Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
PEDROSO, Isabella Vitória Castilho Pimentel; PEREIRA, Angelo Fernando. Lutas, resistências e desafios da educação básica
contra o ensino remoto. Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 7, nº13, pp. 49-56, janeiro-abril 2021.
Submissão em: 26/02/2021. Aceito em: 08/03/2021.
ISSN: 2316-8544
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LUTAS, RESISTÊNCIAS E DESAFIOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA CONTRA O
ENSINO REMOTO
FIGHTS, RESISTANCE AND CHALLENGES OF BASIC EDUCATION
AGAINST REMOTE EDUCATION
Isabella Vitória Castilho Pimentel Pedroso
1
EBTT COLUNI UFF
isabellavitoria@id.uff.br
Angelo Fernando Pereira
2
Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro
angelofernando@id.uff.br
Resumo
Este artigo surge a partir dos diálogos e discussões na 12ª Mesa redonda intitulada: Conversa com a FEUFF,
ocorrida em julho de 2020, promovida pela Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense.
O encontro contou com a participação de professores do ensino básico público das redes estadual e federal
do Rio de Janeiro, onde destacaram-se suas considerações sobre a organização do ensino remoto em tempos
de pandemia, refletindo a consistência dos novos modelos pedagógicos implantados nos cotidianos dos
alunos e nas práticas docentes. Também buscou-se entender a aplicação dos novos instrumentos e métodos
da educação, mediante o distanciamento imposto no período entre professores e alunos, com vistas à
organização e aos propósitos do ensino remoto. De fato, os autores se viram diante de um enorme desafio,
uma vez que a discussão é muito recente e requer mais reflexões sobre suas representações e objetivos
pedagógicos.
Palavras-chave
Educação básica; Ensino remoto; Pandemia.
Abstract
This article arises from the dialogues and discussions at the 12th Roundtable entitled: Conversation with
FEUFF, which took place in July 2020, promoted by the Faculty of Education of Universidade Federal
Fluminense. The meeting was attended by teachers of public basic education from the state and federal
networks of Rio de Janeiro, where their considerations on the organization of remote education in times of
pandemic stood out, reflecting the consistency of the new pedagogical models implemented in the daily
lives of students and teaching practices. We also sought to understand the application of new instruments
and methods of education, through the distance imposed in the period between teachers and students, with
a view to the organization and purposes of remote education. In fact, the authors faced an enormous
1
Docente EBTT COLUNI - UFF. Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ)
2
Docente na Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro. Doutorando em Arquitetura e Urbanismo
pela Universidade Federal Fluminense (UFF)
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PEDROSO, Isabella Vitória Castilho Pimentel; PEREIRA, Angelo Fernando. Lutas, resistências e desafios da educação básica
contra o ensino remoto. Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 7, nº13, pp. 49-56, janeiro-abril 2021.
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challenge, since the discussion is very recent and requires more reflections on their representations and
pedagogical objectives.
Keywords
Basic Education; Remote teaching; Pandemic.
Introdução
No contexto da pandemia, o ano de 2020 revelou-se desafiador nos processos de
ensino e aprendizagem para alunos, professores e demais profissionais da educação básica
em todo mundo. No Brasil, as atividades pedagógicas nas escolas foram suspensas e, em
um segundo momento, substituídas por ações remotas, visando a manutenção do
distanciamento social, exigida pelo período. Com isso, cada sistema de ensino e esfera de
poder puderam escolher, definir suas estratégias de reposição de conteúdos e de amparos
pedagógico e social aos seus alunos. Neste cenário, o meio eletrônico foi o escolhido por
grande parte das escolas para a comunicação com os alunos e seus responsáveis, como os
aplicativos de mensagens, redes sociais, e-mail e plataformas digitais próprias ou
mantidas por grupos empresariais.
Todo esse aparato remoto, montado às pressas pelas instituições de ensino,
reacendeu nos profissionais da educação o alerta da implantação do ensino híbrido, que
combina ações pedagógicas presenciais e virtuais (CANNATÁ, 2017, p. 60) e da própria
sistematização da educação à distância (EAD) na educação básica, fora dos tempos de
pandemia. Laval (2019) afirma que este cenário é parte do avanço neoliberal sobre o
sistema de ensino, sobretudo o da educação básica, evidenciando a face excludente em
relação aos alunos e acentuando a precarização do trabalho para os professores
(STEVANIM et al., 2020). Além disso, vale destacar os interesses financeiros nas
propostas de grupos empresariais da área de educação, que apresentam um modelo remoto
com parcialidade, sem preocupar-se com os aspectos psíquicos e cognitivos dos sujeitos
que o receberão.
Portanto, pensemos no significado da palavra “remoto”. Para o Dicionário
Michaelis (2015), representa afastamento no tempo/espaço, ou seja, algo que separa
corpos fisicamente, não havendo, necessariamente, sincronia e sintonia entre os mesmos.
Na educação básica, o ensino remoto é uma prática antiga de compensação pedagógica
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pelo distanciamento entre alunos e professores, com a supressão das aulas presenciais,
sob diversas condições, como viagens, doenças ou o fechamento temporário de
estabelecimentos de ensino. Sob diversos nomes, essas ações têm sido utilizadas para
reposição de aula, como em períodos pós-greve, em dependência de disciplina (caso haja
reprovação do aluno) ou na ausência de um determinado professor. Geralmente, o ensino
remoto, no calendário regular, ocorre por um curto período de tempo e suas práticas se
adequam às condições e situações postas, observando os cotidianos momentâneos dos
envolvidos. Vale ressaltar que as atividades remotas são garantidas na Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (LDB, 1996), em seu artigo 4° e, está submetida ao entendimento da
equipe pedagógica das escolas como um direito dos educandos.
Como abordado acima, tal discussão foi fomentada na 12ª Mesa redonda:
Conversa com a FEUFF, junto a professores da rede básica de ensino de Niterói, sob o
contexto do ensino remoto no período da pandemia e suas implicações nos cotidianos de
alunos e professores. Como desdobramento desse debate, nós, professores de geografia
da rede básica, nos propusemos a aprofundar a pesquisa do tema a partir de nossas
vivências. Procuramos contextualizar a organização desse novo modelo de ensino e suas
implicações a partir da comunicação mantida entre os membros da comunidade escolar,
sob um olhar crítico do ambiente virtual de aprendizagem/ensino, além de promover
intensa revisão bibliográfica focada na área de educação.
Conflitos no ensino remoto na rede estadual de ensino do Estado do Rio de Janeiro
Em função do período de pandemia no país, o Conselho Nacional de Educação
(CNE) deliberou que estados e municípios, através do parecer 5/2020, poderiam emitir
resoluções sobre a organização do ensino remoto e suas orientações no desenvolvimento
das atividades não presenciais. A partir disto, o Conselho Estadual de Educação do Rio
de Janeiro (CEE-RJ) orientou na deliberação 376/2020, que as escolas da rede básica de
ensino público promovessem suas próprias estratégias em “atividades domiciliares”,
junto ao seu corpo docente, contando com ações estruturais e metodológicas, não tendo
criado obrigações quanto ao uso de ferramentas eletrônicas nesse processo.
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De necessidade de situações excepcionais nas escolas às “gambiarras
pedagógicas”, o ensino remoto na rede pública estadual de educação do Rio de Janeiro
foi condicionado, às pressas, à Educação a Distância pela plataforma digital Google
Classroom como um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), devendo estabelecer
um canal de comunicação entre alunos e professores. Ao contrário do ensino remoto
usual, das folhas de papel e apostilas impressas, esse novo modelo foi implementado
sobre uma estrutura eletrônica codificada, com ações pedagógicas que se prolongaram
por todo o ano de 2020, exigindo o uso de computadores e celulares e o conhecimento
prévio de aplicativos e programas de informática.
Os problemas dos alunos na plataforma Google Classroom surgiram logo no
primeiro momento de obrigatoriedade de acesso ao sistema, principalmente àqueles
relacionados às questões instrumentais. Mas, antes de pensarmos sobre as atuais
condições tecnológicas em que os alunos têm tido ao longo da pandemia, temos outras
questões pendentes para refletirmos. Quais são as origens dos nossos alunos? Qual
educação o sistema lhes proporcionou ao longo dos anos? Quais são suas necessidades
pessoais e suas condições socioeconômicas? Quais são as dificuldades que têm
enfrentado na pandemia? Temos de encontrar essas respostas antes de pensarmos em uma
proposta pedagógica momentânea e coerente às suas realidades.
Vale lembrar que, durante a pandemia, além da ruptura drástica da vivência no
ambiente escolar para o ensino remoto, os alunos foram obrigados a se manterem em casa
por mais tempo durante o dia. E, para muitos estudantes, a escola é um ambiente livre de
abusos, um ambiente plural, onde podem se expressar e serem reconhecidos por suas
identidades, é um espaço de sociabilidade, afetos (ORNELLAS, 2005) e, que garante a
segurança alimentar para muitos.
Quando pensamos no ensino remoto no período e toda a montagem de uma
plataforma eletrônica de execução de tarefas, com uma linguagem técnica, embasada na
informática: documentos, vídeos, links, esquecemos todas as condições ambientais,
socioafetivas e financeiras tidas por esses alunos. Muitas situações de impedimento à
execução de trabalhos no Google Classroom foram relatadas pelos mesmos aos
profissionais da rede, como o fato de não terem um lugar propício aos estudos em casa,
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não terem acesso facilitado à internet, não possuírem um computador, por terem de dividir
um único aparelho de celular com os irmãos e mesmo, não terem um aparelho de celular.
Também foram relatados casos de alguns alunos terem de gerar renda junto às suas
famílias, realizando trabalhos informais no período e, outros por estarem doentes ou
cuidando de familiares doentes e até por estarem sem condições psicológicas satisfatórias
para fazê-la.
As tentativas da Secretaria de Educação ao querer impor um regime de
obrigatoriedade de acesso de alunos e professores ao sistema resultaram no protesto de
pais, responsáveis e do sindicato de professores (SEPE-RJ). Com isso, flexibilizou-se a
forma como os alunos cumpririam suas atividades pedagógicas: foram impressas e
entregues, presencialmente ou pelos correios, as Atividades Autorreguladas (apostilas
produzidas pela própria secretaria) e muitos professores passaram a receber trabalhos
enviados pelo aplicativo de mensagens WhatsApp. Mais uma vez, com todo esse
afastamento entre alunos e professores, muitos estudantes relataram ter tido dificuldades
em compreender as atividades propostas. E, com essas incertezas, ocorreu um aumento
do número de alunos que não realizaram mais as atividades na plataforma, com prejuízos
ao seu direito à educação nem se fala mais em direito à educação “de qualidade”.
Finalizado o ano letivo, foram promovidos (aprovados) aqueles que puderam comprovar
ter realizado alguma atividade proposta, seja ela eletrônica, impressa ou ter afirmado que
assistiu às aulas na mídia televisiva.
Qual ensino remoto queremos? A resistência de um colégio universitário federal
A diferença substancial entre as duas experiências aqui relatadas está no fato de
uma ter sido imposta pela secretaria estadual, como abordado acima, e a outra ter sido
pensada exclusivamente por professores, preocupados com a situação psíquica, social e
econômica de cada aluno. A rede blica federal goza de maior autonomia e, por isso,
cada instituto federal e colégio de aplicação puderam formular suas estratégias para o
período. Neste relato, a experiência de um colégio universitário será descrita.
Após o fechamento da escola, em 13 de março de 2020, docentes e discentes se
viram em um cenário inusitado. Não havia certeza sobre o dia de retorno e ainda não se
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cogitava qualquer possibilidade de ensino remoto, embora a universidade a qual nos
vinculamos esboçava caminhos para a implantação dessa modalidade. À época nos
posicionamos em nota e nos reunimos com os responsáveis para garantir-lhes que o
ensino à distância não cabia em nosso projeto de ensino e, portanto, iríamos esperar o
tempo que fosse para retomar nossas atividades com segurança.
Mesmo com toda nossa firmeza em não retomar as atividades de ensino, a pressão
feita pela reitoria e também pela própria sociedade foi enorme. Diante disso, realizamos
uma pesquisa detalhada para compreender a situação de acesso à internet e de condições
de saúde deles mesmos e de seus familiares. A pesquisa identificou que mais de 90% dos
nossos alunos possuíam acesso à rede e aqueles que não possuíam seriam beneficiados
com o recebimento de chip e computadores, cedidos pela universidade. Diante dessa
certeza, iniciamos a construção de um site, que seria o local virtual onde nossa interação
aconteceria. Vale dizer, o site foi concebido e criado pelos professores de todos os
segmentos e de diferentes áreas do conhecimento pertencentes ao corpo da escola.
Com o site criado, a questão se colocou com ainda mais força: qual ensino remoto
queremos? Após intensos debates, reafirmamos nosso compromisso com a não adesão à
EAD e à não transposição de aulas remotas em um ambiente virtual. Para isso, tivemos
que romper com toda estrutura de ensino que conhecíamos até então. Diferentemente do
que se concebeu para o ensino estadual, criamos o AVE (ambiente virtual de ensino), uma
vez que a proposta se daria da seguinte maneira: as atividades postadas no site seriam
feitas e trabalhadas pelas áreas de conhecimento e não por disciplinas isoladas; a
organização escolar passa a ser por ciclos e não séries; notas numéricas foram substituídas
por conceitos; avaliações formais foram substituídas por relatórios de aprendizagem. Em
outras palavras, modificamos totalmente a estrutura de ensino que conhecíamos.
Os alunos se mostraram muito receptivos à ideia, entenderam que este é um
momento de maior autonomia deles e que seria possível dar continuidade aos estudos a
partir desse novo método de aprendizagem. Além disso, para cumprir as determinações
impostas pela universidade, neste total de atividades, 30% seriam encontros síncronos,
quando, ao invés de darmos aulas formais, aprofundamos o debate e sanamos possíveis
dúvidas. Essa tem sido uma experiência ímpar de ensino-aprendizagem da escola. Nesse
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momento de tragédia que vivemos, nossa proposta é que os alunos tenham contato com
as diferentes formas de artes (música, cinema, pintura), com diferentes autores e pontos
de vista. Além disso, a intenção é fazer com que eles tenham uma carga menos pesada de
trabalho e que seja um momento de prazer, em meio a tudo isso que vivemos. Neste
cenário de tristeza e abandono governamental que vivemos, estamos resistindo à agenda
do capital e assegurando aos nossos alunos que a escola seja um local de acolhimento e
segurança, mesmo que virtual.
Considerações Finais
Entendendo as diferenças e dimensões entre as redes estadual e federal de ensino
no Rio de Janeiro no período de 2020, abrimos um grande leque de reflexões sobre
políticas públicas e suas diretrizes na educação básica. Ressaltamos nossa preocupação
com os limites à liberdade de cátedra e a intervenção institucional nas escolas e, a
implantação sistemática do ensino remoto no pós-pandemia, com vistas à financeirização
do sistema e uma diminuição dos investimentos públicos no setor.
Como, também refletimos sobre os métodos e objetivos do trabalho docente
mediante os antigos e novos cenários colocados para a educação básica. Sustentamos
existir um conflito entre a chamada educação bancária, tradicional, ainda centrada na
figura do professor (FREIRE, 1997) nas escolas e que pouco reflete sobre ações focadas
na autonomia do aluno (FREIRE, 2005) e uma educação centrada em uma plataforma
eletrônica, sem ânimo, causando estranhamento entre todos os envolvidos. Ou seja,
transpusemos a gambiarra pedagógica do papel para o meio digital, aumentando a
exclusão social e tecnológica, já existentes.
No decorrer do artigo, os autores se propuseram a levantar a discussão sobre o
“modelo de ensino emergencial remoto que queremos”. Portanto, levando-se em
consideração as atuais condições socioeconômicas e afetivas dos alunos e o uso das
práticas tradicionais de ensino, conclamamos aos leitores, sobretudo os colegas
professores da educação básica, a repensar a condução de um ensino emergencial remoto
que garanta o direito dos alunos ao acesso à uma educação de qualidade, inclusiva e que
respeite as individualidades. Somos nós, partícipes da comunidade escolar, que devemos
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promover essa reorganização metodológica coerente e responsável, garantindo sentido ao
processo de ensino-aprendizagem para todos nesse período excepcional que nos
encontramos. A luta, portanto!
Referências Bibliográficas
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