Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
SOUSA, Victor. Que rostos tem o ensino de Geografia? Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 9, nº 18, pp. 149-167, maio-agosto de 2022.
Submissão em: 19/07/2022. Aceito em: 11/07/2022.
ISSN: 2316-8544
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de abrir caminhos, de trabalhar nas entrelinhas, de ultrapassar as barreiras da opressão e da
exclusão que marginalizam diariamente um quantitativo massivo de sujeitos que são
considerados aberrações, desviantes e imorais. É insurgir pela impermeabilidade, como nos
sugere Joseli Silva (2009).
Sem dúvidas, esse não é um processo que ocorre em um curto período de tempo. Toda
mudança que tensiona a ordem (im)posta é vista com olhares suspeitos e quando se trata de
mudanças que afetam diretamente os conservadorismos, precisamos firmar os pés no chão para
que os agressivos movimentos de oposição não sejam capazes de nos fazer recuar.
O contexto do mundo atual é extremamente complexo, pois nos deparamos com a
compressão espaço-tempo, mudanças das relações sociais, conjunturas que desafiam
nossa compreensão teórica e política. Logo, não é possível focar apenas na parte de
um todo, mas sim compreender o todo pelas partes (SILVA; SOUZA, 2020, p. 159).
E, para um ensino de Geografia que se preocupe em saber para quem se está ensinando,
é preciso, primeiramente, reconhecer nossa própria existência. Milton Santos (1996), ao pensar
em uma Geografia cidadã que preze por uma epistemologia da existência, afirmou haver três
possibilidades para se trabalhar a dimensão humana: “a dimensão da corporeidade, a dimensão
da individualidade e a dimensão da socialidade” entendendo que “A corporeidade ou
corporalidade trata da realidade do corpo do homem; realidade que avulta e se impõe, mais do
que antes, com a globalização” (SANTOS, 1996, p. 9-10).
E essas dimensões não se isolam uma da outra nessas possibilidades, pois:
Enquanto a corporalidade ou corporeidade é uma dimensão objetiva que dá conta da
forma com que eu me apresento e me vejo, que dá conta também das minhas
virtualidades de educação, de riqueza, da minha capacidade de mobilidade, da minha
localidade, da minha lugaridade, há dimensões que não são objetivas, mas subjetivas;
aquelas que têm a ver com a individualidade e que conduzem a considerar os graus
diversos de consciência dos homens: consciência do mundo, consciência do lugar,
consciência de si, consciência do outro, consciência de nós. Todas estas formas de
consciência têm que ver com a individualidade e lhe constituem gamas diferentes,
tendo também que ver com a transindividualidade, isto é, com as relações entre
indivíduos; relações que são uma parte das condições de produção da socialidade, isto
é, do fenômeno de estar junto. Esse fenômeno de estar junto inclui o espaço e é
incluído pelo espaço (SANTOS, 1996, p. 10).
Portanto, uma perspectiva queer interseccional é capaz de contribuir para que possamos
refletir sobre nosso fazer geográfico enquanto existências que insurgem de diferentes
possibilidades para produzirmos o espaço social. E, para isso, não há a possibilidade de