Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
BRAGIONI, Guido Lins. A fluidez da paisagem na cidade-corpo. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 9, nº 18, pp. 98-110, maio-
agosto de 2022.
Submissão em: 28/10/2021. Aceito em: 05/06/2022.
ISSN: 2316-8544
Este trabalho está licenciado com uma licença Creative Commons
104
corpo” (corpo como espaço) e a própria “cidade-corpo” em uma relação dialética, com
suas formas e com a vida que os anima.
A cidade-corpo permite-nos enxergar as influências cotidianas e geográficas-
espaciais impostas aos sujeitos em convívio com a cidade. A cidade-corpo
carrega uma densidade embolada de rastros diários e metódicos. Nas ruas da
cidade-corpo encontramos passos e distâncias que se esbarram. Na cidade que
se adensa e acelera, a recepção cognitiva se descola de um aprendizado outrora
ditado pela ação, por um domínio técnico do ofício pensado como um processo
de maturação física do corpo em seu entorno sócio-técnico e a informação é
substituída pela sensação (LOPES, 2015, p. 106)
Nas cidades e no meio urbano, na imensidão de luzes, prédios e ruas, a realidade
tende a ser a mesma: corpos, tumultuados de ações e gentes animam paisagens que se
realizam através do movimento. Podemos falar, então, que há uma relação de
reciprocidade na qual corpo e a cidade se implicam mutuamente. Não haveria, nesse
sentido, para um indivíduo, a cidade se ele próprio não fosse um corpo no espaço urbano.
O corpo experimenta a cidade. A cidade vive por meio do corpo dos sujeitos (HISSA;
NOGUEIRA, 2013)
A cidade-corpo se reescreve a cada dia, pelos sujeitos do mundo, em territórios
que se movem e avançam através de nós – que podem, portanto, se encontrar ou, na
mesma medida, não coincidir. Os diferentes territórios que percorrem a cidade se erguem
e sobrepõem fronteiras. Mas ainda no campo dos exercícios de poder e dos afetos
(HISSA, 2002), a cidade-corpo se revela em suas possibilidades de corpos que a
compõem.
[…] a cidade não se faz na sua inteireza, a um tempo só, mas ela se faz
anacronicamente, nos lugares da inteireza idealizada, presente nas cartografias
ideais que preenchem os imaginários e os desejos de ter o mundo nas mãos ou
nos mapas. Assim, como não há a cidade inteira, também não há a cidade que
se faz completa e a um tempo só. A cidade é sempre incompleta, e vai se
resolvendo no ritmo dos fazeres distintos, tal como são compreendidos, em sua
distinção, desde que eles estejam subordinados à prevalência da racionalidade
cartesiana em detrimento das subjetividades. (HISSA; WSTANE, 2009, p. 89)
E nas subjetividades interpostas, as paisagens urbanas se fazem por toda a cidade-
corpo, comprovando o que de fato há no corpo da cidade. Seja nas manifestações artísticas