A tradição inquisitorial brasileira

Autores

  • Gilvan Luiz Hansen Doutor em Filosofia, professor do Mestrado em Justiça Administrativa e professor do Mestrado e do Doutorado em Sociologia e Direito (UFF).
  • José Ricardo Ventura Corrêa Mestrando em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidade Federal Fluminense (PPGSD – UFF).
  • Ozéas Corrêa Lopes Filho Mestre edoutorando em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidade Federal Fluminense (PPGSD – UFF). Doutorando em Ciências Jurídicas e Sociais pela UMSA/ARG.

DOI:

https://doi.org/10.22409/conflu13i2.p304

Palavras-chave:

Tradição Inquisitorial, Inquérito Policial, Igualdade Jurídica

Resumo

O trabalho aborda o processo histórico que influenciou e influencia o Sistema Processual Penal brasileiro. Vislumbrado sob a ótica do Tribunal da Santa Inquisição, o atual Processo Penal guarda ainda relação direta com procedimentos e fundamentos que aparentemente não estão coadunados com a inteligência de um Estado Democrático de Direito. Através da análise da situação dos judeus na Espanha e em Portugal percebe-se que o processo de transformação social inicia-se remotamente com o surgimento de uma nova classe (novos cristãos), a qual fora constantemente perseguida e destituída de direitos, através de processos que não permitiam o direito de defesa. A Inquisição revelou-se um mecanismo eficaz de controle social e de perpetuação do sistema de exercício do poder. O Estado e a Igreja Católica fizeram uso da Inquisição fundamentando seus atos em princípios como da defesa da fé católica e da vontade divina. A presença do Santo Ofício no Brasil através das “Visitações” e os expedientes utilizados pelo Tribunal de Inquisição degradaram a solidariedade social através da construção de uma reinante insegurança que teve por alicerce o instituto do segredo. O rito processual, a situação do réu e as culpas (crimes) são descritos e analisados sempre tendo por foco o impacto social e a fundamentação aventada pela Igreja. Muitos destes conceitos e ideologias ainda estão presentes em nosso ideário social e no nosso ordenamento jurídico. Confissão, delação premiada, busca da “verdade real” e sigilo do Inquérito Policial são expedientes que nos reportam a lógicas não mais aceitas sob o prisma de uma concepção processual que preceitua o respeito à Dignidade da Pessoa Humana. Porém, a tradição inquisitorial brasileira se revela muito forte e encontra fundamento em uma singular maneira de entender a igualdade jurídica fazendo com que conceitos evidentemente anacrônicos pareçam razoáveis ante a sociedade, aos operadores e aos pensadores do direito.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral. Volume 1. 7ª edição revisada e

atualizada. São Paulo: Saraiva, 2004.

GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. 3ª edição atualizada. São Paulo:

Saraiva, 1995.

LIMA, Roberto Kant de. Ensaios de Antropologia e de Direito. 2ª edição. Rio de Janeiro:

Lúmen Juris, 2009.

NICOLITT, André Luiz. Manual de Processo Penal. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

NOVINSK, Anita. Cristãos Novos na Bahia. São Paulo: Perspectiva, 1972.

OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 8ª edição. Rio de Janeiro:

Lumen Júris, 2007.

RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 12ª edição versão ampliada e atualizada. Rio

de Janeiro: Lumen Júris, 2007.

SILVA, Lina Gorenstein Ferreira da. Heréticos e Impuros: a Inquisição e os Cristãos-

Novos no Rio de Janeiro Século XVIII. Rio de Janeiro: Biblioteca Carioca, 1995.

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de Processo Penal. 17ª edição atualizada

e ampliada. São Paulo: Saraiva, 1995.

Downloads

Publicado

2012-11-30

Como Citar

Hansen, G. L., Ventura Corrêa, J. R., & Corrêa Lopes Filho, O. (2012). A tradição inquisitorial brasileira. Confluências | Revista Interdisciplinar De Sociologia E Direito, 13(2), 55-74. https://doi.org/10.22409/conflu13i2.p304

Edição

Seção

Artigos