Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
SANTOS, Anderson Felipe Leite dos.; REINALDO, Lediam Rodrigues Lopes Ramos.; BURITI, Maria Marta dos Santos. Abordagem teórico-
metodológica do componente físico-natural solo na formação continuada e a construção da prática docente na educação sica. Ensaios de
Geografia. Niterói, vol. 9, nº 18, pp. 12-40, maio-agosto de 2022.
Submissão em: 31/05/2021. Aceito em: 24/05/2022
ISSN: 2316-8544
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SEÇÃO ARTIGOS
ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA DO COMPONENTE FÍSICO-
NATURAL SOLO NA FORMAÇÃO CONTINUADA E A CONSTRUÇÃO DA
PRÁTICA DOCENTE NA EDUCAÇÃO BÁSICA
THEORETICAL-METHODOLOGICAL APPROACH OF THE PHYSICAL-
NATURAL COMPONENT SOIL IN CONTINUED FORMATION AND THE
CONSTRUCTION OF TEACHING PRACTICE IN BASIC EDUCATION
APROXIMACIÓN TEÓRICO-METODOLÓGICA DEL COMPONENTE FÍSICO-
NATURAL SUELO EN LA EDUCACIÓN CONTINUA Y LA CONSTRUCCIÓN DE
LA PRÁCTICA DOCENTE EN LA EDUCACIÓN BÁSICA
Anderson Felipe L. dos Santos1
Universidade Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho, Faculdade de
Ciências e Tecnologia
(FCT/UNESP), São Paulo, Brasil
e-mail: anderson.felipe@unesp.br
Lediam R. L. R. Reinaldo2
Universidade Estadual da Paraíba
(UEPB), Paraíba, Brasil
e-mail: lediamrodrigues@gmail.com
Maria Marta dos S. Buriti3
Universidade Estadual da Paraíba
(UEPB), Paraíba, Brasil
e-mail: martaburitigeo@gmail.com
Resumo
O presente artigo consiste em um recorte do trabalho monográfico de conclusão do curso de Licenciatura Plena
em Geografia da Universidade Estadual da Paraíba, Campus I. O estudo tem por objetivo discutir a relação entre
a abordagem do componente solo na formação continuada e o modo como esse tema é trabalhado na Educação
Básica. Para tanto, tomou-se como referência analítica o contexto formativo e de atuação docente de uma turma
do Curso de Especialização em Ensino de Geografia, ofertada pela Universidade anteriormente citada.
Metodologicamente, adotou-se uma pesquisa de cunho qualitativo, do tipo pesquisa-ação. A partir dos resultados
obtidos, concluiu-se que se faz necessário repensar o ensino de solo na formação de professores. Ademais, é
preciso problematizar a forma como assunto é abordado na Educação Básica no contexto da prática docente, que
deve se voltar para uma aprendizagem mais prazerosa e significativa.
Palavras-chave
Ensino de solo; Erosão; Ensino-aprendizagem; Formação docente.
1
Mestrando em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Ciências e
Tecnologia (PPGG - FCT/UNESP). Bolsista da FAPESP, processo nº 2021/04265-5. Especialista em Geografia e
Pesquisa pela UESPI. Licenciado em Geografia pela UEPB.
2
Professora Associada do Departamento de Geografia da Universidade Estadual da Paraíba UEPB. Doutora em
Recursos Naturais pela UFCG. Mestra em Solos e Nutrição de Plantas pela UFV. Bacharela em Engenharia
Agronômica pela UFPB. Licenciada em Pedagogia pela UEPB.
3
Professora Substituta do Departamento de Geografia da Universidade Estadual da Paraíba UEPB e Professora
Efetiva da Secretária de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia da Paraíba. Doutoranda em Geografia pela
UFPB. Mestra em Geografia pela UFPB. Licenciada em Geografia pela UEPB.
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metodológica do componente físico-natural solo na formação continuada e a construção da prática docente na educação sica. Ensaios de
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Abstract
The present article consists of a clipping of the monographic work of conclusion of the Full Degree in Geography
at the State University of Paraíba, Campus I, and aims to discuss the relationship between the approach of the
component soil in continuing education and the way in which this theme is worked in Basic Education. In order
to do so, the educational context and teaching practice of a group of the Specialization Course in Teaching
Geography offered by the aforementioned University was taken as an analytical reference. Methodologically, a
qualitative approach was adopted, of the action-research type. From the results obtained, it was concluded that it
is necessary to rethink the teaching of soil in teacher training and to problematize the way in which the theme is
approached in Basic Education in the context of teaching practice that must turn to a more pleasant and meaningful
learning.
Keywords
Teaching of soil; Erosion; Teaching-learning; Teacher training.
Resumen
El presente artículo consiste en un recorte del trabajo monográfico de conclusión de la Licenciatura en Geografía
de la Universidad Estadual de Paraíba, Campus I, y tiene como objetivo discutir la relación entre el abordaje del
componente suelo en la educación permanente y la forma en que este tema se trabaja en la Educación Básica. Para
ello, se tomó como referencia analítica el contexto educativo y la práctica docente de un grupo del Curso de
Especialización en Enseñanza de la Geografía que ofrece la referida Universidad. Metodológicamente, se adoptó
una investigación cualitativa, del tipo investigación-acción. A partir de los resultados obtenidos, se concluyó que
es necesario repensar la enseñanza del suelo en la formación docente y problematizar la forma en que se aborda el
tema en la Educación Básica en el contexto de la práctica docente que debe virar hacia un sentido más ameno y
significativo.
Palabras-clave
Enseñanza del suelo; Erosión; Enseñanza-aprendizaje; Formación de profesores.
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Introdução
O solo é um recurso físico-natural utilizado pelos seres humanos desde as primeiras
civilizações e, portanto, um elemento constitutivo da evolução espaço-temporal da sociedade e
de suas respectivas formas de reprodução. Com o desenvolvimento capitalista e a adoção de
novas técnicas capazes de aumentar a exploração econômica desse recurso, sua degradação
aumenta mais a cada dia. A deterioração pode ocorrer em larga escala, por conta do uso
descontrolado e exacerbado do solo pelos grandes empreendimentos do agronegócio, ou em
menor escala, pela reprodução de práticas inadequadas por pequenos e médios agricultores.
Estes agentes, muitas vezes, não possuem informações para aplicar o manejo adequado do solo
nas técnicas produtivas adotadas. É preciso frisar que há também uma questão cultural do uso
da terra e do manejo do solo. Por isso, certas práticas são utilizadas, mesmo que haja o repasse
de certos conhecimentos. De acordo com Quintana e Hacon:
Pela primeira vez na história, o grau de integração em que se encontra a humanidade
alcança níveis de causa e efeito nunca antes experimentados pelas culturas humanas.
Destaca-se, nesse contexto, a emergência da questão ambiental em escala local e
global, em virtude dos impactos ambientais crescentes gerados pelo modo de
produção capitalista dominante, baseado na utilização dos recursos naturais de forma
desenfreada, alheia aos ritmos de reprodução da natureza (QUINTANA; HACON,
2011, p. 427).
Nesse contexto, corriqueiramente observa-se a destruição de diversos ecossistemas, o que
causa problemas irreversíveis ao solo, à fauna e à flora. Esses resultados surgem porque “os
organismos vivos e o seu ambiente inerte (abiótico) estão inseparavelmente ligados e interagem
entre si” (ODUM, 2001, p. 11). Os efeitos negativos no solo afetam também os seres humanos:
quando esse recurso natural se torna improdutivo, os pequenos e os médios agricultores são os
mais prejudicados. Dessa forma, essas pessoas precisam, não raro, abandonar suas terras e ir
para outros lugares, principalmente para os grandes aglomerados urbanos, aumentando o
número de desempregados e de moradias precárias. Para Oliveira (2015), o avanço do
capitalismo foi imanente ao agravamento de dinâmicas sócio territoriais, marcadas pelo
aumento da utilização inadequada dos recursos naturais a níveis que potencializaram a exclusão
do pequeno produtor do campo.
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Sendo a Geografia uma ciência incumbida de pensar a realidade socioespacial e dela
extrair os qualificativos da relação sociedade-natureza, problematizando as contradições
inerentes a esse processo, ela tem papel fundamental na construção de conhecimentos sobre o
solo e sobre a necessidade de sua preservação. Diante disso, é preciso uma articulação eficiente
entre a ciência geográfica e a Geografia escolar, a fim de que a escola possa se tornar um espaço
dinâmico para o desenvolvimento de ações e de práticas voltadas ao uso sustentável do solo.
Nesse sentido, Souza e Castellar afirmam que:
O professor deve mediar os processos de construção do conhecimento, devendo
utilizar-se dos conteúdos e dos recursos didáticos para o ensino de Geografia; as
aprendizagens dos alunos decorrem essencialmente das ações cognitivas; os
conteúdos devem ser contextualizados para que os alunos possam dar sentido aos
mesmos nas suas práticas cotidianas (SOUZA; CASTELLAR, 2020, p. 41-42).
Assim, o professor, como mediador das relações sociais construídas na escola, assume
um papel importante. O docente deve atuar em prol do desenvolvimento de ações
emancipatórias que contribuam para a construção de aprendizagens significativas e relevantes
acerca do solo e da importância socioambiental que ele possui.
Atualmente, o que se observa é que muitos professores de Geografia, devido
principalmente à sua formação, não conseguem desenvolver processos teórico-metodológicos
eficientes para trabalhar conteúdos referentes a esse recurso na escola. Desse modo, a
metodologia fica, comumente, restrita ao conteúdo do livro didático. Estes, além de resumidos,
são distantes da realidade do aluno. De acordo com Souza, Furrier e Lavor (2021, p. 11), “[...]
considerando a forma como se apresenta o conteúdo sobre os solos do Brasil em muitos dos
livros didáticos, é possível observar claramente a necessidade de contextualização do assunto
com espaço de vivência dos discentes”.
Dessa maneira, é importante que o professor vá além do livro didático e busque trabalhar
temas relevantes para a Geografia. O objetivo dessa prática é encontrar formas de abordar
assuntos essenciais que são frequentemente secundarizados (como o solo), mas exercem grande
importância na formação de cidadãos conscientes em relação ao mundo em que vivem.
Nesse contexto, é de extrema relevância que, na formação inicial e continuada, os
licenciandos e licenciados em Geografia possam ter contato com metodologias que permitam
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relacionar a teoria e a prática nas disciplinas ofertadas pelos cursos de Graduação e de Pós-
graduação. O intuito desse processo é de que professores façam a diferença na escola, local
onde se inicia o processo de formação dos conhecimentos mínimos necessários para uma
cidadania completa.
Este trabalho, cujo principal objetivo é discutir a relação entre a abordagem do
componente físico-natural solo na formação continuada e a maneira como esse assunto é
trabalhado na Educação Básica, toma como referência analítica o contexto formativo e de
atuação docente de uma turma do Curso de Especialização em Ensino de Geografia, ofertada
pela Universidade Estadual da Paraíba.
Para alcançar os objetivos propostos, estruturou-se um plano de intervenção que propôs
metodologias dinâmicas para o trabalho com solo nas aulas de Geografia. Essa experiência
possibilitou aos discentes participantes da pesquisa, refletir tanto a respeito do ensino desse
componente na formação continuada quanto sobre a forma como vem sendo trabalhado na sala
de aula da Educação Básica.
Assim sendo, acredita-se que o estudo em questão se torna relevante à medida que se faz
necessário identificar como os professores de Geografia estão trabalhando os conteúdos
referentes ao solo na sala de aula da Educação Básica. Logo, a Geografia, como uma ciência
que estuda o espaço geográfico nas suas amplas dimensões, precisa construir uma síntese crítica
e dialógica sobre a importância da conservação do solo para que haja boa relação entre a
sociedade e a natureza. Além disso, a disciplina é capaz de contribuir para a formação de
cidadãos conscientes de seus deveres com relação à preservação do meio ambiente. No mais,
enquanto campo de pesquisa e área de atuação, a Geografia extrapola os conteúdos escolares
(KAERCHER; BOHRER, 2020).
Referencial teórico
O professor de Geografia e os conhecimentos necessários para o ensino de solos na Geografia
escolar
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A Geografia é uma ciência dinâmica e complexa, sendo “um campo de estudos que
interpreta as razões pelas quais coisas diversas estão situadas em posições diferentes ou por que
as situações espaciais diversas podem explicar qualidades diferentes de objetos, coisas, pessoas
e fenômenos” (GOMES, 2017, p. 20). Assim, espera-se que o profissional dessa área tenha em
sua formação as habilidades necessárias para trabalhar os conteúdos propostos pelo currículo
formal, de modo a estabelecer as conexões para um melhor entendimento quanto às dinâmicas
sócio espaciais. Desse modo, em relação às ciências da natureza, das quais a Pedologia ciência
que estuda o solo faz parte, a Geografia possui grande ligação, como relata Andrade:
Com as ciências da natureza, a Geografia também tem grande relacionamento, em
face da necessidade de bem conhecer o palco em que a sociedade está instalada e onde
atua. Assim, para melhor conhecer os recursos renováveis e não renováveis de que a
sociedade dispõe, a Geografia necessita manter grande intercâmbio com a Geologia,
que estuda a estrutura da crosta terrestre; com a Pedologia, que estuda os solos; com
a Mineralogia, que estuda as rochas e minerais existentes; com a Hidrologia, que
estuda as águas (ANDRADE, 2008, p. 25-26).
Desse modo, percebe-se como a Geografia é uma ciência interdisciplinar, que possui
relações diretas e indiretas com tantas outras áreas do conhecimento. Por sua vez, essas áreas
afins enriquecem as abordagens e as análises dos diversos espaços geográficos observados e
analisados pelos geógrafos.
Dessa forma, analisar como o homem está se apropriando do solo é, sem dúvida, uma
questão social que envolve as relações entre sociedade e natureza, pois é sobre o solo que a
sociedade constrói seus aparatos (formas) que viabilizam sua reprodução. Assim, por que
negligenciar o ensino de solos na Geografia escolar?
Precisamos entender que, muitas vezes, os professores possuem dificuldades em trabalhar
o conteúdo solo devido à sua complexidade. Em outras ocasiões, quando trabalham, apenas o
abordam superficialmente, se prendendo às definições “do que é solo”, sem retratar na prática
como acontecem os diferentes processos que modificam e que prejudicam esse recurso natural.
Sob este viés, evidencia-se a necessidade de que, durante a formação inicial, existam
abordagens que liguem o ensino e os conteúdos programados à disciplina de Pedologia.
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Nota-se que vários estudiosos que atuam na Geografia ainda não compreendem o solo
como elemento fundamental para os estudos geográficos. Segundo Christopherson (2012), essa
ideia pode estar relacionada ao fato de a Pedologia/Ciência do Solo ser um campo
interdisciplinar que envolve outros ramos da ciência, como a Física, a Biologia, a Mineralogia,
a Hidrologia, a Climatologia e a Cartografia. Um reflexo dessa ideia é bastante visível no ensino
de Geografia no Ensino Fundamental, Médio e Superior: quando abordam o conteúdo solo,
esses níveis tratam-no como um conteúdo externo aos alunos, de forma superficial e não
objetiva. No entanto, ainda segundo Christopherson (2012), a Geografia é uma ciência
integradora e adequada ao estudo dos solos.
Na mesma perspectiva de Christopherson (2012), Santos e Catuzzo (2020, p. 2), relatam
em uma pesquisa realizada nas escolas públicas de Diamantina-MG que, “[...] atualmente, são
poucas as aplicações de práticas de ensino que contribuem para o aprendizado de solos,
principalmente nas escolas públicas de Diamantina/MG. Mesmo os livros didáticos raramente
oferecem subsídios para a dinamicidade do estudo da Pedologia”.
Sendo assim, quando os professores de Geografia trabalham apenas com conceitos, não
instigam o pensamento crítico dos alunos a partir da realidade vivenciada por eles no espaço
geográfico que estão inseridos. Os educandos ficam, com isso, impossibilitados de realizar
análises sobre os fenômenos que interferem e estão relacionados diretamente ao seu cotidiano,
tornando a ciência geográfica meramente descritiva. De acordo com Resende (1986, p. 20),
“[...] se o espaço não é encarado como algo em que o homem está inserido, natureza que ele
próprio ajuda a moldar, a verdade geográfica do indivíduo se perde e a Geografia torna-se alheia
para ele”.
Nesse sentido, as discussões acerca da aprendizagem e da significação dos conteúdos da
ciência geográfica para a formação de um aluno crítico reforçam a necessidade do professor
ressignificar sua prática em sala de aula. É preciso, então, tornar a escola um lugar atrativo, no
qual o estudante tenha interesse em participar das aulas. Tomaz e Sartor (2010, p. 2) mostram
que, “[...] ao diversificar suas aulas e propor atividades que despertem a atenção dos alunos, o
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professor, ao mesmo tempo, estará aproximando o aluno da escola, de maneira que o mesmo
sinta prazer e motivação em estar no ambiente escolar”.
Ao propor metodologias alternativas para a abordagem dos conteúdos referentes à
temática solo, o docente deve buscar desenvolver atividades que conduzam à participação ativa
e ao conhecimento crítico dos estudantes. Um exemplo muito válido para a realização de
atividades sob essa perspectiva é o trabalho a partir de experimentos, tornando o saber concreto
ao olhar dos alunos e minimizando a abstração atribuída, por muitos deles, à disciplina. Ao
promover experimentos sobre solos, é possível discutir muitos dos impactos causados pela ação
do homem sobre o meio, estimulando os alunos ao raciocínio e à criticidade, além de despertar
uma visão consciente para a importância da preservação desse recurso físico-natural. De acordo
com Botelho, Marques e Oliveira:
Pode-se presumir que atividades práticas, como os experimentos simples realizados
em maquetes e outros recursos didáticos, podem viabilizar melhorias para o processo
ensino-aprendizagem, pois, por natureza, são instigantes, permitindo que alunos e
professores realizem um ensino com possibilidades de ser problematizado e
ressignificado (BOTELHO; MARQUES; OLIVEIRA, 2019, p. 231).
Diante disso, é preciso que, durante a formação inicial e continuada, os licenciandos e
licenciados em Geografia possam conhecer possibilidades de aplicações do que se é debatido
em Pedologia, no âmbito do Ensino Básico. O objetivo é que eles, juntamente com os
professores da universidade, possam desenvolver estratégias e metodologias que facilitem a
aprendizagem dos alunos da Educação Básica e também dos graduandos em formação para
serem professores e atuarem nas escolas de Ensino Fundamental e Médio.
Conhecendo o solo: um elemento natural ligado à paisagem e à relação do homem-natureza
Para início dessa subseção, é preciso compreender que o manto do solo é considerado
quadrimensional, ou seja, possui três dimensões espaciais (3D) e uma temporal (4D). As três
dimensões espaciais estão embutidas umas nas outras e correspondem a níveis de organização
estrutural do solo, que vão da escala da paisagem a do microscópio, e que a dimensão temporal
significa sua evolução. Do mesmo modo, a paisagem também é 4D, tendo níveis embutidos uns
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nos outros: “[...] trata-se de uma designação especial para uma dada unidade espacial, que
abriga diversas escalas temporais e espaciais” (NAKASHIMA et al., 2017, p. 32).
A paisagem é o que vemos, sentimos, e até mesmo aquilo que percebemos. Ela tem uma
estrutura composta por camadas horizontais, ou seja, limites espaciais. Além disso, a paisagem
tem também seus processos funcionais, como os fluxos de matéria, de energia e de informações.
O conceito de paisagem é fundamental para a ciência geográfica, pois assume um papel
relevante para a evolução dessa ciência: “[...] muito mais que uma justaposição de detalhes
pitorescos, a paisagem é um conjunto, uma convergência, um momento vivido, uma ligação
interna, uma ‘impressão’ que une todos os elementos” (DARDEL, 2015, p. 30).
Sendo assim, além de ser um componente inserido na paisagem, o solo é um recurso
físico-natural que pode interagir com outros aspectos da paisagem. Nesse contexto, precisa-se
compreender que o solo é produto da interação com diversos elementos. Esta, por sua vez,
produzirá outros componentes com características próprias e dinâmicas. Então, na medida em
que se muda a intensidade da troca de informações de matéria ou de energia de acordo com o
contato entre esses elementos, altera-se a característica de alguns deles, ou mesmo mantém-se
essas particularidades ao longo do tempo. Nesse sentido, o solo irá assumir características
distintas.
Dessa forma, o componente se torna o “agente-síntese” da paisagem, ou seja, a partir do
estudo dele, é possível entender o clima, a Geologia, o relevo, a vegetação, a fauna, etc.
(NAKASHIMA, et al., 2017). No entanto, frequentemente, o solo é considerado um elemento
desconectado da paisagem. Como relata Lepsch (2011), deixamos de reconhecê-lo como parte
de todo um sistema natural dinâmico do planeta e passamos a vê-lo como um composto estático
e isolado da paisagem.
Assim, compreende-se que o solo é um dos agentes de grande importância na sintetização
da paisagem. Ademais, esse recurso físico-natural é um produto do clima; então, se houver
condições mais úmidas ou mais secas, temperaturas mais altas e mais baixas, materiais parentais
ou de origem distintas, tudo irá conduzir para que haja solos com particularidades diferentes
(LANDAU; SANS; SANTANA, 2008). O relevo também irá condicionar de forma expressiva
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a formação dos solos: se ele estiver em áreas elevadas, escarpadas ou rebaixadas, próximo do
nível de base ou do lençol freático, essa localização irá favorecer ou desfavorecer a erosão.
Esta, de acordo com Silva:
É constituída pelo grupo de processos sob os quais o material terroso ou rochoso é
desagregado, decomposto e removido de alguma parte da superfície terrestre. É um
processo natural de exposição das rochas a condições diferentes das de sua formação.
É um processo de suavização da superfície terrestre (SILVA, 1995, p. 2).
Em relação à Topografia, Oliveira, Santos e Araújo relatam que:
A topografia é importante no que diz respeito à declividade e ao comprimento da
encosta, sendo um fator determinante na velocidade dos processos erosivos. Isto
porque relevos mais acidentados, com declividades mais acentuadas, favorecem a
concentração e o aumento de velocidade do escoamento superficial, aumentando sua
capacidade erosiva (OLIVEIRA; SANTOS; ARAÚJO, 2018, p. 66).
Além do relevo, tem-se também a atuação dos organismos, pois as plantas influenciam
na composição química do solo e os animais conseguem produzir solos através dos agregados,
estando também envolvidos em vários processos além da pedoturbação. E o ser humano
consegue produzir esse elemento? O homem também condiciona esse recurso. Existem,
inclusive, solos derivados de lixão, solos antrópicos associados a atividades antigas, tudo isso
favorecendo e influenciando nas características do componente. Outro fator também crucial na
formação dos solos é o tempo, porque, mesmo que se mantenham todas as variáveis e os fatores
estabelecidos, o passar do tempo pode produzir solos com características diferentes (LEPSCH,
2011).
Portanto, é preciso entender que nem todo o solo é originado das rochas in situ: pode-se
ter solos derivados de sedimentos, de materiais orgânicos. No mais, percebe-se que todo solo
tem estrutura, mas nem todos possuem agregação, que pode ser maciça ou de grão simples.
Portanto, existem horizontes sem agregados.
Metodologia
A pesquisa foi desenvolvida nos meses de março e agosto de 2020, com 25 alunos da
disciplina de Ensino de Ciência do Solo do Curso de Especialização em Ensino de Geografia
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vinculado ao Departamento de Geografia. Este último que funciona na central de aulas da
Universidade Estadual da Paraíba, Campus I, localizada no município de Campina Grande, no
estado da Paraíba. Inicialmente, os encontros iriam acontecer apenas de maneira presencial,
mas, devido à pandemia, as reuniões precisaram ser adiadas e adaptadas à realidade do ensino
remoto.
Nesse sentido, pode-se compreender que a pesquisa está referenciada
metodologicamente em pressupostos de uma abordagem qualitativa do tipo exploratória,
baseada em pesquisa-ação. De acordo com Thiollent (2008)
A pesquisa-ação é um tipo de investigação social com base empírica que é concebida
e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema
coletivo no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do
problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT,
2008, p. 14).
Através da pesquisa-ação foi possível a intervenção planejada no cotidiano da turma
pesquisada, de modo a desenvolver as metodologias dinâmicas de ensino do Componente Solo
a partir de diversas atividades teóricas e práticas. Essa iniciativa contou com etapas
sequenciadas que envolveram o planejamento, a execução, a avaliação e a reflexão das ações
desempenhadas.
Para alcançar os objetivos propostos, foi aplicado um questionário estruturado (Quadro
1) junto aos discentes participantes da pesquisa, elaborado pelo Google Forms. Ele contava
com onze (11) questões, sendo seis (6) de múltipla escolha e cinco (5) discursivas. As perguntas
tinham como tema as abordagens do solo na formação inicial e o tratamento do assunto feito
por eles como professores na Educação Básica, além da interação na realização dos
experimentos, da observação e da discussão das aulas desenvolvidas por eles na disciplina de
Ensino de Ciência do Solo.
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AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
SANTOS, Anderson Felipe Leite dos.; REINALDO, Lediam Rodrigues Lopes Ramos.; BURITI, Maria Marta dos Santos. Abordagem teórico-
metodológica do componente físico-natural solo na formação continuada e a construção da prática docente na educação sica. Ensaios de
Geografia. Niterói, vol. 9, nº 18, pp. 12-40, maio-agosto de 2022.
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ISSN: 2316-8544
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Quadro 1: Questionário aplicado aos discentes sobre o conteúdo Solo abordado na Educação
Básica
Questionário Aplicado aos Discentes da Especialização em Ensino de Geografia
da UEPB (2020)
1. Atua em alguma escola:
( ) Fundamental ( ) Médio ( ) Fundamental e Médio ( ) Nenhuma
2. A escola onde você atua é:
( ) Estadual ( ) Municipal ( ) Particular ( ) Nenhuma
3. Qual a cidade onde você atua?
4. Como foi sua formação inicial em solos? Fale sobre.
5. O que você achou dos experimentos de solo?
6. Já havia aplicado algum experimento com solo na educação básica?
( ) Sim ( ) Não
7. Com relação a pergunta anterior, caso sim, qual foi o experimento?
8. Irá aplicar os experimentos na educação básica?
( ) Sim ( ) Não ( ) Talvez
9. Possui dificuldade em abordar o conteúdo de solos?
( ) Pouca dificuldade ( ) Muita dificuldade ( ) Nenhuma dificuldade
10. Na sua concepção é importante trabalhar com o solo. Por quê?
11. Conhece professores de Geografia que desenvolvem algum projeto com o solo
nas escolas?
( ) Sim ( ) Não
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).
Dessa forma, houve quatro encontros destinados para a disciplina, cada um abarcando
três horas e meia de aula. Vale ressaltar que, devido ao contexto pandêmico e à paralisação das
aulas presenciais, apenas dois encontros realizados no mês de março foram presenciais. Outros
dois aconteceram no mês de agosto, de forma remota, através do aplicativo de videoconferência
Google Meet.
A maneira como as atividades foram divididas durante a disciplina está descrita a seguir:
1) Inicialmente, foram revisados os conteúdos sobre o solo pela docente do componente,
com destaque para: Formação do solo, Fatores de formação do solo, Perfil do solo e
Tipos de solos de acordo com o Sistema Brasileiro de Classificação dos solos (SIBCS).
Enfatiza-se que os assuntos foram expostos apenas de forma introdutória, visto que os
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discentes tinham visto os conteúdos durante a graduação. Além disso, a disciplina
contava com apenas 4 aulas. Ao final deste primeiro encontro, foi solicitado aos
pesquisados que se dividissem em grupos e trouxessem alguns materiais para serem
utilizados na aula seguinte para a realização de práticas utilizando o solo.
2) O segundo encontro contou com dois momentos. O primeiro destinou-se às abordagens
retratando os efeitos da ação antrópica sobre o solo, conteúdo relevante para debate
devido ao avanço da degradação dos solos em todo o mundo. Além disso, foi discutida
a importância do ensino em solos na disciplina de Geografia no Ensino Fundamental e
Médio. No segundo momento, foi proposta aos alunos a realização de experimentos
referentes à erosão e ao ar do solo, que serão debatidos posteriormente neste trabalho.
3) No terceiro e quarto encontro, realizado de forma remota devido à pandemia da Covid-
19, os discentes apresentaram uma aula em grupo através do aplicativo de
videoconferência Google Meet. O assunto da apresentação foi um conteúdo acerca do
solo para o Ensino Fundamental e/ou Médio. Nessa proposta, os discentes trouxeram
uma proposta de um recurso didático-pedagógico.
Resultados e discussão
Com os dados obtidos através do questionário estruturado, observou-se que, dos 25
discentes participantes da pesquisa, 10 (40%) atuavam no Ensino Fundamental; 2 no Ensino
Médio (8%); e 3 no Ensino Fundamental e Médio (12%). Os outros 10 (40%) discentes não
atuavam em nenhuma escola. Dos alunos que estavam desenvolvendo atividades laborais no
espaço escolar, 4 discentes atuavam em escolas estaduais; 5 em escolas municipais e 6 em
escolas privadas.
Por conseguinte, constatou-se que os discentes da Especialização que atuavam na
Educação Básica estavam alocados em diversas cidades do território paraibano, a saber: Areial,
Aroeiras, Campina Grande, Esperança, Juazeirinho, Livramento, Queimadas e Umbuzeiro
(Figura 1).
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Figura 1: Cidades de atuação dos professores participantes do curso de Especialização em
Ensino de Geografia da UEPB
Fonte: Lima (2022).
Na Figura 1, em laranja, estão destacados os municípios da Paraíba onde os professores
atuavam no momento da pesquisa. Destaca-se Campina Grande, com 7 dos 15 docentes atuantes
na Educação Básica. Em Queimadas, havia 2 docentes atuantes na Educação Básica; nos demais
municípios, apenas 1. Após identificar onde os participantes da pesquisa atuavam (ou não),
partiu-se para analisar a formação destes sobre o conteúdo Solo.
Em síntese, a maioria dos participantes relatou que foram conhecer realmente o assunto
Solo durante a Graduação, na disciplina de Pedologia. Dessa maneira, percebe-se a
secundarização do Solo na disciplina de Geografia escolar, pois muitos dos discentes não
estudaram essa temática na Educação Básica. Além disso, enfatiza-se a importância de se
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desenvolver, na disciplina de Pedologia, durante a graduação, atividades que visem facilitar o
entendimento dos conteúdos por parte dos alunos e recursos a serem utilizados em sala de aula.
Nesse sentido, quando perguntados se haviam desenvolvido algum recurso didático-
pedagógico sobre o solo na Educação Básica, 8 discentes responderam que sim, número
equivalente a 32%, enquanto 17 disseram que não, o que representa 68%. Dos alunos que
responderam sim, 4 atuavam em escolas municipais, 3 em escolas estaduais e 1 numa escola
particular.
Também buscou-se saber dos discentes quais as práticas de solo desenvolvidas nas
turmas nas quais atuavam como professores. Entre as respostas estavam: demonstração do
horizonte do solo; porosidade do solo; impacto da gota de chuva no solo; erosão hídrica e eólica;
e perfis de solo no entorno da escola.
A partir do exposto, observa-se que a maioria dos pesquisados ainda não trabalhavam
com recursos metodológicos com as turmas do Ensino Fundamental e Médio devido,
principalmente, à dificuldade com a realização de atividades práticas. Nesse sentido, quando
perguntados se iriam aplicar as práticas de solo na Educação Básica, 24 dos 25 participantes
relataram que iriam desenvolver esses recursos com as turmas atuais ou futuras, e apenas um
respondeu que “talvez” iria aplicar. No Gráfico 1, é possível identificar se os discentes
apresentavam ou não dificuldade em abordar os conteúdos sobre o solo.
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Gráfico 1: Dificuldade em abordar os conteúdos sobre o Solo dos professores participantes
da Especialização em Ensino de Geografia da UEPB
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).
Todavia, apesar dos pesquisados apresentarem pouca ou nenhuma dificuldade na
abordagem do tema solo, é preciso dar ênfase a um trabalho mais efetivo dos conteúdos dessa
temática na Educação Básica. Isso significa que a abordagem não deveria se limitar apenas ao
conteúdo do livro didático, pois, comumente, os alunos aprendem uma definição
simplificada de solo, mas não a sua importância e a necessidade de conservá-lo.
Os discentes da turma de Especialização evidenciaram a dificuldade de estabelecer
relação entre o estudado na academia e sua prática na Educação Básica. Segundo os
participantes, o que é aprendido na universidade se restringe à dimensão teórica do
conhecimento sobre solos. Essa ação dificulta sobremaneira a construção de metodologias e
práticas propositivas a um ensino de solos mais significativo na escola. De acordo com Callai
(2011, p. 17), algo preocupante é que, nos cursos de formação de professores, “[...] muitas vezes
a questão técnica se sobrepõe à dimensão pedagógica do/no tratamento dos conteúdos”.
Percebe-se, assim, uma formação voltada para o bacharelado mesmo em cursos de licenciatura.
Evidencia-se, dessa maneira, que todos os pesquisados compreendem que é pertinente
abordar o conteúdo sobre solo na Educação Básica devido à sua importância no atual contexto
da sociedade capitalista globalizada e fortemente impactada pela exploração do capital. Isso é
Pouca
dificuldade
68%
Nenhuma
dificuldade
32%
Muita
dificuldade
0%
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de total relevância porque, como se sabe, o solo não é só onde se produz alimento para os seres
humanos: ele é também o local do qual os animais retiram seu alimento, além de ser o espaço
em que habitam diversos micro-organismos e organismos que dependem dele para sobreviver.
Consequentemente, é imprescindível a conservação desse recurso natural tão necessário à
manutenção da vida na Terra.
Com base nesse diagnóstico, através da pesquisa-ação foram desenvolvidas atividades
relacionadas ao trabalho prático em sala de aula com solos. Nessa atividade, realizou-se um
experimento sobre a porosidade do solo e dois experimentos sobre erosão do solo.
O primeiro experimento, sobre porosidade do solo, teve como objetivo demonstrar a
presença do ar no espaço poroso do solo. Para a sua realização, foram utilizados copos
descartáveis e torrões de solos secos coletados no Campus II da Universidade Estadual da
Paraíba, localizada no Município de Lagoa Seca (PB). Na Figura 2, é possível observar os
torrões de solo argiloso utilizados no experimento referente ao ar do solo.
Figura 2: Torrões de solo seco utilizados no experimento sobre o ar do solo
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).
Assim, para realizar o experimento, cada grupo pegou um torrão de solo seco, encheu o
copo descartável com água e colocou o torrão de solo seco dentro do recipiente. A Figura 3
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mostra o resultado obtido com o experimento, no qual observou-se que saíram bolhas de ar do
torrão ao ser mergulhado na água.
Figura 3: a) Copo com torrão de solo cheio de água; b) Bolhas de ar saídas do torrão de solo
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).
Com o resultado do experimento, os discentes conseguiram compreender a importância
do ar do solo para a manutenção e sobrevivência das plantas e até mesmo dos micro-organismos
que precisam do ar para sobreviver. É necessário ressaltar que o ar por si não garante a
qualidade do solo, mas combinado com outros fatores ele possui essa capacidade. Afinal, um
solo mais arenoso é poroso, mas, quando o recurso apresenta pouca matéria orgânica, é
vulnerável à instalação de processos erosivos.
Assim, a partir desse experimento, é possível observar o ar do solo, algo que geralmente
é imperceptível no cotidiano das pessoas, principalmente daquelas que não trabalham com esse
recurso físico-natural. No mais, a porosidade varia de acordo com o tipo de solo: quanto mais
argila e silte, menos poros. Nesse sentido, os resultados obtidos na prática irão variar de acordo
com o tipo de solo usado no teste.
No segundo experimento, abordou-se a importância da cobertura do solo na redução da
erosão. Na prática, foi observada a erosão laminar que remove uma delgada e uniforme camada
do solo superficial, provocada por fluxo hídrico não concentrado, e a erosão linear, decorrente
A)
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da ação do escoamento hídrico superficial concentrado, que apresenta três tipos: sulcos, ravinas
e voçorocas. (SANTOS; REINALDO, 2020).
No terceiro experimento, também sobre a importância da cobertura vegetal para a
diminuição da erosão do solo, foram utilizados os seguintes materiais: 3 garrafas (PET) de 2
litros, aproximadamente 3 kg de solo, touceira de grama do tamanho da garrafa PET de 2 litros,
gravetos de árvores para representar a cobertura vegetal morta, tesoura, 3 caixas de sapatos, 3
copos descartáveis e 1 recipiente para armazenar a água a ser utilizada para derramar sobre as
garrafas.
Para a montagem do experimento, cortaram-se as 3 garrafas de 2 litros longitudinalmente,
preservando o bocal e o tampo de fundo. Na garrafa 1, adicionou-se o solo com a grama viva,
ou seja, com cobertura vegetal. Na garrafa 2, o solo com os restos vegetais mortos (gravetos).
Na última garrafa, colocou-se somente o solo. Para dar uma inclinação nas garrafas, utilizou-se
uma caixa de sapato para cada. Se faz necessário também colocar, abaixo de cada garrafa, um
recipiente transparente, como um copo descartável, para capturar a água e, logo após a
realização da prática, compará-las.
Na Figura 4, é possível observar os discentes realizando a montagem do experimento
sobre a erosão do solo.
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Figura 4: a) Corte da grama pelos participantes;
b) Montagem do experimento sobre erosão no solo
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).
Diante dos resultados obtidos por cada grupo ao realizar o experimento sobre a cobertura
do solo e a redução da erosão, pode-se ver que, apesar de cada um se expressar de maneira
diferente sobre a atividade, todos observaram os impactos causados no solo sem cobertura
vegetal. Desse modo, averiguou-se que o solo sem nenhuma cobertura vegetal fica totalmente
desprotegido da ação da chuva, causando a perda dos seus nutrientes e sedimentos, carregados
pelas águas e depositados nos lugares mais baixos da paisagem (SANTOS; REINALDO, 2020).
Constatou-se também que os pesquisados conseguiram observar e analisar alguns
aspectos da água oriunda do escoamento superficial em cada uma das garrafas. Na primeira
garrafa (da esquerda para a direita, Figura 5), os estudantes analisaram que, no solo sem
cobertura vegetal, a água oriunda do escoamento superficial do solo estava mais turva (suja) do
que aquela provinda do solo com cobertura vegetal viva e morta. Nesse sentido, quanto mais
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suja, mais sedimentos foram carregados pelo fluxo de água, indicando a atuação de processos
erosivos na área.
Com relação à segunda e à terceira garrafas (da direita para a esquerda, Figura 5),
respectivamente, os alunos analisaram que houve uma menor perda de solo, pois a vegetação
viva e morta protegeu o solo do efeito da chuva, diminuindo os efeitos da erosão. De acordo
com Santos e Guerra (2021, p. 25), “[...] a cobertura vegetal funciona como uma proteção
natural para o solo contra a erosão. Ela protege o solo contra o impacto direto das gotas de
chuva e dispersa a água da chuva através de sua intercepção e armazenamento pelas folhas,
galhos e troncos”. Porém, observou-se que o escoamento superficial propiciou perda de solo,
caracterizando a erosão laminar. Na Figura 5, é possível observar a perda de solo e a qualidade
da água ao final do experimento.
Figura 5: Perda de solo e qualidade da água ao final do experimento sobre cobertura do solo
e redução da erosão
Fonte: Elaborado pelos autores (2022).
Com relação ao terceiro e último experimento desenvolvido o impacto da gota de chuva
no solo os discentes utilizaram duas garrafas PET de 2 litros (cortadas ao meio), amostras de
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solo (para preencher as garrafas), cobertura vegetal (para cobrir uma das garrafas), papel sulfite
branco e uma garrafa para simular a chuva no solo. Vale destacar que esse experimento foi
realizado por todos os pesquisados em conjunto. A Figura 6 mostra o experimento sobre o
impacto da gota de chuva no solo sem e com cobertura vegetal e o seu resultado.
Figura 6: a) Papel sulfite envolto em duas garrafas pet (com e sem cobertura vegetal);
b) Papel sulfite “manchado” de solo
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).
A partir da Figura 6, observa-se que o papel sulfite em volta da garrafa pet com cobertura
vegetal estava apenas molhado, não havendo desagregação do solo. o papel sulfite da garrafa
PET sem cobertura vegetal estava “manchado”, pois houve a desagregação do solo. Os
pesquisados constataram, assim, que, na garrafa sem cobertura vegetal, houve perda de solo.
No experimento três, aferiu-se que “a vegetação é a defesa natural do solo ao processo
erosivo, pois reduz o impacto da gota da água com a cobertura vegetal, contribuindo para um
menor escoamento superficial, uma vez que o solo irá reter maior quantidade de água
(SANTOS; REINALDO, 2020, p. 135). As gotas de chuva, ao atingirem o solo sem proteção,
estarão propensas a causar erosão por salpicamento ou efeito splash”. Essas gotas de água não
A)
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encontraram resistência para que se possa dissipar a energia cinética, sendo ela toda
descarregada diretamente no solo (GUERRA, 1998).
Posteriormente, quando perguntado aos pesquisados se eles conheciam professores de
Geografia que desenvolviam projetos referentes ao solo na escola, 18 discentes responderam
que não e 7 disseram que sim. Dessa forma, mesmo que ainda não sejam todos os professores
que desenvolvem projetos sobre o solo na escola, é louvável que existam profissionais
preocupados em abordar a temática de uma forma a partir da qual se busque, da melhor maneira
possível, refletir e sensibilizar os estudantes sobre esse importante recurso físico-natural.
Por conseguinte, a partir da realização dessas atividades/experimentos, constatou-se que
a escola se torna um local propício para disseminar práticas que busquem desenvolver a
conscientização sobre a importância da conservação do solo. No ambiente educacional, as
crianças e jovens aprendem a ser cidadãos conscientes de seus direitos e deveres.
No último momento da disciplina, os discentes elaboraram uma aula referente à temática
Solos e apresentaram nos encontros no Google Meet. Nesses momentos, trouxeram propostas
que poderiam ser realizadas no Ensino Fundamental e/ou Médio. No quadro 2, observam-se as
propostas elaboradas pelos discentes.
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Quadro 2: Propostas sobre ensino em solos elaboradas pelos discentes da Especialização em
Ensino de Geografia da UEPB
Grupos
Série
Proposta de aula
Grupo 1
2º ano do Ensino
Médio
Trabalhar a degradação dos solos e a
espacialização dos solos brasileiros e de sua
variação. Nessa proposta, os professores poderiam
utilizar o livro didático, os mapas dos solos, os
recursos audiovisuais e os experimentos para
tentar reproduzir como ocorre a erosão nos
diversos tipos de solo. Espera-se que, a partir
dessa metodologia, os alunos se aproximem de
forma satisfatória de um nível de compreensão
sobre como acontecem as ações antrópicas, bem
como os fenômenos naturais que contribuem, de
certa forma, na degradação do solo.
Grupo 2
6º ano do Ensino
Fundamental II
Trouxeram uma proposta de aula para o 6º ano do
Ensino Fundamental cujo tema foi o uso e a
ocupação dos solos na cidade. Os objetivos
expostos foram compreender a importância dos
solos para o nosso cotidiano e apresentar, de forma
prática, como se dá o uso e a ocupação do solo na
zona urbana. Assim, os professores de Geografia
do ano poderiam realizar a aula de forma
expositiva e dialogada, aproveitando os
conhecimentos prévios dos alunos sobre a
temática em questão. Em seguida, buscar-se-ia,
através do jogo “Simcity”, proporcionar a
interação entre os estudantes em sala de aula: todos
iriam verificar o melhor local para a construção de
sua cidade. Assim, levando-se em consideração
toda a dinâmica do jogo, os educandos também se
atentariam para a percepção de impactos
associados à ocupação do solo.
Grupo 3
6º ano do Ensino
Fundamental II
Salienta-se que o grupo 3 também trouxe uma
proposta de aula sobre o solo para o ano do
Ensino Fundamental II. No entanto, o tema
abordado pelo grupo foram os tipos de solos.
Dessa maneira, os objetivos expostos foram
conhecer e identificar os diferentes tipos de solo.
A aula teria natureza expositiva e dialogada,
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seguida de uma aula de campo, visto que, muitas
vezes, observa-se por parte de alguns professores
dificuldades em abordar temáticas da Geografia,
dentre elas a ciência do solo. Desse modo, a partir
dessa proposta de aula, seria facilitado o processo
de aprendizagem por parte dos discentes. Essa
sugestão busca, assim, dinamizar a abordagem da
temática, visto que a mesma, na maioria das vezes,
é trabalhada em sala de aula apenas com o livro
didático. Porém, devido à sua oferta e às
variedades de recursos, o tema pode ser trabalhado
com diferentes metodologias, tanto em sala
quanto fora dela.
Grupo 4
9º ano do Ensino
Fundamental II
O tema trazido pelo grupo 4 fez referência à
prática da agricultura no continente africano. A
aula foi elaborada para ser aplicada no ano do
Ensino Fundamental II. Os objetivos propostos
foram analisar as diferentes práticas de agricultura
no continente africano e os impactos dessa prática
no solo, além de conhecer alguns tipos de solo do
espaço em questão. Nesse contexto, para o
desenvolvimento da abordagem, os professores
poderiam optar pela aula expositiva e dialogada,
com análise de mapas e imagens. Nessa atividade,
seria discutida a agricultura africana, enfatizando
a importância de práticas de manejo para a
conservação dos Solos. De acordo com o grupo,
na primeira etapa, poderia ser feita uma sondagem
na qual os alunos, através de questionamentos,
expressarão os conhecimentos que trazem sobre
o conteúdo. Na segunda etapa, poderá ser passado
o filme “O menino que descobriu o vento” em
sala. Na terceira etapa, seria proposta a discussão
do filme e os manejos do solo no continente
africano, bem como um debate sobre as relações
sócio espaciais, trazendo o tema para a escala
local.
Grupo 5
6º ano do Ensino
Fundamental II
O quinto e último grupo trouxe uma proposta de
aula para o ano do Ensino Fundamental II. Os
objetivos propostos foram compreender o
processo de formação do solo; entender o que é o
solo e qual a importância de conhecê-lo; analisar
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AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
SANTOS, Anderson Felipe Leite dos.; REINALDO, Lediam Rodrigues Lopes Ramos.; BURITI, Maria Marta dos Santos. Abordagem teórico-
metodológica do componente físico-natural solo na formação continuada e a construção da prática docente na educação sica. Ensaios de
Geografia. Niterói, vol. 9, nº 18, pp. 12-40, maio-agosto de 2022.
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a atuação do intemperismo na formação do solo; e
atentar para a influência do clima, organismos,
material de origem, relevo e tempo na formação
dos diferentes tipos de solos. Assim, poderia ser
solicitado o desenvolvimento de uma atividade
impressa, que consiste na montagem e na pintura
de um modelo 3D de um perfil de solo.
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).
Desta maneira, pode-se perceber que cada grupo participante das interações e
exposições das aulas trouxe propostas diferentes sobre temas que envolvessem o solo e
pudessem ser desenvolvidos na Educação Básica, buscando a popularização dos conhecimentos
sobre este recurso físico-natural tão importante para a manutenção da vida no planeta Terra.
Ademais, apesar de terem sido destacadas as séries em que as aulas poderiam ser desenvolvidas,
observa-se que as propostas são cabíveis de serem aplicadas em qualquer nível de ensino, desde
que aja planejamento por parte dos professores, buscando adaptá-las para as séries tanto do
Fundamental quanto do Médio.
Considerações finais
O professor, como mediador das relações sociais construídas na escola, assume um papel
importante, devendo atuar em prol do desenvolvimento de ações emancipatórias que
contribuam para a construção de aprendizagens significativas e relevantes acerca do recurso
físico-natural solo e da importância socioambiental que ele possui.
No entanto, o que se observa é que diversos professores de Geografia, devido às lacunas
presentes na sua formação, às condições de trabalho, à estrutura física das escolas e à carga
horária da disciplina, não conseguem desenvolver processos teórico-metodológicos eficientes
para se trabalhar os conteúdos referentes ao estudo do solo. Assim, eles se restringem,
frequentemente, ao conteúdo do livro didático. Este, além de resumido, parece distante da
realidade do aluno, o que dificulta a sua significação a partir dos contextos de vivência
cotidiana. Para Cavalcanti (2010), a Geografia escolar deve pautar-se na realidade do educando,
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referência através da qual poderá se estabelecer as conexões com o mundo e suas múltiplas
faces.
Dessa maneira, é importante que o professor vá além do livro didático e busque trabalhar
também com temas fundamentais à Geografia. Ademais, o docente deve procurar maneiras para
abordar assuntos relevantes que são secundarizados, como o tema dessa pesquisa, mas que
exercem grande importância na formação de cidadãos conscientes ambientalmente.
Em vista disso, o estudo sobre como vem sendo abordado o assunto Solo na formação
continuada se torna imprescindível, pois se faz necessário identificar como os professores de
Geografia estão trabalhando esses conteúdos em sala de aula na Educação Básica. Essa reflexão
é essencial, pois o que se observa diariamente é a intensificação da exploração econômica dos
recursos físico-naturais pelas atividades produtivas e a apropriação, cada vez mais desenfreada,
da rentabilidade do solo, que se refletem numa série de impactos socioambientais relacionados
a esse recurso.
Por fim, a Geografia, como uma ciência que estuda o espaço geográfico nas suas amplas
dimensões, através da disciplina escolar, precisa construir uma síntese crítica e dialógica sobre
a importância da conservação do solo, para que aja boa relação entre a sociedade e a natureza.
Além disso, a disciplina deve ser capaz de contribuir para a formação de cidadãos conscientes
de seus deveres no que diz respeito à manutenção do meio ambiente.
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