Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
COSTA, Victor Hugo Sodré da.; SACRAMENTO, Ana Claudia Ramos. A metrópole sob enfoque da voz periférica: o rap no ensino de
Geografia. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 9, nº 18, pp. 127-148, maio-agosto de 2022.
Submissão em: 17/11/2021. Aceito em: 28/06/2022.
ISSN: 2316-8544
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SEÇÃO ARTIGOS
A METRÓPOLE SOB ENFOQUE DA VOZ PERIFÉRICA:
o rap no ensino de Geografia
THE METROPOLIS UNDER THE FOCUS OF THE PERIPHERAL VOICE:
rap in Geography teaching
LA METRÓPOLIS BAJO EL FOCO DE LA VOZ PERIFÉRICA:
rap en la enseñanza de Geografía
Victor Hugo Sodré da Costa1
Universidade do Estado do Rio de Janeiro campus
Faculdade de Formação de Professores (UERJ-FFP),
Rio de Janeiro, Brasil
e-mail: sodrevh@gmail.com
Ana Claudia Ramos Sacramento2
Universidade do Estado do Rio de Janeiro campus
Faculdade de Formação de Professores (UERJ-FFP),
Rio de Janeiro, Brasil
e-mail: anaclaudia.sacramento@hotmail.com
Resumo
A discussão sobre a metrópole se faz presente na forma de pensar uma porção do espaço geográfico onde grande
parte das pessoas vive nas áreas periféricas. Várias formas de análise podem ser feitas para compreender a
metrópole e uma delas pode ser pela música. O rap dentro do ensino de Geografia é uma possibilidade de trabalhar
com os conteúdos e conceitos na organização do conhecimento geográfico. Desta maneira, o presente texto busca
abordar o rap como um recurso didático-pedagógico para trabalhar os conteúdos sobre metrópole no ensino de
Geografia. A metodologia qualitativa está baseada na interpretação e análise do rap Boca de Lobo do cantor
Crioulo, a partir da letra e do videoclipe. Busca-se utilizar o rap como forma de análise e discussão contribuindo
para a educação e a promoção do pensamento crítico, dialogando com o saber geográfico. Como resultado, o rap
possibilita uma forma expressão de arte que pode fazer o estudante ressignificar o mundo em que vive, construindo
explicações por meio de suas ferramentas culturais aliadas ao conhecimento geográfico.
Palavras-chave
Ensino de Geografia; Metrópole; Rap.
1
Licenciando em Geografia pela Faculdade de Formação de Professores na Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ-FFP). Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/IC-UERJ).
2
Doutora em Geografia Física pela DG-FFLCH-USP e Professora do Departamento de Geografia da Faculdade
de Formação de Professores, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ-FFP).
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Geografia. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 9, nº 18, pp. 127-148, maio-agosto de 2022.
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Abstract
The discussion about the metropolis is present in the way of thinking about a part of the geographic space where
most people live in peripheral areas. Several ways of analysis can be made to understand the metropolis and one
of them can be through music. Rap within the teaching of Geography is a possibility to work with the contents and
concepts in the organization of geographic knowledge. In this way, the present text seeks to approach rap as a
didactic-pedagogical resource to work with contents about the metropolis in the teaching of Geography. The
qualitative methodology is based on the interpretation and analysis of the rap Boca de Lobo by the singer
Crioulo, based on the lyrics and the video clip. It seeks to use rap as a form of analysis and discussion, contributing
to education and the promotion of critical thinking, dialoguing with geographic knowledge. As a result, rap enables
a form of art expression that can make the student re-signify the world in which he lives, building explanations
through its cultural tools allied to geographic knowledge.
Keywords
Teaching Geography; Metropolis; Rap.
Resumen
La discusión sobre la metrópolis está presente en la forma de pensar una parte del espacio geográfico donde vive
la mayoría de las personas en las zonas periféricas. Se pueden hacer varias formas de análisis para entender la
metrópolis y una de ellas puede ser a través de la música. El rap dentro de la enseñanza de la Geografía es una
posibilidad de trabajar los contenidos y conceptos en la organización del conocimiento geográfico. De esta forma,
el presente texto busca abordar el rap como recurso didáctico-pedagógico para trabajar contenidos sobre la
metrópolis en la enseñanza de la Geografía. La metodología cualitativa se basa en la interpretación y análisis del
rap Boca de Lobo del cantante Crioulo, por medio de la letra y el videoclip. Se busca utilizar el rap como forma
de análisis y discusión, contribuyendo a la educación y promoción del pensamiento crítico, dialogando con los
saberes geográficos. Como resultado, el rap posibilita una forma de expresión artística que puede hacer que el
alumno resignifique el mundo en el que vive, construyendo explicaciones a través de sus herramientas culturales
aliadas al conocimiento geográfico.
Palabras-clave
Enseñanza de Geografía; Metrópolis; Rap.
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Introdução
As diferentes linguagens ajudam na mediação do conhecimento, pois elas potencializam
as formas de ensino e aprendizagem de qualquer conceito e conteúdo. Músicas, imagens,
poesias e outros podem colaborar do ponto de vista pedagógico com o trabalho do professor,
pois articulam a partir de diferentes estratégias, trabalhar processos, conteúdos e conceitos para
construir maneiras de leitura e análise de porções do espaço geográfico a partir do: onde, como
e por quê.
Por isso, a escolha de um conteúdo, da linguagem e dos fundamentos da Geografia são
essenciais para tal. A escolha de uma linguagem para discutir um conceito e conteúdo depende
do objetivo da aprendizagem na Geografia: estudar os fenômenos físico-naturais, estudar a
cidade e o urbano, a metrópole, as desigualdades socioespaciais, os problemas urbanos e
ambientais dentre outros.
Estudar a metrópole, na perspectiva de Cavalcanti (2014; 2017), potencializa o estudo
na escola de diversos fenômenos geográficos, uma vez que nela está presente uma rede de
relações entre os objetos sociais e naturais em movimento nas metrópoles. Como destaca
Cavalcanti, é grande a relevância de compreender como os alunos vivem em seu cotidiano e
suas pluralidades nas relações locais, nos bairros e cidades, uma vez que os mesmos possuem
um conhecimento do espaço onde vivem e são cidadãos em busca de identificação, que estão
envolvidos na formação de práticas espaciais formadoras de territórios.
Para tanto, é importante trabalhar com diferentes metodologias e linguagens que
permitam aos estudantes apreenderem a discussão sobre a metrópole a partir de sua própria
análise que antecede os muros da escola. Destarte, a presença do rap no âmbito escolar dialoga,
justamente, com o público jovem e consegue transpor as fronteiras da periferia, invadindo, até
mesmo, os bairros de classe média ou alta, causando identificação desta faixa etária por
assimilarem o discurso e atitude deste gênero musical, que muitos jovens se sentem excluídos
por falta de autonomia social, seja por dependência econômica ou pelas relações familiares.
O rap promove o debate, discute e gera questionamentos sobre a sociedade na qual os
jovens estão inseridos, como aponta Guimarães (2000). A ideia de exclusão, tão forte e presente
no rap, colabora para explicar as noções de vivência com as quais os alunos se identificam.
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A construção do conhecimento, padronizado e já estabelecido nos livros didáticos e nos
currículos, pode não discutir sobre a realidade e nem oferecer propostas de pôr em diálogo os
conceitos e conteúdos a partir de uma aprendizagem mais significativa para os estudantes, uma
vez que as relações produzidas no espaço, segundo a lógica do capital, promovem
desigualdades e hierarquização social, influenciando diretamente no acesso dos jovens
estudantes.
Nesse sentido, de acordo com Teixeira (2020), propor o ensino de geografia através do
rap, analisando o espaço geográfico, se torna efetivo, justamente porque o gênero voz às
identidades que buscam na luta novas espacialidades e possibilidades de analisar e representar
o espaço vivido. O rap é uma forma de expressão impactante para trabalhar com os estudantes
nas aulas de Geografia, porque elucida a compreensão de como uma linguagem pode contribuir
para uma análise reflexiva a partir de letras que problematizam diferentes situações da vida
cotidiana nas periferias das metrópoles, uma vez que a desigualdade socioespacial se manifesta
na produção social do espaço vivido pelos estudantes.
A escola não deveria então tornar-se um agente dessa exclusão de forma a reproduzir e
reforçar o desmembramento dos educandos, multiplicando situações vivenciadas por eles,
como o preconceito e segregação. Como destaca Magro (2002), por meio da música, o rap como
expressão periférica, nos aproxima e possibilita uma leitura do espaço geográfico, tornando-se
um espaço de referência para os adolescentes, onde cultivam um senso de comunidade baseado
no senso de identidade radicalizado que ocorre nas experiências sociais, culturais e raciais que
acontecem na metrópole. O rap é uma linguagem artística e social que pode destacar a leitura
dos estudantes, pois suas letras alcançam jovens de diferentes classes e trazem discussões
cotidianas de forma crítica.
A proposta deste texto é abordar o rap como um recurso didático-pedagógico para
trabalhar os conteúdos sobre metrópole no ensino de Geografia como forma de trabalhar as
práticas socioeducativas tradicionais por meio do rap. A escolha do rap do “Boca de Lobo”, do
cantor Crioulo, destaque-se pela letra que retrata a condição de vida na metrópole pelo olhar da
periferia para ensinar Geografia para estudantes do 2° ano do ensino médio. Este estudo é parte
do projeto de pesquisa denominado “Um estudo sobre as didáticas e as concepções de cidade e
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de urbano dos alunos e professores de Geografia da cidade de São Gonçalo”, o qual foi
desenvolvido no período de (2021-2022) e financiado pelo PIBIC-UERJ, que tem como um dos
seus objetivos pensar o ensino do urbano e da cidade nas aulas de Geografia.
Este texto está ainda dividido em quatro momentos: a) o primeiro, que traz o recurso do
rap como a linguagem metodológica; b) o segundo momento, que promove uma reflexão a
respeito da importância da música para o ensino da Geografia e c) o terceiro, discorre
brevemente sobre o ensino da metrópole e d) o quarto, que analisa o rap na dimensão da
metrópole e periferia na construção dos conceitos geográficos.
Metodologia
A música, como expressão artística dos "não-acadêmicos" na temática urbana, permite
a aproximação entre o campo científico e o teórico, mediante a arte produzida no cotidiano,
construindo uma interação que possibilite o rompimento das barreiras da estrutura padronizada
do ensino. O rap será utilizado como uma linguagem metodológica, pois se faz possível e viável
como proposta pedagógica no sentido de promover o debate e reflexão (SILVA, 2015).
Por meio da metodologia qualitativa, é possível explorar novas formas de trabalhar de
maneira interpretativa e analítica, elementos ligados à educação (THIOLLENT, 2007). Dentro
dela é relevante pensar conceitos, conteúdos e temas relevantes para a aprendizagem dos
estudantes na escola básica. A metodologia qualitativa em educação possibilita várias
estratégias para construir o conhecimento por meio de a) descrever um dado contexto dos
estudantes; b) desenvolver interpretação e análises sobre um determinado fenômeno por meio
de diferentes perspectivas; c) pensar propostas e atividades referentes às múltiplas discussões
de conceitos e conteúdos, dentre outros.
A análise crítica possibilita fazer uma discussão sobre relação da letra e do videoclipe
do rap como um meio de trabalhar as dimensões: material, contraditória e dialética, impostas
pelo mundo desigual e perverso. Sendo assim, a análise do material está com base na
interpretação dos autores referenciais que trabalham com uma abordagem crítica e análise do
conteúdo. O uso de análises por meio de uma linguagem, no caso desta pesquisa, a musical,
potencializa a leitura e interpretação de uma dada forma de escrita em relação ao mundo. Assim,
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a escolha de uma música requer o pensar pedagógico sobre quais elementos são necessários
para desenvolver um determinado conceito e conteúdo.
No caso dessa pesquisa, a escolha do gênero é importante para que possamos
compreender como ensinar os conceitos geográficos. Dentre outros, o uso do rap converte sua
produção em uma ferramenta de fortalecimento social para determinados grupos invisibilizados
e marginalizados, ou seja, aqueles que vivenciam o cotidiano pertencentes à metrópole, mas
não têm vozes para de fato transformar o espaço ou são excluídos socialmente como as pessoas
vulneráveis vivendo na rua, os pobres das periferias, dentre outros.
Por suas características históricas, diretamente relacionadas às questões sociais, o rap
se torna uma possibilidade para construir uma análise da sociedade brasileira, desenvolvendo
discussões geográficas sobre o espaço urbano, que se constitui como elemento chave para
compreender essa manifestação cultural, uma vez que as condições da metrópole influenciaram
ativamente o desenvolvimento do gênero.
“Boca de Lobo”, do cantor Crioulo como elemento de discussão da relação da condição
de vida na metrópole pelo olhar da periferia para ensinar Geografia para estudantes do ano
do ensino médio. Para pensar essa atividade, buscou-se:
1) O tema problematizador: “metrópole, periferia, paisagem e violência no contexto
espacial do Brasil”.
2) Escolha do rap para pensar o tema. Para tanto, foram realizadas pesquisas das letras
e videoclipes que dialogassem com o tema em questão.
3) Escolha pelo rap se deu pela intencionalidade, pelo conteúdo e pelas imagens
trazidas no videoclipe, bem como a indicação do mesmo para 20º Grammy Latino
(2019).
4) Análise das imagens e da letra a partir dos teóricos lidos a fim de compreender os
significados trazidos pelo autor sobre o tema em questão.
A importância da música para o ensino de Geografia
O Brasil é um país de pluralidade cultural e diversos estilos musicais que expressam em
suas letras as vivências e reflexões que representam o espaço e suas transformações, como o
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meio urbano e as relações e problemáticas na metrópole. Ao longo da história que originou o
país, os gêneros musicais desempenharam um papel de representar o traço regional da cultura
e do espaço geográfico.
Para Silva (2015), a música e toda expressão cultural pode ser utilizada pelo educador,
por meio da extração das informações que elas possuem, e, a partir disso, converter tais análises
em conhecimento através do diálogo, incitando, assim, a criatividade dos educandos e
despertando o senso crítico para discutir sobre os variados temas da disciplina. A música
funciona também como eixo facilitador de aprendizagem e de desenvolvimento, além de
auxiliar na obtenção de resultados satisfatórios pela inovação em sala de aula, pois compreende,
além da interpretação de texto, o reconhecimento de novos vocabulários e metáforas através da
observação dos significados das letras relacionados aos conceitos convencionais da geografia.
Segundo Silva (2015), o uso das canções rompe com os paradigmas tradicionais de ensino,
principalmente, quando a obra descreve e revela o cotidiano vivenciado pelos alunos.
O marco inicial do rap no Brasil, como destaca Oliveira (2012), acontece por volta da
década de 1980 nas periferias de São Paulo, retomando os princípios do movimento e
reproduzindo a voz que ecoa da periferia, sobretudo, a construção da identidade e o sentimento
de pertencimento em meio às relações da produção espacial e suas variadas tensões e
segregações de cunho econômico ou racial, como a gentrificação. Com o passar do tempo, as
gerações iniciais construíram uma forte relação com a música, possibilitando a solidificação do
ritmo no imaginário popular apesar de toda repressão política, perseguição da juventude negra
e silenciamento das práticas e expressões culturais que não obedecessem à lógica etnocêntrica
branca, velada pela associação ao contexto de violência e discurso antidrogas nas periferias,
como tentativa da negação à questão histórica racial e estrutural no país.
De acordo com Villaça (2001), o mais conhecido padrão de segregação da metrópole
brasileira é o do centro e da periferia. O primeiro é composto em sua maior parte pela oferta
dos serviços urbanos, blicos e privados e, também, ocupado majoritariamente pelas classes
de mais alto poder aquisitivo. As periferias têm, por sua vez, pouca oferta de recursos e se
colocam mais distantes, ocupadas em sua maioria por pessoas com menor poder aquisitivo,
sendo consideradas áreas segregadas. A produção do espaço urbano é marcada pela separação
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de classes sociais com diferentes acessos e oportunidades, e, nesse sentido, o espaço da
metrópole atua como um mecanismo de exclusão.
Utilizar o rap e a cultura popular como uma forma de libertação estimula o estudo e a
compreensão de mundo por parte estudante a partir de uma alternativa viável para a análise de
aspectos relacionados ao conteúdo de Geografia, propondo seu uso como metodologia de
grande potencial para trabalhar diversos temas que facilitam a exemplificação e o entendimento
do assunto proposto, como aborda Campos (2008). Conceitos geográficos e variados temas, tais
como: território, região, lugar, cidadania, política, economia, luta pela terra, cidades, violência,
desigualdade, etc., entram em cena através da interpretação das letras, reconhecendo narrativas
que revelam as maneiras de viver ou de conviver na metrópole, proporcionando aos alunos
reflexões críticas que os auxiliem a compreender a sua própria realidade.
Destarte, o rap também funciona como um instrumento para conscientizar pessoas para
outros tipos de ações, como exemplo a canção Alrightdo rapper norte-americano Kendrick
Lamar, que se tornou hino adotado pelo movimento Black Lives Matter, entoado durante todas
as manifestações. Ainda neste sentido, os Racionais MC's têm sido a maior influência na
formação da tradição do rap brasileiro, como aponta Loureiro (2016), chegando a todas as
regiões do país e criticando a violência que permeia a sociedade brasileira com uma estética
refinada. Ainda hoje, as camisetas com a estampa do grupo atraem milhares de ouvintes sendo
frequentemente usadas como armaduras para as duras lutas da vida das pessoas, como forma
de empoderamento e representatividade.
A proposta da utilização do rap potencializa e alia a arte a um movimento social,
promovendo um potencial instrumento educacional para discutir a música como linguagem na
compreensão e da análise criticados fenômenos, objetos e movimentos espacializados na
metrópole. também uma necessidade por parte do educador de avaliar e entender as
peculiaridades de cada sala de aula e observar as singularidades que possuem os alunos,
contextualizando cada realidade vivenciada com as músicas e letras a serem analisadas, pois o
corpo discente, além de ser parte essencial do processo de aprendizagem, também participa
como elemento social que conhece o espaço geográfico, pelo fato de estar inserido
geograficamente nele. Neste sentido, como destaca Teixeira (2020), os elos sociais promovidos
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espacialmente sustentam uma territorialidade compreendida por meio das identidades e dos
processos históricos e geográficos de sujeitos que compõe a metrópole, e por apreendê-la a
partir do ponto de vista periférico é fundamental.
A arte concretiza uma nova abordagem do urbano, evidenciando-o como uma obra
coletiva. Utilizar o rap desperta a curiosidade pelo saber, pois se interessa em compreender a
linguagem do aluno e se estabelece de forma extremamente adaptável e democrática,
contrariando a lógica da educação bancária, onde o aluno é enxergado somente como receptor
do conhecimento e não sujeito ativo do processo pedagógico (FREIRE, 1996).
O planejamento do uso do rap como recurso metodológico em sala de aula corrobora os
princípios do gênero, em razão de seu contexto histórico. Formado nas ruas de Nova York
(EUA), ao fim da década de 1960, como resposta ao período de profunda desigualdade social e
repressão, destacada pelo recente assassinato de uma das lideranças dos direitos civis dos
negros, Martin Luther King Jr, o rap se apresenta como um instrumento e funciona como porta-
voz da realidade periférica, descrevendo a vida do jovem negro dos guetos americanos,
combinando elementos musicais do soul, jazz, funk e incorporando novas formas de expressão
cultural, além da fala, como a dança no breakdance, o grafite como arte plástica e a produção
das batidas ofertadas pelo DJ (DOMENICH; CASSEANO; ROCHA 2001).
Para Zanatta (2010), o conhecimento geográfico construído em sala de aula deve se
preocupar com questões relacionadas à prática de ensino e com a construção do conhecimento
por meio de temas relacionados aos conceitos e vivências particulares cotidianas dos alunos, a
partir do espaço onde vivem e transitam. Neste sentido, é interessante que o ensino tenha como
objeto a sociedade local e suas contradições, e que permita uma múltipla e aberta leitura de
mundo, para que os alunos construam interpretações de sua própria realidade, superando, assim,
uma ótica de ensino reprodutor de conhecimento, fomentando a coletividade do saber e
dialogando com a perspectiva de Paulo Freire.
Assim, a escola não deve ser entendida como mero lugar da simplificação didatizada,
se apresentando como o local de se produzir a geografia. O ensino da Geografia potencializa as
diferentes maneiras de uso de linguagens para mediar processos, fatos, conceitos e conteúdos
sociais e físicos que mobilizam a compreensão de uma leitura geográfica da realidade.
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Nas próximas páginas será abordado, a partir das leituras dos autores sobre o tema, o
material rico e audiovisual relacionado aos conceitos geográficos de metrópole e suas relações
de transformação do espaço social. A abordagem da música relaciona as tensões produzidas
através das interações humanas e fluxos de capital na metrópole com a finalidade de
desenvolver a capacidade dos alunos de observação e análise de um fenômeno geográfico. Além
disso, a ideia também visa refletir tais conceitos aliados à ideia da sensibilização e construção
do pensamento crítico sobre a metrópole urbana, seus espaços e a luta pelo direito à cidade
(MAGRO 2002).
O ensino da metrópole nas aulas de Geografia
O espaço geográfico tem diferentes formas, conteúdos, estruturas e dinâmicas que estão
materializadas na paisagem. As relações entre os fluxos de capital, pessoas, bens e serviços, à
medida que se concentram, dentre outros elementos espacializados acabam constituindo uma
materialidade: a metrópole. A metrópole é uma das formas do espaço que promove ideais e que
dita novos modelos adaptados à necessidade lucrativa do capital, reafirmada nos anos 1970,
durante a expansão do processo de urbanização e industrialização no Brasil. Esta
metropolização do espaço implica diretamente na imposição da reprodução do capital. As
tensões são produto do processo de urbanização, uma vez que altera o cotidiano, produzindo e
modificando as relações socioespaciais, possibilitando questionamentos sobre a produção do
espaço na metrópole (CAVALCANTI, 2014).
De acordo com Fresca (2011), a natureza conceitual da metrópole está ligada às forças
econômicas geradas pelas diferentes atividades que historicamente se tornaram nós da rede da
economia mundial por meio de sistemas regionais comerciais, industriais e financeiros,
baseados em novas tecnologias de informação e comunicação. Desta maneira, podemos
entender que a maioria das pessoas vive em cidades, pequenas, médias e grandes e nem todas
são metrópoles, entretanto necessitam de seus serviços. Uma metrópole tem um elevado
desenvolvimento urbano e desta forma, acaba por estabelecer uma rede composta por cidades
que são dependentes dela e assim, compõe a rede urbana com concentração de vários tipos de
atividades, empregos e as capitais.
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Por isso, precisamos compreender geograficamente como os objetos e as diversas ações
constituídas nas metrópoles estão espacializadas e como os processos que as estabelecem criam
desigualdades socioespaciais sofridas pela população. Cada parte da metrópole tem diferentes
funções e isso permite as pessoas que moram nela buscar analisar como essas colaboram para
as diferentes maneiras de vê-la, principalmente por àquelas que vivem na periferia. Para
Cavalcanti (2017), a metrópole é marcada por variados conflitos, ações, medos e incertezas.
Pensar o ensino de Geografia por meio da metrópole é desenvolver nos estudantes a capacidade
de observar, conhecer, identificar e analisar a pensar geograficamente como os fenômenos estão
localizados, distribuídos e ordenados a fim de compreender como a violência, problemas
ambientais, de fluxo e de outros tipos ocorrem em um determinado lugar.
Os alunos, que habitam e estudam nela, têm experiências e compreendem a noção de
convivência com a desigualdade de ofertas, seja por oportunidades, acesso à educação, saúde
ou espaços culturais de sua formação. Seria indispensável, então, buscar tais referências como
metodologias para desenvolver e fomentar os conteúdos geográficos, tendo em vista que os
jovens estudantes sentem e vivem tais acontecimentos. Permitindo, assim, que o estudo
geográfico seja um espaço para problematização e compreensão, percebendo, as relações, a
partir de uma intervenção crítica no espaço no qual os alunos interagem.
Pensar o significado deste ensino seria o de possibilitar que os sujeitos sejam capazes
de interpretar o mundo em constante mudança, interagindo e compreendendo com um olhar
mais crítico e questionador, construindo, assim, a verdadeira educação emancipadora. Portanto,
é de suma importância que o professor tenha clareza na metodologia para que, assim, possa unir
o saber geográfico ao saber do educando, tornando-o protagonista do processo de conhecer, de
refletir e de agir. (THIESEN, 2011). Dessa forma, a discussão da metrópole por meio do rap é
capaz de dialogar e construir uma ponte entre aluno e professor para transição de saber mútuo,
aliado às variadas formas de abordagem e ao vasto conteúdo geográfico no qual o gênero está
inserido.
Boca de Lobo e o caos na metrópole
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Geografia. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 9, nº 18, pp. 127-148, maio-agosto de 2022.
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As análises críticas são fundamentais para possibilitar discussões significativas acerca
de diferentes questões referentes às condições das áreas periféricas da metrópole do Brasil.
Porção do espaço vivenciado por muitas pessoas que são diariamente expostas a diferentes
situações que acabam sendo localizadas em determinados espaços e provocam a refletir sobre
os dilemas, problemas e condições da vida da população.
Trazer um videoclipe para as aulas de Geografia sempre é um desafio. Qual música
usar? Qual sentido as letras podem colaborar para uma discussão geográfica da metrópole? Que
conteúdos como educador podemos abordar a partir daquilo proposto pelo autor da música?
Que paisagens são mostradas no videoclipe e são significativas para compreensão o raciocínio
geográfico? Desta maneira, convidamos o leitor ao rap Boca de Lobo, que foi liberado como
material audiovisual na plataforma YouTube, no dia 30 de setembro de 2018. O videoclipe foi
indicado ao 20º Grammy Latino na categoria Melhor Vídeo Musical Curto e finalista, como
melhor videoclipe do ano, melhor direção e melhor edição no Music Video Festival Awards, de
2019. Com a autoria e voz do rapper Criolo, dirigido por Denis Cisma, com participação de
Daniel Ganjaman e Nave na produção.
O artista mistura o gênero rap com elementos regionais incorporados aos versos em
construção da crítica sobre o momento contemporâneo que promove o debate acerca dos
conflitos e tensões que fazem parte da constituição social e das relações de poder ocorridas na
metrópole. O material se inicia com um incêndio em um edifício com grande volume de fumaça
e a cidade em plano de fundo, como apresentado na Figura 1a em uma das janelas, uma
figura segurando uma panela com uma mão e algo que possa bater em outra, mesclando com a
batida na produção sonora que envolve tons de panelas sendo batidas, em uma alusão aos
protestos ocorridos na última gestão do governo petista.
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Figura 1: a) Grande incêndio atinge prédio residencial enquanto pessoas batem panelas.
b) Grupo de pessoas acompanha noticiário sobre incêndio no Museu Nacional do Rio de
Janeiro.
Fonte: CRIOLO Boca de Lobo
Além deste recorte, o incêndio no edifício remete ao episódio ocorrido no Largo do
Paissandu, em São Paulo, um desabamento que acarretou a morte de nove vítimas dentre as
mais de cento e cinquenta famílias que eram abrigadas ali. A interpretação a ser feita a esta
parte do videoclipe se relaciona à dualidade existente na produção do espaço na metrópole,
sobretudo, o processo de produção da riqueza e produção da pobreza. pessoas com
residência e conforto que utilizam o acesso de sua produção espacial como expressão política,
enquanto outras, nem mesmo direito à voz da cidadania possuem, à medida que são negados
elementos básicos de sobrevivência, como a moradia. A cidadania aqui não constitui um direito,
mas sim um privilégio de classe (CHAUÍ, 1995).
Aonde a pele preta possa incomodar, um litro de Pinho Sol pra um preto rodar (...)/
Na guerra do tráfico, “perdemo” vários “ente” /Plano de saúde de pobre, fi, é não ficar
doente. (CRIOLO, 2018)
Ao passo da reprodução visual, Criolo apresenta a construção de forte discurso sobre a
relação racial e econômica produzida através da rejeição às populações majoritariamente menos
favorecidas. O embate ao estudo da metrópole retoma mais uma vez o processo de voz à
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cidadania, em recuperação dos direitos e luta pela igualdade social. Nos primeiros dois versos
da letra, o rapper faz referência a Rafael Braga, jovem negro que foi preso pela polícia durante
forte repressão nas manifestações ocorridas no ano de 2013, após ser averiguado e descoberto
um frasco de desinfetante da marca Pinho Sol em sua mochila.
Na Figura 1b, um grupo de pessoas está reunido ao perceber a reportagem da mídia na
TV sobre outro incêndio, desta vez, no Museu Nacional do Rio de Janeiro, ocorrido no início
do mês de setembro de 2018, causando choque e comoção pela perda cultural de um acervo
com mais de 20 milhões de itens e, por conseguinte, remetendo ao debate sobre a dilapidação
cultural e comprometimento da gestão política com a cultura. Nesse quadro, a simbologia por
trás do evento "incêndio cultural" pode ser encarada, no material de Criolo, como o
epistemicídio e a destruição de saberes não reconhecidos ou ainda não privilegiados pela
metrópole. O processo de metropolização aqui deve sobrepor às relações socioespaciais
evidenciando suas contradições e conflitos.
Figura 2: a) Manifestantes pelas ruas da cidade.
b) Confrontos nas manifestações.
Fonte: CRIOLO Boca de Lobo
O processo de industrialização e urbanização da cidade ocorrida até o fim da década de
1970, no Brasil, produziu variados dilemas nas relações sociais, e, neste exemplo, motiva o
debate dos educandos sobre a violência, o direito à cidade, conflitos raciais e segregação
socioespacial (LENCIONI, 2011). Na Figura 2 a, uma pluralização das formas de combate
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às gestões políticas, havendo, então, uma discussão sobre outras formas de se produzir o espaço
e a constituição da metrópole, sobretudo, pela coalizão de pessoas de diferentes aspectos
observadas na Figura 2b, como a figura de um policial, uma mulher com capacete e um homem
segurando um protótipo de escudo com os dizeres "ficar, resistir, enfrentar".
Figura 3: a) Pessoas filmam e tiram fotos enquanto um homem está no chão sangrando.
b) Uma cadeira escolar contrasta pegando fogo em meio às manifestações.
Fonte: CRIOLO Boca de Lobo
A pauta dessa mesa “Coroné” manda anotar/ esse ano tem massacre pior que de
Carajá/ Ponto 40 rasga aço de arrombar/ não mata mais que a frieza do teu olhar.
(CRIOLO, 2018)
Enquanto o material visual se desenvolve, Criolo insere nos versos a percepção sobre
espaço travado pela luta reconhecida como o Massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em
abril de 1996, no qual 19 sem-terra integrantes do MST foram mortos pela Polícia Militar do
Estado do Pará. As relações de poder entre dominante e dominado remetem ao pensamento do
espaço produzido. Criolo conclui o verso relacionando a morte sentimental com maior rigidez
do que a morte física por uma arma, constituindo uma nova reflexão sobre a sensibilização e
humanização nas relações, tal qual está projetada na Figura 3a, em que pessoas escolhem filmar
ou tirar fotos, ao invés de prestar socorro a um homem caído envolto em uma poça de sangue.
Chamas queimam uma carteira escolar na Figura 3b. Nesta cena, o sentido pode ser
compreendido e refletido de variadas formas. A abordagem pode trazer o contexto histórico
sobre as ocupações escolares e a mobilização estudantil no ano de 2016, com reivindicações de
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melhor infraestrutura e posicionamentos contrários às leis de congelamento de gastos na
educação e reorganização escolar que precarizam o ensino.
Figura 4: a) A cidade iluminada e seus processos de urbanização.
b) A cidade colapsa e sofre um apagão generalizado.
Fonte: CRIOLO Boca de Lobo
Nesta percepção, uma dualidade na imagem de uma cidade influenciada pela luz e,
na projeção seguinte, perdida na escuridão, como apresentam as figuras 4 a e 4b. O debate a ser
desenvolvido pelo educador em sala pode relacionar as constantes quedas de energia e apagões
no Brasil que aconteceram recentemente, em janeiro de 2018, nas regiões Norte e Nordeste,
abordando as relações entre eficiência energética e sustentabilidade, além da disponibilidade e
distribuição de energia elétrica para a população.
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Figura 5: a) Um paramédico é apresentado com um uniforme remetendo a PEC 55.
b) Menino ferido com uniforme da rede pública de ensino.
Fonte: CRIOLO Boca de Lobo
Na Figura 5a, o artista insere um debate político sobre os desdobramentos da PEC 55,
uma Proposta de Emenda Constitucional que, na prática, limita por vinte anos, os investimentos
em saúde e educação. Além desta relação, a figura 5b reproduz o compartilhamento viral ao
redor do mundo da imagem de Omran Daqneesh, menino sírio ferido durante os bombardeios
na cidade de Aleppo, contrastando com um menino brasileiro estudante da rede pública
estadual, relacionado aqui com Marcos Vinícius, 14 anos, adolescente morto durante uma
operação policial no Complexo de Favelas da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro,
possibilitando o debate sobre direito à cidade e condição espacial nas periferias.
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Figura 6: a) Um enorme abutre pousa sobre uma unidade hospitalar pública enquanto pessoas
aguardam atendimento em fila na parte externa.
b) Em meio ao caos na metrópole, a figura de uma mulher inabalável aparece.
Fonte: CRIOLO Boca de Lobo
O ponto relacionado na Figura 6a expõe a relação da saúde pública na metrópole,
disponível para a população que aparece em linha enquanto aguarda atendimento em uma
unidade hospitalar. A figura de um abutre representa a espera da morte das pessoas que perecem
na fila de atendimento, devido às precárias condições de infraestrutura e as relações muito
reduzidas de oferta de assistência médica para as populações mais carentes.
Na Figura 6b, é possível perceber a figura de uma mulher negra, em posição sólida e
em estado de confrontação, enquanto outras pessoas correm em direção oposta em meio a todo
o caos que envolve a cidade. A abstração, nessa cena, pode se referir à Marielle Franco,
vereadora, socióloga, feminista e defensora dos direitos humanos, morta a tiros na Região
Central do Rio de Janeiro, em março de 2018. A interpelação promovida entre educador e
educando aqui é, mais uma vez, sobre o direito à cidade e a ideia de "cidade para quem?",
confrontada à percepção da marginalização e estrutura periférica dentro da metrópole. A
discussão deve, ainda, incluir as relações históricas entre passado e futuro, acerca das lutas nos
centros urbanos, trazendo consigo a luta de Marielle, que se faz presente.
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Figura 7: a) Uma cratera está aberta ao lado de uma estação do Metrô.
b) Um morcego sobrevoa o Palácio do Congresso Nacional.
Fonte: CRIOLO Boca de Lobo
Antes da conclusão do vídeo, a imagem de ratos saindo sob uma cratera ao lado do
metrô, na Figura 7a, refere-se ao episódio da maior tragédia em uma obra do metrô no país,
durante a construção da estação Pinheiros da Linha 4-Amarela do Metrô, na Zona Oeste de São
Paulo. A metrópole aqui é vista a partir da lógica da constituição dos fluxos de pessoas, de
capital ou ainda de informações. O artista simboliza na Figura 7b a política nacional orquestrada
por um morcego, atribuindo esta figura, ao então presidente Michel Temer, retratado
recentemente como vampiro em desfile de escola de samba do Rio de Janeiro. A proposta do
diálogo, nesta etapa, envolve o debate sobre a política nacional e seus rumos, promovendo a
crítica e a reflexão sobre as políticas públicas e seus impactos diretos nas cidades.
Todos os elementos apresentados contribuem para trabalhar as diferentes ações
desenvolvidas em determinadas paisagens e territórios de diferentes metrópoles como
compreender os problemas sociais enraizados em nossa sociedade e que estão espacializados
nas periferias. Ensinar a Geografia e a Metrópole, segundo Cavalcanti (2014), permite entendê-
la como um lugar complexo de produção social, que exige cada vez mais uma crítica de nosso
lugar e papel no mundo, com referência os espaços urbanos em que vivemos. Dessa forma, a
ciência geográfica, facilita a leitura do mundo, a partir de representações e percepções
cotidianas, que ajudam os alunos a identificarem suas práticas no espaço social. Nesse sentido,
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o estudo da metrópole é um elemento de extrema importância para reflexão dos estudantes para
uma leitura crítica do espaço geográfico.
Considerações finais
É possível analisar o cotidiano através do campo lírico, favorecendo o ensino e
oferecendo um instrumento a mais no auxílio ao professor durante o processo pedagógico,
além de interligar o hábito dos alunos que escutam diariamente as músicas, estabelecendo um
elo de comunicação entre educador e educando, já que o rap se relaciona à realidade do aluno.
A esse respeito, os professores podem se valer das letras e dos videoclipes desse gênero
musical para abordarem os conteúdos de geografia em sala de aula, proporcionando, dessa
forma, uma visão crítica da existência e do espaço geográfico.
A educação, apesar de conservar práticas pedagógicas tradicionais, deve acompanhar
o processo evolutivo das relações que modificam o espaço com o suporte da tecnologia,
oferecendo, assim, novas formas de pensar e produzir o ensino. A música oferece diferentes
maneiras de ser pesquisada no âmbito do ensino de Geografia, e deve articular os saberes da
escola com o saber que vem de fora dela, humanizando assim o processo de ensino.
Esses dois saberes devem se complementar, de modo que um não se sobreponha ao
outro, mas que estabeleçam valores parelhos e sem detrimento das experimentações,
peculiares e singulares de cada indivíduo. A oralidade adotada pelo rap favorece o
esclarecimento e domínio da língua, revelando em forma de denúncia as injustiças que
percorrem a metrópole, promovendo, assim, o desenvolvimento de uma consciência crítica de
modo a contestar tais acontecimentos sob uma perspectiva geográfica.
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