ESTIMATIVA DA PREVALÊNCIA DE INFECÇÃO POR COVID-19 NA AMAZÔNIA LEGAL A PARTIR DA TEORIA COROLÓGICA E DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA

Abraão Levi dos Santos Mascarenhas[1]

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará

abraaolevi@unifesspa.edu.br

 

Maria Rita Vidal[2]

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará

ritavidal@unifesspa.edu.br

 


RESUMO: 

 

A Geografia como ciência do espaço vem se preocupado em entender a relação que se estabelece entre sociedade e natureza, a Nosogeografia (identificação da origem geográfica de doenças) entende a variabilidade e os fatores espaciais que determinam e condicionam processos de saúde e enfermidades em determinada região, por meio do método quantitativo de representações, de dados, por círculos proporcionais (Martinelli, 2009; Bertin, 1988). Na Amazônia, com o uso de SIG e ferramenta da cartografia temática automatizada, foi possível identificar que a direção dos fluxos aéreos, rodoviários e hidroviários formam padrões espaciais que configuram corredores de expansão de contágios. As medidas de controle devem atentar para essas questões no seu planejamento.  

 

Palavras-chave: Representação espacial; doença; SIG.



INTRODUÇÃO


Não há dúvida que os elementos da teoria espacial como localização, dispersão e padrões espaciais são um conjunto de ferramentas que ajudam a entender como se dá a expansão da Doença Síndrome Respiratória Aguda do ano de 2019 (COVID-19). Os mapas como representação espacial tornam-se uma das formas de compreender tais padrões e ajudam na gestão e controle do fluxo populacional como parte da gestão da crise epidemiológica.

A Geografia como ciência do espaço vem se preocupado em entender a relação que se estabelece entre sociedade e natureza. Compreender que o espaço é produto das relações sociais. Uma subespecialidade dessa ciência é a Geografia da Saúde ou a Nosogeografia, que busca entender a variabilidade e fatores espaciais que podem determinar e condicionar processos de saúde e enfermidades (MENDONÇA, ARAÚJO, FOGAÇA, 2014).

Um debate atualizado sobre saúde e as questões espaciais é realizado por Guimarães (2014) e nos remete a pensar as categorias extensão, ordem e conexão dos quais determinam o conteúdo espacial no espaço vivido e nos orientam a refletir sobre a importância da Geografia como ciência comprometida com as questões humanas.

Desde o final do ano de 2019 já havia sido detectado a presença de um vírus pouco conhecido no meio médico e sanitário (HUANG et al, 2020, KRAEMER, et al, 2020), os casos foram se avolumando e ao que consta nos noticiários é a iniciativa de combater uma nova gripe que tem seu hotspot localizado no centro populacional e econômico da China. Com um poder de proliferação espantoso vem desestabilizando os sistemas de saúde, fazendo-os entrar em colapso e, na mesma direção tornam o mercado financeiro instáveis com queda das ações da bolsa de valores e aumento do Dólar[3].

Construir modelos de representação espacial capaz de compreender a extensão, ordem e conexão tem sido o desafio no tempo presente, já que os números de infectados são divulgados de forma bastante lenta e burocrática entre os sistemas de saúde no Brasil. Além do que, lidamos com os casos subnotificados que atrapalham a análise e contribui para a vulnerabilidade da metodologia, ou quem sabe dos dados analisados.

MATERIAL E MÉTODO

Os dados foram extraídos do Instituto Hopkins[4] e dos boletins informativos do Ministérios da Saúde do Brasil no dia 28/03 de 2020[5] e consta a atualização dos mesmo o importante é que a partir dessas informações torna-se capaz de observar os pontos de dispersão da doença e sua relação com as articulações das redes áreas e viárias. Ou seja, os primeiros casos reportam-se aos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará essa é uma relação direta entre os Hubs das empresas áreas e o direcionamento de voos regionais potencializar grandemente o contágio. Assim a doença segue as linhas de voos internacionais e regionais como canal de contágio.

A geoestatística muito usada nos estudos das Geociências, principalmente, para coleta de informações e realização de estimativas em cálculos de jazidas minerais Landim (2006), também tem sido bem aceita em estudos de saúde com vista em modelagem de dados a fim de estabelecimento e análise de padrões espaciais (PINA, SANTOS, 2000). A abordagem espacial em saúde pública vem fortalecendo o papel da Geografia e sua Teoria espacial, nos anos de 2006 o próprio Ministério da Saúde do Governo Brasileiro lança uma publicação em três volumes dedicado ao tema Saúde e Geoestatística (BRASIL, 2006; 2007a,b).

Dados espaciais e modelagem em sistemas de informação geográfico (SIG) são essenciais no desenvolvimento de análise de fluxo e vetores relacionados a qualquer fenômeno geográfico, as plataformas open source de SIG ajudam a disseminação de informações útil nas tomadas de decisões. A base de dados georreferenciadas completam as ferramentas de análise espacial. Os dados numéricos de ocorrência de pessoas contaminas pelo COVID-19 foi tratado a luz da representação quantitativa, a partir do método de figuras geométricas proporcional preconizada por Bertin (1988), e caracterizada por Martinelli (2009) como recurso quantitativo que transcreve uma variação visual localizável e que busca revelar o tamanho (proporção) do fenômeno no espaço.

Para Martinelli (2009) o cálculo de proporcionalidade através da figura de um círculo deve se considerar a área do círculo igual a quantidade a ser representada sendo necessário conhecer seu raio afim de estabelecer a proporcionalidade, nos sistemas de informação geográfica os recursos de cartografia temática nos ajudam a representar de forma rápido esse processo. Respeitando a representação visual de tamanho, usando o círculo, foi essencial no entendimento da distribuição da prevalência de infecção do COVID-19. Hoje as questões de modelagens ambientais são bastante evocadas para dá visibilidade e referência aos mapas produzidos em sistemas de informação geográfica, os bens aceitos SIG’s na comunidade geográficas. A produção de produtos cartográficos sempre fascina pelas cores e arranjos espaciais contidos nesses materiais e muito das vezes aceitos como “realidade verdadeira”. O mapa não é uma convenção qualquer, a partir das palavras de Bertin (1988, p.49) de que “[...]é grande a responsabilidade do cartógrafo e como é falso crer que a carta não passa de uma convenção qualquer “essa afirmativa é essencial para desmontar o discurso que o mapa é apenas algo técnico, há de se retomar a questão do papel central do mapa na tradução de dados (ordenados ou não) para a visualização, espacialização e transcrições dos dados, são as regras lógicas da representação gráfica dos dados.

AS INFORMAÇÕES PARA A REGIÃO AMAZÔNICA

 

A região amazônica ainda é caracterizada em seu aspecto populacional como uma áreas de baixa densidade populacional, contudo em relação ao poder de contágio do COVID-19 tem sido bastante significativa, mesmo não tendo um contingente populacional comparado a outras regiões tem uma concentração associada as centro urbanos e pontos dispersores de fluxos de população como os aeroportos (São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santos e Ceará), esses pontos nodais da rede viária são as áreas responsáveis pela entrada do COVID-19.

Assim o cartograma de 25 de março de 2020 contém os primeiros casos confirmado de pessoas contaminadas com o COVID-19, sempre proveniente dos nós aéreos criados pelas empresas áreas para ordenar os voos internacionais e os voos regionais/domésticos.

Figura 1: Casos de COVID-19 nos estados da Amazônia Legal

Fonte: IBGE, 2018, Ministério da Saúde-Brasil, 2020.

Org.: Autores, 2020

 

A partir dos dados do último dia 28 de março de 2020, há um aumento nos casos de pessoas infectados nos estados de Manaus, Acre e Roraima essa aumento corresponde ao período de emcubação, manifestação e diagnóstico da doença, daí para os próximos períodos há uma tendência no aumento de casos, apesar dos governos estaduais encamparem a estratégias de distanciamento social para evitar o aumento do contágio.

O uso de ferramentas geoestatísticas permitiram modelar padrões de concentração e distribuição do COVID-19 para os estados da Amazônia Legal, a partir do mês de abril os casos tem demonstrados um padrão espacial que coincide com os principais eixos de circulação da região, usados dados brutos das secretárias dos estados e das informações do Ministério da saúde do Brasil. Concentram-se nas regiões metropolitanas e em regiões de cidades médias.

Figura 2: Casos da CVID-19 nos municípios da Amazônia Legal

Fonte: IBGE, 2018, Ministério da Saúde, 2020

Org.: Autores, 2020.

 

A partir da análise do mapa temático é possível encontrar os corredores de expansão de contágios associados as estradas como a BR 010 (Belém-Brasília) e 163 (Cuiabá-Santarém), a calha do rio amazonas e pelos seus afluentes em direção leste-norte-oeste.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As leis espaciais associada aos fatores de localização, distribuição, espacialização e padrões tem demonstrado sua atualidade e nos ajuda a compreender o momento pandêmico que estamos passando. É necessário atentar as medidas profiláticas no sentido de controlar o avanço do contágio. As representações espaciais (círculos proporcionais) são essenciais no entendimento da direção dos fluxos e onde eles se concentram, assim, as regiões metropolitanas e as cidades médias correspondem ao ponto de concentração e dispersão do vírus. Seguido dos eixos rodoviários e aquaviários completam o cenário de contágio. 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BERTIN, J. Ver ou ler: um novo olhar sobre a Cartografia. AGB-Seleção de Textos, São Paulo, n.18, p.41-43, maio, 1988.

 

BRASIL. Abordagens espaciais na saúde pública. Ministério da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz; Simone M.Santos, Christovam Barcellos, organizadores. – Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

 

______. Sistemas de Informações Geográficas e Análise Espacial na Saúde Pública. Ministério da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz; Simone M. Santos, Reinaldo Souza-Santos, organizadores. - Brasília : Ministério da Saúde, 2007a.

______. Introdução à Estatística Espacial para a Saúde Pública. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz; Simone M. Santos, Wayner V. Souza, organizadores. - Brasília : Ministério da Saúde, 2007b.

 

GUIMARÃES, R. B. Saúde: fundamentos de Geografia humana. São Paulo, EDUnesp Digital, 2014.

 

HUANG, et alClinical feature of patients infected witch 2019 novel coronavirus in Wuhan China. The Lancet. V.3, 2020.

 

KRAEMER, M. et al. The effect of human mobility and control measures on the COVID-19 epidemic in China. Science. 2020 

 

LANDIM, P. M. B. Sobre Geoestatística e mapas. Terræ Didática, n.2, v1, 2006.

 

MARTINELLI, M. Mapas da geografia e cartografia temática. São Paulo, Editora Contexto, 2009.

 

MENDONÇA, F.; ARAÚJO, W.; FOGAÇA, T. K. A Geografia da Saúde no Brasil: Estado da Arte e alguns desafios. Ver. Investig. Geogr. Chile, v.48, 2014.

 

PINA, M. F.; SANTOS, S. M. Conceitos básicos de sistemas de informação geográfica e cartografia aplicados à saúde. Brasília, DF: OPAS, 2000.



AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZE A SEGUINTE REFERÊNCIA:

 

MASCARENHAS, Abraão Levi dos Santos; VIDAL, Maria Rita. Estimativa da prevalência de infecção por COVID-19 na Amazônia Legal a partir da teoria corológica e da ciência da informação geográfica. In: Revista Ensaios de Geografia, Niterói, vol. 5, nº 9, p. 16-21, maio de 2020

Submissão em: 12/04/2020. Aceite em: 19/05/2020

Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ – Brasil    1


[1] Possui graduação em Geografia Licenciatura e Bacharelado pela Universidade Federal do Pará (2003) e mestrado em Geografia pela Universidade Federal do Ceará (2006). Atualmente é Professor Adjunto C na Faculdade de Geografia da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará.

[2] Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Ceará (2014), mestre em Geografia pela Universidade Federal do Ceará (2006). Possui Graduação e licenciatura em Geografia. Atualmente é professora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará/UNIFESSPA.

[3] REIS, E. et al. Provável aumento de casos de coronavírus no Brasil deve empurrar dólar para cima. Revista Safra. Disponível em: <http://revistasafra.com.br/provavel-aumento-de-casos-de-coronavirus-no-brasil-deve-empurrar-dolar-para-cima/>

[4] Johns Hopkins University. CSSE GIS and Data/COVID-19. Banco de dados. Disponível em: <https://github.com/CSSEGISandData>

[5]Brasil.io. Covid-19. Banco de Dados. Disponível em: <https://brasil.io/dataset/covid19/caso>