Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
ROCHA, Bruna Machado da. Geografia e antirracismo na educação: possibilidades no Ensino Fundamental a partir da BNCC. Revista
Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 8, nº 16, pp. 32-44, janeiro-abril de 2022.
Submissão em: 16/11/2021. Aceito em: 20/04/2022.
ISSN: 2316-8544
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Introdução
Com as políticas de ações afirmativas e de cotas nas universidades públicas, um
número inédito de jovens e adultos negros, periféricos e/ou em situação de vulnerabilidade
econômica passam a se apropriar do espaço público, acadêmico e político, mesmo que de forma
precária e incompleta. Esse fato proporcionou aos estudos acadêmicos uma ampliação cultural,
intelectual e epistemológica, já que os espaços foram historicamente negados a essas
populações. Com isso, estudantes negros, periféricos e/ou de baixa renda passam a escrever a
própria história e propor novas visões de mundo e formas de conceber e construir o espaço, as
relações e a educação, escolar e acadêmica e a política.
Em sua obra “Por uma Geografia Nova”, Milton Santos (2004) reconhece a utilização
da Geografia (Clássica) como instrumento de conquista colonial, não sendo uma orientação
isolada, particular a um país, afirmando que em todos os países colonizadores, houve geógrafos
empenhados nessa tarefa, readaptada segundo as condições e renovada sob novos artifícios cada
vez que a marcha da História conhecia uma inflexão. (SANTOS, p. 31, 2004). Na mesma obra,
quando aborda sobre “A Exclusão do Movimento Social” (SANTOS, p.104-105, 2004), o autor
afirma:
o espaço tem rugosidades e não é indiferente às desigualdades de poder efetivamente
existentes entre instituições, firmas e homens. Todavia, o próprio fato de que as teorias
espaciais e seus derivados - Economia Regional, Economia Urbana, Geografia
Regional, Geografia Urbana, Análise Regional Planificação Regional, Planificação
Urbana etc. - em geral ignoram as estruturas sociais leva a que não se preocupem com
os processos sociais. Acabam, simplesmente, por ignorar o homem. Por isso tais
proposições não chegam a ser teorias, não passam de ideologias impostas ao homem
com o objetivo de abrir caminho à difusão do capital. (SANTOS, p. 105, 2004)
Milton Santos (2004) estava, nessas passagens, fazendo uma crítica aos primórdios do
uso da Geografia, fundada num contexto de ascensão da burguesia, de lutas imperialistas e de
tensões políticas à vista dos europeus. Como o título de sua obra já propõe, Santos (2004)
reconhecia a necessidade de uma nova Geografia. Essa nova Geografia, pode, entre tantas
outras tranversalidades, ser de fato, antirracista? Certa do potencial de nossa ciência, especifico
mais: como a Geografia do século XXI atua no combate aos racismos? O autor salienta que,