Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
SOUZA, Lucas Kaliel Tavares de Souza. NETO, Romeu Bacelar de Souza. Merleau-Ponty e o primado do corpo como experiência nascente
da paisagem. Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 8, nº. 16, pp. 98-123, janeiro-abril de 2022.
Submissão em: 16/11/2021. Aceito em: 06/04/2022.
ISSN: 2316-8544
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fenômeno de totalidade, é dividido em três essenciais constituições: o "em-um-mundo", sendo
a estrutura ontológica do mundo mesmo e a compreensão da mundanidade como tal; o ente que
sempre é, o modo da cotidianidade mediana da presença; o ser-em como tal, concernente como
constituição ontológica do próprio "em". A respeito do ser-em,
O ser-em, ao contrário, significa uma constituição ontológica da presença e é um
existencial. Com ele, portanto, não se pode pensar em algo simplesmente dado de uma
coisa corporal (o corpo humano) "dentro" de um ente simplesmente dado. O ser-em
não pode indicar que uma coisa simplesmente dada está, espacialmente, "dentro de
outra" porque, em sua origem, o "em" não significa de forma alguma uma relação
espacial desta espécie, "em" deriva de inmnan-, morar, habitar, deter-se; "an"
significa, estou acostumado a, habituado a, familiarizado com, cultivo alguma coisa;
possui o significado de colo, no sentido de habito e diligo (HEIDEGGER, 2009, p.
92).
O ser-em é diferente no tocante a dois entes extensos simplesmente dados como um
estar "dentro de...", referindo-se a ambos em "caracteres ontológicos que chamamos de
categorias" (HEIDEGGER, 2009, p. 92), e que são desprovidos dos modos de ser do ente da
presença. O "ser-junto" ao mundo, compreendido como existencial, não é um "conjuntos de
coisas que ocorrem" (HEIDEGGER, 2009, p. 93), o que se daria em relação de sobreposição
entre o ente da presença e o mundo. O "eu sou" está sempre posto em vínculo a um "junto", o
mundo sempre disposto a aquilo que me é familiar, dessa maneira, "o ser, entendido como
infinito de "eu sou" (...), a expressão formal e existencial do ser da presença que possui a
constituição essencial de ser-no-mundo" (HEIDEGGER, 2009, p. 92).
Por vezes, sem dúvida, costumamos exprimir com os recursos da língua o conjunto
de dois entes simplesmente dados dizendo: "a mesa está junto à porta", "a cadeira
’toca’ a parede". Rigorosamente, nunca se poderá falar aqui de um "tocar", não porque
sempre se pode constatar, num exame preciso, um espaço entre a cadeira e a parede,
mas porque, em princípio, a cadeira não pode tocar a parede mesmo que o espaço
entre ambas fosse igual a zero. Para tanto, seria necessário pressupor que a parede
viesse ao encontro "da" cadeira. Um ente só poderá tocar um outro ente simplesmente
dado dentro do mundo se, por natureza, tiver o modo ser-em, se, com sua presença, já
se lhe houver sido descoberto um mundo. Pois a partir do mundo o ente poderá, então,
revelar-se no toque e, assim, tornar-se acessível em seu ser simplesmente dado.
(HEIDEGGER, 2009, p. 93).
Portanto, o "tocar" é a maneira do ser de formar o mundo, sendo o que funda a separação
entre um ente destituído de mundo e aquele que está sempre, de início, no modo de ser-em, e
suas constituições se dão simplesmente "no" mundo. É com a facticidade que a presença alcança