Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
ARVELOS, Teófilo Teles Pereira de. Escavando lugares. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 9, nº 18, pp. 179-181, maio-agosto de 2022.
Submissão em: 17/07/2022. Aceito em: 12/08/2022.
ISSN: 2316-8544
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arquitetônico, ambiente construído. Mas persiste enquanto ideia. Demoliu-se cada significante
de alvenaria, apagaram-se mesmo as rugosidades, mas parece restar o lugar: ainda há memória.
Na Comunidade do Quilombo, busquei escavar lugares pretéritos, os quais, porém,
revelaram-se menos pretéritos do que imaginei. Na localidade e arredores, havia, sim, vestígios
materiais de tempos passados: um muro de pedra, contornos do que foi um fosso. Mas eram
escassas e esparsas as rugosidades dos lugares que eu buscava desvendar. Não obstante, supus
que, assim como resistiram nos topônimos marcas do que eu procurava, como em “Escola
Municipal Quilombo do Ambrósio”, “Morro do Espia” e “Córrego do Quilombo”, também
deveriam resistir marcas no que Milton Santos chama de psicoesfera: o resultado imaterial de
crenças, desejos, vontades e hábitos, muitas vezes advindos do passado, que inspiram relações
interpessoais e comportamentos filosóficos e práticos no presente.
— Eu que agradeço, por falarem de vocês para mim.
Comecei a escavar lugares, portanto, a partir de entrevistas. Conversando com gente
que morava no povoado e nas proximidades, perguntei sobre o que sabiam do Quilombo do
Ambrósio, que no século XVIII se instalou no que hoje é parte dos municípios mineiros de Ibiá
e Campos Altos. Deparei-me com mais desconhecimento que saber, com mais esquecimento
que memória. Do que colhi de relatos, desconfio que encontrei mais ficção que realidade, mas
não encarei isso como um problema. Versões dissonantes sobre eventos e lugares podem revelar
muitas coisas: manipulações, transformações discursivas, mudanças na psicoesfera, dinâmicas
socioespaciais.
É certo que a ensaísta canadense Lise Bourbeau (e não Freud, como erroneamente se
atribui) certa vez disse, e com razão, que aquilo que Pedro pensa de Paulo diz mais sobre o
primeiro que sobre o segundo. Em meu trabalho de campo, eu não investigava Pedro (as pessoas
que entrevistei), mas Paulo (os lugares quilombolas do passado); sem embargo, os relatos e os
silêncios que registrei me foram muito úteis, porque me fizeram pensar no que está por trás, ou
entre: o discurso, o poder. Nenhum relato ou silêncio é vazio; todos têm conteúdo.
A Comunidade do Quilombo, ao contrário do que o nome sugere, não é uma
comunidade quilombola, nem de jure, nem de facto. Com efeito, percebi mais estranhamento
que pertencimento por parte de seus moradores quando o assunto é a história e a formação