Do Populismo Cultural ao Capitalismo Legal / From cultural populism to cool capitalism

Resumo

Durante a década de 1980, os Estudos Culturais na Grã-Bretanha – e em todos os lugares – tomaram uma reviravolta populista sem critérios. O campo de estudos tinha até aqui se focado, com uma orientação claramente opositora, em relação às artes, à cultura popular e de massa como lugares de contestação ideológica. Até o momento, o crescente interesse para a definição, e, mesmo a celebração dos processos de consumo cultural – a audiência ativa, a resistência através de rituais etc – perdeu de vista a luta econômica e política sobre a circulação da cultura na sociedade. Essa tendência cultural populista se tornou menos preocupada com o questionamento do status quo e, involuntariamente, apoiou o desenvolvimento neoliberal nos últimos trinta anos. Estudos culturais em evidência, assim, pararam de ser uma forma crítica de análise da condição cultural presente e, ao invés disso, trataram de identificar-se com ela. Isso foi possível porque a cultura predominante estava incorporando muitos tipos de discordância que os Estudos Culturais, como campo de pesquisa e educação, procurou apoiar e promover. A cultura predominante hoje é caracterizada neste artigo como capitalismo ‘legal’. Traçando a mudança histórica do significado de ‘legal’, o artigo apresenta o conceito de capitalismo legal – a incorporação do desafeto no capitalismo em si – e examina suas origens na cultura afro-americana, e sua absorção e neutralização através dos tempos, em ordem de caracterizar os aspectos mais marcantes da cultura predominante ao redor do mundo, atualmente. Em síntese, o artigo clama por uma renovação da crítica no interesse público que aplique análises multidimensionais para uma gama maior de questões. O objetivo analítico é prestar contas adequadamente para a complexidade lógica da circulação cultural em vários contextos simbólicos, econômicos, políticos e ecológicos por baixo do capitalismo neoliberal. A este respeito, a discussão visa a esclarecer o objeto de contestação em prol da intervenção cultural crítica na esfera pública