Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
OLIVA, Victoria Ferreira; COSTA, Mariana Covas; SANTOS, Vicente Brêtas Gomes dos; HENNIG, Victor Monteiro da Silva.
Racionalidade neoliberal e precarização: agravamentos no cenário pandêmico. Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 7, nº 14,
pp. 227-239, maio-agosto de 2021.
Submissão em: 17/11/2020. Aceito em: 27/05/2021.
ISSN: 2316-8544 231
nessa perspectiva, suporia certas condições de reprodução, se encontra cada vez mais
próxima à condição de sujeitos precarizados.
De certa forma, o neoliberalismo reinseriu o trabalho na análise econômica sob
ponto de vista do indivíduo. Segundo Foucault (2008), a noção de economia no
neoliberalismo transcende a análise clássica do trabalho e evidencia o comportamento
humano e sua racionalidade. Assim, o indivíduo não é mais figurante nos processos de
troca, mas se torna empresário de si mesmo – ou seja, ele é o seu próprio capital, seu
produtor e sua fonte de renda.
O debate sobre a circulação de trabalhadores (em especial os informais) nas ruas
durante a pandemia cabe a essa perspectiva. Portanto, como ponto inicial, tomemos a
escala do corpo, um nível decisivo nas relações de poder (QUIJANO, 2010). Ao
observarmos os deslocamentos de corpos pela cidade durante a pandemia, torna-se
evidente o ponto do autor, que coloca a racionalidade política sobre o uso e o consumo
de corpos em evidência e nos leva a questionar: quem são esses corpos que estão na rua?
Por que esses sujeitos foram coagidos a colocar seus corpos à prova?
Pode-se atribuir como resposta à segunda pergunta o que Federici (2017) coloca
em seu livro, “Calibã e a Bruxa”, como o nascimento do corpo. Olhando para trás, a autora
afirma que o corpo, no século XVII, nasce e morre. Isto é, o corpo, enquanto relação
orgânica e específica, se tornaria “um significante das relações de classe e das fronteiras
movediças, continuadamente redesenhadas, que essas relações produzem no mapa da
exploração humana” (FEDERICI, 2017, p. 284). Desse ponto em diante, segundo a
autora, a racionalidade cartesiana da época tratou de difundir no corpo social um poder
descentralizado baseado no autocontrole sobre si, o que proporcionou um discurso
legitimador do adestramento dos corpos a favor do trabalho.
O atual desenho da fronteira no mapa da exploração humana é caracterizado por
algo que vai além do autocontrole, mergulhando no “empresariamento de si”. A
racionalidade neoliberal, tanto em forma de subjetividade quanto em forma de
governabilidade, torna os sujeitos – e consequentemente seus corpos – seu próprio capital
humano. Foucault, ao formular essa noção do “empresariamento de si”, responde a nossa
questão ao afirmar que: