Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
FERNANDES, Rhuan Muniz Sartore; GABRIELLI, Lucas Augusto Gonçalves; MARINHO, Raíssa de Souza. Preservar é re-esxistir:
a luta das comunidades caiçaras da península da Juatinga com a presença e a ausência do turismo durante a pandemia de COVID-19.
Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 7, nº 13, pp. 88-104, janeiro-abril de 2021.
Submissão em: 02/02/2021. Aceito em: 12/04/2021.
ISSN: 2316-8544
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modalidade de turismo que parte de premissas distintas daquelas que configuram o
turismo convencional, como a lógica de mercado, o protagonismo do turista, a submissão
da cultura à atividade econômica, a produção do espaço de acordo com a necessidade de
reprodução do capital e a vulnerabilidade das comunidades tradicionais e do ambiente
frente aos grandes empreendimentos do turismo, como resorts e hotéis de luxo e o
afrouxamento das leis ambientais. A proposta do TBC tem como objetivos principais
inverter os papéis de protagonismo, reservando-os às comunidades e seus acertos
coletivos, valorizar e fortalecer a cultura local, adequando a atividade econômica às
necessidades, desejos e anseios dos moradores, o controle comunitário do turismo,
deliberando sobre o acesso às comunidades e o equilíbrio econômico interno, evitando a
ampliação de desigualdades. Reflexões e análises sobre tais casos estão disponíveis
em Maldonado (2009). Tal processo resultou na criação de um roteiro de TBC próprio na
Praia do Sono, comunidade que recebe o maior número de visitantes na REEJ devido ao
seu fácil acesso através de 1h30 de trilha, frente às outras comunidades onde só se chega
de barco, podendo levar até 2h30 de viagem pelo mar.
Sobre TBC, Irving (2009, p.113) coloca que:
Considerando que o turismo, em qualquer de suas formas de expressão e
intervenção, interfere na dinâmica sócio-ambiental de qualquer destino, o
turismo de base comunitária só poderá ser desenvolvido se os protagonistas
deste destino forem sujeitos e não objetos do processo. Neste caso, o sentido
de comunitário transcende a perspectiva clássica das “comunidades de baixa
renda” ou “comunidades tradicionais” para alcançar o sentido de comum, de
coletivo. O turismo de base comunitária, portanto, tende a ser aquele tipo de
turismo que, em tese, favorece a coesão e o laço social e o sentido coletivo de
vida em sociedade, e que por esta via, promove a qualidade de vida, o sentido
de inclusão, a valorização da cultura local e o sentimento de pertencimento.
Ainda que o roteiro de TBC da Praia do Sono receba grupos ao longo do ano, o
turismo de caráter predatório e descontextualizado se dá de forma massificada no
território. Portanto, o TBC desenvolvido na Praia do Sono está longe de conseguir
disputar com o turismo de massa em termos de atração de turistas. No entanto, essa
disputa de sentido da atividade turística no território tradicional trata-se de um processo
fundamental que vem ocorrendo nos últimos anos, fruto de muita reflexão e organização
comunitária referente a tomada de decisões sobre o turismo que se tem e o turismo que
se almeja no território. Através da existência da iniciativa, é trilhado o caminho para que