Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
ARAÚJO, Gilvan Charles Cerqueira de. Edenismo territorial, anacronismo técnico e a idealização do progresso no Brasil imperial.
Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 7, nº 14, pp. 122-146, maio-agosto de 2021.
Submissão em: 09/09/2020. Aceito em: 03/05/2021.
ISSN: 2316-8544
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eficientes, envolvendo cada vez mais maiores volumes de mercadorias a
distâncias maiores em menor tempo e custo. (CORRÊA, 1997, p. 302).
A procura pelo avanço técnico visava o aumento da comunicabilidade entre os
diferentes pontos do território brasileiro. Conforme nos lembra Moraes (1999), era
preciso interligar as “ilhas” populacionais espalhadas pelo Brasil. Milton Santos (1996)
chamará esta dinâmica interacionista de relação entre os fixos e os fluxos, que significa a
localização dos pontos produtores e exportadores, além das localidades urbanas em
concomitância com as vias de acesso entre estes pontos, por rodovias, ferrovias e
hidrovias:
As técnicas participam na produção da percepção do espaço, e também da
percepção do tempo, tanto por sua existência física, que marca as sensações
diante da velocidade, como pelo seu imaginário. Esse imaginário tem uma forte
base empírica. O espaço se impõe através das condições que ele oferece para a
produção, para a circulação, para a residência, para a comunicação, para o
exercício da política, para o exercício das crenças, para o lazer e como
condição de “viver bem”. Como meio operacional, presta-se a uma avaliação
objetiva e como meio percebido está subordinado a uma avaliação subjetiva.
Mas o mesmo espaço pode ser visto como o terreno das operações individuais
e coletivas, ou como realidade percebida. Na realidade, o que há são invasões
recíprocas entre o operacional e o percebido. Ambos têm a técnica como
origem e por essa via nossa avaliação acaba por ser uma síntese entre o objetivo
e o subjetivo. (SANTOS, 1996, p. 55).
A presença das ilhas populacionais era o sinal latente do anacronismo brasileiro,
principalmente no que dizia respeito à interligação de seu imenso território (MAGNOLI,
1997). O atraso técnico era uma realidade no Brasil imperial, registrada nas crônicas dos
viajantes e sentida em cada núcleo urbano ou lavoura: “[...] em tudo que usamos
ferramentas são empregadas aqui as mãos nuas dos negros” (GRAHAN, 1990, p. 237). O
mais importante é que o incentivo às expedições científicas partia do próprio imperador.
Em face de sua participação na Exposição Científica Universal, na Filadélfia em 1876,
sobre os aspectos naturais e sociais, D. Pedro II via nitidamente a questão deste atraso no
qual o Brasil se encontrava e a necessidade de superação desta imagem frente aos norte-
americanos, já em processo de industrialização, e aos europeus. Um dos seus objetivos,
portanto, era:
Retirar a imagem de “reino distante e selvagem” e instaurar definitivamente o
país entre as nações civilizadas e modernas. O fato de ser uma monarquia
escravocrata, tropical e mestiça impedia isso. Nas várias participações