Segundo Faria (2018), estes exemplos mostram que nos últimos anos o debate de gênero
e sexualidade na escola tem gerado muitas discussões no bojo da sociedade brasileira, tanto que
ele teve certa centralidade nas pautas das eleições presidenciais de 2018, que culminaram na
vitória do candidato ultraconservador Jair Bolsonaro. Segundo o autor, esta situação de conflito
tem contribuído para o crescimento do número de casos de bullying cometidos contra pessoas
que não estão nos “padrões heteronormativos”, tanto dentro da escola quanto fora dela. Estes
casos, ao não serem abordados e resolvidos de maneira adequada, acabam por reforçar
comportamentos sexistas, machistas e LGTBfóbicos, aumentando o sofrimento de quem sente
em seus corpos as marcas da violência.
Analisando este triste cenário, Roberto Diniz Junqueira afirma que:
A homofobia nas escolas afeta o bem-estar subjetivo; incide no padrão das relações
sociais entre os estudantes e destes/as com os/as profissionais da educação; afeta as
expectativas quanto ao “sucesso” e ao rendimento escolar; produz intimidação,
insegurança, estigmatização, segregação e isolamento; gera desinteresse pela escola;
produz distorção idade-série e evasão; prejudica o processo de inserção no mercado
de trabalho; enseja uma invisibilidade e uma visibilidade distorcida; conduz à maior
vulnerabilidade (em relação a chantagens, assédios, DSTs, aids, etc.). (JUNQUEIRA,
2013, p. 51-56)
São incontáveis os impactos do bullying na experiência escolar e na vida dos sujeitos
que o sofrem. Contudo, muitos destes homens e mulheres fora dos padrões heterossexuais, ao
passar por situações de violências e constrangimento dos seus corpos e identidades, se afirmam,
questionam e tensionam a hegemonia social de gênero e de sexualidade. Deste modo, mesmo
com retrocessos oriundos do fortalecimento do conservadorismo e aumento da violência, é
possível identificar que há avanços.
Ratts (2016) e Faria (2018) acreditam que o espaço escolar se configura como um lócus
privilegiado para a reflexão sobre gênero e sexualidade. Isso porque, além da função social da
escola ser a de formação cidadã, ela é lugar de encontro de culturas, saberes científicos e saberes
cotidianos, reunindo distintos sujeitos (muitos deles fora da normativa heterossexual) que se
colocam em conflito e diálogo. Nesse sentido, Madrid argumenta que:
[...] se a escola espelha as estruturas, as dominações e as exclusões socioespaciais, ela
também ocupa uma posição de promover debates que contribuam na reflexão destas
estruturas (racista, patriarcal, machista, misógina, heteronormativa, transfóbica,
homofóbica, bifóbica, por exemplo) para que se tenha uma quebra/desconstrução. A
produção do espaço geográfico, nesta perspectiva, promove transformações refletidas
nas práticas do cotidiano, e contribui para uma sociedade democrática e pluralista
(MADRID, 2019, p. 184).
Sob esse viés, a Geografia Escolar é chamada a oferecer subsídios no sentido de derrubar
estereótipos atribuídos aos sujeitos integrantes da comunidade LGBTQIAPN+, buscando
dialogar a respeito do espaço, gênero e das sexualidades. Para tanto, dentre os objetivos da
educação geográfica deve estar a conformação de um raciocínio espacial que instigue pensar e
problematizar a relação sociedade-espaço, trazendo para o debate as espacialidades cerceadas
e/ou negadas dos distintos sujeitos e grupos sociais (CAVALCANTI, 2012).
Assim sendo, os professores e professoras em suas aulas e demais atividades
pedagógicas devem buscar refletir sobre as vivências de pessoas de diferentes classes sociais,
gêneros, cores, etnias, sexualidades, compreendendo suas espacialidades e historicidades. Esse