer mecanismos de protección del agua más específicos en el Ordenamiento. Desde nuestro primer acercamiento al campo, nos manifestaron claramente sus necesidades y de este modo se fueron definiendo las pautas de colaboración entre las partes, en las que nosotros respondimos, en la medida de nuestras capacidades, a sus necesidades e inquietudes. Surgió así el interés en la recopilación de información estratégica del territorio por el valor que tiene para su defensa. Para tal efecto, acordamos la creación de un SIG para la sistematización de datos relativos a la gestión comunitaria del agua, los cuales, a su vez, se obtuvieron mediante talleres de cartografía participativa, entrevistas, cuestionarios y recorridos de campo.

La investigación sobre la gestión comunitaria del agua nos llevó a entablar una relación estrecha con sus responsables: los comités comunitarios, los cuales se cuentan por docenas en el municipio. El trabajo conjunto fue acercándonos y constituyó la base de una relación de respeto y reconocimiento mutuo. Entramos en contacto con aquellos que pudieron y quisieron colaborar con el equipo, creando, modificando y adaptando acuerdos con cada uno. Como órganos responsables de la administración de un bien común, los comités de agua tenían que poner a consideración de la asamblea su vinculación con nosotros y las decisiones relativas a la información que manejábamos, situación que, comprensiblemente, tiene un ritmo diferente del nuestro. Entablamos una relación

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cercana especialmente con tres de ellos: el Comité Central del Agua Industrial y los comités de San Andrés Tzicuilan y Santiago Yancuitlalpan2 .

A lo largo del trabajo conjunto para la creación del SIG, los comités fueron externándonos sus necesidades específicas a las que procuramos responder dentro de nuestros propios límites, exponiéndoselos siempre de forma honesta. El acuerdo mismo de crear un SIG fue un enorme reto para nosotros, pues solo algunos miembros del equipo contaban con experiencia en su uso. Sin embargo, decidimos asumirlo ante el interés que los comités mostraron, pues lo consideraban una herramienta útil para su labor cotidiana, en los conflictos con usuarios, particulares y con otros comités, tal como explicaremos más adelante. No obstante, la creación del SIG no fue la única forma de colaboración: de acuerdo a la coyuntura, respondimos a los requerimientos que los comités nos compartieron como escribir, indagar información oficial, confirmar datos, generar mapas específicos para situaciones específicas, contactar entidades y organizaciones para obtener nueva información, etc., la colaboración continua, pensamos, redundó en una relación de respeto y confianza que trascendió al SIG.

Desde el planteamiento de la investigación, consideramos que sustraernos del paradig ma extractivista de la ciencia significaba, asimismo, no apropiarnos de los datos que recopiláramos ni de los conocimientos que los comités tienen sobre el territorio y su gestión, sino que buscamos recuperar su experiencia en la defensa del territorio como gestores autónomos insertos en un contexto amenazado. También implica no acaparar sus luchas ni hablar en nombre de las comunidades y sus organizaciones, sino escucharlas y acompañarlas en sus ritmos y en sus caminares. De este modo, la definición de las formas de la defensa la hacen las mismas organizaciones, mientras que nosotros ponemos a su consideración las habilidades y los insumos que el equipo de investigación puede proporcionar, antes de persuadirlos de aceptarlos o imponerlos.

Somos conscientes de la posición que ocupamos, como parte de la academia, en la producción de conocimiento. Los comités tienen décadas trabajando por cuenta propia y no creemos que nuestra investigación sobre la gestión del agua deba fiscalizar el desempeño o influir en la

2 El Comité Central del Agua Industrial es un comité de segundo orden, donde se articulan 16 comités comunitarios y donde se toman decisiones relativas a la infraestructura principal que comparten, al agua que consumen y a las amenazas que sobre todas estas 20 comunidades afectan; en total unas 4 mil personas de 1250 hogares están vinculadas y son beneficiadas por esta organización (Rátiva, Longoni & Melgarejo, 2018) que reproduce prácticas de trabajo comunitario, cuidado espiritual y reciprocidad, que emanan de la cultura maseual y de un importante sentido de pertenencia al territorio. Por su parte, los comités de San Andrés Tzicuilan y Santiago Yancuitlalpan corresponden a los de dos juntas auxiliares (unidades político-administrativas menores al municipio). El de Yancuitlalpan incluye al de la localidad de Alahuacapan, que también recrean y reproducen prácticas comunitarias de trabajo mancomunado y de gestión asamblearia del agua.

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organización de los comités; su existencia es absolutamente autónoma y nada le debe a la academia o al estado. Al contrario, estimamos importante replantear las formas de validación del conocimiento, que forzosamente tiende a pasar por las universidades y otras instituciones estatales para ser reconocido. En este sentido, hemos buscado concertar espacios de encuentro y reflexión con otras organizaciones y luchas a nivel nacional y latinoamericano, y hemos intentado ser puente para que puedan divulgar sus esfuerzos y reconocerse con otras luchas para sumar fuerzas y conocimiento por fuera de aquel circuito instituido.

Finalmente ¿qué aprendimos en este andar? Aprendimos que rebasar el extractivismo académico implica establecer relaciones de reciprocidad y respeto con las comunidades, atender a sus esfuerzos antes que imponer nuestras necesidades, cambiando la relación investigador - investigado. Pudimos darle otro rumbo a la investigación en la medida en buscamos, que efectivamente tuviera sentido para las comunidades. Esto exige de nosotros flexibilidad y disposición para adaptarnos a la situación, tarea a menudo complicada dado que nosotros mismos tuvimos que emprender esfuerzos de formación en el uso de herramientas sumamente técnicas, como el SIG para cumplir con los compromisos.

2. EL POTENCIAL EPISTEMOLÓGICO Y POLÍTICO DEL MAPEO: DE LA CO - PRODUCCIÓN DE LOS MAPAS A LOS USOS DIFERENCIALES DE LO CO - PRODUCIDO

Tal como mencionamos, el haber habilitado un espacio de diálogo que nos permitiera diseñar la investigación con base en las necesidades, las reflexiones y los deseos que se venían cultivando al interior de los comités de agua y de las organizaciones que confluyen en el COTIC, desembocó en la decisión colectiva de elaborar un SIG que permitiera sistematizar un conjunto de informaciones estratégicas relativas a los cuerpos de agua presentes en el territorio y al manejo de los mismos por parte de las comunidades y el conjunto de los pobladores del municipio. En particular, había un fuerte interés por parte de los comités y las organizaciones integrantes del COTIC en tener un mapa claro de las decenas de redes hidráulicas comunitarias que abastecen al conjunto de las comunidades del Municipio de Cuetzalan. Las razones detrás de esta necesidad eran varias y, por cuestiones de brevedad, no profundizaremos aquí en ellas. Nos limitaremos a sintetizar solo algunos de los principales aprendizajes que hemos construido colectivamente en el proceso de co-producción de unos mapas que satisficieran esta necesidad. Haremos lo anterior con el fin de

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reflexionar sobre el potencial político y epistemológico del mapeo participativo como metodología de investigación e intervención en campo.

Como es sabido, los mapas han sido históricamente uno de los principales instrumentos que desde el poder dominante se han utilizado para ordenar los territorios, construir representaciones sobre los mismos y apropiarse de sus recursos. Las organizaciones sociales de Cuetzalan, sobre todo a nivel de sus dirigencias, tienen una idea muy clara del poder de los mapas. Durante el proceso de la elaboración participativa del Ordenamiento Territorial y de defensa del territorio de los “proyectos de muerte”, han aprendido a hacer un uso profundamente estratégico de los mismos. En el transcurso de la lucha, han recurrido en más de una ocasión al contra-mapeo (al mapeo crítico y/o al mapeo participativo) como un instrumento más que les ha permitido desestructurar las estrategias empresariales y estatales de apropiación del territorio, e impulsar procesos de re-apropiación social del mismo y de control colectivo sobre los recursos comunes. En tal sentido, la necesidad de producir un mapa de la multiplicidad de las redes comunitarias de agua presentes en el territorio respondía, antes que nada, al deseo de generar un instrumento que les permitiera visibilizar, reconocer y validar la extensa presencia de las organizaciones comunitarias de agua en el territorio y, a partir de dicho reconocimiento, ordenar colectivamente los usos del agua con base en las prácticas, las necesidades y los saberes organizativos de dichas organizaciones. Ordenarlas con una doble finalidad, compartida por una variedad de organizaciones comunitarias: la de mejorar la capacidad de las comunidades de tomar decisiones conjuntas y solucionar una multiplicidad de problemas internos relativos a la gestión del agua; y la de poner límites a la apropiación privada de este bien común y a los procesos de despojo en marcha.

Lo anterior implicó que la elaboración del SIG y de los mapas que lo integrarían, fue pensada siempre, por parte de los comités de agua y de las demás organizaciones que integran el COTIC, como un instrumento interno para propiciar la toma de decisiones colectivas, y no como un instrumento meramente técnico, dirigidos a unos cuantos especialistas.

Éste ha sido el sentido político más profundo que los comités de agua depositaron desde el principio en el proyecto de elaboración del SIG. Dicho sentido emergió como anhelo colectivo desde la primera reunión que el conjunto del equipo de investigación tuvo con los comités; sin embargo, fue tomando forma y concreción, en la medida en que los comités comenzaron a relacionarse con los mapas y a apropiarse cada vez más de sus usos estratégicos.

Para quienes fuimos parte del equipo de investigación que trabajó en este proyecto, la finalidad política que los comités nos transmitieron ha representado, en cambio, una tensión fértil y

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movilizadora a lo largo de todo el proceso de investigación; una tensión que nos ha llevado a interrogarnos una y otra vez sobre nuestro papel en campo y sobre cómo teníamos que construir este proceso.

¿Cómo conciliar la elaboración de una herramienta sumamente técnica como un SIG con la toma colectiva de decisiones? ¿Cómo detonar un proceso que permitiera a los comités apropiarse realmente de esta herramienta? ¿Era realmente posible hacerlo? ¿Hasta qué punto podíamos lograrlo? Confesamos que nadie de nosotros tenía respuesta a estas preguntas al principio de este camino; las pocas respuestas que pudimos dar a estas interrogantes se fueron construyendo al andar, desde la vivencia cotidiana de las tensiones y las expectativas que el proyecto detonó, y desde el cultivo lento y paciente del diálogo y la confianza.

En medio de muchos errores, uno de los principales aciertos metodológicos que el equipo de investigación tuvo y que abonó a dirigir la construcción del SIG en la dirección política marcada por los comités, fue la decisión de privilegiar, por encima de los recorridos de georreferenciación en campo, los ejercicios colectivos de reconocimiento territorial a partir de ortofotos y fotos satelitales y de trazado colectivo de las redes hidráulicas; trazados que se elaboraron conjuntamente entre los integrantes del equipo de investigación, los fontaneros y los dirigentes de los comités de agua sobre mapas base elaborados en gabinete. Reconocemos que la decisión de mapear los sistemas comunitarios de agua a partir de procesos de reconocimiento y trazado colectivo sobre mapas bases de las tuberías y de las instalaciones de los mismos, restó mucha precisión técnica al trabajo de mapeo. Sin embargo, reconocemos también que habilitó la posibilidad de generar espacios sumamente ricos de elaboración colectiva de los mapas y de diálogos transversales entre el equipo de investigación y los comités de agua.

A lo largo de los talleres y a partir de ellos, no solo se trazaron colectivamente las redes de agua, se habilitaron momentos de reflexión sobre los problemas que algunos comités estaban viviendo en la gestión cotidiana del recurso; se generaron momentos de debate en torno a la ley nacional de agua y al régimen de concesión vigente en México; se produjo un diálogo de saberes y de intercambio de conocimientos sobre el territorio a partir de los mapas orales que los fontaneros y los dirigentes de los comités nos iban compartiendo; se construyó confianza, afecto y reconocimiento mutuo; se realizaron una multiplicidad de reuniones para evaluar entre todos los avances del proyecto y corregir una y otra vez los mapas hasta estar satisfechos con ellos; se asumieron los límites que se iban encontrando en el desarrollo del proyecto y se tomaron decisiones colectivas para marcar juntos el rumbo a seguir.

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Finalmente, la co-producción de los mapas, habilitó la co-producción de la relación de confianza: nos permitió construir un común, que trascendió la producción del SIG en sí y se transformó en la base de un vínculo de complicidad y colaboración mucho más amplio.

Un elemento esencial, a partir del cual dicho vínculo de confianza se pudo sostener y cultivar en el tiempo, fue el hecho de que el grupo de investigación respetó en todo momento dos acuerdos básicos que se tomaron desde la primera reunión. El primero de ellos fue que toda la información que se iba a producir en la elaboración del SIG era de propiedad y uso exclusivo de los comités de agua, lo cual implicaba que el equipo de investigación no podía publicarla ni pasarla a terceros, sin autorización previa de los mismos. El segundo fue que el equipo se comprometía a generar un proceso de formación y apropiación del GIS entre los comités, para que éstos pudieran llegar a ser autónomos en el uso del mismo y a no depender del equipo en futuro.

El día que tomamos ambos acuerdos no hubiéramos podido imaginar sus consecuencias futuras. En primer lugar, los comités tuvieron que hacerse cargo en más de una ocasión del hecho de ser lo propietarios de esta información y de tener que tomar decisiones colectivas en relación a los usos posibles de la misma. Lo anterior habilitó un proceso de fuerte empoderamiento en los comités que llegó a modificar las relaciones de poder, tanto al interior de los espacios de articulación política con otras organizaciones sociales, como en los espacios de negociación y diálogo con el gobierno municipal. Sería imposible dar cuenta en pocas líneas de la complejidad de los procesos deliberativos que se detonaron en torno a los usos de los mapas que se co- produjeron para el SIG. Lo único que nos interesa transmitir aquí es que uno de los logros más grandes que pudimos obtener al asumir que los comités eran los únicos propietarios de la información producida consistió en el hecho de que, como equipo, “perdimos” todo control sobre sus usos; quienes se hicieron cargo en todo momento de definir los usos estratégicos de los mapas fueron los comités y, al hacerlo, se apropiaron del SIG de forma muy peculiar. Pues, no lo hicieron de forma técnica, por lo menos no todavía, ya que el proceso de formación en esta herramienta técnica sigue en marcha y en muchos sentidos se ha quedado trunco. Sin embargo, se apropiaron de sus usos políticos y estratégicos, transformado el SIG en una herramienta de autoafirmación. En una herramienta que les permitiera decir en distintos contextos: “Existimos. Hemos sido capaces de documentar y mapear minuciosamente nuestra presencia en el territorio. Queremos y podemos hacer un

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‘ordenamiento del agua’3 sin tutelajes externos y contamos con cómplices que nos pueden apoyar en ello”.

Ahora bien, no hay que dejar de decir que estamos conscientes del hecho de que, sin una plena apropiación técnica de todo el proceso de elaboración de los mapas y de alimentación del SIG, los usos que los comités podrán hacer de esta herramienta serán siempre limitados. El proceso de formación y transmisión plena de esta tecnología sigue siendo un reto que no hemos podido alcanzar todavía. La brecha tecnológica que separa las comunidades de una herramienta electrónica como el SIG no es fácilmente subsanable; por otro lado, la permanente ausencia de recursos hacia este tipo de investigación y la precariedad de nuestro tiempo para realizar trabajos en campo vuelve casi imposible transformar este objetivo en realidad. Sin embargo, el acuerdo sigue de pie y, con él, el compromiso y la confianza de seguir abriendo juntos caminos que permitan fortalecer la defensa, la reapropiación y el control comunitario del agua en Cuetzalan.

¿Qué aprendimos sobre el mapeo en todo este andar? Aprendimos que el mapeo es una extraordinaria herramienta de intervención política, y co-producción de conocimientos. Es una herramienta capaz de habilitar espacios muy fértiles de diálogo e intercambio de saberes, y de detonar procesos muy importantes de representación, resignificación y politización del territorio. Sin embargo, esta capacidad no está inscrita en el mapa en sí. El contra-mapeo no tiene ningún poder, si termina en la pura elaboración de un mapa, es decir, si termina siendo una acción más de positivización y fetichización de la realidad; su potencialidad epistemológica y política se detona en la medida en que el proceso de mapeo sigue anclado a un proceso organizativo vivo capaz de resignificarlo permanentemente, de reinventarlo a cada paso y de atribuirle una multiplicidad de usos diferenciales según el contexto o la coyuntura política a enfrentar y la lucha que se está dando.

3. LAS LUCHAS SON LUCHANDO, Y PASAN POR LA EXPERIENCIA VITAL

En el marco de los procesos de defensa del agua y del territorio que los comités llevan a cabo, nuestro trabajo de investigación es un acercamiento posible; uno entre muchos. De forma deliberada, dialogada y discutida, el equipo de investigación ha puesto al servicio de los comités los recursos y las posibilidades que, desde la institución académica, y que desde las capacidades humanas y personales de quienes conforman el grupo, existen para fortalecer la acción y la agenda

3 Esta es la expresión que los comités de agua y las demás organizaciones que confluyen en el COTIC usan habitualmente para referirse al proyecto que cultivan desde hace años de generar de forma participativa una normatividad interna que ordene las prácticas de apropiación y uso de los cuerpos de agua presentes en el territorio, con base en las formas comunitarias de gestión y cuidado del agua.

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de los comités. Entendemos por agenda política, los sueños, las acciones y los planes que se priorizan y en los cuales se invierte energía vital y social para llevarlos a cabo de forma colectiva. En este sentido, es claro que la defensa del agua y del territorio es el punto en común entre la agenda de los comités y del equipo de investigación; pues es fundamental aceptar y hacer visible que el grupo que se conforma en el ámbito institucional de la universidad, también tiene una agenda, y que estos planes y acciones que provienen de este lado de la relación también se ponen en juego en la relación misma; por lo cual, el compromiso crítico con la defensa del agua como un bien común, vital y fundamental para la existencia, atraviesan entonces la relación que se gesta y que se construye.

Nuestro grupo hace parte de la línea de investigación de Entramados Comunitarios y Formas de lo Político, del posgrado de sociología del Instituto de Ciencias Sociales y Humanas de la Benemérita Universidad Autónoma de Puebla; una de las universidades públicas más grandes de México, que gracias a los fondos públicos sostiene un alto nivel entre sus posgrados y entre sus diversas investigaciones. Nuestra línea de investigación incentiva y procura el desarrollo de procesos que generen vínculos entre la universidad y las diversas experiencias comunitarias y de lucha que se despliegan en la región y en el país; esto es posible gracias a pequeños fondos que aún existen para el trabajo de campo y a la existencia de becas que se otorgan a los posgrados de alta calidad en el país, y que facilitan el trabajo de formación e investigación de los estudiantes vinculados a ellos.

A pesar de estas condiciones, que resultan favorables respecto al resto de América Latina, en un escenario global de privatización de la educación y de jerarquización de las ciencias duras y aplicadas, rentables para la innovación tecnológica que el capital exige, el ejercicio de investigación que se desplegó en Cuetzalan nos mostró las tensiones y los límites de la producción de conocimiento crítico dentro de las instituciones académicas ¿Cómo conseguir procesos de vinculación entre las universidades públicas y las organizaciones sociales y comunitarias cuando existen presiones desde el Estado para recortar gastos en las instituciones académicas? ¿Cómo generar procesos de investigación respetuosos con los tiempos, las formas y los contenidos de las comunidades cuando hay una lógica de productividad académica individualizante medida de forma numérica y anual? ¿Cómo salir de extractivismo académico cuando los salarios, las becas, los fondos y las convocatorias son los mecanismos de disciplinamiento de los y las investigadoras que hacen parte de las instituciones académicas?

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Estas preguntas, que son las contradicciones vitales que atraviesan también al equipo de investigación como personas, nos han llevado a ratificar un deseo, una voluntad y una decisión colectiva por sumarnos a la defensa del agua y del territorio como imperativo ético; imperativo que nos ha sostenido en el relacionamiento con los comités de agua, y en el fortalecimiento de un método de trabajo que co-produce, que intenciona su actuar y busca las mejores posibilidades de colaboración, tanto dentro del equipo, como con los comités, el COTIC y otras organizaciones con las que nos hemos encontrado en el camino.

En este sentido, este proceso de co-producción de conocimiento, también nos ha producido, nos ha cuestionado y nos ha permitido aclarar el lugar desde el que podemos actuar, haciendo evidentes las presiones y las amenazas que, como personas trabajadoras en las universidades e instituciones académicas, recaen sobre nosotras: la imposición de tiempos reducidos e inflexibles para “ejecutar” “proyectos” de investigación, que nada tienen que ver con los procesos con los que nos relacionamos; la instalación de la competencia entre colegas, por pequeños fondos para desarrollar trabajos en campo, que instaura la individualización y no la cooperación; la remuneración a través de estímulos de corte neoliberal que resultan de un ritmo frenético de productividad académica que no dejan tiempo para la investigación sostenida y responsable; y la presión por la “innovación” como criterio de evaluación, dejando por fuera la responsabilidad y la vinculación con la sociedad en su compleja diversidad.

Todas estas condiciones y circunstancias, que parecieran lejanas a la defensa del agua y el territorio, en realidad operan como mecanismos del capitalismo académico, que desestimula la generación de conocimiento crítico y antisistémico, y fortalece las relaciones fetichizadas al interior del campo de producción legítimo y rentable de producción de conocimiento. Si algo hemos aprendido en este ejercicio, es que los mapas son justamente una de las concreciones de conocimiento para la dominación, para la privatización y para el despojo, y que, de no disputarlos críticamente, los mapas solo serían conocimiento contra las comunidades para desdibujarles, invisibilizarles y borrarles.

Por esto mismo, parte de la agenda que se ha construido al interior del equipo y de la línea de investigación, como resultado de este proceso de co-producción con los comités, también incluye la conciencia del trabajo académico como una labor en disputa contra el capitalismo académico, lo que nos empuja a procurar e intencionar la construcción de redes colaborativas de reflexión, análisis y de intercambio de saberes; a la vez que nos ratifica sobre formas de relacionamiento con los

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comités de agua de Cuetzalan, y con otras organizaciones que también defienden el agua y sus territorios.

En este sentido, nos asumimos parte de un esfuerzo amplio y diverso por la defensa del agua y del territorio y apostamos por acciones conjuntas con otros espacios insertos en instan cias académicas e institucionales, y buscamos impulsar encuentros y redes temáticas que promuevan la colaboración y el intercambio entre las organizaciones comunitarias, la academia crítica y otras instancias que potencien y amplifiquen las luchas.

Quizá en este sentido, nuestros mayores aprendizajes han sido a construir una agenda con otros y otras, y modular las energías personales y colectivas para amplificar las luchas desde el lugar en el que estamos, en este caso, desde la institución académica. Desde hace varios meses nuestra agenda ha venido cambiando también, y buscamos ahora caminar en la “Red de Luchas en defensa del agua, para la reproducción de la vida digna y la construcción de autonomía energética” donde nos encontramos con varios equipos de investigación y con algunas organizaciones sociales, que seguramente, con calma y sin prisa, seguiremos promoviendo los espacios de co-producción de conocimientos. Por ahora, por ejemplo, estamos soñando con una escuelita del agua, que sirva como espacio para compartir y reproducir el conocimiento que hemos tenido el gusto de gestar con los comités.

4. MÁS ALLÁ DE LA ACADEMIA INDIVIDUALIZANTE

Sabemos que los tiempos del capital buscan la totalización de la vida misma. Como lo describimos anteriormente, sabemos que la academia hace parte del proyecto capitalista que parte de la individualización y la fragmentación de los procesos colectivos. En este sentido, es posible ver cómo la institucionalización de las entidades, específicamente las educativas, y la centralización de los poderes han convergido en el mantenimiento de estructuras que reproducen la subalternización de la diferencia y las lógicas de jerarquización en los procesos de aprendizaje. La educación ha sido un instrumento funcional a la lógica de la acumulación de capital a través del lugar de legitimación del conocimiento que otorga la academia como espacio hegemónico. Conscientes de ello, este proyecto ha emprendido la búsqueda por establecer relaciones de co-producción del conocimiento, tanto con los sujetos de investigación como en la construcción misma del equipo de investigación. El proceso de institucionalización ha convertido a la academia y los espacios de producción del conocimiento, en escenarios que deben responder a las necesidades y las lógicas del

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capital. En este sentido, se impone el tiempo del capital para la producción de investigaciones que, en nuestro caso concreto, se manifestó en la conformación de un equipo de investigación en el que, si bien todos acompañamos de manera constante y colectiva la construcción y desarrollo del proyecto, cada uno de nosotros tuvo que seguir de manera paralela en el ritmo de producción individualizada de los procesos académicos que suponen el desarrollo de las tesis de investigación, la producción de artículos y la búsqueda de las puntuaciones establecidas por la burocracia académica.

Así entonces, al tiempo que emprendimos la apuesta por la producción colectiva del conocimiento y decidimos desafiar las estructuras jerarquizadas y extractivistas propias de la academia hegemónica, cada uno de nosotros enfrentó de manera personal el manejo de sus propios recursos para subvertir la lógica del tiempo productivista y abrir un espacio de trabajo y de establecimiento de relaciones de cooperación. De esta manera, el desarrollo de este proyecto implicó una decisión que se expresó en la voluntad de cada uno de los que conformamos el equipo de investigación para abrir otros ritmos de trabajo, otras formas de establecer relaciones sociales y de enfrentar los desafíos de la co-producción de conocimientos.

El ejercicio de construir un proyecto en el que las decisiones se encuentran atravesadas por la circulación de la palabra nos permitió entender que la construcción de conocimiento tiene sentido en tanto es un proceso que genera planes de trabajo, metodologías de sistematización, de observación, pero también que destruye y recrea conceptos e ideas; la conformación de un equipo de investigación integrado en su mayoría por estudiantes de sociología nos permitió, no solamente la experimentación con herramientas de aprendizaje y retos tecnológicos como la plataforma de GIS, sino que devino en el desarrollo de estrategias de colaboración y disposición de tiempo y recursos para nuestros propios procesos de formación que se nutrieron con el desarrollo mismo del proyecto.

En el acompañamiento y desarrollo del proyecto se establecieron vínculos de solidaridad que nos permitieron resolver los vacíos que cada uno experimentaba desde sus propios lugares de formación y, al tiempo, nos permitió establecer la investigación como un proceso abierto de formación permanente que se prolonga más allá del tiempo del capital.

Para nuestro gusto, este tiempo de conversar y planear el trabajo de investigación en campo, significó liberar un tiempo para disfrutar, construir complicidad, encontrar esta agenda propia que hemos venido exponiendo y generar afecto y vínculos más allá del proyecto mismo. De esta manera, conformar y producir un colectivo de trabajo nos han posibilitado experimentar formas

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de desestructurar la individualización como lugar privilegiado de construcción del conocimiento, y esforzarnos (porque sin duda requiere de esfuerzo adicional) para pensar de forma conjunta, buscar una voz en común, escribir de forma colectiva e ir buscando también posibilidades de continuar el ejercicio más allá del proyecto, del posgrado, de la titulación o de la publicación indexada.

Así pues, a pesar de las lógicas del tiempo productivista que tuvieron un costo de manera particular para cada uno de quienes nos involucramos en el proyecto, en diferentes escalas y magnitudes, las 8 personas que en diferentes tiempos y formas participamos de este ejercicio, experimentamos convergencia de tiempos, energías e ideas en este proyecto, lo que desde la lógica que hemos intentado exponer, nos permitió romper los parámetros de separación, competencia e individualización.

Por supuesto, seguimos. Intentamos proponemos y estamos buscando la forma de que lo que hemos aprendido siga fortaleciéndonos como parte de las luchas por el agua, pero también, estamos buscando los caminos para que los vínculos que se han co-producido sigan resonando y amplificándose para que la academia y la universidad sean espacios de co-producción y no de disciplinamiento. Estamos conscientes de que es un camino largo, pero también sabemos, porque lo hemos aprendido en nuestro andar, que es una de las formas para seguir construyendo academias comprometidas, investigaciones responsables y conocimientos emancipadores. Y por eso, seguiremos andando.

REFERENCIAS:

GAGO, Verónica. 2017. Intelectuales, experiencia e investigación militante. Avatares de un vínculo tenso. Revista Nueva Sociedad #268, marzo-abril .

GROSFOGUEL, Ramón. 2016. Del extractivismo económico al extractivismo epistemológico y al extractivismo ontológico: una forma destructiva de conocer, ser y estar en el mundo. Tabula Rasa, 24: 123-143. Argentina.

HERNÁNDEZ, Kevin; GOMÉZ, Juliana y LÓPEZ, David. 2018 Subir al monte. Desafíos metodológicos en el uso de Sistemas de Información Geográfica en un proyecto de investigación participativa en Cuetzalan. Revista Bajo el Volcán # 28. ICSyH-BUAP. Puebla, México. HERNÁNDEZ, Hernández Francisco Javier. 2019. Vida, muerte y lucha en la Sierra Norte de Puebla. Una reflexión en torno a la Asamblea de los Pueblos Maseual, Totonaku y Mestizo en Defensa de la Vida y el Territorio. Tesis de maestría. Benemérita Universidad Autónoma de Puebla. México .

LINSALATA, Lucia. 2017. De la defensa del territorio maseual a la reinvención comunitario - popular de la política: crónica de una lucha. Estudios Latinoamericanos, 40: 117-136. CDMX, México.

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RÁTIVA, Sandra; LONGONI, Roberto y MELGAREJO, Manuel. 2018 La experiencia de los comités comunitarios de agua en Cuetzalan, Puebla, Revista Bajo el Volcán # 28. ICSyH- BUAP. Puebla, México.

RISLER, Julia y ARES, Pablo. 2013. Manual de mapeo colectivo: recursos cartográficos críticos para procesos territoriales de creación colaborativa / Julia Risler y Pablo Ares. - 1a ed. - Buenos Aires: Tinta Limón.

AUTOR ES:

Lucia Linsalata

Doctora en Estudios Latinoamericanos de la UNAM. Profesora investigadora de la Benemérita Universidad Autónoma de Puebla, Puebla, México.

E-mail: entramados.comunitarios.buap@gmail

Sandra Rátiva

Maestra en sociología de la Benemérita Universidad Autónoma de Puebla

E-mail: agarimas2@gmail.com

Juliana Gómez

Maestra en sociología de la Benemérita Universidad Autónoma de Puebla

E-mail: juliana.gomez89@gmail.com

Kevin Hernández

Licenciado en sociología de la Benemérita Universidad Autónoma de Puebla

E-mail: kehernandezmtz@gmail.com

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PRODUCCIÓN DE MANDATOS POPULARES Y POLÍTICA DE PARTE: estrategias de transformación no centradas en el Estado, reflexiones a partir de la experiencia uruguaya

Diego Castro Vilaboa Benemérita Universidad Autónoma de Puebla (BUAP)

RESUMEN

La problemática principal está vinculada a las formas políticas que desafían la centralidad del Estado en las luchas sociales y el accionar de los movimientos populares en Uruguay. A partir del estudio de dos luchas pasadas, sindicales de fines de la década de 1960 y contra la privatización del agua de comienzo de los 2000, emerge a partir de rasgos olvidados una forma política que desafía la política estadocéntrica a partir del ejercicio de producción de mandatos populares asentados en una política de parte. La producción de mandatos supone la alteración de la relación mando – obediencia de manera momentánea, desplegando la lucha social con el objetivo de que los gobernantes obedezcan el mandato, como forma de incidencia en ámbitos de las instituciones estatales, sin pretensión de ocupar dichos espacios ni de abandonar los propios. Mientras que la política de parte atiende meticulosamente la tarea de dar forma de manera autónoma a la parte a la vez que procura por medio de los mandatos afectar las relaciones de fuerza con las demás partes que inciden en el asunto específico, procurando un nuevo reequilibrio de partes.

Palabras claves: Luchas sociales. Estado. Mandatos. Política de Parte. Uruguay

PRODUÇÃO DE MANDATOS POPULARES E POLÍTICA DE PARTE: estratégias de transformação não centradas no Estado, reflexões a partir da experiência uruguaia

RESUMO

A problemática central está ligada às formas políticas que desafiam a centralidade do Estado nas lutas sociais e nas ações dos movimentos populares no Uruguai. A partir do estudo de duas lutas passadas – a dos sindicatos na década de 1960 e contra a privatização da água no início dos anos 2000, emerge a partir de traços esquecidos uma forma política que desafia a política esta docêntrica, desde o exercício da construção dos mandatos populares assentados em uma política de parte. A produção de mandatos pressupõe a alteração na relação entre comando e obediência de maneira momentânea, desdobrando a luta social a fim de que os governantes obedeçam o mandato, como uma forma de incidência em âmbitos das instituições do Estado, sem a pretensão de ocupar esses espaços ou abandonar os seus próprios. Enquanto que a política de parte aborda meticulosamente a tarefa de moldar de forma autônoma à parte ao tempo que tenta, através de mandatos, atingir as relações de força com as demais partes que incidem na questão específica, tentando um novo reequilíbrio de partes.

Palavras-chave: Lutas Sociais. Estado. Mandatos. Política de Parte. Uruguai.

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INTRODUCCIÓN

Acaso no nos roza, a nosotros también, una ráfaga del aire que envolvía a los de antes? ¿Acaso en las voces a las que prestamos oído no resuena el eco de otras voces que dejaron de sonar? (...) Si es así, un secreto compromiso de encuentro está entonces vigente entre las generaciones pasadas y la nuestra (W. Benjamin 2008)

Las luchas de comienzo de siglo en Uruguay, como en todo el continente, estimularon la búsqueda de alternativas, las multiplicaron, pero rápidamente los años subsiguientes han colocado nuevamente en el centro de las aspiraciones de cambio la política de Estado. La insubordinación, las revueltas, la impugnación al consenso neoliberal fue dejando lugar a la estabilización, al tiempo de los gobiernos. No me detendré en sus consecuencias, pero permítanme una alegoría: si las luchas de impugnación al neoliberalismo trajeron a los gobiernos progresistas, estos abrieron la puerta a la ola de restauración conservadora que tanto nos preocupa en estos días.

Es claro que los gobiernos progresistas no son la única causa de este fenómeno, pero no podemos ignorar su responsabilidad. El recentramiento en la política de Estado supuso la pasivización de los sujetos populares que protagonizaron las luchas sociales de comienzos de siglo. Este proceso puede ser entendido como la acción sistemática de sustracción-transferencia de fuerza desde lo social organizado a la dinámica gubernamental. Quiero escapar de la narración víctima – victimario para comprender la relación entre política de Estado y luchas sociales. La crisis del progresismo es también la crisis de la izquierda toda, incluida la no progresista o radical. Y si nos detenemos en quienes han reactivado la lucha en los últimos años; “mujeres y tramas comunitarias que sostienen la vida frente al extractivismo”, podremos comprender que la forma política masculina dominante de izquierda también se encuentra en crisis.

Estamos ante una crisis de alternativas, de paradigmas en torno a la transformación social y la reiteración de un error convertido en tara. Pensar en la figura del Estado como actor principal de dicho proceso. Hoy como ayer, desde las luchas sociales se buscan abrir caminos alternativos que nos habiliten posibilidades otras al callejón sin salida de las estrategias puramente estadocéntricas (toma del poder, política de la demanda, de la representación, y de la guerra).

Desde estas preocupaciones, y con el objetivo de encontrar pistas para los desafíos del presente, abordo luchas sociales pasadas con pretensiones no estadocéntricas o no plenamente estadocéntricas en Uruguay. En ellas emerge una forma de concebir la lucha social, en donde los esfuerzos principales se

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colocan en la intención de producir y sostener mandatos populares afincados en una política de parte, en tanto ejercicios de extensión de la autonomía social y ensayos de autodeterminación.

A partir de Benjamin (2008), sostengo que en la historia de los vencidos radica una fuerza que es necesario activar en el presente. Este esfuerzo nos conecta con una potencia añeja, de sabernos parte de una historia larga de la cual aprendemos. De aquí es posible sacar fuerzas para los momentos de desconcierto y confusión. Encender la chispa de la esperanza en el pasado para dotarnos de fuerza y potencia hoy, porque la memoria mira hacia adelante.

Esta opción metodológica y teórica, que me ha sido muy útil, supone ir a buscar en las experiencias pasadas orientaciones para el presente, visitándolas con nuevas preguntas. La transmisión de una cultura es, para Benjamin, un acto político de importancia mayor. No porque ella pueda cambiar lo dado, sino porque “la memoria histórica afecta de manera decisiva a la voluntad colectiva y política de cambio. En realidad, es su único nutriente” (Buck-Morss 2001: 14). Si la herencia cultural que recibimos de una época se encuentra empobrecida, retaceada, también lo están las alternativas. Descubrir el pasado a partir de los desafíos del presente es una tarea que redunda en una potencia que las multiplica. Y de la misma manera que ocurre con la historiografía oficial, la historia de la lucha social olvida a los vencidos, en esta oportunidad a los vencidos al interior de los vencidos. Por ello, de manera homóloga a lo propuesto por Benjamin, me propuse cepillar la historia de las luchas pasadas en Uruguay “a contrapelo”, pero con una variante propia, haciéndolo pelo por pelo. Esta orientación no tiene la pretensión de reescribir la historia en busca de una verdad negada, sino más bien pensar el pasado, la historia de manera abierta, inconclusa, ya que en las experiencias de quienes luchan se despliegan un conjunto de posibilidades no siempre dichas plenamente, no plenamente desplegadas. Porciones de luchas que pueden ser activadas por medio de nuevas preguntas, nuevas interrogantes y nuevos deseos que los desafíos presentes nos colocan. Contra el relato lineal, homogéneo y vacío que hace de los múltiples esfuerzos por alterar y desordenar el mundo del capital, una historia chata, sin sobre saltos.

Encender una chispa en el pasado requiere abandonar la pretensión de un relato general, una nueva verdad histórica, aunque este incorpore elementos novedosos, antes no explorados. Por ello mi esfuerzo se centra en dos luchas concretas, en dos momentos históricos, en donde busco esos hilos perdidos de lucha no plenamente estadocéntrica. Orientado por la pregunta ¿Cómo desafiaron la política estadocéntrica las luchas pasadas en Uruguay y cómo ello nos ayuda a pensar los desafíos actuales? Alimentar el presente con el pasado, con las luchas pasadas de los vencidos al interior de los vencidos. Por un lado, las luchas sindicales de finales de la década de los sesenta, momento

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constitutivo de los sujetos colectivos principales del campo popular uruguayo hasta la actualidad. Por otro, las luchas contra la privatización del agua de comienzo del dos mil, que se reactivan en la actualidad en nuevas resistencias contra su mercantilización.

Lo que propongo a continuación es presentar la forma en que comprendo la política de Estado y cómo se fue cristalizando la estrategia de transformación estadocéntrica como hegemónica. Para luego dar cuenta de las luchas sociales pasadas en Uruguay y su particular forma de desafiarla por medio de la producción de mandatos, asentada en una política de parte. Formas variadas y parciales, nunca plenas ni puras, de ejercer autogobierno incluso cuando las instituciones estatales se encuentran con amplia legitimidad y vigencia.

1. LA FORMA POLÍTICA ESTADO

El Estado se ha convertido en la forma política (Echeverría 1998) dominante en las sociedades modernas, para lograrlo necesitó monopolizar la vida política. Hay múltiples formas de comprender al Estado como configuración política. Desde algunas perspectivas se lo concibe como un espacio neutro cuyo poder lo ejerce aquel que mejor libere la “guerra de posiciones” en su interior. Otras que sugieren que el Estado es el gobierno de los intereses comunes y que por tanto tiene la autoridad legítima para desarrollar dicha tarea que supone control de territorios, gobierno de poblaciones, configuraciones culturales y sistemas legales. A esta perspectiva Luis Tapia (2010) la denomina “concepciones normativas” del Estado, a las que les opone las “concepciones realistas” inspiradas fundamentalmente por Marx en el Manifiesto comunista como relación y estructura de dominación de clase, y por Weber en Economía y sociedad como monopolio de la administración de lo público por parte de un grupo de personas. Se traza de este modo una forma de comprensión del Estado a partir del ejercicio monopólico de la política y la autoridad, de la fuerza y de los medios de administración.

Para Marx, sostiene Tapia, “el estado es un tipo de relación social que se caracteriza por haber producido la concentración de la política en un conjunto de instituciones separadas que se presentan como representantes de lo general” (2010: 96). Es a partir de estas aportaciones que se comienza a establecer más claramente la conexión entre concentración de los “medios de producción” y concentración de la prerrogativa política, como dos esferas que se presentan ilusoriamente separadas (política y economía), pero que en realidad no lo están. De aquí surge una de las falacias más comunes al referirse al Estado y al mercado como dos formas independientes y diferenciadas, de la política y la economía, y no como dos esferas articuladas de la amalgama de dominación (Gutiérrez et al 2018).

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Esta escisión o separación pretende dotar de relativa autonomía a cada una de las esferas. La política tendiente al gobierno de lo social (lo público) y la economía a los procesos productivos (lo privado). Para Tapia, el “Estado sería un tipo de estructura y relación política que corresponde a los territorios en que opera la ley del valor, esto es, el estado de separación, de concentración y también el de explotación y apropiación de plusvalor” (2010: 97).

Para que la legitimidad del Estado se imponga en un territorio determinado no debe haber otras formas de gobierno y autoridad paralelas que reclamen o quieran erosionar su monopolio político y administrativo. La creación de los Estados Nación junto a la expansión del modo de producción capitalista son dos elementos contemporáneos de un mismo fenómeno. Si el Estado es el territorio en donde prima la ley del valor, existiendo un conjunto de instituciones y herramientas jurídicas y administrativas que lo garantizan, todo modo de existencia diferente debe ser destruido, económica y políticamente.

Esto es lo que sucedió intensamente para que la forma Estado y la forma y ley del valor se tornaran dominantes, con pretensiones exclusivas, y es lo que se reactualiza continuamente para mantener su dominio. Pero el Estado, como forma política monopólica, es una pretensión, una intencionalidad nunca plenamente cristalizada, siempre desafiada, siempre impugnada.

América Latina es un caso extremadamente rico en la persistencia de estructuras de autoridad y formas de autogobierno originarias que coexisten con el Estado moderno. En referencia al caso boliviano, Zavaleta (1986) se refirió ampliamente a este fenómeno, dando cuenta de superposiciones desarticuladas de modos de producción, concepciones de mundo, lenguas, culturas y estructuras de autoridad. Lo que denominó “formas sociales abigarradas”. En estos territorios el Estado es “aparente”, pese a no tener el monopolio desconoce las otras formas y las destruye cuando no puede integrarlas de manera subordinada. Se presenta como monopolio quebrado por formas de existencia otras, que cuentan con amplia legitimidad de los pueblos que las ejercitan. Si bien esta manera de concebir la coexistencia de formas políticas emerge de las experiencias donde lo comunitario-indígena se encuentra presente y reactualizado, puede ser de utilidad, incluso en sociedades donde el monopolio estatal está aún más consolidado, como es el caso de Uruguay. Lo que interesa en estos casos son las prácticas, formas, experiencias de lucha, que interrogan la forma estatal, que la agrietan, resquebrajan, deforman o desafían. Me refiero, a la luz de las luchas pasadas estudiadas, a formas no plenamente

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estadocéntricas o estatales de vida política, que para el caso de Uruguay están mayormente atravesa das por la clave proletaria y plebeya-ciudadana1 .

En el marco de esta tendencia general de comprensión de la forma Estado, también es importante dar cuenta de las múltiples experiencias de lucha de los subalternos que la han afectado, deformado. Las más de las veces inscribiendo derechos laborales o ciudadanos que por momentos permiten ubicar al Estado en el lugar de protector de los más débiles frente al avance voraz de la acumulación y la competencia entre privados. Pero también podemos encontrar deformaciones en las instituciones públicas que integran participación social o formas variadas de cogestión o cogobierno de partes. Momentos breves, pero significativos en la historia de nuestros países, que resultan fundantes y garantizan derechos a la salud, la educación, la vivienda y condiciones dignas de trabajo, aunque sea de manera parcial o precaria.

Modos que si bien no afectan el criterio general en torno a concebir a los Estados como territorios donde prima la ley del valor, sí suponen variantes en la forma en que se gestiona dicha supremacía. Integración de las clases subalternas, equilibrios entre los diferentes sectores de la burguesía (sin supremacía) y mecanismos institucionales para la amortiguación de la conflictividad social, son las pautas principales de dicha gestión. Lo que supone la existencia de Estado más allá de su carácter primordial: represivo y extractivo.

2. MÁS ALLÁ DE BINARISMO ESTADOCENTRISMO – ANTIESTATISMO

La cultura occidental se asienta de manera reiterada en dualidades o estructuras binarias que ordenan la comprensión de la vida social. La forma de comprensión de las configuraciones políticas no es la excepción y parte importante de las diferencias en torno a las estrategias de transformación con relación al Estado se han presentado por medio del par: estadocentrismo y antiestatismo.

El siglo XX consagró un paradigma dominante en torno a los caminos para el cambio social. Éste no sólo fue guía del accionar de las estrategias de los partidos y fuerzas revolucionarias o reformistas, sino que se esparció como reguero de pólvora en casi todas las organizaciones sociales de los subalternos: “Cambiar el mundo por medio del Estado”. Centrar la acción política principal en la toma del poder estatal, construyendo formas organizativas para tales fines. ¿Dónde se gestó este paradigma revolucionario en dos pasos (tomar el poder del Estado y cambiar el mundo), que produjo la

1 Forma mestiza que combina la experiencia moderna del sujeto ciudadano con la tradición plebeya, popular.

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conformación de organizaciones arregladas a tales fines y formas políticas variadas en espejo con el Estado? En la tradición europea, sugieren Arrighi et al (1999), son las lecciones que el naciente movimiento obrero asume luego de las derrotas de 1848. Establecer estrategias y organizaciones que permitieran hacer frente a un Estado que funcionaba como una maquinaria eficaz para aplastar rebeliones. Movimientos antisistémicos burocráticamente organizados, dotados de objetivos claros a mediano plazo, obtener el poder estatal. Verdaderas maquinarias eficaces, constituidas en espejo a la forma política dominante. Un elemento se subestimó o no se tomó en cuenta, la misma eficacia, que estas organizaciones encontraron para cumplir con los objetivos, se espejó en reproducir dinámicas de dominación al interior de los subalternos.

Las diferentes posiciones en torno al Estado fueron motivo de las principales divisiones del movimiento obrero de la Primera Internacional. Tanto anarquistas como marxistas compartían la idea de que comunismo era sinónimo de eliminación del Estado, sus diferencias se encontraban en las formas en que esto se realizaría. Mientras los anarquistas inspirados por Bakunin sugerían la destrucción en el propio acto de la revolución, los influenciados por Marx sostenían la necesidad de destruirlo en el largo proceso de lucha dentro de la sociedad y el propio Estado, lo que Lenin (2006) denominará posteriormente “proceso de extinción”. El propio Marx veía beneficios en la centralización en términos administrativos, en el sentido que tenía la cualidad de liberar fuerzas productivas. De este modo lo que postula es democratizar políticamente lo que administrativamente sólo puede ser centralizado.

Es Lenin quien desarrolla con mayor detenimiento una teoría marxista del Estado. En “Estado y revolución” sugiere que las primeras funciones del Estado tras la revolución son: ser instrumento represivo que garantice la supervivencia del proyecto revolucionario; modificar la estructura económica, social y política y preparar la llegada del socialismo y del comunismo.

Nosotros no discrepamos en modo alguno de los anarquistas en cuanto al problema de la abolición del Estado, como meta final. Lo que afirmamos es que, para alcanzar esta meta, es necesario el empleo temporal de las armas, de los medios, de los métodos del poder del Estado contra los explotadores, como para destruir las clases es necesaria la dictadura temporal de la clase oprimida (Lenin 2006: 116).

Esta modalidad dominó el terreno de las luchas sociales y políticas, y pese a las resistencias no sólo se presentó en aquellas directamente vinculadas a la toma del poder estatal. Fijado como objetivo principal, se ha desarrollado toda una cultura política, de espesura capilar, en la vida cotidiana de las organizaciones sociales y políticas.

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