de saber como estabelecer um terreno de vida comum sem que para essa
convivência precisemos renunciar às nossas diversidades em termos de
opinião, vontades, valores, atitudes e formas de apresentação. [...] 3) o terceiro
componente essencial dos espaços públicos diz respeito ao seu poder
comunicacional. Uma vez que nos é garantida a legitimidade das diferenças
individuais, estar junto sobre um mesmo espaço significa a possibilidade de
exibir características próprias e independentes Trata-se de um exercício
veiculado a partir de uma infinidade de repertórios, verbais, gestuais,
comportamentais, do vestuário, das formas de apresentação enfim, de tudo
aquilo que produz significação social. A comunicação é ativada por
compartimos um mesmo espaço. Por isso, espaços públicos convidam à
observação e a vivência da alteridade. (GOMES, 2018, p. 117 e 118, grifo
nosso)
Os espaços públicos da cidade possuem características essenciais para a promoção
da vida pública urbana, apresentando-se como terrenos férteis para a realização de
encontros e intercâmbios culturais. Logo, esses espaços são territorializados pelos MCs,
DJs, grafiteiros, dançarinos e demais membros do Hip-Hop para se constituírem
territórios integrantes da cena local. Nesse sentido, para Menezes e Cardoso (2017) a
territorialização é um processo social constituidor de identidade política e ideológica para
a formação cultural dos indivíduos. Em extensão, a territorialidade é a categoria que paira
no campo da idealização almejada por aquele coletivo e firma-se no campo real pelo
mantimento do território concreto.
Os territórios são articulados em rede, algo imprescindível para compreensão
e análise dos fenômenos sócio-espaço-territoriais. [...] Para além, os territórios
são campos de forças, são antes teias ou redes de relações sociais projetadas
no espaço, no qual não se necessita de forte enraizamento material para que se
tenha um território. (SOUZA, 2014, p. 86)
Sendo assim, o procedimento de formação territorial é resultante de um
desenvolvimento gradual de uso e ocupação constituído por processos geográficos
determinados de Territorialização-Desterritorialização-Reterritorialização (T-D-R). De
acordo com Haesbaert (2014), a territorialização trata do desenvolvimento de territórios,
a desterritorialização caracteriza-se pela perda de território de modo espontâneo ou
forçado, causando o rompimento do controle das territorialidades pessoais ou coletivas,
e, por fim, a reterritorialização é a prática de retomada ou conquista de novos territórios.
A prática de realizar encontros em espaços públicos acontece de maneira orgânica
com a apropriação e fixação num determinado local através das manifestações artísticas,
criando, assim, um exercício territorial que possui referência material e simbólica para a
afirmação daquele grupo. Tal fato, na visão de Haesbaert (2004) é a gênese do território,
pois criam-se vínculos identitários para com o território, sendo esse dotado de valor.
Souza (2014) acrescenta que o território se qualifica como “o espaço social, delimitado e
apropriado politicamente enquanto território de um grupo, é suporte material da
existência e, mais ou menos fortemente, catalisador cultural-simbólico e, nessa qualidade,
indispensável fator de autonomia” (SOUZA, 2014, p. 108).