Entretanto, para que possamos compreender como estão inseridas as temáticas
EJA e a questão racial no campo geográfico, optou-se, então, por analisar a revista da
ANPEGE em substituição aos artigos apresentados nas edições dos ENANPEGE e,
posteriormente, por investigar a Revista Brasileira de Educação em Geografia, pois
compreendemos que, nesses dois veículos, estão congregadas inúmeras publicações
resultantes de pesquisas dos mais diversos pesquisadores distribuídos pelo Brasil, além
de compilar tanto a Geografia Acadêmica quanto a Geografia Escolar.
A Geografia tem um papel central na compreensão desses novos sujeitos e nesse
novo projeto de sociedade, mas, para tanto, é necessário pensar e construir ações
de interseccionalidade, pois considerar somente um aspecto, uma dimensão da luta, já não
é mais possível. Sendo assim, Pontuschka (2005) aponta o tamanho do desafio a ser
enfrentado e a responsabilidade da academia dentro desse processo:
Não existem respostas mágicas para essas questões, a universidade tem um
papel importante na análise do contexto da educação atual do país a ser
realizada junto com os professores das escolas do ensino fundamental e médio.
Esse esforço conjunto tem que ser feito mesmo considerando as dificuldades
de interação entre duas instituições com ritmo de trabalhos e objetivos
diferentes, porque enquanto a universidade tem como a preocupação, em nosso
caso específico, formar o profissional de geografia, seja ele geógrafo ou
professor de geografia, essa disciplina escolar no ensino fundamental e médio
precisa formar uma criança e um jovem que deverão se movimentar bem no
mundo de hoje, com a complexa realidade deste final de milênio, e ainda,
prepará-los para enfrentar outras transformações que estão por vir. A escola da
fábrica do século passado ainda está aí e não dá conta da formação desse jovem.
Há que se pensar em um ensino que forme o aluno do ponto de vista reflexivo,
flexível, crítico e criativo. Não é uma formação para o mercado de trabalho
apenas, mas um jovem preparado para enfrentar as transformações cada vez
mais célebres que certamente virão. A escola, particular ou pública, precisa ser
repensada para formação desse novo jovem. Pesquisas conjuntas devem ser
realizadas com urgência (PONTUSCHKA, 2005, p. 112).
Assim, partindo do pressuposto da importância da articulação entre a Geografia
Universitária e a Geografia Escolar, foram analisados 18 volumes da Revista da
ANPEGE, distribuídos em 18 números ao longo do recorte temporal já indicado. Nesse
período, foram publicados 201 artigos, dentre os quais buscou-se identificar quantos
estavam dentro do campo da Geografia Escolar. Após a primeira análise, concluí que
somente 9 artigos, ou seja, cerca 5% do total de artigos publicados, atendiam a esse
critério. Considerando que nenhum desses nove artigos no campo da Geografia Escolar
discutiam sobre a EJA e/ou a questão racial no campo educacional, concluo que há uma
importante lacuna de pesquisa dentro do âmbito da Geografia sobre essas duas dimensões,
uma vez que, ao analisarmos os 201 artigos publicados na Revista da ANPEGE e
buscarmos pesquisas geográficas sobre as relações raciais, encontramos somente dois
trabalhos que articulam os eixos.
O artigo de Diogo Marçal Cirqueira e Gabriel Siqueira Corrêa (2014), “Questão
étnico-racial na geografia brasileira: um debate introdutório sobre a produção acadêmica