UM OUTRO OLHAR SOBRE A CATÁSTROFE: A PANDEMIA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

 

Lessiany Andrade Guimarães Azevedo¹

Instituto Federal Fluminense 

lessianygeo@gmail.com

 

Raquel Lima Cardoso¹

Instituto Federal Fluminense 

raquellimacardoso.30@gmail.com

 

Rebeca Brasil Fonseca Vieira[1]

Instituto Federal Fluminense 

rebecabrasil178@gmail.com

 


RESUMO: 

 

O distanciamento social provocado pelo novo coronavírus tem produzido mudanças ambientais observadas nos espaços urbanos. Notícias publicadas entre janeiro e abril do ano de 2020 evidenciam tais modificações. A partir do uso destas informações objetiva-se apontar a educação ambiental escolar como estratégia de transformação do nosso espaço.

 

Palavras-chave: Educação Ambiental; Paisagem; Distanciamento Social.


 

INTRODUÇÃO 

As medidas de distanciamento social adotadas por diversos países que apresentam casos do novo coronavírus (SARS-CoV-2) estão sendo utilizadas como uma maneira de reduzir a velocidade de transmissão do vírus e permitir que as autoridades preparem a capacidade de atendimento do sistema de saúde, destacando-se como um instrumento eficaz para o controle do vírus. Assim, existem diferentes estratégias de distanciamento que têm sido adotadas de acordo com o contexto e objetivo de cada território, mas de maneira geral elas apresentam impactos não apenas no controle da doença como também em diversas paisagens. As medidas de distanciamento começaram com o deslocamento populacional e em seguida incrementou o fechamento de fronteiras dentre outras restrições (BRASIL, 2020).

Assim, observa-se que a diminuição da interferência humana no espaço tem permitido a recuperação ambiental, evidenciando o desequilíbrio ambiental resultante do modo de viver  da sociedade contemporânea e a necessidade de mudanças através da educação ambiental.

 

GLOBALIZAÇÃO DA (IN) SEGURANÇA 

O cenário de incertezas frente à pandemia trouxe reflexões, em escala global, acerca da configuração da sociedade no Século XXI. No contexto da globalização da in-segurança a problemática ecológica destaca-se entre as primeiras questões apontadas em contexto global, uma vez que está diretamente ligada à manutenção da vida, sendo que houve uma intensificação do debate nesse período de distanciamento social (HAESBAERT, 2013).

Assim, sabe-se que a natureza não reconhece fronteiras, logo, a globalização dos problemas ambientais é uma questão que tem intensificado as discussões desde meados do século XX. Ao mesmo passo que crescem debates sobre as dinâmicas da natureza, aumenta-se também a preocupação com a chamada “globalização da saúde” que traz um sentido social para esse fenômeno biológico (FARIA; BORTOLOZZI, 2009).

A organização dos espaços pode influenciar direta ou indiretamente no perfil de distribuição de agentes patológicos, o território urbano, por exemplo, apresenta-se com relações cada vez mais globalizadas nas quais refletem o perfil fragmentado(r) e integrado(r) característico da globalização (HAESBAERT, 2013). Esses apontamentos revelam como a análise geográfica por meio da educação ambiental traz contribuições para a compreensão de fenômenos epidemiológicos a fim de acentuar reflexões acerca dos padrões de vida gerados pela globalização da cultura e economia. 

 

DESENVOLVIMENTO (IN) SUSTENTÁVEL

Em diversos momentos da história houve o aparecimento de doenças infecciosas gerando diferentes impactos para as sociedades vigentes. Por meio de estudos voltados para a área ambiental constatou-se que esses novos vírus possuem estreita relação com a degradação ambiental na qual tem-se intensificado com as novas ondas de inovações tecnológicas e alterações no padrão de consumo da sociedade moderna. Essas mudanças no modo de produzir e, consequentemente de consumir, têm elevado a exploração dos recursos naturais de maneira insustentável, destruindo o habitat de diversos animais, além de acentuar a emissão 

de poluentes atmosféricos e hídricos (ONU BRASIL, 2020). A globalização da cultura incentiva e intensifica o consumo induzindo maior produção e, por conseguinte maior emissão de poluentes (HAESBAERT, 2013).

Esse desequilíbrio ambiental modifica os espaços em escala local e global causando diversas consequências para as outras espécies e para a humanidade. No entanto a sociedade moderna continua seguindo um ritmo de desenvolvimento que não promove uma racionalidade sustentável dos recursos naturais disponíveis e com o avanço da globalização neoliberal a escala desse movimento ampliou-se assim como o movimento demográfico (SANTOS 2000). Nesse contexto, as medidas de distanciamento social têm reduzido significativamente a circulação de pessoas nas diferentes escalas, assim como a produção industrial, resultando em mudanças nas paisagens de diversas metrópoles globais, sobretudo no que diz respeito à poluição atmosférica e dos recursos hídricos (SCORSIN, 2020). Ainda que o cenário não seja ideal, essas mudanças observadas têm o potencial de evidenciar como atuação da sociedade no espaço tem sido predatória. 

 

EDUCAR PARA TRANSFORMAR: O APRENDER PELO EXEMPLO

As medidas de distanciamento social mostraram que as mudanças de hábitos suscitam melhorias para o meio ambiente, no entanto esse cenário é desfavorável ao desenvolvimento econômico. Assim, é fundamental recorrer a perspectiva da educação ambiental para que seja possível promover um desenvolvimento econômico aliado a um equilíbrio ambiental, ainda que seja necessário repensar algumas características da forma de produzir e consumir. Desse modo, a educação ambiental pode despertar um olhar interrogativo acerca da forma que a sociedade moderna está e se reproduz, para que por meio desta, as práticas predatórias adotadas sejam repensadas (LEFF, 2011).

Mediante as mudanças identificadas nas paisagens das metrópoles é possível utilizar a educação ambiental como um caminho para repensar e melhorar a relação sociedade e natureza. As notícias sobre as alterações nos espaços urbanos que têm surgido nesse período podem ser utilizadas como recursos pedagógicos juntamente com dados que comparem índices de poluição antes e durante o distanciamento social, a fim de que a partir da educação ambiental os sujeitos identifiquem os impactos causados no espaço, promovendo reflexão sobre a temática em diferentes âmbitos da sociedade, a começar pela educação escolar. 

Posto isto, esta reformulação deve ser construída a partir das vivências do educando neste contexto uma vez que para a construção do conhecimento é preciso que haja interação do aluno com estes novos conceitos a partir do que ele já conhece (GEBRAN, 2002). Sendo assim, fica proposta a implementação desta estratégia para educação ambiental no espaço escolar, visando a ressignificação do conhecimento desde a educação básica, com enfoque na complexidade ambiental em relação à dinâmica humana. 

A educação ambiental utilizando-se das notícias evidencia justamente a dinâmica apontada, aplicando a interdisciplinaridade como uma base para um novo aprendizado. A pandemia em vigor possibilita inter-relacionar conhecimentos do senso comum e conhecimentos sistematizados, visando promover reflexões acerca do desenvolvimento in(sustentável) que foi colocado em questão até aqui. Tais reflexões proporcionam a transformação do nosso espaço com o novo aprendizado que entende a natureza e respeita sua complexidade, obtendo uma sociedade mais sustentável. Como exemplo pode-se utilizar a declaração da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo que aponta a diminuição da poluição em São Paulo devido ao distanciamento social provocado pela pandemia e assim encaminhar uma discussão com os educandos sobre as atividades realizadas nesse espaço que colaboravam com a poluição a fim de que eles percebam a relação das atividades humanas no espaço (CETESB, 2020).

Assim a educação ambiental tem o objetivo de procurar soluções para a crise ambiental por meio da ressignificação do conhecimento em que há um abandono da “mentalidade predatória que só vê o mundo como recurso a ser explorado pelo homem em busca de benefícios” (MATURANA; VARELA, 2005 apud GREGORI; ARAUJO, 2013, p. 703). Há uma desconstrução das racionalidades que levaram o mundo a uma crise ambiental, evidenciando-se como uma ferramenta capaz de contribuir diretamente com a reestruturação dos hábitos de consumo na contemporaneidade (MORAIS; COLESANTI, 2012).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, ressalta-se a necessidade da educação ambiental para o estabelecimento de uma consciência coletiva junto a responsabilidade socioambiental. No entanto, não pretende-se apoiar um discurso que valoriza natureza acima da humanidade, pelo contrário, se propõe que a sociedade passe a se enxergar como parte integrante da natureza para atuar sobre esta de maneira mais responsável. É preciso que haja um olhar atento sobre os padrões de consumo atuais assim como outras práticas não sustentáveis a fim de que o desenvolvimento socioeconômico esteja equilibrado com o ambiental. Nesse sentido, a educação ambiental atua juntamente com a geografia de maneira direta como uma forma de obter qualidade de vida sem comprometer a integridade do nosso espaço. 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Centro de Operações de Emergências Coronavírus. Boletim Epidemiológico 8. Disponível em: <https://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2020/April/09/be-covid-08-final-2.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2020.

 

CETESB. CETESB constata diminuição da poluição na Grande São Paulo durante a quarentena do coronavírus. Disponível em: https://cetesb.sp.gov.br/blog/2020/03/30/cetesb-constata-diminuicao-da-poluicao-na-grande-sao-paulo-durante-a-quarentena-do-coronavirus/. Acesso em: 18 mai. 2020.

 

FARIA, M. R. BORTOLOZZI, A. Espaço, território e saúde: Contribuições de Milton Santos para o tema da geografia da saúde no Brasil. Editora UFPR, Curitiba, 2009.

 

GEBRAN, R. A. A Geografia no Ensino Fundamental: Trajetória Histórica e Proposições Pedagógicas. Colloquium Humanarum, São Paulo, 2003, p. 81-88.

 

GREGORI, M. S.; ARAUJO, L. E. B. Epistemologia Ambiental: a crise ambiental como uma crise da razão. Revista Eletrônica do Curso de Direito – UFSM, Santa Maria, v.8, 2013, p. 700-711.

 

HAESBAERT, R. Globalização e Fragmentação no mundo contemporâneo. 2. ed. Niterói: Editora da UFF, 2013.

 

LEFF, E. Complexidade, Interdisciplinaridade e saber ambiental. Olhar de Professor, Paraná, v. 14, n. 2, 2011.

 

MORAIS, C. COLESANTI, M. Epistemologia Ambiental. São Paulo, GEOUSP: Espaço e Tempo, n. 32, 2012, p. 219-221.

 

ONU Brasil. Surto de coronavírus é reflexo da degradação ambiental, afirma PNUMA. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/surto-de-coronavirus-e-reflexo-da-degradacao-ambiental-afirma-pnuma/>. Acesso em: 24 abr. 2020.

 

SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. São Paulo: Record, 2000.

 

SCORSIN, A. P. Animais silvestres em cidades, canais cristalinos e ar límpido; confira o impacto do isolamento social na natureza. Ecodebate. 2020. Disponível em: <https://www.ecodebate.com.br/2020/04/01/animais-silvestres-em-cidades-canais-cristalinos-e-ar-limpido-confira-o-impacto-do-isolamento-social-na-natureza/> Acesso em: 24 abr. 2020.

 

 

 

 

 

 

 

AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZE A SEGUINTE REFERÊNCIA:

AZEVEDO, Lessiany Andrade Guimarães; CARDOSO, Raquel Lima; VIEIRA, Rebeca Brasil Fonseca. UM OUTRO OLHAR SOBRE A CATÁSTROFE: a pandemia no processo de aprendizagem. In: Revista Ensaios de Geografia, Niterói, vol. 5, nº 9, p. 106-111, maio de 2020.

Submissão em: 05/05/2020. Aceite em: 21/05/2020.

Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ – Brasil.

 


[1] Graduando de licenciatura em Geografia do Instituto Federal Fluminense, Campus Centro - Rio de Janeiro- RJ- Brasil.