Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
CRUZ, Aline Rozenthal de Souza. A corrida pela vacina contra à COVID-19: uma disputa por patentes e poder monopolista.
Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 8, nº 15, pp. 92-106, setembro- dezembro de 2021.
Submissão em: 27/11/2020. Aceito em: 18/04/2021.
ISSN: 2316-8544
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experiência em vacinas, muitos dos principais grupos da vacina COVID-19 são
pequenos e/ou inexperientes na fabricação de imunobiológicos em larga
escala. Portanto, teremos realmente garantia de produção que permita o acesso
a toda a população? As principais pesquisas ativas de vacinas para a COVID-
19 estão distribuídas em 19 países, que representam coletivamente mais de três
quartos da população global. A América do Norte é responsável por 46% das
pesquisas, sendo seguida pela China, Ásia (excluindo a China), Austrália e
Europa, com 18% de participação cada. No entanto, atualmente, há pouco
envolvimento e recursos alocados nas pesquisas de vacinas na África e na
América Latina (LIMA, ALMEIDA e KFOURI, 2020, p.2).
Sendo assim, é necessária uma forte coordenação e cooperação internacional entre
os envolvidos “para garantir que as vacinas promissoras possam ser fabricadas em
quantidades suficientes e fornecidas equitativamente” (LIMA, ALMEIDA e KFOURI,
2020, p.2). Nesse sentido, e a fim de organizar todos esses estudos e estabelecer critérios
de saúde pública, a Organização Mundial da Saúde (OMS) favoreceu a criação do Covax
Facility, uma coalizão de 165 países que visa assegurar o direito de todos a um imunizante
seguro, eficaz, e distribuído de forma justa entre os membros.
Entretanto, essa iniciativa não se mostrou suficiente para controlar uma acirrada
corrida pela vacina contra à COVID-19, já que por detrás de uma aparente solução para
a crise de saúde, existe a chamada propriedade intelectual, que garante reconhecimento,
controle e poder monopolista aos criadores do imunizante, como também produtividade
e lucro as suas fábricas associadas. Além disso, pela lista de países que possuem os
laboratórios com vacinas já aprovadas, pode-se dizer que ocorre também uma forte
disputa nacionalista e hegemônica, na qual despontam, principalmente, EUA e China. O
que se observa ainda é que as grandes potências mundiais têm saído na frente não só na
elaboração de uma vacina, mas também na compra das primeiras doses, deixando países
subdesenvolvidos à espera de uma solução para a crise em um mundo no qual as fronteiras
são apenas simbólicas (OLIVEIRA, 2020a).
Ou seja, produzir o primeiro imunizante em larga escala não visa somente uma
solução para a pandemia, mas sim retomada econômica, afirmação hegemônica e poder
monopolista. A necessidade de chegar em primeiro, leva a aceleração de etapas de testes
clínicos, a estratégias imunobiológicas de atenuação do vírus ou de mudanças em sua
estrutura, que talvez não sejam tão eficazes, de modo a demandar novas doses para