Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
AMARAL, João Benvindo do; ALVIM, Ana Márcia Moreira. ANÁLISE DA MIGRAÇÃO INTERNA DA MESORREGIÃO DO
TRIÂNGULO MINEIRO E ALTO PARANAÍBA NOS PERÍODOS 1995-2000 E 2005-2010. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 9, nº 19,
pp. 117-142, set-dez. 2022.
Submissão em: 01/06/2022. Aceito em: 07/09/2022.
ISSN: 2316-8544
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SEÇÃO ARTIGOS
ANÁLISE DA MIGRAÇÃO INTERNA DA MESORREGIÃO DO TRIÂNGULO
MINEIRO E ALTO PARANAÍBA NOS PERÍODOS 1995-2000 E 2005-2010
ANALYSIS OF THE INTERNAL MIGRATION OF THE MESOREGION DO OF
THE TRIÂNGULO MINEIRO AND ALTO PARANAÍBA IN THE PERIODS 1995-200
AND 2005-2010
ANÁLISIS DE LA MIGRACIÓN INTERNA EN LA MESOREGIÓN DEL
TRIÂNGULO MINEIRO Y ALTO PARANAÍBA EN LOS PERÍODOS 1995-2000 Y
2005-2010
João Benvindo do Amaral
1
Universidade Federal de Uberlândia (UFU),
Minas Gerais, Brasil
e-mail: profjoaobgeo@gmail.com
Ana Márcia Moreira Alvim
2
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PUC-Minas), Minas Gerais, Brasil
e-mail: ammalvim@gmail.com
Resumo
Esta pesquisa tem como objetivo central analisar a migração interna na Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto
Paranaíba MRTMAP, nos períodos de 1995-2000 e 2000-2010. A justificativa está alicerçada na importância da
região, tanto no contexto regional, como no estadual e nacional, sendo oportuno compreender sua migração
interna, por meio de sua Taxa Líquida e Eficiência Migratória. Em termos metodológicos o trabalho foi organizado
em três etapas: i) consulta e análise de um referencial teórico acerca do conceito de migração; ii) coleta de dados
de migração, disponibilizados pelo IBGE, para os anos de 2000 e 2010 e, iii) tratamento destes, por meio dos
softwares: Statiscal Product and Service Solutions SPSS e Arcgis versão 10.1. Como resultados alcançados pôde-
se destacar que a região central da MRTMAP é a mais dinâmica em relação à migração, sendo seguida das regiões
oeste e leste; e que a maior parte dos municípios da região tem perdido habitantes para municípios de porte
demográfico maior, o que pode impactar negativamente no desenvolvimento regional da MRTMAP.
Palavras-chave
Migração; Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.
1
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. É geógrafo
na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do município de Ribeirão das Neves
(MG, Brasil). Professor de Geografia na Escola Estadual Doutor Paulo Diniz Chagas.
2
Professora Adjunta IV da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), exercendo a função
de Coordenadora do Programa de Pós Graduação Geografia - Tratamento da Informação Espacial e compõe o
Núcleo Docente Estruturante dos Cursos de Graduação em Geografia da PUC-Minas.
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AMARAL, João Benvindo do; ALVIM, Ana Márcia Moreira. ANÁLISE DA MIGRAÇÃO INTERNA DA MESORREGIÃO DO
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pp. 117-142, set-dez. 2022.
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Abstract
This research has as main objective to analyze the internal migration in the Mesoregion of the Triângulo Mineiro
and Alto Paranaíba - MRTMAP, in the periods between 1995-2000 and 2000-2010. The justification is based on
the importance of the region, both in the regional, state and national context, and it is opportune to understand its
internal migration, through its Net Rate and Migratory Efficiency. In methodological terms, the work was
organized in three stages: i) consultation and analysis of a theoretical framework about the concept of migration;
ii) collection of migration data, made available by the IBGE, for the years 2000 and 2010 and, iii) treatment of
these, through the software: Statistical Product and Service Solutions SPSS and Arcgis version 10.1. As results
achieved, it was possible to highlight that the central region of the MRTMAP is the most dynamic in relation to
migration, followed by the west and east regions; and that most municipalities in the region have lost inhabitants
to municipalities of larger demographic size, which can negatively impact the regional development of MRTMAP.
Keywords
Migration; Triângulo Mineiro; Alto Paranaíba.
Resumen
Esta investigación tiene como principal objetivo analizar la migración interna en la Mesorregión del Triángulo
Minero y Alto Paranaíba - MRTMAP, en los períodos de 1995-2000 y 2000-2010. La justificación se fundamenta
en la importancia de la región, tanto en el contexto regional, estatal y nacional, y es oportuno comprender su
migración interna, a través de su Tasa Neta y Eficiencia Migratoria. En términos metodológicos, el trabajo se
organizó en tres etapas: i) consulta y análisis de un marco teórico sobre el concepto de migración; ii) recolección
de datos de migración, puestos a disposición por el IBGE, para los años 2000 y 2010 y, iii) tratamiento de estos, a
través del software: Statistical Product and Service Solutions SPSS y Arcgis versión 10.1. Como resultados
alcanzados, se pudo destacar que la región central del MRTMAP es la más dinámica en relación a la migración,
seguida de las regiones oeste y este; y que la mayoría de los municipios de la región han perdido habitantes por
municipios de mayor tamaño demográfico, lo que puede impactar negativamente el desarrollo regional del
MRTMAP.
Palabras-clave
Migración; Triángulo Minero; Alto Paranaíba
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Introdução
A interação entre o ser humano e o espaço geográfico é percebida de várias formas, por
exemplo, como resultante da busca pela sobrevivência, abrigo e alimentação. Nesse sentido,
desde a pré-história o homem se desloca no espaço para atender essas necessidades. Seu
deslocamento leva à existência de uma rede de locais (atualmente rede de cidades), que pode
variar no tempo. Com o domínio da agricultura e da domesticação de animais o homem
começou a fixar residência, e nestes locais surgiram as aglomerações, que cresceram dando
origem às cidades. Nestas o homem pode suprir suas necessidades por bens e serviços de forma
mais rápida, especialmente naquelas que dispõem de maior rol de oferta destes. Cidades que
acabam por fazer com que perdure o deslocamento do homem no espaço, inclusive via
migração.
A migração como um processo espacial é capaz de gerar mudanças consideráveis em
uma região. Mudanças que se tornam perceptíveis quando se analisam dados como: números
de imigrantes e emigrantes, que evidenciam o poder de atração e expulsão de uma localidade;
a Taxa Líquida de Migração, que indica o quanto a migração contribui para o aumento ou
diminuição da população municipal; e por fim, o Índice de Eficiência Migratória, que permite
identificar quais municípios ou em que áreas da região predominam a evasão, a rotatividade ou
a absorção migratória.
Com esta pesquisa tem-se como objetivo principal analisar os dados demográficos da
migração interna na Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba MRTMAP
3
, nos
períodos de 1995-2000 e 2005-2010, em específico a Taxa Líquida de Migração e a Eficiência
Migratória de seus municípios. A análise destes indicadores pode contribuir não somente para
compreensão dos movimentos migratórios regionais, mas como alerta aos gestores públicos,
especialmente para aqueles envolvidos com o planejamento urbano e regional. Afinal, este visa
o desenvolvimento regional, inclusive da MRTMAP o que lhe exige conhecer a realidade dos
municípios mineiros, suas diferenças e as trocas populacionais intermunicipais. Trocas que
3
Para efeito de simplificação o nome da mesorregião, desse ponto em diante será substituído pela sigla MRTMAP.
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ocorrem pelo fato do migrante ser seletivo quando se trata do local de destino. O migrante tende
a escolher um local de destino, onde possa sobreviver e dispor de melhores condições de vida.
Isto é, ele é inclinado a migrar para lugares, hierarquicamente superiores, e que estão bem
articulados em uma rede urbana. Logo, o migrante procura também uma cidade onde seja maior
a oferta de trabalho. Por tudo isso a migração é um problema de pesquisa, ela influi diretamente
no crescimento demográfico e nas relações socioeconômicas intermunicipais e internas à
região, e mesmo externas a ela. Isso fica claro no relatório de “Desenvolvimento Humano -
2009”, promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU), cujo tema foi “Ultrapassar
barreiras: Mobilidade e desenvolvimento humanos”. Outra justificativa para a pesquisa
proposta é a escolha da unidade espacial de análise, no caso a Mesorregião do Triângulo
Mineiro e Alto Paranaíba, uma região de destaque no cenário tanto regional, quanto no estadual
e nacional.
A Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba está localizada na porção oeste
do estado de Minas Gerais, Brasil América do Sul (Figura 1). A região é formada por sete
microrregiões, a saber: Araxá, Uberaba, Uberlândia, Frutal, Ituiutaba, Patos de Minas e
Patrocínio, sendo composta por 66 municípios. Importantes rodovias que atravessam seu
território a ligando, por exemplo, as cidades de São Paulo e Belo Horizonte e à capital do país,
Brasília. As rodovias que cortam a região levam a relevantes pontos do território brasileiro
(figura 7). Com isso, a MRTMAP guarda importantes vínculos, primeiramente, com a capital
estadual, Belo Horizonte, por meio das BR 040 e BR 354, na direção leste; mas também
com a capital do estado de Goiás, Goiânia pelas BR 452 e BR 050, sendo o ponto de chegada
dessa a capital nacional, Brasília. Ademais está ligada à o mais importante polo econômico do
país, São Paulo, pelas rodovias BR’s 262 e 050 (Anhanguera) e BR’s 364 e 153. A
mesorregião também se conecta por eixos rodoviários com importantes cidades brasileiras
como Campinas, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Catalão, Anápolis, Betim e Bom
Despacho. Dessa forma, a posição da MRTMAP é estratégica nos contextos estadual e nacional,
pois está localizada em uma área central do país.
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Figura 1: Localização da Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba MRTMAP
Fonte: Os autores (2022)
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O quadro natural da MRTMAP pode ser explicado a partir de seus solos, geomorfologia,
clima, hidrografia e a vegetação. Geologicamente a região conta com solos pobres em minerais,
mas com os avanços tecnológicos, particularmente o de insumos agrícolas, os solos se tornaram
mais férteis. Além disso, sob o aspecto geomorfológico a região é majoritariamente formada
por peneplanos
4
, superfícies que dão à paisagem uma feição com pouca declividade, o que
favorece a mecanização da agricultura. O clima da região é formado por duas estações bem
definidas, uma mais seca no inverno e outra chuvosa no verão. Entre os cursos hídricos
destacam-se dois rios, o Paranaíba e o Grande (Figura 2). Quanto à vegetação a região é
composta predominantemente pelo Bioma do Cerrado. Tudo isso contribui para a compreensão
das atividades econômicas desenvolvidas nos municípios da mesorregião, afinal, seu quadro
natural é assim como sua posição geográfica, um fator de crescimento econômico.
4
Superfície plana ou levemente ondulada, resultante de um ciclo geomorfológico, cujo trabalho se realizou até a
extrema senilidade. [...] O termo peneplanície vem do inglês peneplain, e foi criado pelo geógrafo americano W.
M. DAVIS. GUERRA, A. T. GUERRA, A. J. T. Novo Dicionário Geologia - Geomorfológico. Rio de Janeiro.
Bertrand Brasil, 2006, p. 472.
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Figura 2: Localização dos principais Cursos d’água da Mesorregião do Triângulo Mineiro e
Alto Paranaíba MRTMAP
Fonte: Os autores (2022)
A economia, da Mesorregião do Triângulo e Alto Paranaíba é movida especialmente,
pelo agronegócio. Com a construção de Brasília e a Revolução Agrícola, a região tem sido vista
com grande potencial para a produção de alimentos e ganhado importância no cenário regional
e nacional, devido também a sua localização estratégica (Figura 3). Com a decadência da terra
roxa do Oeste Paulista, e também das terras no Norte do Paraná, o país necessitava de uma nova
área para o cultivo em massa, principalmente de grãos, como soja, milho, feijão e outros. Então,
foi quando, trazida por japoneses, uma nova técnica de manejo do solo revolucionou as terras
planas do Centro-oeste do Brasil. O advento do beneficiamento do solo no Cerrado
proporcionou o cultivo em larga escala de quase todos os tipos de grãos. E como o relevo é
plano, isso favoreceu a mecanização, vista com frequência em lavouras da região. Essa região
de Minas se destaca também pelo seu setor pecuário com um dos maiores rebanhos de bovinos,
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para corte, do mundo. Todas essas modernidades fomentaram e fomentam a economia na
Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.
Figura 2: Mapa de localização estratégica da Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto
Paranaíba MRTMAP
Fonte: Os autores (2022)
Aspectos Metodológicos da Pesquisa
O presente trabalho é pautado no método dedutivo, e para a compreensão do caminho
percorrido para sua realização, os aspectos metodológicos foram organizados em três etapas: a
primeira é pautada em um referencial teórico acerca do conceito de migração, para assim,
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alicerçar as análises da migração na MRTMAP. A segunda é referente aos dados coletados,
bem como suas fontes. E a terceira o tratamento desses dados.
Sobre o tema Migração, o trabalho admitiu as seguintes obras: Ravenstein (1885),
Sjaastad (1962), Lee (1966) Todaro (1970), Singer (1977), Zelinsky (1971), dentre outros, na
busca pelo conceito de Migração.
Com vistas a analisar as principais características do aspecto demográfico da migração,
foram coletados dados da população migrante por data-fixa, para os períodos de 1995-2000 e
2005-2010, junto aos Micro dados dos Censos Demográficos, de 2000 e 2010, do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, em específico, os dados da amostra. Nessa mesma
fonte também foram coletados os dados de população total, por município da MRTMAP. Para
conhecimento metodológico a migração por data-fixa é obtida, por meio de uma pergunta
contida no questionário do Universo do Censo, ou seja, todos a responderam. Ela indaga sobre
o local de residência em determinada data do passado (RIGOTTI, 1999, p. 16), no caso cinco
anos antes da data do recenseamento. Em 2000, a variável da amostra consultada foi a V0424,
cuja pessoa responde sobre qual município de residência ela estava em 31 de julho de 1995. Em
2010, a variável foi a V0626 que se refere ao município de residência em 31 de julho de 2005.
Os dados foram extraídos por meio do software Statiscal Product and Service Solutions SPSS,
versão 17
5
. Com estes dados foi possível analisar a área de estudo a partir do número de
imigrantes, emigrantes, a taxa líquida de migração e a eficiência migratória. Em especial a Taxa
Líquida de Migração
6
tenta explicar o impacto da migração na população total, sendo essa uma
importante estimativa indireta para as análises das migrações (RIGOTTI, 1999, p. 33). E
também o Índice de Eficiência Migratória
7
, usado por Thomas e Shryock, em 1941, quando
procuraram verificar se a migração é completamente eficaz (NAÇÕES UNIDAS, 1970, p. 49).
Esse índice analisa o quanto uma unidade espacial tem poder de retenção de migrantes em seu
5
Esse programa está disponível no laboratório de Geodemografia do Programa de Pós-graduação em Geografia
Tratamento da Informação Espacial da PUC Minas.
6
A Taxa Líquida de Migração é calculada pela seguinte fórmula:
100)
_
_
( X
totalPopulação
migrarioSaldo
7
O Índice de Eficiência Migratória é calculado pela seguinte fórmula:
Emigranteigrante
MigratórioSaldo
+Im
_
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território. Esse índice é dado pela razão entre o saldo migratório e a soma da emigração e
imigração. Segundo Sousa (2012)
O índice varia entre 1 e +1 e permite comparar as unidades espaciais, independente
do volume absoluto de migrantes. Quanto mais próximo de 0 é o índice,
semelhança entre as entradas e saídas e quanto mais próximo de um, a migração se
direciona para uma única direção (-1, maior emigração; +1, maior imigração)
(SOUSA, 2012, p. 36).
A partir disso, para analisar a eficiência migratória na MRTMAP, optou-se por adotar a
classificação proposta por Baeninger (2000):
-1,00 a -0,51: área de forte evasão migratória.
-0,50 a -0,30: área de média evasão migratória.
-0,29 a -0,01: área de baixa evasão migratória.
0,00 a 0,09: área de rotatividade migratória.
0,10 a 0,29: área de baixa absorção migratória.
0,30 a 0,50: área de média absorção migratória.
0,51 a 1,00: área de forte absorção migratória.
Por fim, para a produção dos mapas foi utilizado o programa Arcgis versão 10.1
8
. O
Datum utilizado foi o SIRGAS-2000. Na estruturação das legendas foram aplicadas duas
cnicas estatísticas, em especial no mapeamento da taxa quida de migração. Primeiro
determinou-se o número de classes, tendo sido aplicado o método Sturges
9
. Segundo utilizou-
se para a definição do tamanho das classes a Quebra Natural de Jenks
10
. No tocante das variáveis
visuais utilizadas, a predominante foi a cor, pois os dados são de cunho quantitativo. E para os
cálculos, a ordenação dos dados e a construção de tabelas utilizou-se o software Microsoft
Office Excel, versão 2010.
8
Esse programa está disponível no laboratório de Estudos Urbano e Regionais do Programa de Pós-graduação em
Geografia Tratamento da Informação Espacial da PUC Minas.
9
Se dá pela seguinte formulação:
2 log
N log
1K +=
, onde, “N” representa o número observações.
10
JENK, G. F. The data model concept statistical mapping. Internacional Yearbook of Cartography. v. 7,
Gutersloh, 1967, p. 186 - 190.
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Breve explanação sobre o conceito de migração
Para Lee (1966, p. 99) a migração define-se como uma mudança permanente ou
semipermanente de resistência”. para Sjaastad (1980, p. 121) a migração é vista como um
“mecanismo de equilíbrio de economias em transformação”. Na visão de Singer (1976, p. 217),
as migrações, principalmente as internas são “historicamente condicionadas, sendo o resultado
de um processo global de mudança, do qual, elas não devem ser separadas”. Golgher (2004, p.
7) explana que a migração “[...] grosso modo, [...] pode ser definida como uma mudança
permanente de local de residência e [...] o migrante é o indivíduo que morava em um
determinado município e atravessou uma fronteira deste município indo morar em outro
distinto”. Desse modo,
[...] a migração é um processo social que vai além dos mecanismos do mercado de
trabalho, no plano econômico, e se insere em uma ampla mudança social, cultural e
psicossocial, tanto individual, quanto coletiva, dentro do desenvolvimento da
sociedade moderna (GERMANI 1974 apud, BRITO, 2007, p. 9).
A partir disso, neste trabalho considerou-se migrante, aquele indivíduo que mudou de
residência entre municípios diferentes. Pois, a migração pressupõe a mudança entre municípios
e estados (migrações internas) ou mudança de país (migração internacional) (GOLGHER,
2004).
Não obstante, foi somente em 1885 que se observou o primeiro trabalho, aprofundado,
sobre o que leva as pessoas a migrarem. O alemão Ernest Georg Ravenstein, em 1885, de posse
dos resultados censitários de 1871 e 1881 da Inglaterra, Escócia e Irlanda, formulou as Leis da
Migração. Em princípio, Ravenstein identificou quatro tipos de migrantes:
a) o migrante local, no qual é aquele cujo deslocamento limita-se de uma à outra
parte da mesma cidade;
b) o migrante de curta distância, que somente se desloca para cidades
fronteiriças;
c) o migrante por etapas, no qual é aquele que, por exemplo, busca emprego de
cidade em cidade; e
d) o migrante temporário, constituído da população flutuante, por exemplo,
estrangeiros temporários, boias-frias, migração por obrigação, como nas forças
armadas e cidades universitárias (1980, p. 443-45).
A partir dessas formulações foram elaboradas sete leis para a migração, são elas:
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a) Grande parte dos migrantes se desloca a curta distância. (migração local);
b) O processo de absorção ocorre, quando uma cidade cresce e atrai migrante.
Os vazios deixados na origem são preenchidos por migrantes de outras áreas mais
distantes, que mais cedo ou mais tarde também irão migrar para a cidade em
crescimento, (migração por etapa);
c) O processo de dispersão é o inverso do de absorção e apresenta características
semelhantes;
d) Cada corrente migratória principal produz uma corrente inversa
compensatória;
e) As pessoas que migram a longas distâncias se dirigem, preferencialmente,
para grandes centros comerciais ou industriais;
f) Os naturais das cidades migram menos do que os naturais das áreas rurais de
um país; e
g) As mulheres migram mais do que os homens (RAVENSTEIN, 1980, p. 57).
Contudo, esse estudo foi duramente criticado, mas foi uma importante contribuição para
o início dos estudos sobre migração.
Em 1962, Sjaastad realizou um estudo sobre “Os custos e Retorno da Migração”. Nesse
o autor procurou “determinar os retornos advindos do investimento migratório e não apenas
relacionar as taxas migratórias ao diferencial de renda prevalente” (SJAASTAD, 1980, p. 121).
Então, quando se aumenta a renda diminui-se a saída de migrantes e aumenta a entrada. Em
especial, da população economicamente ativa jovem. Existem, em conformidade com Sjaastad
(1980), dois tipos de custos da migração, os monetários e os não-monetários. Os monetários
dizem respeito ao quanto um migrante dispõe para migrar, isto é, o valor da: distância entre
origem e destino; o número de dependentes; alimentação; moradia e o transporte (SJAASTAD,
1980, p. 127). os não-monetários são os custos de oportunidades, por exemplo, remuneração,
duração e aprendizagem. Nesses ainda existe um subitem, os quais são os custos psicológicos,
no caso a família e os amigos (SJAASTAD, 1980). Logo, é necessário equalizar os retornos
monetários e os não-monetários.
Em 1966, Everestt Lee produziu um trabalho sobre a teoria da migração, ou
simplesmente a Teoria do Push Pull. O trabalho de Lee, “Uma teoria sobre a Migração”, tenta
desenvolver uma estrutura geral para posicionar os movimentos espaciais em certa “quantidade
de conclusões com respeito ao volume das migrações, o desenvolvimento das correntes e contra
correntes e as características dos migrantes” (LEE, 1980, p. 99). Em vista de ser difícil
identificar os fatores que movem as pessoas a migrarem, ou o contrário, Lee evidência que
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AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
AMARAL, João Benvindo do; ALVIM, Ana Márcia Moreira. ANÁLISE DA MIGRAÇÃO INTERNA DA MESORREGIÃO DO
TRIÂNGULO MINEIRO E ALTO PARANAÍBA NOS PERÍODOS 1995-2000 E 2005-2010. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 9, nº 19,
pp. 117-142, set-dez. 2022.
Submissão em: 01/06/2022. Aceito em: 07/09/2022.
ISSN: 2316-8544
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“geralmente é possível expor alguns que parecem ser de especial importância” (1980, p.
100). São eles: os fatores relacionados ao local de origem, os fatores associados ao local de
destino, os obstáculos intervenientes e os pessoais. No entanto, “alguns fatores afetam a maioria
das pessoas praticamente da mesma maneira, enquanto que outros afetam pessoas distintas de
maneiras diferentes” (LEE, 1980, p. 100).
Em 1969, Todaro criou um modelo de migração, com vistas a “formular um modelo
econômico de comportamento da migração rural urbano” (TODARO, 1980, p. 152) e de
forma probabilística, “concernentes aos determinantes da demanda e da oferta de mão-de-obra
urbana” (TODARO, 1980, p. 152). Com ele, Todaro (1980) verificou que a migração ocorre
por meio de dois estágios: i) o migrante advindo do setor rural chega ao meio urbano, mas por
não dispor de qualificação adequada não consegue se inserir no mercado de trabalho urbano
tradicional (1980, p. 153); ii) com o passar do tempo o migrante tende a encontrar um emprego
no setor urbano moderno, isto é, na indústria(TODARO, 1980, p. 153). Aliado a isso, Todaro
elencou quatro pressupostos para a migração: a) o diferencial entre as rendas no meio rural e
urbano; b) um planejamento igual para todos os trabalhadores migrantes; c) os custos, fixos, da
migração são iguais para todos os trabalhadores; e d) o fator de desconto também é igual para
todos (TODARO, 1980, p. 157).
Ao contrário, Singer, em 1976, ponderou sobre as migrações internas dos países e
relacionou a migração ao capitalismo. De acordo com o autor,
[...] o processo de industrialização, implica numa ampla transferência de atividades
(e, portanto, de pessoas) do campo para as cidades. Mas, nos moldes capitalistas, tal
transferência tende a se dar a favor de apenas algumas regiões em cada país,
esvaziando as demais (SINGER, 1980, p. 222).
Singer estabeleceu dois fatores de expulsão que levam à migração: os de estagnação e
os de mudança. Os fatores de estagnação se manifestam por meio da pressão populacional na
disponibilidade de áreas cultiváveis, já o de mudança é a expulsão de agregados e parceiro que
leva ao aumento da produtividade do trabalhador (SINGER, 1980). Ou seja, é simplesmente a
expulsão de pessoas do campo para trabalhar na cidade, onde se necessita dessa força de
trabalho. O autor coloca ainda que o mais importante fator de atração é a demanda por trabalho,
basicamente pela indústria e pelo comércio e pelos serviços (SINGER, 1980, p. 226), tanto
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públicos, como privados. Assim sendo, os principais obstáculos para migrar são: qualificação,
bagagem cultural e insuficiência de recursos no destino (SINGER, 1980, p. 226). Não obstante,
esses migrantes que chegam à cidade, geralmente não se inserem de forma integral na economia
urbana e “[...] reproduzem na cidade certos traços da economia de subsistência sob a forma de
atividades autônomas, geralmente serviços como: ambulantes, carregadores, serviços de
reparação, etc” (SINGER, 1980, p. 231).
Em continuidade, em 1971, o geógrafo Zelinsky relacionou a Transição Demográfica
com a migração e formulou a Transição da Mobilidade. A Transição Demográfica, segundo
Zelinsky (1971) tem início, com a anulação dos altos níveis de mortalidade por altos níveis
fecundidade e assim entrando em equilíbrio. Contudo, com o aumento de alguns limiares de
desenvolvimento socioeconômico, existe uma baixa na fecundidade, mas que coincide com
uma baixa na mortalidade (ZELINSKY, 1971, p. 219). Além disso, ele formulou sua teoria em
cinco fases. Na primeira fase existe pouca migração residencial (a sociedade tradicional pré-
moderna); na segunda ocorre um grande volume de migração rural urbano (a sociedade de
transição precoce); na terceira intercorre uma desaceleração da migração, mas ainda existe uma
significativa migração do rural para o urbano (a sociedade de transição tardia); na quarta a
migração se estabiliza, particularmente, pela diminuição da migração rural urbano, entretanto
uma intensa migração cidade cidade (a sociedade avançada); na quinta e última fase
existirá um declínio da migração residencial com o predomínio da migração interurbana e
intraurbana (um futuro da sociedade super avançada) e um maior “controle político tanto da
mobilidade interna como externa de migrantes” (ZELINSKY, 1971, p. 230).
Por conseguinte, a migração é uma mudança constante de pessoas que saem de seu lugar
de moradia para residir em outro local diferente, sempre na busca por uma melhor condição de
vida, seja ela econômica-social ou até psicológica.
Análise e discussão dos resultados
Primeiramente, ao analisar a distribuição espacial do número de imigrantes (entrada) na
MRTMAP, para os períodos de 1995-2000 e 2005-2010, no âmbito intra-mesorregional, nota-
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se que o município de Uberlândia foi o que recebeu o maior volume de migrantes, tanto em
1995-2000, como em 2005-2010. Esse município representou 26,43%, no período de 1995-
2000 e 24,63% no 2005-2010, do total de imigrantes de toda a mesorregião. Esses dados
evidenciam o que Lee argumenta que uma taxa elevada de progresso implica em um estado de
fluxo contínuo de imigrantes, uma vez que eles respondem com rapidez ao se defrontar com
novas oportunidades (1980, p. 108). Além disso, a imigração é um aspecto positivo, pois
fomenta o desenvolvimento econômico de uma região ou município (BRITO, 2009, p. 8) uma
vez que o migrante é por si um consumidor.
No período 1995-2000 outros municípios chamaram atenção: Uberaba, Ituiutaba, Patos
de Minas e Araguari, que juntos respondiam por 21,91% dos imigrantes da região. Mas no
período 2005-2010, somente os municípios de Uberaba, Patos de Minas e Ituiutaba respondiam
por 20,58% do total de imigrantes da região.
Contudo, quando se analisa a mudança de um período a outro, é necessário ressaltar que
o município de Araguari perdeu sua posição para Araxá, que recebeu 3,23% dos imigrantes,
contra 3,04% de Araguari. No caso de Araxá, o aumento de sua participação se deu inclusive
devido à sua evolução, no que se refere ao desenvolvimento socioeconômico, possibilitando
aumentar seu poder de atração de migrantes. Isso se deve, segundo Lee, por que “as migrações
são seletivas em razão dos indivíduos responderem de formas diferentes à série de fatores
positivos e negativos, prevalecentes nos locais de origem e de destino” (LEE, 1980, p. 112).
Assim, quando se analisam o número de imigrantes, nota-se que na porção leste da
região, a qual é a considerada como Alto Paraíba, o município que mais atrai migrantes é Patos
de Minas, citado anteriormente. Entre os demais dessa região, ocorreu uma diminuição no
volume de imigrantes entre os anos estudados. Em 1995-2000 destacavam-se, pelo número de
imigrantes, os municípios de: Coromandel, Monte Carmelo, Patrocínio, Perdizes, Araxá, Ibiá e
São Gotardo. Em 2005-2010, desses mantiveram-se com um número relevante de imigrantes,
somente Araxá, Patrocínio e Monte Carmelo. Logo, se antes eram sete, os de destaque nesta
porção, quanto ao número de imigrantes, recentemente esse número caiu para somente três. Isso
vai de encontro ao que Singer (1980) explana, pois para ele as migrações internas são
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dispositivos que redistribuem, de forma espacial, a população que se ajusta ao rearranjo espacial
das atividades de cunho econômico.
Outra constatação relevante é a localização dos municípios com os menores percentuais
de imigrantes, da porção leste estão. Tanto em 1995-2000, como em 2005-2010, grande parte
desses estão localizados na fronteira com os municípios mais centrais, no caso Uberlândia,
Uberaba e Araguari. Uma explicação para isso é que devido a essa proximidade, os imigrantes
têm preferência por se deslocar para esses, os quais são, dentro da MRTMAP, mais
desenvolvidos economicamente.
Na porção oeste da mesorregião, que pode ser denominada como Pontal do Triângulo,
o destaque em ambos os períodos foi o município de Ituiutaba, que mais recebeu migrantes.
Contudo, no primeiro período estudado outros quatro municípios também se destacaram, são
eles: Monte Alegre de Minas, Campina Verde, Iturama e Frutal. E ao contrário do que ocorreu
na porção do Alto Paranaíba, houve um aumento do número de municípios com maior poder
de atração de migrantes. Além dos citados, se agregam a eles, em 2005-2010, Tupaciguara,
Prata e Santa Vitória. Ainda, na extremidade oeste da mesorregião os municípios de
Carneirinho, Limeira do Oeste e União de Minas são os que mais atraíram migrantes no período
de 2005 a 2010. Já no extremo norte desta porção, em ambos os períodos foram mais atrativos,
os municípios de Ipiaçu, Cachoeira Dourada, Capinópolis, Centralina e Araporã. Com isso,
pode-se apontar que entre um período e outro a porção oeste da região recebeu mais migrantes
que a leste, ou seja, sua dinâmica de desenvolvimento está mais acelerada que a do leste.
Além do número de imigrantes faz-se necessário verificar o número de emigrantes
(saída) no âmbito interno da mesorregião, ou seja, o número de pessoas que deixaram os
municípios da mesorregião em direção a outros dessa.
Novamente, assim como na imigração Uberlândia é o município que apresenta que mais
se saída de migrantes. Esse fato ocorre devido ao migrante até conseguir trabalho nesse
município, todavia devido ao preço da terra (alguém ou compra de imóvel para moradia), este
migrante tende a procurar municípios com preços de moradia mais atrativos. Entretanto não é
só Uberlândia que destaca neste cenário.
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Logo após, os municípios que se destacaram na expulsão de migrantes, nos períodos
estudados, foram Uberaba e Araguari. Fato esse que condiz com as colocações sobre push-pull
de Lee, pois os migrantes respondem de formas diferentes aos fatores positivos e negativos, nas
respectivas origens e destinos, isto é, o migrante é seletivo (1980, p. 112). Isso quer dizer que
muitos migrantes chegam a Uberaba, Patos de Minas, Ituiutaba, dentre outros, mas não
conseguem oportunidades para sobreviver, assim sua tendência é mudar para outro município
e/ou porção da mesorregião.
Agora na porção leste os principais municípios que mais expulsaram migrantes, entre
1995-2000, foram Patos de Minas, Patrocínio e Araxá. Entre 2005-2010, se junta a esses, o
município de Monte Carmelo, como município que mais expulsa migrantes. Vale ressaltar, que
os municípios do primeiro período são os mais desenvolvidos dessa porção da região. Em
seguida, no primeiro período, Coromandel, Ibiá, Estrela do Sul, Perdizes, Lagoa Formosa e
Carmo do Paraíba, Monte Carmelo e São Gotardo, também se destacaram, por seus níveis de
emigração relevantes. no segundo período não houve mudança no número de municípios que
tiveram um nível de emigração relevante, ou seja, continuaram sendo oito. Essas cidades são
consideradas de pequeno porte e não dispõem de mecanismos para fixação dos migrantes.
Na porção oeste o que se pode notar é uma mudança evidente, especialmente no caso
de Ituiutaba que no primeiro período expulsou muitos migrantes, mas no segundo absorveu
mais. para os demais municípios da porção oeste, pouco mudou entre os períodos de 1995-
2000 a 2005-2010. As mudanças mais perceptíveis foram em Guirinhatã, Monte Alegre e
Centralina, que diminuíram sua participação na emigração da região entre 1995-2000 e 2005-
2010 e Conceição das Alagoas que aumentou, no mesmo período. Porém somente analisar a
migração pelo número de imigrantes e emigrantes não exprime todas as principais característica
da migração na MRTMAP. Assim, é necessário analisar outros índices, como o impacto da
migração na população total, ou seja, a Taxa Líquida de Migração.
Com isso, primeiramente a Taxa Líquida de Migração (Figura 2) evidencia, nos dois
períodos estudados, uma perda de participação da migração na população total do município de
Uberlândia. A migração era responsável por 2,05% do incremento populacional, e a posteriori
somente por 1,04%. Isso mostra uma perda de população, para outros municípios da região.
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Esses dados vão de encontro com o que Golgher (2004) afirmou: “a força maior no processo
migratório seria proveniente da atração do novo local de moradia e não da baixa qualidade de
seu local atual de moradia” (GOLGHER, 2004, p. 34). Uberlândia, polo regional, em especial
na oferta de bens e serviços especializados, certamente apresenta “qualidades”, mas outros
também sendo inclusive mais atraentes o que decorre não somente da “qualidade do local”, mas
também do menor custo de vida neles se comparados ao do polo regional.
nos municípios com população entre 100.001 e 300.0000 mil habitantes, a taxa
líquida de migração foi pouco alterada de um período a outro (Figura 2). No município de
Uberaba, em 1995-2000, a taxa ficou em 0,64% e diminuiu para 0,61%, em 2005-2010. Em
Patos de Minas a taxa, no período de 1995-2000 era de -0,17%, contribuiu para diminuição do
porte demográfico do município. Em contraponto no período de 2005-2010, essa passou para
0,25%, ou seja, a migração contribuiu para o aumento do porte demográfico de Patos de Minas.
No caso de Araguari, nos dois períodos, a taxa foi negativa, -0,46% no período 1995-2000, e -
0,31% no período 2005-2010. Isso ocorre, devido à proximidade com Uberlândia, pois ao
mesmo tempo em que essa grande cidade perde migrantes, ela também tem grande atratividade,
devido a qualidade de vida que ela oferta, além de um setor de comércio e serviços robusto, o
qual demanda significativa mão-de-obra. Segundo Newbold, de forma geral, os migrantes
preferem migrar para locais que lhes tragam conforto e maiores oportunidades econômicas
(2012, p. 461), estas certamente assim são no polo regional.
Em continuidade, entre os municípios com população entre 50.000 e 100.000 mil
habitantes, as taxas negativas foram mais evidentes, nos dois períodos (Figura 2). Em Ituiutaba
e Araxá, por exemplo, as taxas, em 1995-2000, foram de -2,68% e -1,28%, respectivamente,
passando em 2005-2010 para -1,09% e -0,44%. Os municípios de Patrocínio e Frutal, em 1995-
2000, -1,44% e -0,13%, e em 2005-2010, -1,85% e -0,47. Vale ressaltar, que todas estas sedes
municipais (cidades) são de significativa importância para a MRTMAP; são cidades de porte
médio.
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Figura 2: Mapa da Taxa Líquida de Migração dos municípios da MRTMAP
Fonte: Os autores (2022).
Na classe seguinte, de municípios entre 20.001 e 50.000 mil habitantes é necessário
pontuar alguns aspectos importantes. O município de Tupaciguara passou de uma taxa de -
4,12%, em 1995-2000, para 0,12%, em 2005-2010. Por outro lado, têm-se os municípios de
Monte Carmelo e Ibiá, onde o primeiro tinha uma taxa de 0,66% em 1995-2000, e passou para
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-1,85%, em 2005-2010; o segundo passou de 2,83% em 1995-2000, para -2,19%, em 2005-
2010. Com isso, verifica-se que as oportunidades para onde migrar não se encontram
distribuídas igualmente no espaço, como afirma Lee (1966, p. 106).
Quanto aos municípios com população entre 10.001 e 20.000 mil habitantes, três
chamam a atenção. O primeiro é Planura, que em 1995-2000 detinha uma taxa de -4,75%,
passando para 1,06%, em 2005-2010. O segundo é o caso de Monte Alegre de Minas, cuja taxa
era de -1,42%, em 1995-2000, e esse passou a ter uma taxa de 3,23%, em 2005-2010. E o
terceiro foi Santa Vitória, que em 1995-2000 tinha uma taxa de -4,29%, e passou para 2,73%,
em 2005-2010, um aumento expressivo, mesmo com uma população total de 18.138 mil
habitantes em 2010.
E em relação os municípios da última classe, entre 1.373 e 10.000 mil habitantes, a
migração pode atuar de forma mais evidente. Pode-se pontuar a situação de oito municípios, de
forma mais evidente. A migração nesses municípios teve papel considerável no aspecto
demográfico de: Campo Florido, Pirajuba, Cascalho Rico, Cachoeira Dourada e Estrela do Sul.
O destaque é o último, que em 1995-2000, tinha uma taxa de -9,15%, passando para 3,98%, em
2005-2010. Em Iraí de Minas, Cruzeiro da Fortaleza e Indianópolis, houve uma diminuição da
participação da migração em suas respectivas populações. O último município (Indianópolis),
em 1995-2000, detinha uma taxa de 1,04%, com uma população total, em 2000, de 5.387 mil
habitantes, e passou para -7,87%, em 2005-2010, levando em conta uma população total, em
2010, de 6.190 mil habitantes. A partir disso é necessário também analisar a evasão, a
rotatividade ou a absorção migratória, isto é, a Eficiência Migratória da região.
A eficiência migratória permite verificar quais unidades espaciais tem evasão,
rotatividade ou absorção migratória, pois em seu cálculo leva-se em consideração o saldo
migratório e o volume total da migração (Figura 3). Como primeira análise da eficiência
migratória, na MRTMAP, é necessário colocar que existe uma mudança significativa do
período de 1995-2000, em relação ao 2005-2000. Isso devido ao aumento significativo do
número de municípios com evasão migratória, de um período a outro, fazendo com que a maior
parte desses tenha eficiência negativa, em especial no período 2005-2000. Entretanto também
há o que se explanar sobre a rotatividade e a absorção migratória na região.
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Figura 3: Mapa do Índice de Eficiência Migratória dos municípios da MRTMAP
Fonte: Os autores (2022).
Assim, em primeiro lugar, no período entre 1995 e 2000, sobre a evasão migratória, dos
66 municípios da região, 25 tinham evasão, e no período de 2005 a 2010 esse número aumentou
para 40 municípios. A partir disso, pode-se pontuar que os fluxos e refluxos migratórios tendem
a ocorrer em correntes definidas entre a origem e o destino, na MRTMAP. Com isso, em relação
às áreas de forte evasão migratória, em 1995-2000, os principais municípios foram Uberlândia,
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TRIÂNGULO MINEIRO E ALTO PARANAÍBA NOS PERÍODOS 1995-2000 E 2005-2010. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 9, nº 19,
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Submissão em: 01/06/2022. Aceito em: 07/09/2022.
ISSN: 2316-8544
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Água Comprida e Delta. Vale lembrar que os dois últimos têm populações relativamente
pequenas, respectivamente 2.092 e 5.065 mil habitantes. Diferente de Uberlândia, que em 2000
tinha uma população residente total de 501.214 mil habitantes.
Nesse sentido, a classe na figura 3 que mais detém municípios é a de baixa evasão
migratória, tendo 27 municípios, em 1995-2000 e 2005-2010. Quando a evasão analisada, por
meio das diferentes porções da MRTMAP é possível verificar que na porção leste (Alto
Paranaíba) eram 10 municípios em 1995-2000, e em 2005-2010, 14, na área de baixa evasão
migratória. Isso evidencia uma perda da dinâmica migratória dessa porção. na porção oeste
(Pontal do Triângulo) eram 15 municípios em 1995-2000 e 12 em 2005-2010. Então, pode-se
afirmar que, apesar da porção leste ter se apresentado ser mais dinâmica, em 1995-2000, no
período seguinte foi à porção oeste que chamou a atenção por ter apresentado diminuição das
perdas migratórias e se tornar uma região de absorção migratória. Isso ocorre também devido
aos fatores, como expõe Lee (1966), intervenientes, em específico os econômicos e de renda.
Em seguida, dentro do nível de absorção migratória, em específico nas áreas de baixo
nível de absorção, esse é o que detém o maior número de municípios da mesorregião, nos dois
períodos, sendo 16 municípios em 1995-2000 e 2005-2010. O que muda é o número de
municípios com baixa absorção migratória em cada porção da mesorregião. Na porção central,
onde se encontram Uberlândia, Uberaba e Araguari, em 1995-2000, somente Uberaba tinha
baixa absorção migratória; em 2005-2010 Uberlândia se junta a Uberaba, como município de
baixa absorção. Isso pode evidenciar uma saturação, no que se refere, a absorção de migrantes
nas duas maiores cidades da MRTMAP. Na porção leste, em 2005-2010, 12 municípios
apresentaram baixa absorção migratória, enquanto em 2005-2010 eram somente seis. Na porção
oeste eram em 1995-2000, semente três municípios e em 2005-2010 era oito. Do mesmo
modo, pode-se colocar que a capacidade de absorção migratória da região oeste se ampliou de
forma significativa, de um período a outro. Contudo, na região leste ocorreu o inverso a
perda, de absorção migratória.
Faz-se importante também identificar aqueles municípios que ao mesmo tempo
absorvem, mas também tem evasão migratória, isto é, o que têm rotatividade migratória. Em
1995-2000 eram oito municípios nessa situação. Na porção oeste, três: Ipiaçu, Cachoeira
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AMARAL, João Benvindo do; ALVIM, Ana Márcia Moreira. ANÁLISE DA MIGRAÇÃO INTERNA DA MESORREGIÃO DO
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Dourada e Conceição das Alagoas e na porção leste, cinco: Coromandel, Monte Carmelo,
Indianópolis, Pedrinópolis e Pratinha. Já em 2005-2010 somente quatro tinham rotatividade
migratória, Patos de Minas e Delta na porção leste e Tupaciguara e Limeira do Oeste na porção
oeste.
Tudo isso demonstra que os fatores de expulsão estão prevalecendo sobre os de atração,
na maior parte dos municípios da região. Talvez devido à crise econômica de 2008 que atingiu
o agronegócio, principal articulador da sinergia regional da MRTMAP. Com a crise os fatores
negativos refletiram de forma mais forte na migração dos municípios da MRTMAP. Logo,
devido à importância que essa região tem, tanto em nível estadual, como nacional
possivelmente ela apresentará, no próximo censo, números de migração mais promissores.
Considerações Finais
Os movimentos migratórios modificam a dinâmica regional podendo alterar o nível de
desenvolvimento de seus municípios e mesmo da região como um todo. Isso engendra
mudanças na própria articulação da rede urbana de seus municípios e da região com outras em
rede. Assim, o papel da migração na MRTMAP ganha significativa importância.
A partir disso, na bibliografia consultada ficou evidente que o conceito de migração está
atrelado ao comportamento do migrante. E também que a migração tem um papel fundamental
nas análises regionais, especialmente relativas às questões urbano-regionais, como foi
exemplificado nesta pesquisa na MRTMAP.
Desse modo, na MRTMAP, quando analisada por meio dos dados de imigrantes e
emigrantes, por município, fica evidente a questão econômico-social imperando. Nessa
perspectiva, o migrante nem sempre consegue se estabelecer no seu local de destino. Assim,
depois de algum tempo a tendência é migrar novamente ou retornar ao local de origem. Isso é
claro na MRTMAP, pois assim como alguns dos principais municípios da região recebem
muitos migrantes, eles também os expulsam.
Além disso, a partir dos dados analisados pode-se evidenciar que a região central da
MRTMAP é a mais dinâmica em relação a migração. Em um segundo plano tem-se a porção
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oeste que entre os decênios estudados, alguns municípios deixaram de ser expulsadores para
tornarem-se recebedores. Ao contrário da porção leste que tem um número importante de
municípios que expulsam população.
Do mesmo modo, como se pôde-se verificar, ao tratar e representar cartograficamente
os indicadores de migração expostos nesta pesquisa, na região de estudo, é notório que a maior
parte dos municípios tem perdido migrantes. Perda constatada principalmente quando foram
analisadas as Taxas Líquidas de Migração, ou seja, cada vez mais, a migração tem um papel
secundário no crescimento populacional da região. Aspecto esse também constatado por meio
do índice de eficiência migratória, pois em 2000, 37% dos municípios apresentaram evasão de
população, em 2010 mais de 45%.
Assim, como uma pesquisa futura pode-se verificar a relação das atividades econômicas
da região, no caso o agronegócio, e o meio ambiente da região.
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