Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
FREITAS, Rafael Alves. As transformações na Paisagem Portuária do Rio de Janeiro. Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 8, nº. 16,
pp. 135-147, janeiro-abril de 2022.
Submissão em: 21/12/20121. Aceito em: 07/04/2022.
ISSN: 2316-8544
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SEÇÃO VISUALIDADES
AS TRANSFORMAÇÕES NA PAISAGEM PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO
THE LANDSCAPE TRANSFORMATIONS AT RIO DE JANEIRO’S PORT AREA
TRANSFORMACIONES EN EL PAISAJE PORTUARIO DE RÍO DE JANEIRO
Rafael Alves de Freitas1
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ),
Rio de Janeiro, Brasil
E-mail: uerj.raf@gmail.com
1
Mestrando em Geografia, pelo PPGGEO - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Possui
Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
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JUSTIFICATIVA
A Zona Portuária (ou Porto Maravilha) da cidade do Rio de Janeiro faz parte da
Região Administrativa da capital, compreendida pelos bairros do Centro, Caju, Gamboa, Santo
Cristo e Saúde, com um total de 35,001 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística IBGE (2010). A história da zona portuária remonta ao período colonial, em que
essa área exerceu importante papel econômico para a cidade e para o país. Contudo, a partir da
segunda metade do século XX, os investimentos nessa área da cidade deixam de existir, e aos
poucos a zona portuária vai sofrendo um esvaziamento econômico de toda ordem, com o
abandono de diversos armazéns e galpões. Por outro lado, percebeu-se o aumento de bairros
adensados, formando o processo de favelização no entorno dessa área (FARIAS, 2019). A
figura 01 representa a delimitação espacial da zona portuária do Rio de Janeiro / RJ.
Figura 01: Recorte espacial da Zona Portuária / RJ, com indicação de bairros e logradouros principais.
Fonte: BaseGeo do site da prefeitura do Rio de Janeiro.
Elaborado pelo autor (2021).
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Vale ressaltar que o crescimento rodoviário da cidade também teve papel determinante
na degradação espacial da zona portuária, pois transformou o antigo centro histórico e
econômico em um local de passagem. Com a abertura da Avenida Presidente Vargas, entre o
Centro e a zona portuária, houve um isolamento espacial desta última, que por sua vez perdeu
as vantagens locacionais utilizadas economicamente até o início do século XX. A construção
do Elevado da Perimetral sobre a Avenida Rodrigues Alves, na cada de 1970, também
acelerou o processo de degradação urbana na área portuária (FARIAS, 2019). Pela figura 02,
vemos a Praça Mauá no início do século XX.
Figura 02: Vista aérea da Praça Mauá (1916)
Fonte: http://www.rio.rj.gov.br/web/arquivogeral/acervodigital
Acesso em: 07 de maio. 2021.
nos anos 2000, na entrada do século XXI, a gestão do prefeito César Maia buscou
alternativas no que ele próprio chamou de "revitalização" da área portuária. Nesse sentido,
algum tempo depois, tendo o Eduardo Paes como prefeito, a Operação Urbana Consorciada
Porto Maravilha propôs um novo paradigma para a zona portuária carioca. A intenção era trazer
de volta investimentos econômicos e transformá-la em um modelo de empreendedorismo
urbano, em que o setor público contaria com o apoio financeiro do setor privado para a
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implantação das transformações urbanas da até então área degradada/abandonada (FARIAS,
2019).
Assim, de um passado esquecido pelo poder público, tornando-se palco de uma das áreas
mais violentas/inseguras da cidade, sendo refúgio para moradores de rua, assaltantes e com
construções antigas e abandonadas, mas também marcada por uma vida pulsante, a zona
portuária e, mais precisamente a Praça Mauá “ressurgem” após uma intensa revitalização que
acontece no momento em que a cidade passa a sediar a Copa do Mundo em 2014 e os jogos
olímpicos Rio-2016.
Figura 03: Praça Mauá com a Perimetral (ponte), nos anos 2010, antes da revitalização
Fonte: O autor (2010).
Dentro desse contexto de revitalização, temos o Boulevard Olímpico que fica localizado
na zona portuária (Praça Mauá), que foi projetado para ser um lugar de convivência/interação
de cariocas e turistas ao longo da Olimpíada Rio-2016, que a prefeitura à época disponibilizou
telões para que as pessoas pudessem assistir e torcer pelos brasileiros nas diversas modalidades
olímpicas. O sucesso foi tanto que este lugar até hoje recebe diariamente centenas de pessoas
entre cariocas e turistas de outros estados e até internacionais, segundo informações da
secretaria municipal de turismo da cidade do Rio de Janeiro (SETUR, 2021). Não podemos
esquecer que a Praça Mauá passou a abrigar um dos maiores e mais conceituados museus do
mundo moderno, que é o Museu do Amanhã.
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Figura 04: Praça Mauá após as obras de revitalização, sem a Perimetral e com o Museu do Amanhã ao fundo
(2016).
Fonte: https://museudoamanha.org.br/ - Acesso em: 10 de maio. 2021
Portanto, com a realização dos jogos olímpicos, a cidade do Rio de Janeiro - como a
zona portuária - passa a receber investimentos e diversas obras são realizadas. Uma dessas obras
que mais impactou a cidade no contexto turístico foi realizada na zona portuária, tendo na Praça
Mauá um símbolo máximo dessa revitalização.
A zona portuária por ter mais de 05 milhões de metros quadrados, apresenta hoje
diversas opções turísticas, um verdadeiro complexo turístico inserido numa área em que a vida
não parou, sendo resistência por parte de muitos que viveram e vivem nessa área da cidade.
Dessa revitalização surge o nome Porto Maravilha em alusão à cidade maravilhosa.
Dentro desse complexo encontramos os seguintes atrativos turísticos: Praça Mauá,
Museu do Amanhã, Museu de Arte do Rio (MAR), Largo de São Francisco da Prainha,
Pedra do Sal, Morro da Conceição, Cais do Valongo, Jardim Suspenso do Valongo,
AquaRio, Boulevard Olímpico (Orla Conde), Beco das Sardinhas, Angu do Gomes e mais
recentemente a maior roda gigante da América Latina. Podemos dizer então que a zona
portuária guarda muitas histórias do Rio, e uma caminhada por suas ruas revela a riqueza
material e imaterial contidas ali. Toda essa área, onde nasceu o samba, tem notória vocação
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cultural, com manifestações artísticas de todo tipo, marca da identidade desses bairros que
compõem a zona portuária.
Figura 05: Museu do Amanhã
Fonte: https://museudoamanha.org.br/ - Acesso em: 10 de maio. 2021
Figura 06: Roda Gigante do Rio de Janeiro (Praça Mauá) Fonte: https://riostar.tur.br/- Acesso em: 10 de maio.
2021
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Figura 07: Museu de Arte do Rio (MAR)
Fonte: http://museudeartedorio.org.br/ - Acesso em: 10 de maio. 2021
Assim, percebemos que esses fixos (construções), conforme figuras 05, 06 e 07
(Museu do Amanhã, Roda Gigante e Museu de Arte do Rio - MAR), entram no circuito carioca
do turismo, complementando a vocação turística original de uma cidade que apresenta belas
praias, e muitas famosas pelo mundo todo. Segundo Allis e Vargas (2015), a concepção
tradicional de “turista” o parece dar conta de explicar o avanço do turismo urbano na
dinâmica de grandes cidades, como da cidade do Rio de Janeiro, especialmente porque os
comportamentos espaciais dos turistas e dos moradores (cariocas ou não) são, em grande
medida, semelhantes e se confundem. A própria Praça Mauá é um lugar plural em que
encontramos pessoas das mais diversas nacionalidades, e nesse sentido, morador e turista se
confundem e se entrecruzam.
Logo, o Rio de Janeiro por meio da revitalização da zona portuária passa por um
processo em que o turismo se diversifica, oferecendo opções para além das praias, e no contexto
pandêmico de 2020 até agora, a praça passa por um esvaziamento em virtude do isolamento
social.
E nesse contexto, a cidade do Rio por ser uma cidade extremamente desigual e
segregada, é possível encontrarmos cariocas (e moradores) que não desfrutam desses eventos
turísticos pelos mais variados motivos. Assim, podemos citar, por exemplo, a dificuldade de
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acesso dos moradores que estão em áreas mais afastadas do centro do Rio e dos locais onde há
oferta de serviços turísticos e que dependem de um sistema de transporte que seja eficaz, o que
não acontece na cidade. Importante frisar que existe uma linha tênue entre o que é ser turista ou
não, e assim concordamos com Allis e Vargas (2015, p. 501),
Por mais corriqueira que possa ser a paisagem urbana a seus moradores, os
significados e as interações que se processam podem perfeitamente variar, de maneira
que o residente, como sugerido por Walter Benjamin, pode se converter, se assim o
desejar, no flâneur, “perambulando” pela cidade, muitas vezes com o mesmo grau de
estranhamento e deslumbramento de um turista, ainda que considerá-los viajantes
possa parecer um exagero.
Porém, para além dos fixos que encontramos nessa área da cidade, ainda temos lugares
dotados de valor cultural para além daquilo que a visão abarca. Exemplo disso é o Cais do
Valongo, outro atrativo turístico da zona portuária.
O tráfico Atlântico (pessoas escravizadas) e a escravização de africanos nas Américas
entre os séculos XVI e XIX é um longo e trágico episódio de enorme relevância para a história
da humanidade. Quase um quarto de todos os africanos escravizados nas Américas chegaram
pelo Rio de Janeiro. Portanto, a cidade pode ser considerada o maior porto escravagista da
história.
Revelado por escavações arqueológicas realizadas em 2011, em virtude das obras para
as Olimpíadas, o Cais do Valongo assumiu o valor simbólico de testemunho material das raízes
africanas nas Américas e constitui um desses espaços em que a materialidade se condensa em
memória viva, exemplo da chegada e da fixação dos africanos neste lado do Atlântico, conforme
figura 08. E, recentemente, o Cais do Valongo recebeu o tulo de Patrimônio Histórico da
Humanidade, pela UNESCO.
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Figura 08: Vista frontal do Sítio Arqueológico Cais do Valongo Fonte: O autor (2019).
No primeiro plano, os vestígios do Cais da Imperatriz, seguidos do calçamento do Cais do Valongo. Ao
fundo, no centro, a coluna alusiva do Cais da Imperatriz.
Assim, concordamos com Cifelli (2012, p. 119), e entendemos que,
Num cenário de acirramento da competição global entre cidades, os centros urbanos
patrimonializados, por seus atributos materiais diferenciais e pelo forte simbolismo
que carregam, constituem-se em elementos representativos para a criação e difusão de
imagens dotadas de especificidades que distinguem e valorizam a cidade em que se
localizam, tendo o patrimônio como sua principal referência identitária.
A zona portuária é, pela riqueza que apresenta, uma área repleta de atributos com valor
turístico, permeado de histórias de resistências do passado, mas também resistências
encontradas no presente. Isso se dá em virtude, por exemplo, de locais pobres no entorno dessa
área que não foram “revitalizadas”, muito pelo contrário, criou-se um cenário/paisagem de
contraste ainda maior entre locais pobres e áreas turísticas, a exemplo do Morro da Conceição,
vizinho à Praça Mauá.
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Figura 09: Morro da Conceição Zona Portuária / RJ Fonte: O autor (2019).
Por outro lado, temos, conforme figura 10, o Boulevard Olímpico (Orla Conde), em que
é possível perceber que é uma área ampla, com paredões imensos, voltados ao grafite de
diversos artistas, inclusive Eduardo Kobra e os Gêmeos. É possível vermos também, em
primeiro plano, a presença do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que além de cumprir seu
papel principal, ligando à rodoviária Novo Rio ao aeroporto do Rio de Janeiro (Santos
Dumont), exerce também um valor turístico, já que o VLT passa por todo circuito turístico em
que a zona portuária se encontra.
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Figura 10: Boulevard Olímpico (Orla Conde)
Fonte: https://www.vltrio.com.br/#/ - Acesso em: 10 de maio. 2021.
É possível aproximarmos, a exemplo do que aconteceu em Havana Velha (Cuba), que a
refuncionalização da zona portuária gerou um processo de acentuação das disparidades sociais.
Na América Latina tais intervenções, lidas aqui no contexto da revitalização da zona
portuária, passa a ocorrer de forma mais acentuada nos centros urbanos e nos sítios antigos,
voltados à recuperação destas áreas para o consumo cultural, do lazer e para o turismo, e não
para o retorno das classes médias e das elites para fins residenciais, como ocorreu nos países
centrais. Embora, aqui, vemos que na verdade a zona portuária passa a ser local de moradia
precária devido ao seu abandono e das políticas higienistas promovidas por Pereira Passos, e
hoje, essas mesmas construções contrastam com as edificações robustas e modernas que
ocupam a mesma área (GONZÁLEZ; PAES, 2020).
Ainda, podemos perceber que de uma forma mais sutil, a presença de um arquétipo, em
que o simulacro criado é o aquário do Rio (AquaRio), que exerce para os seus
visitantes/turistas uma experiência de contato “direto” com o mundo marinho.
Para Fernandes (2020, p. 175), “nesta viagem por lugares reais e irreais, mas vividos,
nesta globalização que traz complexidade ao conceito de distância (e não a sua simples
compressão), é comum a encenação do que está longe e do que parece inalcançável”.
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Figura 11: Aquário do Rio (AquaRio)
Fonte: https://www.aquariomarinhodorio.com.br/ - Acesso em: 10 de maio.
Segundo Milton Santos, os objetos fixos que compõem o espaço, entendidos como
aqueles que são construídos pelo homem em determinado momento histórico, são de grande
importância, pois funcionam como legado, por sua permanência no espaço geográfico ao qual
esteja inserido, e isso ajuda a entender o espaço que temos hoje nessa região da zona portuária.
Santos, afirma que,
O passado passou e o presente é real, mas a atualidade do espaço tem isto de
singular: ela é formada de momentos que foram estando agora cristalizados como
objetos geográficos atuais; essas formas-objetos, tempo passado, são igualmente
tempo presente, enquanto formas que abrigam uma essência, dada pelo fracionamento
da sociedade total. Por isso, o momento passado está morto como tempo, não, porém
como espaço; o momento passado não é, nem voltará a ser, mas sua objetivação
não equivale totalmente ao passado, uma vez que está sempre aqui e participa da vida
atual como forma indispensável à realização social (SANTOS, 2007, p. 14).
Podemos concluir então, que a revitalização da zona portuária trouxe inúmeros avanços
no meio turístico, valorizando uma área até então degradada, aquecendo a economia local e
dando oportunidade de lazer e entretenimento, inclusive aos moradores do entorno, como do
Morro da Conceição. Sem perder a crítica, ao olharmos para a dualidade da zona portuária com
seus investimentos refletidos nas paisagens e em contraste com algumas localidades carentes,
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percebemos que esses lugares ainda sofrem com problemas típicos da ausência do Estado, a
começar pela falta de segurança pública.
Em suma, percebemos então as transformações da paisagem da zona portuária do Rio
de Janeiro ao longo da sua história. E hoje, temos uma paisagem encenada, que cumpre com a
finalidade de atender a um público que deseja usufruir de momentos de lazer e entretenimento.
Contudo, essa mesma paisagem que agrega é a mesma que segrega. Ou será que todos têm
acesso igualitário aos mesmos serviços ali oferecidos?
REFERÊNCIAS
ALLIS, T.; VARGAS, H, C. Turismo Urbano em São Paulo: reflexões teóricas e
apontamentos empíricos. Turismo em Análise, V.26, N.3, p. 496 - 517, 2015.
CIFELLI, G. Imagem, representação e dinâmica territorial do turismo em Ouro Preto e
no Pelourinho Salvador. E cadernos CES [Online], n. 15, 2012, p. 118-141.
FARIAS, Bárbara Rosendo de. Parcerias Público-Privadas na Operação Urbana
Consorciada Porto Maravilha. Trabalho de Conclusão de Curso Universidade Federal
Fluminense (UFF) - (Graduação em Geografia), Niterói 2019. P. 55.
FERNANDES, José Luís Jesus. Arquétipos e paisagens. Simulacros e anatopias geográficas
nos territórios de consumo, lazer e turismo. Revista Biblos. N. 06. . Edição. P. 169-191.
2021. https://doi.org/10.14195/0870-4112_3-6_8
GONZÁLEZ, María Karla Hernández; PAES, Maria Tereza Duarte. Refuncionalização
turística do centro histórico de Havana Velha. Mercator, Fortaleza, v.19, e 19020, 2020.
IBGE: Aglomerados Subnormais no Censo, 2010. Fonte:
https://censo2010.ibge.gov.br/agsn/ - Acesso: 10 de mai. 2021.
SANTOS, Milton. Pensando o espaço do homem. 5. ed. São Paulo: EdUSP, 2007.
SECRETARIA MUNICIPAL DE TURISMO DO RIO DE JANEIRO (SETUR/RJ)
Disponível em: http://www.rio.rj.gov.br/web/setur - Acesso: 09 de mai. 2021.