Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
MACHADO, Marcia Thaís de Oliveira; FORTUNA, Denizart; PEREIRA, Diego Carlos. ENSINO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E
O ENSINO DE GEOGRAFIA: entrevista com a Professora-Pesquisadora Larissa Lima de Souza. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 9, nº
18, pp. 168-178, maio-agosto de 2022.
Submissão em: 22/12/2021. Aceito em: 02/07/2022.
ISSN: 2316-8544
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África e os africanos da mesma maneira
ou similar como foi abordado na escola
municipal de Caxias?
Primeiro, é necessário reforçar que
esse combate aos estereótipos vinculados
ao continente africano e aos africanos e
afro-brasileiros é fundamental com nossos
estudantes brancos. Esse tipo de atividade
pedagógica vai contribuir para diminuir ou
retirar a sensação de superioridade que
geralmente as pessoas brancas no Brasil
possuem. É importante lembrar que
algumas escolas privadas adotam e
respeitam mais a autonomia docente e
outras menos. Mas nada é impossível de ser
negociado. E nesse sentido, a própria Lei
10.639/03 pode ser utilizada a nosso favor.
Afinal, que coordenação ou direção vai
afirmar deliberadamente o desrespeito à
LDB?
- A outra consideração é sobre a
importância da autoria docente e do
compartilhamento das experiências.
Larissa, você termina o texto com aquele
questionamento sobre como podemos
romper com esses estereótipos da África
sem exaltar os valores eurocêntricos
como “progresso” e “modernização”, e
algo que eu tento trabalhar quando vou
produzir textos didáticos [escolares] nos
estágios, por exemplo, são as outras
possibilidades para além daquilo que já
conhecemos como “desenvolvimento”.
Mas, ainda assim, é bastante arriscado
cairmos nessas falácias de progresso e
modernização e o compartilhamento das
experiências acaba por servir como uma
contínua troca e reflexão do nosso
trabalho enquanto docente.
Obrigada pela leitura e pela
observação. Hoje, após dois anos da
apresentação dessa prática pedagógica,
também gostaria de lembrar que para
algumas sociedades africanas, como os
iorubás, a tecnologia é um domínio do orixá
Ogum. Ou seja, a inovação tecnológica não
é, em si, uma referência apenas ocidental.
Então, para minhas próximas atividades
pedagógicas, essa será uma base
importante.
- Como desconstruir estereótipos que os
alunos têm sobre África sem criar outros
estereótipos relativos ao que é moderno e
avançado?
Acho importante historicizarmos os
conhecimentos e os lugares. Por exemplo,
alguns conhecimentos e práticas de origem
africana foram fundamentais para a
construção do território brasileiro. Os