Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
MACHADO, Marcia Thaís de Oliveira; FORTUNA, Denizart; PEREIRA, Diego Carlos. ENSINO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E
O ENSINO DE GEOGRAFIA: entrevista com a Professora-Pesquisadora Larissa Lima de Souza. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 9, nº
18, pp. 168-178, maio-agosto de 2022.
Submissão em: 22/12/2021. Aceito em: 02/07/2022.
ISSN: 2316-8544
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reestruturação curricular, são envoltos em
relações de poder. Talvez seja uma via de
mão dupla; um movimento paralelo de
discussões e tensionamentos em relação a
quem está à frente da elaboração dos
documentos curriculares, muitas vezes
distanciados do chão da sala de aula.
- Quais são suas perspectivas futuras
como esse projeto desenvolvido sobre o
continente africano? Você enxerga a
possibilidade do desenvolvimento de um
trabalho mais amplo e multidisciplinar,
de forma que possa envolver toda a
escola?
O projeto para desconstruir uma
história única sobre África compartilhado
através do meu texto ocorreu em um outro
momento e contexto profissionais.
Atualmente, estou em outra rede de ensino
e trabalhando com turmas
majoritariamente brancas. Mas, em 2019,
consegui utilizar as mesmas referências de
materiais e rodas de conversa com a turma
de oitavo ano que possuía. E o resultado foi
bastante satisfatório também. Minha
perspectiva é continuar em busca de uma
prática decolonial que rompa essas
representações estereotipadas sobre a
África, os africanos e os afro-brasileiros,
devido ao caráter antirracista desse tipo de
atividade. Acredito que é possível
transformá-lo em projeto interdisciplinar,
mas a instituição em que atuo possui uma
cultura escolar bastante disciplinar e isso
pode ser uma dificuldade para a ampliação
desse projeto. No entanto, não é impossível.
- Ao entrar em uma sala de aula do setor
público no Rio de Janeiro,
principalmente na Baixada Fluminense,
os professores se deparam com jovens
mais carentes economicamente,
periféricos e em sua maioria negros.
Durante as aulas de geografia, como as
temáticas referentes ao continente
africano, no que se refere aos pontos
negativos e delicados daquela sociedade
(como a pobreza, fome, criminalização),
podem ser abordados pelo professor sem
que haja um potencial estranhamento
dos alunos que venham se identificar com
aquele cenário? Minha pergunta se dá
pelo fato de que ao abordar as temáticas
problemáticas do continente, podemos
nos deparar com realidades muito
próximas desses alunos, o que faz com
que a teoria não fique tão distante da
prática em suas vidas e que, alguns desses
alunos, podem ter bastante propriedade
sobre determinadas situações e temas
que nós, mesmo como professores e
detentores o saber teórico, jamais
teríamos a mesma propriedade ao
abordar.