Ensaios de Geografia
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AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZE A SEGUINTE REFERÊNCIA:
PEREIRA, Joselaine Raquel da Silva. A pedagogia das mulheres zapatistas como expressão de sua epistemologia: práticas de
insurgência, subversão e resistência. Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 8, nº 15, pp. 31-46, setembro-dezembro de 2021.
Submissão em: 23/07/2021. Aceite em: 15/12/2021.
ISSN: 2316-8544
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SEÇÃO ARTIGOS
A PEDAGOGIA DAS MULHERES ZAPATISTAS COMO EXPRESSÃO DE
SUA EPISTEMOLOGIA:
Práticas de insurgência, subversão e resistência
THE ZAPATIST WOMEN’S PEDAGOGY AS AN EXPRESSION OF THEIR
EPISTEMOLOGY:
insurgency, subversion and resistance practices
Joselaine Raquel da Silva Pereira
1
Universidade Federal da Integração Latino-americana
jopereira.sm@gmail.com
Resumo
Os movimentos sociais e especialmente o Ejército Zapatista de Liberación Nacional (EZLN) podem
ser fontes riquíssimas de diálogo e exemplos de ações de resistência contra diversas opressões causadas
pelo sistema capitalista (e outros). A partir das lentes da antropologia, realizo uma abordagem dos processos
de invisibilização e representação e evidencio a necessidade latente de transformação das estruturas de
opressão, para isso trago o exemplo da pedagogia zapatista, baseada na experiência como significação do
aprendizado. A pedagogia zapatista, como uma extensão de sua própria epistemologia, interage com as
ideias de Paulo Freire, com a Educação Popular Feminista e com a Pedagogia Libertária, e assim constitui
um caminho insurgente e subversivo de resistência antisistêmica.
Palavras-chave:
Exército Zapatista de Libertação Nacional; Epistemologia de nosotras; Resistências feministas; Educação
Popular Feminista; Pedagogia Libertária.
Abstract
Social movements and especially the Ejército Zapatista de Liberación Nacional (EZLN) can be rich
sources of dialogue and examples of resistance actions against various oppressions caused by the capitalist
system (and others). From the lens of anthropology, I approach the processes of invisibility and
representation, and highlight the latent need to transform the structures of oppression, for which I bring the
example of the zapatista pedagogy, based on experience as a meaning of learning. The zapatista pedagogy,
as an extension of its own epistemology, interacts with the ideas of Paulo Freire, Popular Feminist
1
Mestranda pela Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos Latino-americanos (PPGIELA)
na Universidade Federal da Integração Latino-americana (UNILA) e bacharel em Antropologia e
Diversidade Cultural Latino-americana pela mesma universidade. ORCID iD: https://orcid.org/0000-0003-
4672-1658.
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Education, and Libertarian Pedagogy, and thus constitutes an insurgent and subversive path of anti-systemic
resistance.
Keywords:
Zapatista National Liberation Army; Epistemology of nosotras; Feminist resistances; Popular Feminist
Education; Libertarian Pedagogy.
Introdução: Antropologia, movimentos sociais e academia
Este artigo tece reflexões acerca dos processos de invisibilização e representação
de diversas identidades subalternizadas e marginalizadas, evidenciando a necessidade de
transformação político-social. Através de uma breve revisão bibliográfica e da elucidação
de um estudo de caso sobre a pedagogia própria das mulheres zapatistas como expressão
de sua epistemologia, pretendemos contribuir para as lutas de emancipação, subversão e
resistência individual e coletiva ao demonstrar possibilidades e alternativas para a
construção de “un mundo donde quepan muchos mundos
2
, como dizem as zapatistas.
Diversos intelectuais acadêmicos cartesianos têm afirmado culos que a
academia e consequentemente a antropologia deve manter-se afastada de temáticas
políticas e sociais, a fim de manter uma certa neutralidade defendida por esse modelo de
produção de conhecimento científico. Enquanto isso, outros autores(as)
contemporâneos(as) propõem a aliança entre a ciência e a realidade social dos ambientes
nos quais estão inseridas as universidades e outras instituições. Menciono especialmente
a antropóloga e militante dominicana Ochy Curiel (2019), que argumenta a favor do
diálogo entre a academia e os movimentos sociais, numa tentativa de renovar a ciência
que sempre esteve baseada em cânones eurocêntricos brancos e masculinos, para
reconstruí-la em coerência com as necessidades e urgências contemporâneas dos povos
do nosso continente.
A autora também afirma que existe uma solidariedade entre os povos em torno de
algumas lutas centrais como o anti-imperialismo, ao qual acrescento o anticapitalismo e
o anti-patriarcalismo, trazendo o exemplo dos povos originários e campesinos que se
2
Em português, Um mundo onde muitos mundos se encaixam.
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uniram na conformação do Movimento Zapatista no México, a partir de pautas contrárias
ao capitalismo e ao neoliberalismo, e em defesa da vida. Esse também é o caso de
inúmeros outros movimentos como o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) no
Brasil e a Asociación Nacional de Mujeres Campesinas, Negras e Indígenas
(ANMUCIC) na Colômbia.
Outra frente de união de lutas se através do chamado Ecofeminismo, que traz
a necessidade da articulação entre o feminismo e a ecologia ou, como afirma Yayo
Herrero (2016), uma aliança entre a economia feminista e a economia ecológica, com o
intuito de promover a sustentabilidade da vida em todas as suas formas.
As mulheres ancestralmente têm sido responsabilizadas socialmente pelo cuidado da
terra, das sementes e da produção e preparo de alimentos, tarefas relacionadas com a
reprodução e o cuidado humano, e que, na maioria das vezes, são desvalorizadas,
principalmente quando não há retorno econômico.
Literatura pós-autônoma: invisibilização e representação
A invisibilização do trabalho reprodutivo se em vários níveis sociais, a partir
da hierarquização da chamada esfera pública sobre a esfera doméstica de relações sociais,
na qual o trabalho feminino e as práticas cotidianas das mulheres não são (ou são pouco)
representadas nas mídias, na literatura, na política, nos espaços de tomada de decisões,
etc. A afroestadunidense Audre Lorde (2019) fala sobre a invisibilização e a
despersonalização contidas no silêncio e na falta de espaços de escuta e acolhimento.
Estabeleço aqui um diálogo com o pensamento da argentina Josefina Ludmer (2009), que
destaca a importância da representação literária para maior representação política de
certos sujeitos sociais, que passam a fazer parte do imaginário público, que é uma fábrica
do presente ou da realidade.
Josefina (2009) propõe então a Literatura pós-autônoma, uma espécie de escrita
fronteiriça que se mescla entre diversos gêneros e que representa atores sociais antes
invisibilizados. Esse é o tipo de escrita que busco trazer através da prática antropológica,
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representando as cosmovisões e cosmopráticas de mulheres indígenas e campesinas em
diálogo com minhas próprias posições sociopolíticas e com diversas teóricas,
principalmente ecofeministas e anarquistas. Audre Lorde (2019) também reafirma a
importância da transformação do silenciamento em linguagem e em ação, isso também é
o que procuro através da documentação escrita e representação das vozes e das práticas
das sujeitas já mencionadas que, apesar de estarem rompendo esse silêncio e ocupando
cada vez mais espaços de fala, onde compartilham suas experiências práticas e suas
cosmovisões, ainda são pouco escutadas.
Manutenção das estruturas de opressão
Bell Hooks (2019) afirma que além de ser necessária a representação de diferentes
modelos de gênero não hegemônicos, também precisa-se romper com as estruturas de
manutenção do status quo da masculinidade e, para isso, não basta que as mulheres
estejam ocupando os espaços de “poder” e de tomada de decisões nos diversos âmbitos
sociais se elas continuarem reproduzindo as mesmas estruturas de poder e de opressão,
transformando-se assim nas opressoras. A autora argumenta pela desconstrução dessas
estruturas e a construção de novas estratégias organizacionais não hierárquicas que
privilegiem a organização comunitária e o diálogo.
O pensamento de Ochy Curiel (2019) segue a mesma linha de raciocínio ao
afirmar que, na maioria das vezes, o próprio mercado capitalista se apropria das
diversidades culturais, raciais/étnicas, sexo-afetivas, entre outras, para sua incorporação
afastada dos contextos históricos e sociais que dão sentido a essas identidades intrínsecas
a determinadas reivindicações e lutas políticas, favorecendo apenas o lucro das grandes
empresas e corporações e a manutenção das estruturas de poder, mas descontextualizando
a posição desses sujeitos e sujeitas que são marginalizados(as) pelo próprio capitalismo,
desconsiderando também que grande parte desses grupos sociais são anticapitalistas
(especialmente os indígenas e camponeses/as).
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Experiência como significação
Audre Lorde (2019) destaca também a importância do ensino a partir da vivência
e da experiência, o que se relaciona diretamente com o conceito de pedagogia popular
feminista utilizado por diversas educadoras e educadores em Abya Yala. A epistemologia
feminista negra desenvolvida por Patrícia Hill Collins (2019) também dialoga com essa
ideia através de seus 4 pontos: experiência como significação, uso do diálogo, ética da
responsabilidade pessoal e ética do cuidado, aos quais a pensadora brasileira Camila
Daniel (2019) acrescenta um 5º ponto: a ética do autocuidado.
Proponho então que essa epistemologia, apesar de ter sido desenvolvida por uma
mulher negra estadunidense, também serve muito bem para expressar o modo como as
mulheres zapatistas pensam e atuam. Dessa maneira, essa epistemologia representa as
cosmovisões de mulheres que ocupam diversas posições contra hegemônicas dentro dos
modelos de gênero, o que provoca ações e práticas de resistência tanto contra a
homogeneização do que é ser mulher, quanto a outros valores impostos pela colonialidade
e o capitalismo neoliberal, como os de individualismo, insegurança, desconfiança, entre
outros.
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A pedagogia que nasce da experiência
Figura 1: A escolinha zapatista
34
Fonte: Corrientes Pedagógicas Contemporáneas, 2015
5
.
Além das contribuições dessas autoras sobre o valor da vivência e da experiência
na construção do pensamento crítico e revolucionário, os povos originários de Abya Yala
também valorizam a autonomia comunitária na reformulação das epistemologias
ancestrais em contato com as necessidades emergentes de cada povo e território. Um
exemplo claro de autonomia e rebeldia perante às imposições da sociedade hegemônica
3
Tradução de “La escuelita zapatista”.
4
Esta imagem traz diversos elementos que demonstram ideais da cosmovisão zapatista, como suas próprias
formas de arte e estética, além de representar equitativamente os gêneros, também estão presentes espécies
animais e vegetais e aspectos do modo de vida ancestral originário.
5
Disponível em: <http://corrientesunmsmcateobhum.blogspot.com/2015/12/una-introduccion-
laeducacion-zapatista.html>. Acesso em: 21 jul.2021.
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é a atuação do Ejercito Zapatista de Liberación Nacional (EZLN) e, principalmente, das
mulheres zapatistas.
O EZLN teve seu início em de janeiro de 1994 no estado mexicano de Chiapas,
como forma de protesto contra o acordo econômico NAFTA
6
, entre México, Canadá e
Estados Unidos, e que prejudicava ainda mais a condição de vida dos povos tradicionais.
O exército popular guerrilheiro teve atuação militar ao ano de 2006, mas segue vigente
atualmente em formato de movimento político com soberania territorial é importante
destacar que o movimento leva esse nome em homenagem a Emiliano Zapata e seu
Ejército Libertador del Sur.
Baseando-me na epistemologia de nosotras, busco projetar um foco maior às
contribuições das mulheres dentro do movimento zapatista, tanto para os diversos
movimentos feministas quanto para a antropologia e a pedagogia popular. Essa
epistemologia foi desenvolvida por Graziela Rinaldi da Rosa e Cheron Zanini Moretti
(2018) e se refere à necessidade de valorização da produção de conhecimento e do
trabalho intelectual feito por e para mulheres em nosso continente, utilizando a palavra
em língua espanhola “nosotras” para demarcar a importância do substantivo feminino da
palavra “nós”, formato inexistente no português.
As zapatistas carregam uma herança sociocultural e política de povos camponeses
e indígenas maias, e a partir dessas identidades desenvolveram formas de epistemologia
e pedagogia que assim como Audre Lorde (2019) privilegiam a palavra em
detrimento do silêncio a que foram confinadas por vários séculos, e se orientam através
do sentir-pensar e do sentir-saber, considerando os sentimentos, as emoções e a
espiritualidade como partes essenciais de sua filosofia que passa pela mente e pelo
coração.
Os sete princípios zapatistas são:
1. Baixar e não subir;
2. Convencer e não vencer;
6
Em inglês, North American Free Trade Agreement ou, em espanhol, El Tratado de Libre Comercio de
América del Norte (TLCAN).
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3. Construir e não destruir;
4. Representar e não suplantar;
5. Propor e não impor;
6. Obedecer e não mandar;
7. Servir e não se servir.
Desde esses ideais que priorizam uma boa vida comunitária, destaca-se um
fragmento dessa dimensão pedagógica que transpassa gerações e caracóis
7
: o bordado.
As mulheres zapatistas veem o bordado como uma forma de resistência ao dedicar tempo
e cuidado coletivo à arte e a produção artesanal em tempos que impõem cada vez mais
velocidade e individualidade, além de retratar a luta histórica e política do movimento
nos próprios bordados.
Um dos princípios dessa pedagogia zapatista é a autonomia comunitária, que se
através da soberania territorial e alimentar, da formação popular em agroecologia,
etnomatemática e cosmovisão maia (BARBOSA, 2014; BARBOSA, 2015 apud
BARBOSA, 2018). Além disso, essa pedagogia está diretamente relacionada com a
natureza, a vida no campo e as vivências e experiências de interação entre seres humanos
e não humanos.
As mulheres indígenas e camponesas guardiãs das sementes, as curandeiras, as
xamãs, entre outras, guardam consigo a memória biocultural das sabedorias
tradicionais (Toledo & Barrera-Bassols, 2008), o que tem garantido a
preservação de sementes nativas, a fertilidade dos solos vinculados aos quintais
produtivos, entre outros saberes diretamente relacionados à agricultura
tradicional camponesa (BARBOSA, 2018, p. 19).
A relação das mulheres com a terra, as sementes e as plantas medicinais (no caso
das curandeiras, xamãs, etc.) demonstra também um aspecto pedagógico na medida em
que o aprendizado e a memória dessas mulheres e de seus povos se sustentam com base
nos saberes e práticas que se dão através da relação entre as mulheres, a terra e a natureza.
Essa é também uma reafirmação da conexão entre os corpos das mulheres e seus
7
Células de organização territorial zapatista.
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territórios que se transformam em corpos-territórios
8
e de suas posições de
resistência política na defesa dos territórios, dos corpos e da vida em geral.
Educação popular feminista
As práticas pedagógicas utilizadas pelas mulheres em Abya Yala na maioria das
vezes possuem um caráter popular ou seja, trabalham com as massas populares nos
bairros, nas periferias, em centros culturais, e, raras vezes, dentro de ambientes escolares
, e se apoia em metodologias do feminismo comunitário de cuidado, afeto, valorização
da subjetividade e da criatividade, e, por conta disso, têm sido nomeadas como educação
(ou pedagogia) popular feminista.
Segundo Cheron Zanini Moretti e Graziela Rinaldi da Rosa (2018), a pedagogia
deve ser analisada a partir de um objetivo tríplice: despatriarcalizar, descolonizar e
descautivar. Elas buscam um reconhecimento da historicidade de uma pedagogia própria
das mulheres, que busca a emancipação e a liberdade através da subversão e que está em
conflito com a educação escolar formal masculinizada e positivista, pois assume que o
aprendizado se a partir das histórias de vida e dos saberes e fazeres das próprias
educadoras em conjunto com as comunidades.
La “práctica de la libertad” no se limitaría así a un discurso contra las formas
opresivas y represivas del Estado burgués y patriarcal, de sus instituciones de
reproducción de la cultura capitalista, androcéntrica, colonizadora. Es sobre
todo la posibilidad de un ejercicio de lucha material y también subjetiva contra
la enajenación, contra la mercantilización de nuestras vidas, la privatización de
nuestros deseos, la domesticación de nuestros cuerpos, la negación sistemática
de nuestros sueños, la mutilación de nuestras rebeldías, la invisibilización de
nuestras huellas, el silenciamiento de nuestra palabra, y la desembozada
represión de nuestros actos subversivos (KOROL, 2007b, p. 17 apud
MORETTI; ROSA, 2018, p. 12).
9
8
Conceito cunhado pelas feministas comunitárias da Guatemala, que se refere à relação intrínseca entre os
corpos das mulheres e os territórios que elas habitam, sendo que as violências sofridas no território se
refletem em seus corpos e vice-versa.
9
Em português, “A ‘prática da liberdade’ não se limitaria assim a um discurso contra as formas opressivas
e repressivas do Estado burguês e patriarcal, as suas instituições de reprodução da cultura capitalista,
androcêntrica e colonizadora. É sobretudo, a possibilidade de um exercício de luta material e também
subjetiva contra a alienação, contra a mercantilização de nossas vidas, a privatização de nossos desejos, a
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Nesse sentido, a pedagogia popular feminista tem muito em comum com a
pedagogia libertária proposta pelos(as) anarquistas, ao possuir como objetivo a
emancipação popular e a autonomia coletiva. Da mesma forma, a pedagogia libertária se
posiciona contrariamente à educação convencional, alegando que esta serve aos interesses
do Estado e do mercado capitalista e que, para isso, utiliza diversas formas de violências
e ameaças rechaçadas pelos movimentos anarquistas.
A pedagogia como expressão da epistemologia
A epistemologia zapatista configura-se a partir da busca da descolonização ou
decolonialidade e da autonomia e emancipação dos povos em todos os âmbitos da vida
comunitária, desde a organização política e territorial, a justiça, a estética, a arte, a
filosofia e o pensamento crítico, até os vínculos sociais, a relação com a natureza, as
dinâmicas coletivas cotidianas e a distribuição de tarefas domésticas. Além disso, a
tomada de decisões que afetem o coletivo é feita em espaços assembleares e a partir do
consenso, aproximando-se outra vez das práticas anarquistas de democracia direta.
El poder es nosótrico, la autoridad es ejercida a partir de y en consenso
asambleario. La función de la autoridad es, entonces, la de escuchar
detenidamente cada aspecto de la deliberación, de modo de recordar con
posterioridad, los consensos alcanzados y así poder cumplir con su tarea
(DARLING, 2020, p. 10)
10
.
A pedagogia zapatista se constrói, então, com base na própria epistemologia
criada e utilizada pela comunidade e busca reiterar os mesmos princípios evidenciados
em outras áreas da vida dos e das zapatistas. Desse modo, a chamada “escola zapatista”
atua sempre em prol da formação de indivíduos autônomos capazes de reproduzir e
domesticação de nossos corpos, a negação sistemática de nossos sonhos, a mutilação de nossa rebeldia, a
invisibilização de nossos traços, o silenciamento de nossas palavras e a repressão flagrante de nossos atos
subversivos” (KOROL, 2007b, p. 17 apud MORETTI; ROSA, 2018, p. 12).
10
Em português “O poder é nosótrico, a autoridade é exercida a partir de/e em consenso de assembleia. A
função da autoridade é, portanto, ouvir atentamente todos os aspectos da deliberação, para lembrar mais
tarde o consenso alcançado e assim poder cumprir sua tarefa” (DARLING, 2020, p. 10).
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aprimorar seu sistema de autogoverno anticapitalista, com foco em emancipar-se das
quatro rodas do capital: exploração, despojo, repressão e desprezo através de uma
aprendizagem criativa e libertadora.
Paulo Freire, em sua obra Pedagogia da autonomia (1996), afirma o dever de a
educação institucional respeitar os saberes construídos socialmente na prática
comunitária, e a necessidade do reconhecimento e da assunção da identidade cultural do
educando e da educanda, além de reiterar a importância das experiências informais, nas
ruas, nas praças e em qualquer outro ambiente onde ocorrem interações sociais.
O mesmo autor também destaca o lugar fundamental das emoções e da afetividade
entre educador/a e educando/a para a cognoscibilidade, afirmando que a raiva, por
exemplo, pode ser um combustível para protestar contra as injustiças sociais e se tornar
uma motivação para a luta pela transformação social através de uma rebeldia legítima. A
curiosidade epistemológica aparece então como provocadora de uma criticidade essencial
para gerar esperança, vendo a História como tempo de possibilidade e não de
determinação, sendo assim Paulo Freire (1996) propõe que, através da alegria e da
humildade (diferente de submissão), deve ser feita a problematização do futuro, que
assim poderá ser transformando.
Sempre recusei os fatalismos. Prefiro a rebeldia que me confirma como gente
e que jamais deixou de provar que o ser humano é maior do que os
mecanicismos que o minimizam. A proclamada morte da História que
significa, em última análise, a morte da utopia e do sonho, reforça,
indiscutivelmente, os mecanismos de asfixia da liberdade. Daí que a briga pelo
resgate do sentido cia utopia ele que a prática educativa humanizante não pode
deixar de estar impregnada tenha de ser uma sua constante. Quanto mais me
deixe seduzir pela aceitação da morte da História tanto mais admito que a
impossibilidade do amanhã diferente implica a eternidade do hoje neo-liberal
que está, e a permanência do hoje mata em mim a possibilidade de sonhar.
Desproblematizando o tempo, a chamada morte da História decreta o
imobilismo que nega o ser humano (FREIRE, 1996, p. 59).
A pedagogia zapatista possui alguns pontos afim com as ideias de Paulo Freire,
principalmente ao propor que todo mundo pode ensinar e que a todo momento estamos
aprendendo, e ao afirmar a importância da educação para transformar socialmente o
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mundo. Assim como as outras formas de educação popular (para o povo), a pedagogia
zapatista se baseia na experiência da luta coletiva cotidiana para a criação do currículo e
da didática que serão utilizados em cada caracol, tendo como guia 3 princípios
fundamentais:
La educación zapatista cumple con tres conceptos ausentes en la globalización
de mercado: 1) es pública, porque se diseña desde los pueblos y es un derecho;
2) es libre, pues no depende del Estado ni de las trasnacionales del dinero o de
la cultura para diseñar su currículo, ni certifican al estudiantado para ser un
expediente más en los archivos de la burocracia escolar; 3) es gratuita, nadie
paga por asistir a la escuela, ni nadie cobra por enseñar, así la educación no es
una mercancía (SILVA MONTES, 2019, p. 9)
11
.
Além disso, a escola zapatista se posiciona politicamente a favor de uma educação
descolonizadora e, por isso, as aulas também incluem a sabedoria ancestral oral dos
anciãos e das anciãs, a memória coletiva dos povos, além de temas como agroecologia,
direito à terra, justiça e paz, ademais de manejar horários e espaços flexíveis, tudo através
de relações horizontais e democráticas que buscam descartar os exames avaliativos, as
notas e os certificados com o objetivo de que os indivíduos conheçam sua história, cultura
e cosmovisão, ao contrário da educação escolar proposta pelos governos latino-
americanos, que buscam simplesmente a capacitação para o trabalho assalariado e a
adaptação de cidadãos obedientes.
O ofício de professor(a) é realizado pelos chamados promotores e promotoras de
educação, que apesar de não possuírem diploma universitário formal, passam por um
período de cerca de 6 meses de formação pelo grupo Semillitas del Sol, na Cidade do
México, ou pelo Centro de Formación compañero Manuel criado posteriormente no
território zapatista (SILVA MONTES, 2019). A tarefa de ensinar é voluntária e assim
como os e as estudantes não precisam pagar para estudar, os promotores e as promotoras
11
Em português, “A educação zapatista obedece a três conceitos ausentes na globalização do mercado: 1)
é pública, porque é concebida pelo povo e é um direito; 2) é gratuita, porque não depende de dinheiro estatal
ou do dinheiro ou da cultura de empresas transnacionais para elaborar seu currículo, nem certifica os alunos
para serem apenas mais um arquivo nos arquivos da burocracia escolar; 3) é gratuita, ninguém paga para
frequentar a escola, nem ninguém cobra pelo ensino, portanto a educação não é uma mercadoria (SILVA
MONTES, 2019, p. 9).”
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AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZE A SEGUINTE REFERÊNCIA:
PEREIRA, Joselaine Raquel da Silva. A pedagogia das mulheres zapatistas como expressão de sua epistemologia: práticas de
insurgência, subversão e resistência. Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 8, nº 15, pp. 31-46, setembro-dezembro de 2021.
Submissão em: 23/07/2021. Aceite em: 15/12/2021.
ISSN: 2316-8544
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também não recebem nenhum dinheiro, simplesmente assumem esse compromisso pelo
bem do coletivo.
Dessa maneira, a educação zapatista envolve toda a comunidade (crianças,
adolescentes, famílias, vizinhos, etc.) na elaboração do currículo e dos materiais
didáticos, que procuram sempre atingir o consenso. Desde suas cosmovisões ancestrais,
os/as zapatistas reafirmam sua posição anticapitalista e anti-sistêmica ao incentivar uma
educação para a coletivização do campo e a organização de cooperativas ao invés da
convencional vinculação com o emprego a partir de ideologias individualistas e
meritocráticas. Além disso, o pensamento pedagógico construído pelos zapatistas possui
também um princípio de se renovar cada vez que seja necessário, e por isso não busca
institucionalizar-se.
En síntesis, el zapatismo se propone educar para la liberación a partir de las
vivencias de las comunidades. La estructura de las escuelas en niveles, no
implican la división rigurosa por edad. Esto permite una convivencia en las
aulas de estudiantes de diferentes edades y refuerza el principio de Freire de
que nadie educa a nadie y nadie se educa solo. La educación zapatista pretende
que los jóvenes y las jóvenes de las comunidades se identifiquen con su historia
pasada y presente indígena, aceptar la diferencia entre las personas y preservar
su lengua. Se trata de educar para formar en la autonomía una nueva forma de
hacer política, la democracia directa y rechazar que la tierra es un artículo para
venderse al mejor postor (SILVA MONTES, 2019, p. 9)
12
.
Considerações finais: Resistência através da pedagogia
Por conta dessa grande divergência entre os ideais valorizados pela comunidade
zapatista e os da escola convencional latino-americana (de acordo aos interesses do
mercado), o sistema capitalista se torna uma ameaça em diversos sentidos ao projeto de
12
Em português, “Em suma, o Zapatismo visa educar para a libertação com base nas experiências das
comunidades. A estrutura das escolas em níveis não implica uma divisão rigorosa por idade. Isto permite
que estudantes de diferentes idades coexistam nas salas de aula e reforça o princípio de Freire de que
ninguém educa ninguém e ninguém se educa sozinho. A educação zapatista tem como objetivo que os
jovens das comunidades se identifiquem com sua história indígena passada e presente, aceitem a diferença
entre as pessoas e preservem sua língua. Trata-se de educar para formar em autonomia uma nova forma de
fazer política, direcionar a democracia e rejeitar aquela terra é um artigo a ser vendido ao maior licitante”
(SILVA MONTES, 2019, p. 9).
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PEREIRA, Joselaine Raquel da Silva. A pedagogia das mulheres zapatistas como expressão de sua epistemologia: práticas de
insurgência, subversão e resistência. Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 8, nº 15, pp. 31-46, setembro-dezembro de 2021.
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vida zapatista. Algumas das principais consequências negativas desse sistema são o
adoecimento das pessoas e do ecossistema por conta da poluição das águas, do ar e do
solo, além da exploração laboral e do despojo dos povos tradicionais de seus territórios
ancestrais. Através da ideologia do individualismo e da competitividade, o capital
também procura manter a população alienada e solitária, rompendo os laços comunitários
que a educação zapatista tenta reconstruir e manter.
Uma das principais ameaças para a manutenção das epistemologias e pedagogias
ancestrais se deve à luta pela soberania territorial, o que também é uma das razões pelas
quais o projeto de vida zapatista tem se sustentado:
Para dar cuenta de la relación entre la transformación de las condiciones
materiales y relaciones sociales, Marcos señala que en las comunidades
zapatistas, los avances que se han dado a partir de la construcción de
autonomías en materia de gobierno, salud, educación, vivienda, alimentación,
participación de las mujeres, comercialización, cultura, comunicación e
información, sólo pudieron darse a partir de la recuperación de los medios de
producción, en particular, la tierra, los animales y las máquinas que estaban en
manos de los grandes propietarios hacendatarios de Chiapas (DARLING,
2020, p. 16)
13
.
Os/as zapatistas também se opõem ao capitalismo ao acolher em seu território
gratuitamente pessoas que desejam aprender a língua espanhola ou o tzotzil para oferecer
esse aprendizado a partir da imersão social no Centro de Español y Lenguas Mayas
Rebelde Autónomo Zapatista (CELMRAZ), e ao promover eventos nos quais esses
saberes ancestrais são colocados em debate e onde são vistos como modelo de resistência
anticapitalista para outros povos e territórios.
Retomo a importância da transformação do silenciamento em linguagem e ação
(LORDE, 2019) e da representação literária como uma forma de resistência político-
social (LUDMER, 2009) através da criação de um novo mundo, ou como os/as zapatistas
13
Em português “Para explicar a relação entre a transformação das condições materiais e as relações sociais,
Marcos aponta que nas comunidades zapatistas, os avanços que ocorreram através da construção de
autonomias em termos de governo, saúde, educação, moradia, alimentação, participação das mulheres,
comercialização, cultura, comunicação e informação, só puderam se concretizar através da recuperação dos
meios de produção, particularmente da terra, dos animais e das máquinas que estavam nas mãos dos grandes
proprietários de Chiapas” (DARLING, 2020, p. 16).
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dizem: un mundo donde quepan muchos mundos
14
. Reafirmo ainda o papel
fundamental cumprido pelas mulheres zapatistas a partir da manutenção e da transmissão
de saberes e práticas educativas e curativas ancestrais, principalmente as que se
relacionam com a terra e as plantas.
Portanto, podemos observar que a pedagogia zapatista se torna uma forma de
propagar a insurgência e a subversão que constituem a resistência anti-sistêmica zapatista.
A pedagogia utilizada por elas e eles se desdobra como um ramo da epistemologia que
está por trás de suas ações e suas cosmovisões, refletindo os mesmos ideais de autonomia,
coletividade e ancestralidade ao aprender e ensinar, desconstruir e construir suas práticas
educativas descolonizadoras, libertárias e feministas.
Referências
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CURIEL, O. Crítica pós-colonial a partir das práticas políticas do feminismo
antirracista. Revista de Teoria da História. v. 22, n. 2, p. 231-245, dezembro de 2019.
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de campo. Humanidades e inovação. v. 6, n. 16, p. 23 34, 2019.
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Revista brasileira de ciências sociais. v. 35, n. 104, 2020.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
HERRERO, Y. Economía feminista y economía ecológica, el diálogo necesario y
urgente. Revista de Economía Crítica, n. 22, segundo semestre de 2016.
14
Em português, Um mundo onde muitos mundos se encaixam.
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PEREIRA, Joselaine Raquel da Silva. A pedagogia das mulheres zapatistas como expressão de sua epistemologia: práticas de
insurgência, subversão e resistência. Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 8, nº 15, pp. 31-46, setembro-dezembro de 2021.
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<https://ceert.org.br/noticias/historia-cultura-arte/26150/ensaio-inedito-da-pensadora-
audre-lorde-a-transformacao-do-silencio-em-linguagem-e-em-acao>. Acesso em: 17 de
jun. de 2021.
LUDMER, J. Literaturas postautónomas 2.0. Propuesta Educativa, n. 32, p. 41-45,
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