vice ‘versa” (1991 [1974], p. 40). Com isso, ele infere que o corpo, além de viver no
espaço, produz espaço através de seus movimentos, gestos e ações. Lefebvre (1991) ainda
pontua que é através do corpo, das práticas humanas e dos simbolismos criados na
experiência espacial que conseguimos compreender, de fato, as relações de poder e as
práticas que resistem a elas.
Por isso, segundo Lopes (2016) a corporeidade pode ser adotada enquanto recurso
metodológico para trazer novos sentidos a Geografia. Fortemente inspirado pelos aportes
de Merleau-Ponty (1999, p. 437), o autor concorda que “o espaço se sabe a si mesmo
através do meu corpo”. Isso significa que o espaço está investido de corporeidade, que é
uma relação entre os corpos que caracteriza o espaço geográfico, requerendo uma
interpretação da relação corpo-espaço através de uma implicação ontológica complexa e
inesgotável entre homens e mulheres em geral e a realidade objetiva geográfica (LOPES,
2016, p. 2). Sobre o tema, Lopes afirma que:
Logo, refere-se à inferência mutuamente constitutiva entre o corpo e o
espaço enquanto dado geográfico mediador da totalidade. Isto significa
interpretar a corporeidade não somente como uma relação factual entre os
corpos e o espaço, mas, principalmente, um recurso metodológico que
possibilite a identificação de acréscimosde sentidos (de novas formas-
conteúdo) ao espaço geográfico a partir dos aspectos marginais da
experiência ignorados no edifício de objetivação geográfica do real
(LOPES, 2016, p. 2. Grifo da autora)
Elias Lopes (2016), ainda inspirado em Ponty, afirma que o caráter sensível do
corpo impõe uma implicação direta e indireta com o espaço. Desse modo, “os agentes
sociais implicados na reprodução do espaço devem necessariamente estar situados
histórica e geograficamente, do contrário, se restringiriam a objetos meramente
localizados em algum ponto do arranjo espacial” (LOPES, 2016, p. 2). Por isso, o espaço
deve ser compreendido enquanto um produto histórico-social, que tem como atributo a
encorporação de propriedades dos corpos: en-corporar no sentido de ter os corpos
exteriorizados no espaço, o avesso da incorporação.
Outra geógrafa que aborda a corporeidade é Alicia Lindón (2012). Os aportes
dessa autora partem da relação entre o corpo e as emoções nas experiências espaciais,
visto que é através da corporeidade que o indivíduo se apropria do espaço e o designa
significados, transformando-o em espaço vivido. Para Lindón (2012), a experiência
espacial produz emoções como, por exemplo, a sensação de medo ou desconforto para
uma mulher ao caminhar em rua vazia a noite, ou a sensação de prazer que sentimos ao
viajar e conhecer novos lugares. Por isso, seguindo também à Merleau-Ponty, Lindón
(2012) afirma que todo sujeito é um sujeito-corpo e um sujeito-sentimento e, posto que o
sujeito vive no espaço e cria seu próprio espaço, toda experiência espacial é também
emocional e corpórea.
Outra chave interpretativa e metodológica considerada fundamental para
compreender a construção social é a intercorporeidade. Na Fenomenologia, a