Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
ROCHA, Pedro Henrique; TRINDADE, Helena; NEVES, Rafaela Pinheiro de Almeida; ROMÃO, Elinton Fábio; LIMA, Laiza.
COVID-19: uma reflexão geográfica sobre as diferenciações patológicas. Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 6, nº 12, pp.
133-160, setembro-dezembro de 2020.
Submissão em: 21/07/2020. Aceite em: 12/11/2020.
ISSN: 2316-8544
133
COVID-19
1
:
UMA REFLEXÃO GEOGRÁFICA SOBRE AS DIFERENCIAÇÕES
PATOLÓGICAS
COVID-19:
A GEOGRAPHIC REFLECTION ABOUT PATHOLOGICAL
DIFFERENTIATIONS
Pedro Henrique Rocha
2
Universidade Federal Fluminense
pehenrique@id.uff.br
Helena Trindade
3
Universidade Federal Fluminense
helenatrindade@id.uff.br
Rafaela Pinheiro de Almeida Neves
4
Universidade Federal Fluminense
rafaelapaneves@hotmail.com
Elinton Fábio Romão
5
Universidade Federal Fluminense
elintonfabio@id.uff.br
Laiza Lima
6
Universidade Federal Fluminense
1
Uma versão anterior do texto foi apresentada ao SciELO Preprint estando disponível no seguinte link:
<https://preprints.scielo.org/index.php/scielo/preprint/view/761>.
2
Graduando em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador no Laboratório de
Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades (LEMTO).
3
Graduanda em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador no Laboratório de
Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades (LEMTO).
4
Doutoranda em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (PosGeo/UFF) e bolsista CAPES no
Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades (LEMTO).
5
Graduando em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e bolsista PROAES/UFF no
Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades (LEMTO).
6
Graduanda em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e bolsista PROAES/UFF no
Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades (LEMTO).
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AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
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Resumo
Este artigo busca, por meio da pandemia de COVID-19, compreender por uma leitura geográfica qual
elemento melhor se aplica na explicação das diferenciações patológicas. Visto o histórico
epidêmico/pandêmico da sociedade ocidental-moderna, cenários patológicos não são novidades para os
homens e mulheres. Contudo, mesmo que as principais doenças que atingiram a humanidade se enquadrem
em um perfil geográfico-epidemiológico semelhante, o raio de ação que cada uma adquire parece
influenciar na reverberação política, social, cultural, etc.
Palavras-chave
Covid-19; Coronavírus; Geografia da Saúde; Necropolítica.
Abstract
This article seeks, through the COVID-19 pandemic, to understand by geographic reading which element
best applies in explaining pathological differentiations. Given the epidemic / pandemic history of Western-
modern society, pathological scenarios are not new to men and women. However, even if the main diseases
that affected humanity fit into a similar geographic-epidemiological profile, the range of action that each
one acquires seems to influence the political, social, cultural and so on.
Keywords
COVID-19; Coronavirus; Health Geography; Necropolitics.
Introdução
O ano de 2020 apresenta ao mundo uma discussão epidemiológica típica de um
roteiro de ficção científica digna de um blockbuster. A possibilidade de ser instaurado um
cenário apocalíptico parece ter unido a comunidade científica e o senso comum em uma
mesma discussão sobre a COVID-19. Cenários de epidemias não são novos para a
realidade humana. Desde que deixamos as características de sermos caçadores-coletores
nômades em pequenas populações, convivemos com ataques mais eficientes dos vírus aos
nossos corpos (WOLFE, DUNAVAN e DIAMOND, 2007). Com o início da agricultura
e a maior aglomeração humana, a relação patológica muda. Os vírus começam a saltar
dos animais não-humanos para os animais humanos com mais facilidade e inicia-se,
assim, o aumento constante de doenças infecciosas no nosso cotidiano. Cabe ressaltar que
quanto maior a proximidade genética do hospedeiro com o ser humano, mais facilmente
ocorre o salto viral para os homens e para as mulheres, ou em termos técnicos, a
transferência zoonótica.
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Doenças conhecidas para o grande público como a gripe, a AIDS, o Ebola, o
Zika vírus, entre outras, são bons exemplos de casos de transferências zoonóticas nas
quais o ser humano possuía contato próximo com o hospedeiro. As aves e/ou os porcos
para a gripe, o macaco para o AIDS, os chimpanzés e os gorilas como hospedeiros
intermediários do Ebola e o mosquito Aedes aegypti como hospedeiro intermediário do
Zika vírus. Por mais que a COVID-19 aparente ter o mesmo tipo de origem das doenças
mencionadas, as suas características expuseram para nós um cenário de transmissão em
uma taxa de crescimento exponencial nunca antes vista. Por conta disso, a patologia
assume um caráter de pandemia e vem produzindo impactos não somente nos aspectos
biomédicos e epidemiológicos, mas também reverberação e efeitos sociais, econômicos,
políticos e culturais. De acordo com o Situation Report 116 (referente ao dia 15 de maio
de 2020) da Organização Mundial da Saúde OMS (2020c), a doença já estava presente
em mais de 212 países, com 4.338.658 casos confirmados e 297.119 mortes, revelando
ser a maior epidemia da época moderna.
Assim, se delineia o objetivo deste trabalho, debater o atual cenário pandêmico
mundial sob a ótica geográfica, pois acreditamos que ela nos fornece uma compreensão
ampliada de variáveis sob uma contextualização holística do espaço-tempo
moderno/colonial sobre toda e qualquer questão que atinge o Norte e o Sul global. Para
isso, o artigo foi dividido em duas partes, sendo a primeira destinada a trazer um
panorama geral sobre os aspectos biológicos e geográficos da COVID-19. Nesta seção,
buscou-se de um lado, trazer o debate sobre a origem espacial e temporal dessa patologia,
sua relação de semelhança com outras doenças da mesma família do coronavírus e com
outros tipos de epidemias. De outro, busca-se entender como esse tipo de doença está
relacionada a um determinado modo de vida, sobretudo o modelo ocidental, iniciado com
Revolução Agrícola e desenvolvido pelo sistema capitalista. A segunda seção analisa
geograficamente a COVID-19, trazendo uma inflexão sobre o entendimento da
modernidade enquanto a outra face da colonialidade, como pressuposto para se entender
como as diferenças espaciais são determinantes na análise dos mais diferentes fenômenos
políticos, econômicos, biológicos e geográficos. Isso significa trazer uma reflexão sobre
como a posição hegemônica do Norte global traz uma dimensão própria dos fenômenos
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que atingem seus espaços tão díspar de quando esses mesmos fenômenos atingem o Sul
global e são convertidos a políticas de morte.
Do biológico ao social
A origem da COVID-19 ainda é uma incerteza para a comunidade científica.
Muito se estipula sobre a fonte do vírus ser o mercado Huanan, na cidade de Wuhan,
província de Hubei, na China, com os animais que ali são vendidos. Por mais que o vírus
se assemelhe ao que causou o surto de SARS em 2003, também na China, e isso ser
considerado ponto de partida para investigação sobre os possíveis hospedeiros, até o
momento nenhum animal foi constatado como o verdadeiro hospedeiro do vírus SARS-
CoV2. Dentre a lista dos suspeitos hospedeiros, o morcego (YUEN et al, 2020;
CHUANG, 2020; WU et al, 2020; ANDERSEN et al, 2020; QIU et al, 2020) principal
suspeito por ter sido o hospedeiro do vírus SARS-CoV, divide as suspeitas com a cobra
(CHUANG, 2020; WU et al, 2020), o vision (semelhante à doninha) (Wu et al, 2020) e o
pangolim (semelhante ao tamanduá, mas com escamas) (WU et al, 2020; ANDERSEN et
al, 2020; QIU et al, 2020), por também apresentarem muitas citações nas investigações.
Em contrapartida às suposições ligadas ao mercado Huanan, o Grain (2020)
sugere que a origem do vírus pode estar na criação industrial de animais. Partindo das
informações divulgadas pelo jornal South China Morning Post (MA, 2020), pela revista
Science (COEN, 2020) e pelo jornal The Lancet (HUANG et al, 2020), os primeiros casos
da doença, inclusive o “paciente zero”, não aparentam estar relacionados com a datação
primária de dezembro de 2019. De acordo com os textos, cerca de um terço dos casos
iniciais não apresentam vínculo com o mercado úmido, o que induziu os pesquisadores a
suspeitarem da ocorrência das primeiras infecções em novembro de 2019 (ou então antes)
devido ao tempo de incubação entre a infecção e manifestação sintomática. Dessa
maneira, o vírus teria se espalhado silenciosamente entre os habitantes de Wuhan e
“entrado no mercado antes mesmo de sair do mercado” (COEN, 2020).
Além disso, a análise de sequenciamento genômico do vírus SARS-CoV2
publicada por Andersen et al (2020) descarta a possibilidade de o vírus ter surgido por
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uma engenharia genética e indica que o processo de seleção natural, principal forma para
a evolução do vírus, deve ter ocorrido em áreas com alta densidade populacional e que o
hospedeiro possua “um gene codificador da ACE2 que é semelhante à ortologia humana”.
Nesse sentido, o estudo de Qiu et al (2020) contribui para a hipótese da relação do sistema
agroindustrial com a origem do vírus, pois a maioria dos animais elencados como
possíveis hospedeiros do Sars-Cov2 (a civeta, o porco, o pangolim, o gato, a vaca, o
búfalo, a cabra, a ovelha e o pombo) são criados de forma industrial na China para os
mais diversos usos (GRAIN, 2020). Ademais, um outro indicativo dessa relação pode ser
interpretado pelo fechamento de 20.000 fazendas de animais selvagens ordenado pelo
governo chinês no início da epidemia (STANDAERT, 2020).
Mesmo com as incertezas sobre a origem do vírus, tendo, inclusive, a
possibilidade de a patologia ter saltado para os humanos por um hospedeiro intermediário
(YUEN et al, 2020; WU et al, 2020; QIU et al, 2020; GRAIN, 2020), ainda circulam
narrativas com eleição de culpados, exemplificadas na permanência da hipótese sobre o
mercado Huanan e na notícia onde veicula a sopa de morcego como a origem da
patologia. Mesmo que o morcego figure como um dos principais suspeitos a hospedeiro
do vírus e apresente o histórico de ser o causador da SARS, Qiu et al (2020) questionam
a probabilidade do animal ser o causador da pandemia por conta da falta de contato entre
a espécie humana e a espécie morcegal para a ocorrência da transferência zoonótica. Esse
tipo de narrativa, por outro lado, expõe o espanto que é para o ocidente a possibilidade da
existência de hábitos alimentares que misturam a produção (agro)industrial com os
mercados úmidos e os animais exóticos para a criação de uma alimentação biodiversa,
como é o caso da China, e a conversão disso à xenofobia (WALLACE, 2020).
De acordo com Wu et al (2020), Andersen et al
(2020) e Qiu et al
(2020), o
coronavírus (CoVs) é uma grande família de vírus RNA de fita simples capaz de infectar
animais não-humanos e humanos que se divide em quatro gêneros: alfa-coronavírus, beta-
coronavírus, gama-coronavírus e delta-coronavírus. Com a descoberta do novo patógeno,
o vírus SARS-CoV2, causador da coronavirus disease COVID (doença do
coronavírus), descobriu-se também o sétimo membro dessa família (alfacoronavírus 229E
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e NL63; e betacoronavírus OC43, HKU1, SARS-CoV, MERS-CoV e agora SARS-
CoV2). Ainda de acordo com Wu et al (2020):
novos coronavírus parecem emergir periodicamente em humanos,
principalmente devido à alta prevalência e vasta distribuição de coronavírus, à
ampla diversidade e à frequente recombinação de seus genomas, e ao aumento
das atividades de interface humano-animal (WU et al., 2020:1. tradução
programa de voluntariado acadêmico da UFPR).
Posto de outra maneira, o coronavírus que se apresenta hoje para nós e todos os
outros presentes em sua família não são uma novidade para a humanidade. De acordo
com Wolfe; Dunavan e Diamond (2007), as doenças infecciosas mais importantes das
populações humanas modernas seguem o mesmo padrão, exposto por Wu et al (2020)
sobre o coronavírus, e têm em comum o surgimento nos últimos 11.000 anos e suas
origens estão ligadas aos animais não humanos. Obviamente, as 25 doenças de alto
impacto evolutivo apresentadas por Wolfe, Dunavan e Diamond (2007) - Difteria,
Hepatite B, Influenza A, Sarampo, Caxumba, Coqueluche, Praga, Rotavírus A, Rubéola,
Varíola, Sífilis, Tétano, Tuberculose, Febre tifóide, Tifo, AIDS, Doença de Chagas,
Cólera, Dengue hemorrágica, Doença do sono no Leste da África, Malária falciparum,
Leishmaniose visceral, Malária vivax, Doença do sono no Oeste da África e Febre amarela
- mais a família coronavírus, possuem diferenças nos seus ciclos biológicos de reprodução
e transmissão, sendo umas mais especializadas em infectar humanos e outras não.
Independente dessas diferenças biológicas, a nós interessa o princípio de salto
viral dos animais não humanos para os animais humanos, que acaba respondendo a
origem da COVID-19 e também o enquadrando em uma categoria de patologia
importante para esse trabalho. As literaturas sobre o assunto expõem que a base para a
transmissão viral passa pela aglomeração (de animais humanos e animais não humanos)
e uma frequência de encontro entre as espécies (CHUANG, 2020; ANDERSEN et al,
2020; QIU et al, 2020; WALLACE, 2020; WALLACE et al, 2020) ou nas palavras de
Wolfe; Dunavan e Diamond (2007):
[...] a probabilidade por unidade de tempo ( p) da infecção de um indivíduo
de uma nova espécie hospedeira (isto é, nova receptora) aumenta com a
abundância do hospedeiro existente (ou seja, doador existente), com a fração
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da população hospedeira existente infectada, com a frequência de 'encontros'
(oportunidades de transmissão, incluindo' encontros 'indiretos via vetores)
entre um indivíduo do host existente e do novo host e com a probabilidade
de transmissão por encontro. p diminui com o aumento da distância
filogenética entre o hospedeiro existente e o novo hospedeiro. p também
varia entre os micróbios [...], e essa variação está relacionada às
características de um micróbio, como sua capacidade de gerar variabilidade
genética ou sua capacidade de superar as barreiras moleculares do hospedeiro
em potencial de novos hospedeiros (WOLFE; DUNAVAN; DIAMOND,
2007. Tradução nossa.).
Ao considerar o estilo de vida que a sociedade ocidental-moderna impõe e
expande para diferentes regiões do globo, ambientes propícios para a interação
interespecífica não faltam. Ancorados no princípio de que não somos seres
autossuficientes e por isso necessitamos de alimentos de origem animal e vegetal,
construímos lugares de domesticação/criação de animais e cultivo de vegetais a fim de
saciar nossas necessidades alimentares, assim como desbravamos áreas desconhecidas
para expandir as cidades e/ou buscar novos alimentos para nos alimentar. Mas, nossa
história nem sempre foi assim. Somente a partir do mesolítico (10.000 a.C. - 5.000 a.C.)
as populações humanas passaram a deixar suas características de caçadores-coletores
nômades para se fixarem e se aglomerarem em uma mesma área (SPOSITO, 1988;
HARARI, 2015).
A criação de técnicas de domesticação de animais e vegetais é a grande
responsável pela alteração no modo de vida dos Homo sapiens. Por conta das melhorias
nas condições de suprimento alimentar que é importante apontar, não ocorreu de
maneira rápida, levou cerca de 5 mil anos para ser sistematizada (SPOSITO, 1988;
HARARI, 2015) tornou-se possível a ocupação permanente de uma área por diferentes
espécies, pois o homem passou a “acompanhar todo o ciclo de desenvolvimento natural
de animais e produtos agrícolas” (SPOSITO, 1988) e “a dedicar quase todo o seu tempo
e esforço a manipular a vida de algumas espécies de plantas e de animais” (HARARI,
2015).
Dessa maneira, à medida que as sociedades passaram a ter uma organização social
mais complexa, na qual a produção de excedentes agrícolas passava a determinar uma
divisão social do trabalho (SPOSITO, 1988), as técnicas e os instrumentos de trabalho
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também passaram a adquirir funções mais complexas, deixando de ser prolongamento do
corpo humano para se tornarem prolongamento do território (SANTOS, 2014), a
probabilidade de infecção da espécie humana passa a aumentar. O crescimento das
populações humanas tornou-se fundamental para o crescimento das produções de grãos e
criação de animais, pois a busca por uma segurança alimentar para a própria geração e as
gerações futuras (HARARI, 2015) acabou estruturando os sistemas agrícolas em torno
das demandas alimentares e expõe o nexo entre a epidemiologia e a economia primeiro
no sentido de “administração da casa” e posteriormente no sentido mercantil (PORTO-
GONÇALVES, 2018a).
O coronavírus que assusta a humanidade hoje, baseado na leitura de Wallace
(2016) apud Chuang (2020), “representa as duas dimensões da nossa nova era de pragas
político-econômicas”, iniciadas com a revolução agrícola e aprimoradas com o
capitalismo, a qual tem nas áreas de produção agrícola e nas áreas de fronteiras as duas
categorias explicativas para a ocorrência da transferência zoonótica. Entretanto, é
importante esclarecer que essas categorias não são opostas ou excludentes, podendo até
atuar em conjunto devido ao impulso dos circuitos globais de mercadorias e migrações
regulares de trabalho (CHUANG, 2020).
- Áreas de produção agrícola
A importância das áreas de produção agrícola para a produção de patologias é
melhor ilustrada quando, mais uma vez, retornamos à determinação de 11.000 anos como
marco temporal de surgimento das mais importantes doenças infecciosas das populações
humanas por conta das condições biológicas e socioespaciais criadas pela Revolução
Agrícola (WOLFE; DUNAVAN; DIAMOND, 2007; HARARI, 2015). Entretanto, a
primária associação das zonas de produção agrícola com os focos epidêmicos deve ser
questionada, pois o que determina se o local é um epicentro epidemiológico ou não são
as espécies que ali residem e interagem com as outras.
A agricultura não surge em um ponto específico do globo e dali se espalha para
os quatro cantos do mundo. Ela surge de modo independente no Oriente Médio, na
América Central, América do Sul, Leste asiático, África Ocidental, entre outros, sem que
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uma região, necessariamente, soubesse o que acontecia em outra (HARARI, 2015). São
as diferenças geográficas e aí incluindo relevo, clima, vegetação, hidrografia e etc. e
as escolhas das espécies vegetais e animais que acabaram sendo determinantes para o
sucesso (ou fracasso) das domesticações e dos saltos virais.
Retornando a Wolfe, Dunavan e Diamond (2007), deparamo-nos com uma
diferenciação geográfica de origem das principais patologias que atingiram a
humanidade. De acordo com os autores, das 15 doenças temperadas de alto impacto
evolutivo, 8 possuem sua origem provável vinculada a animais domesticados (Difteria
herbívoros domésticos; Influenza A patos, porcos e aves selvagens; Sarampo gado
bovino e animais ruminantes; Caxumba mamíferos e possivelmente porcos; Coqueluche
mamíferos com larga possibilidade de hosts; Rotavírus herbívoros domésticos e outros
mamíferos; Varíola possivelmente camelos; Tuberculose possivelmente animais
ruminantes). Já em relação as 10 doenças tropicais de alto impacto evolutivo, as 4 que
poderiam ser descritas como originárias de animais domésticos (Doença de Chagas;
Leishmaniose e Doença do Sono do Leste e do Oeste Africano) são contestadas por terem
animais domésticos e selvagens como hospedeiros, e esses animais domésticos serem
originários do Velho Mundo.
Outro argumento para a existência de relação entre o tipo de criação animal e a
epidemiologia pode ser vista na Inglaterra pré-capitalista, onde a substituição dos
camponeses pelo gado importado de outras partes da Europa proporcionou três pandemias
diferentes ao país no século XVIII (1709-1720, 1742-1760 e 1768-1786). De acordo com
Chuang (2020), as novas técnicas de concentração animal e a infecção das espécies pelas
pandemias pré-capitalistas que seguiram às guerras, possibilitaram um ambiente de
“seleção demoníaca crescente” dos vírus e respondem o porquê de as três pandemias
terem atingido a população inglesa com mais agressividade do que as outras populações
da Europa continental.
Dessa maneira, quando se aponta a relação da produção agrícola com a produção
de patologias, necessariamente aborda-se um modelo produtivo inaugurado no Velho
Mundo e exportado a partir das Grandes Navegações. As técnicas originárias dessa
região, mais os animais escolhidos para serem criados, aumentaram a probabilidade
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epidêmica, pois significam a captura de cepas virais previamente isoladas ou inofensivas
e a introdução delas em ambientes hipercompetitivos para serem selecionadas
artificialmente e evoluírem (CHUANG, 2020). Se somarmos isso às alterações genéticas
que os animais domesticados sofrem para atender os padrões da indústria alimentícia,
vemos que a probabilidade epidêmica aumenta ainda mais, que os vírus não encontram
(ou encontram poucos) obstáculos imunológicos para frear seu crescimento.
Por mais que possam ter patologias originárias das áreas produtivas da chamada
zona tropical, as espécies de animais selecionadas para a domesticação não aparentam
possuir cepas virais com a mesma letalidade das encontradas na zona temperada. Em
contrapartida, o trabalho de Morse et al
(2012) elege justamente essa região como a
principal área para a emergência de novas patologias, como é possível observar no mapa
(Figura 1):
Figura 1 - Mapa das principais áreas para o surgimento de patologias
Fonte: Morse et al, 2012.
A justificativa para os países da zona tropical, ou numa melhor categorização, do
Sul global, figurarem como epicentros epidemiológicos (ou hotspots, como denominado
por Morse et al (2012)), passa por suas condições geográficas. Importante ressaltar que
estamos apontando a relação no sentido da palavra tal qual é vista no dicionário “2. modo
de viver resultante da situação de alguém; 3. classe social; 4. obrigação que se impõe e se
aceita”. Nesse sentido, a base econômica pautada no setor primário da maioria dos países
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componentes dessa região proporciona que os países do Sul global apresentem grandes
populações de animais, pois, de acordo com a Divisão Internacional do Trabalho - DIT,
possuem funções primárias para a economia global e precisam suprir a demanda alimentar
global. Lembrando que os animais mencionados são as vacas, as ovelhas, as cabras, os
porcos, etc., os quais são originários do Velho Mundo e no passado significaram
epidemias (WOLFE; DUNAVAN; DIAMOND, 2007, CHUANG, 2020).
Outra condição geográfica encontrada nesses países que também é condição para
a ocorrência de saltos zoonóticos é o tamanho das populações. Por conta da maneira como
o sistema capitalista foi instalado nessa região, subalternizando-a e tornando-a uma
espécie de reserva de mão de obra e de bens primários, encontramos no Sul Global as
maiores concentrações de pessoas do globo hoje e em projeções para o futuro, como pode
ser visto na tabela (figura 2):
Figura 2 - Tabela da população do mundo, regiões dos ODS* e
grupos selecionados de países, 2019, 2030, 2050 e 2100, de
acordo com a projeção de variação média
População (milhões)
Região
2030
2050
2100
Mundo
8 548
9 735
10 875
África Subsaariana
1 400
2 118
3 775
África do Norte e Ásia Ocidental
609
754
924
Ásia Central e do Sul
2 227
2 496
2 334
Leste e Sudeste da Ásia
2 427
2 411
1 967
América Latina e Caribe
706
762
680
Austrália/Nova Zelândia
33
38
49
Oceania**
15
19
26
Europa e América do Norte
1 132
1 136
1 120
Países menos desenvolvidos
1 314
1 877
3 047
Países em desenvolvimento sem litoral
659
926
1 406
Pequenos Estados insulares em
desenvolvimento
78
87
88
Fonte: Organização das Nações Unidas, Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais,
Divisão Populacional (2019). World Population Prospetcs 2019.
*Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
**Excluindo Austrália e Nova Zelândia
Fonte: ONU, 2019.
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AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
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133-160, setembro-dezembro de 2020.
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144
- Áreas de fronteira
As áreas de fronteira, entendidas como as áreas que “revela[m] interações entre o
homem, a terra e a natureza em confronto com a racionalidade da acumulação capitalista”
(SILVA, 2019:40), se apresentam como a segunda categoria a explicar o salto zoonótico,
por constituírem as formas que diferenciam a organização territorial. Em outras palavras,
são as áreas que dentro de suas diversas dimensões, representam os limites de um
processo homogeneizante das forças capitalistas via urbanidades, industrialização e
difusão cultural de valores globais (SILVA, 2019). Em sua dimensão ecológica, podem
ser interpretadas como o contraste entre o avanço das áreas de circuitos mercantis
(ilustrada pela constituição dos sistemas de energia, comunicação e transporte
representada espacialmente pelas cidades) sobre as áreas naturais (ilustradas pelos mais
diversos tipos de ecossistemas). Essas áreas, que acabam representando limites e
processos sociais simultaneamente, se mostram importantes por apresentarem o salto
zoonótico via animais selvagens.
A constante busca por incorporação de novas áreas antes consideradas como
distantes, inóspitas ou de reserva para a ampliação dos circuitos, representa, na mesma
medida, a exposição do homem ao desconhecido ou o choque entre realidades e formas
de reprodução da vida distintas. Exemplos como a entrada de pessoas em áreas florestais
para a caça de alimentos, a desapropriação e o deslocamento de populações para morarem
em áreas mais interioranas dos ecossistemas, a migração para áreas interioranas por conta
do extrativismo ou a própria introdução dos sistemas (construção de vias, rede de
telefonia, rede elétrica, etc.), mesmo podendo ser enquadradas em diferentes categorias,
expõem como o conflito entre tempos diferentes causa desequilíbrio tanto para as áreas
naturais, quanto para as áreas artificiais.
Enquanto do lado urbano o avanço sobre as áreas naturais pode significar
progresso e desenvolvimento, para o lado ecológico é traduzida como perda de
biodiversidade e, em uma visão epidemiológica, possibilidade de contágio viral. Como a
fronteira é “um espaço social de posições em conflito, instabilidade, conquista e
resistência” (SILVA, 2019:43), o sucesso do capital muitas vezes custa caro. O
“rompimento da continuidade das relações ecológicas do espaço” conceituado como
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fratura metabólica por Foster et al (2019) produzido pelos seres humanos, acaba se
virando contra nós mesmos, pois a fauna e a flora ali presentes representam reservatórios
de micro-organismos, que podem ser nocivos à saúde humana, e como o forçados a
migrarem ou morrerem, infectam seus inimigos com suas últimas defesas. Como o nosso
estilo de vida prevê aglomeração em torno de uma mesma área, o retorno das pessoas que
estavam nas áreas de fronteira (agora infectadas) às suas casas, significa a possibilidade
do vírus continuar seu ciclo reprodutivo em novos hospedeiros, ainda mais se levarmos
em conta a variedade de formas de transmissão que temos conhecimento (pelo ar, por
superfícies contaminadas como a água ou um fruto, pelos fluídos corporais, pelo contato
direto com o hospedeiro, etc.).
Para espacializar esse tipo de relação, novamente Wolfe, Dunavan e Diamond
(2007) nos auxiliam. A diferenciação geográfica apontada por eles para as principais
patologias que atingiram a humanidade indica que 6 das 10 doenças tropicais possuem
origens em animais selvagens (AIDS - chipanzé; Dengue - primatas; Malária vivax -
macacos; Malária falciparum - aves selvagens; Febre amarela - primatas e Cólera -
possivelmente organismos aquáticos). Comparando com a zona temperada, que possui 3
(Hepatite B, Peste e Tifo), se consideramos os roedores hospedeiro e hospedeiro
provável da Peste e do Tifo, respectivamente como animais selvagens, vemos que mais
uma vez o epicentro epidemiológico está situado no Sul Global. A explicação para isso
parte das áreas de preservação e os remanescentes de ecossistemas originários ainda
existentes nessa região, como podemos observar no mapa (Figura 3).
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Figura 3 - Mapa das áreas de proteção territorial e marinha (% da área territorial
total) em 2018
Fonte: Banco Mundial, 2020.
Como essas áreas são classificadas por uma industrialização tardia, ou seja,
aderiram tardiamente ao estilo de vida que preza a velocidade e a homogeneização das
coisas, os variados ecossistemas são encontrados nessa região como remanescentes ou
áreas de proteção em maior número, se comparados ao Norte. A pressão pela utilização
dessas áreas pelos circuitos do capital passa a ocorrer com maior intensidade a partir do
fim do século XIX, período em que se inicia a industrialização, e suas implicações nos
países do Sul Global.
Dessa forma, a conversão do Sul global a epicentro epidemiológico não ocorre
por conta de suas características em si, mas por apresentar as condições necessárias para
a transferência zoonótica a partir da relação com o Norte global: alta densidade
populacional de animais humanos e não humanos, mudança na densidade populacional,
diversidade da fauna silvestre e frequência de contato entre as espécies (WOLFE,
DUNAVAN e DIAMOND, 2007; MORSE et al, 2012). As próprias doenças originárias
do Sul possuem características diferentes das chamadas doenças epidêmicas de multidão
- caracterizadas como “aquelas que ocorrem localmente como uma breve epidemia e [são]
capaz[es] de persistir regionalmente apenas em grandes populações humanas”, típicas do
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Norte (WOLFE, DUNAVAN e DIAMOND, 2007) e as quais se assemelham ao que
vemos na COVID-19 -, já que em maioria são consideradas agudas, ou seja, são
“transmitida[s] com eficiência e rapidamente deixa sua vítima morta ou se recuperando e
imune à reinfecção” (WOLFE, DUNAVAN e DIAMOND, 2007).
***
Nesse sentido, essa espécie de perfil geográfico-epidemiológico expõe que a
COVID-19 possui características similares à outras patologias. Seja pela tese do Grain
(2020) com a relação dos criadouros industriais de animais, onde conseguimos compará-
lo com a gripe suína ou aviária, ou com a suposição de Chuang (2020) sobre a caça de
novos alimentos pela população de Wuhan para suprir a necessidade alimentar,
proveniente da interrupção da distribuição por uma peste que atingiu a população suína
chinesa e da África subsaariana em 2018 (EMBRAPA, 2020). Mas, nesse caso
acrescentamos a observação de Wolfe, Dunavan e Diamond (2007) sobre as
características das patologias dos trópicos, para melhor relacioná-la ao perfil de originária
em áreas de fronteira.
Talvez, devido a essas características espaciais de origem das doenças, a China
tenha sido tão rápida nas ações logo após detectar os primeiros casos de pneumonia
atípica (BELLUZ, 2020; ALESSI, 2020), a Coreia do Sul tenha sido tão efetiva no modelo
de combate a proliferação (ALESSI, 2020; LINDE, 2020), Hong Kong, Taiwan,
Singapura (G1, 2020) e Vietnã (VU, NGUYEN e PEARSON, 2020) também tenham sido
exemplares no primário combate. Fato esse que se opõe ao principal tratamento do
paradigma imunológico do século passado - pautado no princípio de ataque e defesa -, a
produção de vacinas, que o centro global privilegia e ainda não apresenta efetividade no
combate (HAN, 2017; LEFF, 2020).
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A colonialidade na relação geográfico-epidemiológica
Por apresentar similaridades a outras patologias, a leitura mais vinculada à
biologia do vírus nos limita a compreender qual é o elemento que possibilita a mudança
de categoria que o vírus tomou e a importância adquirida por consequência. Dessa
maneira, inclinar nosso olhar para a dimensão sociopolítica da pandemia e analisar outras
epidemias originárias pelo mesmo perfil geográfico-epidemiológico significa transferir a
leitura acerca do elemento diferenciador da patologia para o raio de ação que cada uma
adquire.
Os outros tipos de coronavírus, exemplificados aqui pela SARS (síndrome
respiratória aguda grave, causada pelo vírus SARS-CoV), em 2003, e a MERS (síndrome
respiratória do Oriente Médio, causada pelo vírus MERS-CoV), em 2012, são exemplos
de partida para a nossa comparação com a epidemia atual, pois são patologias da mesma
família viral e apresentam sintomas semelhantes como a febre, a tosse e a dificuldade de
respirar (OMS, 2003; 2020d; 2020e). Entretanto, a COVID-19 possui características
próprias, como uma menor letalidade e maior capacidade infecciosa se comparada à
SARS e à MERS (YUEN et al, 2020; WU et al, 2020; OMS, 2020e), com uma variação
sintomática que vai desde a ausência de sintomas até uma pneumonia severa ou a morte
(WU et al, 2020). Além disso, possui a capacidade de romper as fronteiras continentais,
aspecto que melhor difere de seus familiares, já que a SARS teve sua origem na China e
a MERS sua origem na Arábia Saudita e ambas se restringiram a parcelas territoriais do
continente asiático (OMS, 2003; 2020d).
O aspecto territorial, precípuo para o debate aqui proposto, permite que se faça
uma leitura sobre a diferença de importância que determinados corpos possuem em
comparação a outros e a consequente reverberação midiática que acrescem importância
para as patologias. Para os geógrafos, quando a questão corpórea é abordada,
concomitantemente, a questão espacial é trazida à baila. Desde Merleau-Ponty (1999), ao
argumentar que “o espaço se sabe a si mesmo através do meu corpo”, a Porto-Gonçalves
(2006), para o qual o espaço é constituído dos corpos que o constituem, a Lima (2014),
que entende os corpos como a expressão da materialidade espacial, seguimos a mesma
máxima de que os corpos são expressões do espaço, não por um princípio reducionista,
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comum ao pensamento ocidental de reduzir tudo ao indivíduo, de busca pela unidade
indivisível da matéria (PORTO-GONÇALVES, 2018b). Mas, pela proficuidade
relacional que os corpos possuem, que se traduz em um movimento dialético, no qual o
corpo é constituído pelas relações e também as constitui, imprescindível para se entender
o espaço.
Antes de atingir o território europeu, a COVID-19 era tratada como mais uma
patologia que se restringiria a atingir uma área específica do globo, visto que os outros
membros de sua família se restringiram a regiões do continente asiático., Em virtude de
sua origem, assim como a de outras zoonoses, ser em territórios constituídos por corpos
georreferenciados na “zona do não ser”, termo elencado por Oliveira (2017), que toma
como referência o histórico moderno/colonial de dominação e subordinação exposto por
Santos (2002), Mignolo (2005) e Lander (2005), dificilmente a patologia teria adquirido
as proporções midiáticas do status quo se ela não tivesse rompido as barreiras geográficas.
Ao voltar o olhar novamente para SARS-CoV, em 2003 ou para a MERS-CoV, em 2012,
é possível ratificar essa afirmação. Outros casos de epidemias recentes expõem que esse
tipo de relação não é exclusividade da família coronavírus ou do continente asiático. O
Ebola, ocorrido em 2013/2020, e o Zika vírus, ocorrido em 2016, são epidemias que nos
ajudam a compreender a importância da patologia em romper as barreiras geográficas
para adquirir importância global.
Antes conhecida como febre hemorrágica ebola, a doença do Ebolavírus tem,
desde 1976, cerca de 10 surtos registrados na região centro-ocidental do continente
africano (OMS, 2016, 2019; KALENGA et al, 2019). Procedente de morcegos nativos
dessas regiões, o vírus da família Filoviridae, do gênero Ebolavirus, apresenta cinco
subespécies - que são nomeadas a partir dos seus locais de origem: Zaire ebolavirus
(antigo nome da República Democrática do Congo), Sudan ebolavirus (Sudão), Tai
Forest ebolavirus antigo Côte D’Ivoire ebolavirus (Costa do Marfim), Bundibugyo
ebolavirus (distrito da região Oeste de Uganda) e Reston ebolavirus (região pertencente
ao Estado da Virginia, nos Estados Unidos) (CDC, 2020; MSF, 2020) -, das quais os
quatro primeiros são responsáveis pelos surtos graças a um hospedeiro intermediário
(OMS, 2016, 2019; KALENGA et al, 2019). De acordo com Chuang (2020), os surtos de
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Ebola parecem estar intimamente ligados com a expansão de indústrias primárias na
região equatorial ocidental africana às áreas de florestas, deslocando as populações
nativas para áreas mais interioranas e possibilitando o contato com o vírus, que acaba
sendo fatal para as espécies que não são suas hospedeiras naturais. Segundo a OMS
(2019) e Chuang (2020), a taxa de mortalidade para a maioria dos surtos já registrados é
extremamente alta, sendo sempre superior a 50%. O surto de 2013-2016, o penúltimo, é
considerado o maior já registrado, com 28.616 casos confirmados e 11.310 mortes
decorrentes da patologia (OMS, 2016). o atual surto, iniciado em 2018, possui cerca
de 65% de letalidade, correspondendo a 3.456 casos confirmados e 2.266 mortes (OMS,
2019). Entende-se que:
todo surto de Ebola parece conectado a mudanças de capital no uso da terra,
incluindo o primeiro surto em Nzara, Sudão, em 1976, onde uma fábrica
financiada pelos britânicos começou a tecer algodão local”. Da mesma forma,
os surtos de 2013 na Guiné ocorreram logo após um novo governo ter
começado a abrir o país aos mercados globais e vender grandes extensões de
terra a conglomerados internacionais do agronegócio. A indústria de óleo de
palma, notória por seu papel no desmatamento e destruição ecológica em todo
o mundo, parece ter sido particularmente culpada, pois suas monoculturas
devastam as robustas redundâncias ecológicas que ajudam a interromper as
cadeias de transmissão e ao mesmo tempo literalmente atraem as espécies de
morcegos que servem como um reservatório natural para o vírus (CHUANG,
2020. Tradução A Fita).
o Zika vírus, identificado pela primeira vez em 1947, possui sua origem
provável ligada ao macaco rhesus da floresta Zika, na Uganda (DUFFY et al, 2009; FAYE
et al 2014; OMS, 2020f). Por ser considerado um Flavivirus - infecta artrópodes e
mamíferos - e ter esse indicativo de origem nos induz a enquadrá-lo no mesmo perfil
geográfico-epidemiológico, que a transmissão pode ter ocorrido a partir da
incorporação de áreas de florestas tropicais e o consequente contato com seu hospedeiro
natural (macaco rhesus) ou intermediário (mosquitos da família Aedes). O seu destaque
nas grandes mídias internacionais ocorreu a partir de 2015, com o crescente número
de países reportando à OMS os casos em seus territórios e identificando relações do vírus
com outras patologias como a erupção cutânea, a Síndrome de Guillain-Barré e a
microcefalia (CASTRO, 2016; OMS, 2020f). O Brasil, um dos mais atingidos pela
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epidemia, acaba sendo um importante exemplo da problemática envolvendo o Zika vírus
por expor a questão territorial-corpórea de maneira multiescalar e por ter sido o centro
das atenções mundiais devido à Copa do Mundo de 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016.
Enquanto não se tinha conhecimento do raio de ação do vírus, o pânico global
existiu (DINIZ E CARINO, 2020). Afinal, o Brasil era um epicentro patológico e um
lugar com uma enorme aglomeração de pessoas, de diversas partes do mundo, e a
transmissão do vírus ocorre pela picada do mosquito Aedes aegypti e por relação sexual
(CASTRO, 2016; OMS, 2020f). Todavia, quando se compreende que o risco da doença
estava confinado aos países tropicais, o silenciamento epidêmico-territorial que
acompanha os casos de SARS, MERS e Ebola passa a incluir o Zika vírus (DINIZ E
CARINO, 2020). A COVID-19 parecia seguir os mesmos rumos. O próprio nome
(técnico) que a doença (COVID-19) obteve nos atesta isso. O “19” que acompanha a
COVID faz referência direta aos primeiros casos da patologia registrados em Wuhan no
ano de 2019. Fato que difere da demarcação espaço-temporal de início do alarde (e todas
as expressões que passaram a acompanhar a patologia), a chegada ao continente europeu
no dia 25 de janeiro de 2020 (OMS, 2020b). Tal data se mostra importante para a
problemática epidemiológica, pois, curiosamente, marca a mudança de categoria de risco
global da patologia nos relatórios diários da OMS para alta (OMS, 2020b). A marcação
do primeiro caso de COVID-19 em território europeu, mais precisamente na França,
acompanha outro fato a ser atentado. Nesse mesmo relatório uma errata onde indica
um equívoco na categoria da patologia publicada a partir do dia 23/01/2020 referente
ao Situation Report 3 (OMS, 2020a) reportada como moderada. Curiosamente, o
relatório em questão apresenta o primeiro caso de COVID-19 registrado nos Estados
Unidos (OMS, 2020a).
Nesse sentido, ao contrário do Ebolavírus que atinge uma população marcada por
sua maior vulnerabilidade devido à maior fragilidade dos Estados africanos, em maioria
fundados como Estados fantoches das antigas potências coloniais europeias, que sem
legitimidade interna se veem sempre abalados por revoltas e conflitos étnicos, e debilitam,
assim, os determinantes sociais para saúde (BUSS, 2007); e do Zika vírus que atinge as
populações residentes de áreas de menor assistência sanitária, sobretudo as mulheres
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gestantes negras exemplificado pela adição de outras patologias, em especial a
Síndrome de Guillain-Barré e a microcefalia, que contribuem para os distúrbios
neurológicos e deformação craniana de seus filhos (CASTRO, 2016; OMS, 2020f); a
COVID-19 atinge atualmente, em maioria, a população de países que costumam dar as
cartas da economia global. Os gráficos (figuras 4 e 5) permitem a visualização da
distribuição espacial do quantitativo de casos e mortes por COVID-19 em diferentes
regiões do globo e revela que o continente europeu e a região da América Anglo-saxã já
alcançaram os marcos de 1.826.295 e 1.433.858 ocorrências, respectivamente, assumindo
assim a liderança do ranking infectológico (OMS, 2020c).
Figura 4 - Gráfico do número de casos de COVID-19 pelo mundo em 15/05/2020
Fonte: OMS,
2020c. Elaborado pelos autores.
54.190
1.433.858
430.610
305.189
1.826.295
122.254
165.550
4.338.658
0
500.000
1.000.000
1.500.000
2.000.000
2.500.000
3.000.000
3.500.000
4.000.000
4.500.000
5.000.000
África América
Anglo-saxã
América
Latina
Oriente
Médio
Europe Sudeste
Asiático
Pacífico
Oeste
Global
Casos de COVID-19 regionalizados (por OMS)
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Figura 5 - Gráfico do número de mortes por COVID- 19 em 15/05/2020
Fonte: OMS, 2020c. Elaborado pelos autores.
O panorama epidêmico apresentado ratifica, mais uma vez, a tese de Dussel
(2005) sobre a centralidade da Europa e dos Estados Unidos na história mundial e
acrescenta a consequente seleção dos corpos que compõem seus territórios no mais alto
grau de hierarquia da zona do ser (OLIVEIRA, 2017). Além disso, por meio dos casos de
SARS, MERS, Ebola e Zika, vemos como as patologias podem ser convertidas em
políticas de morte, denominada por Mbembe (2019) como necropolítica, para os sujeitos
que estão geograficamente posicionados na zona do não ser (OLIVEIRA, 2017), por
simplesmente serem silenciadas à grande mídia e lançarem essas populações a própria
sorte no combate a(s) epidemia(s).
Conclusão
Pela sociedade ocidental-moderna ter sido fundada em fragmentações e
separações a fim de possibilitar uma hierarquia societária nas análises e determinações
das vidas (LANDER, 2005), episódios epidêmicos (ou pandêmicos), como os que
estamos vivendo hoje, se tornam exemplos de como as diferenças sociais são agravadas
1.623
87.456
24.478
9.558
163.277
4.050
6.664
297.119
MORTES POR COVID-19 REGIONALIZADAS
(POR OMS)
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ROCHA, Pedro Henrique; TRINDADE, Helena; NEVES, Rafaela Pinheiro de Almeida; ROMÃO, Elinton Fábio; LIMA, Laiza.
COVID-19: uma reflexão geográfica sobre as diferenciações patológicas. Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 6, nº 12, pp.
133-160, setembro-dezembro de 2020.
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a partir de um impacto epidemiológico. Os casos descritos anteriormente excedem as
práticas de controle e regulamentação do corpo-indivíduo e do corpo-população, que
Foucault (2005) apontara como políticas de “fazer viver ou deixar morrer”, pois o Estado
não classifica esses corpos como relevantes para sua funcionalidade. Na verdade, o
Estado se apropria da morte como gestão pública e define quem morre, como morre e em
que condições morre (MBEMBE, 2019).
Os sistemas de privilégios que pautam as sociedades coloniais nos permitem
analisar a necropolítica que acompanha as patologias sob à ótica da relação centro-
periferia em múltiplas escalas. Os casos de SARS/MERS, Ebola e Zika vírus dão conta
da relação dentro de uma escala global, onde a Europa e os Estados Unidos são
considerados centros e o restante dos territórios considerados periferias. No entanto, a
periferia se adapta à medida que consideramos novas escalas, como a nacional, a regional
ou mesmo a local. Assim, é possível perceber que os limites fronteiriços, ou abissais
(SANTOS, 2002), entre a zona do ser e do não ser (OLIVEIRA, 2017) não se restringem
à Ásia, à África e à América (Latina) como apresentado pela SARS/MERS, Ebola e Zika
vírus, respectivamente. O Zika vírus mesmo é um bom exemplo de como o jogo escalar
revela outros limites abissais. Ao considerar o Brasil, na escala nacional, percebe-se que
a região Nordeste, uma das mais pobres do país, assume o papel de periferia enquanto o
Sudeste, região mais rica assume, o papel de centralidade. Mas, ao dar um zoom e passar
para a escala regional, ao considerar a região Sudeste, pode-se perceber que as favelas
assumem a posição periférica e as regiões centrais em conjunto com os bairros nobres, a
posição central da relação. Essas duas áreas em questão, as favelas da região Sudeste e a
região Nordeste, se mostram relevantes para os casos de Zika vírus por oferecem as
condições necessárias à proliferação do mosquito Aedes aegypti e serem os locais de
maior incidência de casos (SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2016;
GUIMARÃES, 2020).
Dessa forma, à medida que as doenças atingem determinados sujeitos ou
territórios, automaticamente se convertem em necropolítica, passam a ser naturalizadas
no imaginário popular quase que de forma instantânea e são deixadas a própria sorte das
populações para serem combatidas. Em contrapartida, à medida que as patologias ou
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qualquer outro fenômeno atingem os sujeitos da zona do ser, automaticamente ocorre uma
visibilidade e uma comoção como se suas dimensões fossem globais e não pontualmente
georreferenciadas. Obviamente não estamos afirmando que todas as epidemias estão
enquadradas no mesmo “nível” necropolítico, pois como bem nos mostra Crenshaw
(2002), a adição de características sociais influencia no trato território-corpóreo e isso
torna-se outra diferenciação patológica.
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