V. 9 N. 14 (2021): EDUCAÇÃO POPULAR, FAVELAS E PERIFERIAS: MERCANTILIZAÇÃO DA CIDADE E RESISTÊNCIAS
O “Dossiê Educação Popular, Favelas e Periferias: mercantilização da cidade e resistências” é proposto em pleno contexto de crise sanitária, econômica e política que atinge de maneira mais crítica as favelas e periferias urbanas. Diante disso, é fundamental ampliar as discussões sobre o modelo de cidade-mercado, compreendendo como os diferentes níveis de acesso aos serviços de saúde, a violência urbana, a segregação espacial, e a retirada de direitos sociais impõem uma onda de retrocessos à classe trabalhadora. A pandemia da Covid-19 evidenciou ainda como o Estado não apenas foi omisso em relação às ameaças à saúde da população, mas também segue reproduzindo uma “política de morte” e negacionista contra aqueles que sofrem com a precarização das suas vidas. A criminalização da pobreza e o racismo estrutural marcas características da necropolítica praticada nos territórios favelados são potencializados pelo genocídio em curso durante a pandemia. Ainda que inicialmente fosse comum o discurso que apontava para a Covid-19 como uma doença supostamente “democrática”, pois atingiria igualmente as diferentes classes sociais, rapidamente foi possível observar uma periferização da pandemia. O Boletim Observatório Covid-19 da Fiocruz aponta como, apesar da subnotificação, da pouca quantidade de testes e dos limites na produção de informações nas favelas, a gravidade dos casos e a letalidade da doença apresentam maior magnitude (Fiocruz, 2020, p. 17). Tal fenômeno está vinculado à densidade demográfica, às condições de trabalho, a dificuldade de acesso à água e aos serviços de saúde, dentre outros fatores.