Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
RODRIGUES, Rennan Moraes; OLIVEIRA, Rachel Facundo Vasconcelos de; SANTOS, Yago Oliveira dos. A Dinâmica do Fluxo Migratório
de População com Alto Grau de Instrução em Duas Regiões Metropolitanas Brasileiras: Fortaleza-CE e Vitória-ES. Ensaios de Geografia.
Niterói, vol. 9, nº 19, pp. 143-172, set-dez de 2022.
Submissão em: 28/06/2022. Aceito em: 10/08/2022.
ISSN: 2316-8544
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SEÇÃO ARTIGOS
A DINÂMICA DO FLUXO MIGRATÓRIO DE POPULAÇÃO COM ALTO GRAU DE
INSTRUÇÃO EM DUAS REGIÕES METROPOLITANAS BRASILEIRAS: Fortaleza-
CE e Vitória-ES
THE DYNAMICS OF THE MIGRATION FLOW OF POPULATION WITH A HIGH
LEVEL OF EDUCATION IN TWO BRAZILIAN METROPOLITAN REGIONS:
Fortaleza-CE and Vitória-ES
LA DINÁMICA DEL FLUJO MIGRATORIO DE POBLACIÓN CON ALTO NIVEL
DE EDUCACIÓN EN DOS REGIONES METROPOLITANAS BRASILEÑAS:
Fortaleza-CE y Vitória-ES
Rennan Moraes Rodrigues
1
Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES), Espírito Santo, Brasil.
e-mail: rmoraesrodrigues@gmail.com
Rachel Facundo Vasconcelos de
Oliveira
2
Universidade Federal do Espírito
Santo
(UFES), Espírito Santo, Brasil.
e-mail: rachelfacundo29@gmail.com
Yago Oliveira dos Santos
3
Universidade Federal do Espírito
Santo
(UFES), Espírito Santo, Brasil.
e-mail: yago.o.santos@edu.ufes.br
1
Mestre em Geografia pelo Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES).
2
Estudante de Doutorado em Geografia do programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do
Espírito Santo (UFES). Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES).
3
Estudante de Mestrado em Geografia no Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do
Espírito Santo (UFES). Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES).
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Resumo
Este artigo buscou tratar sobre os fenômenos migratórios, levando em conta fatores econômicos associados com o
debate inserido numa análise macroestrutural. Nesse sentido, serão apresentadas reflexões sobre o deslocamento
de pessoas qualificadas, aquelas com ensino superior completo e que atuam em ocupações relacionadas à sua
formação, tendo como recorte as qualificadas que vivem na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e na Região
Metropolitana da Grande Vitória (RMGV). Como metodologia, utilizaram-se os dados do Censo Demográfico de
2010, a partir de suas variáveis de migração data fixa, renda, escolaridade, faixa etária, condição de moradia
(habitação própria quitada ou financiada, alugada ou outras condições), tempo de moradia, preço médio de aluguéis
em salários mínimos e distribuição espacial dos migrantes segundo local de moradia. Com base nos resultados, foi
possível destacar o comportamento dos migrantes qualificados e não qualificados na produção do espaço em ambas
as metrópoles, utilizando as informações sobre preço do aluguel e as condições de moradia. Espera-se que o artigo
apresente contribuições relevantes sobre o debate envolvendo migração, população qualificada e produção do
espaço no Brasil.
Palavras-Chave
Deslocamentos Migratórios; Produção do Espaço; População Qualificada.
Abstract
This article sought to deal with migratory phenomena, taking into account economic factors associated with the
debate inserted in a macrostructural analysis. In this sense, reflections on the displacement of qualified people will
be presented, those with complete higher education and who work in occupations related to their training, focusing
on the qualified people who live in the Metropolitan Region of Fortaleza (RMF) and in the Metropolitan Region
of Greater Vitória (RMGV). As a methodology, data from the 2010 Demographic Census were used, from its
migration variables, fixed date, income, education, age group, housing condition (own housing paid off or
financed, rented or other conditions), time of residence, average rental price in minimum wages and spatial
distribution of migrants according to place of residence. Based on the results, it was possible to highlight the
behavior of skilled and unskilled migrants in the production of space in both metropolises, using information on
rent prices and housing conditions. It is expected that the article will present relevant contributions to the debate
involving migration, qualified population and production of space in Brazil.
Keywords
Migratory Displacements; Space Production; Qualified Population
Resumen
Este artículo buscó abordar los fenómenos migratorios, teniendo en cuenta factores económicos asociados al
debate inserto en un análisis macroestructural. En este sentido, se presentarán reflexiones sobre el desplazamiento
de personas calificadas, por lo tanto, aquellas con educación superior completa y que trabajan en ocupaciones
relacionadas con su formación, teniendo como corte a las personas calificadas que viven en la Región
Metropolitana de Fortaleza (RMF) y en la Región Metropolitana de la Gran Vitória (RMGV). Como metodología
se utilizaron datos del Censo Demográfico 2010, de sus variables de migración, fecha fija, ingreso, escolaridad,
grupo de edad, condición de vivienda (vivienda propia pagada o financiada, alquilada u otras condiciones), tiempo
de residencia, alquiler promedio precio en salarios mínimos y distribución espacial de los migrantes según lugar
de residencia. Con base en los resultados, fue posible destacar el comportamiento de los migrantes calificados y
no calificados en la producción del espacio en ambas metrópolis, utilizando información sobre precios de alquiler
y condiciones de vivienda. Se espera que el artículo presente contribuciones relevantes para el debate sobre
migración, población calificada y producción de espacio en Brasil.
Palabras-clave
Desplazamientos Migratorios; Producción Espacial; Población Calificada
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Introdução
Os estudos migratórios apresentam uma variedade de possibilidades reflexivas,
abrangendo diferentes escalas e grupos populacionais. Este artigo traz um enfoque específico
nos indivíduos escolarizados, que consideramos como sendo aqueles com pelo menos ensino
superior completo e que realizaram deslocamentos migratórios para duas áreas metropolitanas
do Brasil, sendo elas a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e a Região Metropolitana da
Grande Vitória (RMGV).
Desta forma, iremos estudar sobre atração de sujeitos exercida por estas duas regiões
metropolitanas levando em contas variáveis como: com maior grau de instrução devido a
melhores níveis salariais e número maior de oportunidades de trabalho, bem como melhores
índices de qualidade de vida mesmo sabendo que cada uma das regiões metropolitanas
apresenta suas particularidades tendo como base os dados dos Censos de 1991, 2000 e 2010.
Diante exposto, apresentamos os seguintes questionamentos que nortearão a discussão
deste artigo: quais são as semelhanças e diferenças no perfil dos imigrantes escolarizados que
residem na RMF e na RMGV? Quais são a dinâmica e a distribuição espacial da migração desse
grupo populacional no espaço urbano? Como esse tipo específico de migração está inserido na
produção do espaço das metrópoles?
Com base em tais problemáticas, nosso objetivo consiste em analisar os movimentos
migratórios de sujeitos com alto grau de instrução entre a RMF e a RMGV, buscando analisar
como ocorrem as diferenças e semelhanças do perfil migratório em cada uma das duas regiões
metropolitanas (RMs) pesquisadas. Assim, é possível mostras características e perfis ligados a
questões socioeconômicas e estruturais do processo migratórios das duas Regiões
metropolitanas situadas em localidades regionais distintas do país.
A escolha pela análise comparativa resulta do fato de as Regiões Metropolitanas
contarem com duas capitais brasileiras e estarem em regiões diferentes do país, com dinâmica
migratória diferenciada ao longo do tempo. Primeiramente, a hipótese que adotamos é a de que,
apesar da diferença em relação à forma como essas Regiões metropolitanas estão inseridas no
contexto urbano-regional brasileiro que tem culminado em dinâmicas migratórias tão
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desiguais em relação aos movimentos internos, principalmente de grupos populacionais
específicos, como os mais escolarizados (ou seja, com formação e capacitação mais
qualificadas) , elas acabam reverberando dinâmicas que se assemelham com os resultados dos
condicionantes da migração intrametropolitana a serem distintos de outras modalidades
migratórias.
Em seguida foi realizado um resgate de trabalhos que abordam a migração e sua relação
com os aspectos econômicos e com as pessoas qualificadas. Na terceira seção serão
apresentadas as características da migração de pessoas qualificadas para as regiões
metropolitanas de Fortaleza-CE e Vitória-ES.
Por último, em uma quarta seção, a partir das considerações relacionadas à migração
como um fenômeno variado, de acordo com os perfis (qualificados ou não qualificados) e com
as diferenças regionais, foi possível observar certos padrões que nos ajudam a pensar
universalmente o fenômeno. Evidencia-se que a tendência observada por meio dos dados
analisados foi a de migrantes qualificados se concentrarem mais em áreas centrais das
metrópoles, principalmente devido a possuírem uma condição financeira melhor; em geral, não
se observou grande discrepância na distribuição espacial entre as duas capitais metropolitanas,
mesmo estando em regiões diferentes.
O artigo mostra que o fenômeno migratório possui uma realidade bastante heterogênea,
na medida em que expõe as complexas dinâmicas do perfil populacional dos migrantes, levando
em conta determinados espaços distintos.
A migração interna: do século XX aos desafios do início do XXI
As migrações internas em território brasileiro ao longo do século XX e início do século
XXI retrataram diversas dinâmicas e processos socioespaciais que foram resultado de
transformações políticas, sociais, econômicas e culturais. Brito; Horta e Amaral (2001)
apresentam tais movimentos ao longo de todos esses períodos, e a cada década representada
por mapas é possível apreender as complexidades que os fluxos apresentaram.
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As migrações internas tornaram-se expressivas após a década de 1930, principalmente
por causa das políticas industriais e de concentração nas grandes cidades brasileiras, com maior
presença no Sudeste (BRITO; HORTA; AMARAL, 2001). As migrações nesse período foram
intensificadas pelo êxodo rural, no qual cerca de 28 milhões de pessoas saíram do campo em
direção à cidade entre as décadas de 1950 e 1970 (BAENINGER, 2012 apud MARTINE;
CAMARGO, 1984). Contudo, Singer (1998) pontua que as pessoas não decidiram
aleatoriamente ir para as áreas urbanas, uma vez que houve condicionantes estruturais que
impactaram diretamente as áreas rurais, como os baixos investimentos para o desenvolvimento,
que levaram essas áreas a passarem por uma estagnação econômica, além de mudanças que
ocorreram em toda a estrutura de produção das áreas rurais, como a mecanização do trabalho.
Assim, essas transformações no campo fizeram com que a população brasileira
começasse a ter um novo lugar de residência: as áreas urbanas (SANTOS 2018). As migrações
de caráter rural-urbano eram caracterizadas pelos movimentos inter-regionais, nos quais se
destacam os grandes fluxos migratórios saindo do Nordeste em direção ao Sudeste (BRITO
2009).
Devido aos movimentos migratórios da população brasileira em direção aos espaços
urbanos entre as décadas de 1950, 1960 e 1970, inaugurou-se um novo sentido para as
migrações internas; os movimentos rural-urbano (longa distância) decaíram, e emergiu um
novo padrão migratório, no qual houve a intensificação dos fluxos urbano-urbano (curta
distância) (PACHECO; PATARRA, 1997; VALE; LIMA; BONFIM, 2012).
Com a crise econômica da década de 1980
4
, acentuou-se a importância das migrações
de curta distância, e os movimentos migratórios arrefeceram as migrações de longa distância
(inter-regionais), fazendo com que as primeiras (intrarregionais) obtivessem uma maior
relevância (BAENINGER, 2012).
Cunha e Baeninger (2007) expõem que nesse período houve uma maior desconcentração
econômica, acarretando uma desconcentração demográfica dos polos que receberam grandes
4
“A década de 1980, por sua vez, trouxe mudanças em todo o país decorrente da crise econômica juntamente com
o aumento das deseconomias de aglomeração nas grandes metrópoles, com forte destaque para a Região
Metropolitana de São Paulo (RMSP)” (BASTOS; MARIONI, 2011, p. 6).
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contingentes populacionais nas décadas anteriores. Isto posto, é visto que houve alterações na
dimensão espacial no que tange ao desenvolvimento brasileiro (PACHECO; PATARRA,
1997).
O país, desde a década de 1980, passa por transformações estruturais e uma
desconcentração industrial que reverbera nas tendências migratórias internas do país como é
o caso da modalidade da migração de retorno, que se intensificou significativamente nesse
período , bem como no aumento dos movimentos intrarregionais que surgiram nesse período,
revelando novas lógicas e “espaços de migração” (BAENINGER, 1999).
Cunha (2005) expõe, a partir do Censo de 1991, que os fluxos migratórios intraestaduais
e interestaduais evidenciam as relações existentes entre as áreas metropolitanas (ou grandes
aglomerações urbanas) e as não-metropolitanas (como as pequenas cidades); ainda os
intrametropolitanos, que se reproduzem com formas semelhantes em praticamente todas as
áreas metropolitanas do país, muito embora não necessariamente com os mesmos
condicionantes.
Dessa forma, é visualizada ainda mais uma complexificação dos movimentos
migratórios, uma vez que estavam concorrendo diversos tipos de movimentos, em diversos
níveis escalares. Assim, como são colocadas, por Cunha e Baeninger (2007), as abordagens da
virada da década de 1990 para o século XXI apresentaram desafios ainda maiores em relação
às discussões teóricas anteriores, considerando que alguns processos persistiram na virada do
século e que surgiram novidades, sendo registradas transformações no volume migratório e no
panorama das principais áreas de atração e expulsão demográfica do Brasil.
Singer (1998) afirmou que o fenômeno migratório do final do século XX possui
determinadas especificidades relacionadas ao processo de reestruturação socioespacial nas
áreas urbanas nos setores econômicos que indicam sua complexidade, evidenciando o seu
importante papel na conformação de espaços regionais e locais. O entendimento do fenômeno
como processo histórico e social constitui a raiz da compreensão dos processos migratórios
urbanos atuais.
se sabe que as regiões metropolitanas tendem a ser áreas de migração atrativa para
pessoas com maior grau de instrução devido a melhores níveis salariais e maior número de
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oportunidades de trabalho, bem como melhores índices de qualidade de vida (GUIMARÃES,
2002). Entretanto, vale ressaltar que existem diferenças regionais e que estas podem apresentar
diferentes padrões migratórios, mesmo considerando especificamente a migração de pessoas
escolarizadas. Em relação à migração para Fortaleza, deve-se considerar a realidade do Estado
do Ceará e a sua inserção na região Nordeste do Brasil, que apresenta um tradicional êxodo de
pessoas rumo às porções mais ao sul do país (BRITO, 2016).
Além disso, embora os dados dos últimos três censos demográficos (1991, 2000 e 2010)
tenham demonstrado que o Ceará manteve saldo migratório negativo, é importante destacar
que, a partir dos anos 2000, também vem ocorrendo um aumento da chamada migração de
retorno de emigrantes de outrora (QUEIROZ; BAENINGER, 2010).
O Espírito Santo, por outro lado, embora inserido na região Sudeste, esteve à margem
dos grandes fluxos migratórios do país ao longo do século XX, apresentando perda populacional
via emigração para o eixo Rio de Janeiro-São Paulo e para a região Norte, com destaque para o
estado de Rondônia (LIRA, 2019). Porém, trabalhos recentes de Dota (2016) e Dota; Coelho e
Camargo (2017) revelaram uma significativa mudança no saldo migratório do Espírito Santo,
especialmente a partir da virada do século XX para o XXI, fazendo com que o estado deixasse
de ser um “expulsor” para se tornar um receptor de população.
Dentro dessa discussão dos movimentos internos em território brasileiro, é importante
ressaltar as dinâmicas das duas Regiões metropolitanas, que são objetos deste estudo. Além do
mais, é relevante colocar que essas regiões estão localizadas em dois lados antagônicos nas
migrações internas: o Espírito Santo está localizado no Sudeste, grande polo de atração
populacional; de outro lado, o Ceará está localizado no Nordeste, grande polo de expulsão
migratória.
Contudo, devem-se levar em conta as especificidades que esses dois estados possuem
dentro das suas regiões. No caso do Espírito Santo, Castiglioni (2009) coloca que este esteve
distante dos grandes movimentos nacionais ao longo do século XX. Dota (2016) aponta para
uma mudança nessa estrutura na virada do século XX para o século XXI, principalmente por
causa das transformações na infraestrutura econômica ligada à intensa industrialização e à
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exploração do petróleo; de modo que o estado passa a integrar os movimentos migratórios
nacionais, tendo saldo migratório positivo nas trocas interestaduais.
Dota (2016) e Dota e Dadalto (2021) detalham que, em nível intraestadual, os
movimentos migratórios sempre foram expressivos e relevantes nas trocas regionais, contudo,
ressalta a posição da RMGV como aquela que possui maior migração bruta dentro do estado,
consequentemente sendo uma área que faz trocas de alto volume com os municípios que vão
além da sua própria região.
no Nordeste, o Ceará reflete todo um contexto regional de perda migratória nas trocas
de longa distância, que se intensificaram com o período de industrialização no século XX, mas
que começaram a ter novos fluxos e novas direções após a década de 1980, sendo afetadas pela
crise econômica (PACHECO; PATARRA, 1997). Contudo, é importante situar que, com as
melhorias na infraestrutura econômica do Ceará, as perdas migratórias passaram a ser menores
nos períodos de data fixa dos censos de 2000 e 2010 (PEREIRA; QUEIROZ, 2017).
Além do mais, Pereira e Queiroz (2017) ressaltam que, assim como visto no Espírito
Santo, os movimentos internos interestaduais e intrarregionais demonstram números
expressivos. Essa intensificação está relacionada diretamente com o desenvolvimento das
cidades metropolitanas, assim como das cidades médias nordestinas (QUEIROZ et al., 2019).
Portanto, as migrações internas passaram por diversas transformações ao longo do
século XX, e no século XXI a sua complexidade ficou ainda maior devido aos movimentos
multifacetados, multivariados e multidirecionais, que perpassam por diversas escalas de análise
e que necessitam de estudos para que seja possível compreender quais impactos estão sendo
observados no território brasileiro no geral, mas também nas suas pequenas análises territoriais.
Migração de sujeitos qualificados: recortes e definições
Para seguir tal perspectiva, é possível resgatar as contribuições de Haas (2010), que
demonstra as relações entre a migração e o desenvolvimento econômico. Partindo por esse
caminho, o autor alerta que a migração e o desenvolvimento econômico devem ser vistos de
forma integrada e ampla.
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Outro ponto importante está relacionado ao nível de análise que os fenômenos serão
submetidos na reflexão, ou seja, a uma perspectiva macro ou micro. Embora as questões
relacionadas ao nível do sujeito sejam de grande relevância para os estudos migratórios,
propomos refletir o fenômeno a partir dos condicionantes relacionados às questões estruturais
e conjunturais.
Partindo, portanto, de uma ótica em escala macro dos fenômenos migratórios, é possível
pensar na importância do mercado de trabalho e como as oportunidades são distribuídas
espacialmente. King (2012) aponta que a distribuição desigual de oportunidades e riquezas é
fator preponderante para compreender as dinâmicas demográficas.
No entanto, não somente as desigualdades espaciais impactam a mobilidade
populacional, o caminho oposto também ocorre. Assim, King (2012) revela ainda que a
migração pode criar e modificar os padrões espaciais das localidades receptoras, podendo
agravar (ainda mais) as desigualdades geográficas.
Por meio desse pressuposto, é possível pensar que a migração de um grupo social
específico, como os de pessoas de maior qualificação e que tendem a receber salários maiores,
pode corroborar com a criação de dinâmicas espaciais relacionadas à reprodução social. Em
outras palavras, a chegada dessa população em espaços urbanos pode, por exemplo, contribuir
para o aumento no preço dos aluguéis de determinada área, afetando a população não migrante
de menor renda.
Ao analisarmos teorias dos fatores de expulsão e fatores de atração de migração,
podemos notar que existem diversos motivos que colaboram para que determinado espaço seja
local de atração ou repulsão. Os autores Cunha (2005) e (2016), Baeninger (1999) e Patarra et
al. (1997) expõem que em determinado período podem ocorrer situações e fenômenos em uma
conjuntura de escalas micro e macroestruturais, o que acaba fazendo com que um local se torne
doador e receptor do fluxo migratório. Existem, assim, alguns eixos consolidados, como os
retirantes que saem do campo para as cidades ou de médias cidades para as capitais.
Carling e Collins (2017) expõem que existem diversos motivos que influenciam na
mobilidade, como as conjunturas econômicas e políticas, mas ressaltam que existe também
motivação para migração de grupo, por meio de redes que fomentam o deslocamento de
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sujeitos. A partir de aspirações que são criadas e repassadas por essas redes de contato,
evidencia-se que existem disparidades entre os locais de origem e destino que poderão criar
tendências relacionadas aos fluxos e padrões migratórios, condicionantes da migração, como
forças externas que agem sobre esse processo (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA
APLICADA [IPEA], 2014).
Além dos condicionantes e dos fatores de espaços perdedores e ganhadores de
migrantes, as disparidades entre os diferentes espaços fazem com que alguns tenham fatores
mais atrativos do que outros. Vale ressaltar também que o perfil social e econômico dos
migrantes deve ser analisado com maior profundidade, na medida em que cada grupo de
migrantes apresentará diferentes efeitos na dinâmica.
Dessa forma, salientamos que estudos realizados por Courgeau e Leliévre (2006)
mostram uma realidade específica relacionada à migração internacional, na qual se observou
que os migrantes possuem maiores chances de serem absorvidos pelo mercado de trabalho em
relação aos não migrantes. Tal característica é potencializada se o migrante for do sexo
masculino, tendo em vista que essa realidade tende a ocorrer nacionalmente quando levamos
em conta o perfil de emigrantes qualificados.
Courgeau e Leliévre (2006) também demonstraram que variáveis como estado civil e
número de filhos corroboram para modificações de tendências por exemplo, a busca por
residências maiores. Tal aspecto, somado principalmente com as questões de renda, demonstra
que tal migração se apresenta com grande potencialidade para o mercado imobiliário, podendo
dialogar diretamente com as tendências de produção do espaço urbano via mercado de terras.
Partindo para as análises entre migração e produção do espaço, considerando também
as questões de escolaridade e emprego, Cunha (2016), ao analisar o caso da Região
Metropolitana de Campinas, revelou que quanto maior for à escolaridade do migrante, menor
será sua mobilidade intermunicipal. Em outras palavras, os migrantes mais bem qualificados
tendem a habitar espaços mais próximos do local de trabalho, podendo favorecer a expulsão de
população não migrante menos qualificada, acentuando, assim, as segregações socioespaciais
(CUNHA, 2016).
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Dessa forma, é possível pensar que a investigação da migração de pessoas com alto grau
de instrução não somente serve para compreender o fenômeno relacionado especificamente ao
grupo estudado, mas também a outros grupos, como a população não migrante ou a população
de migrantes com menor grau de instrução. Porém, este estudo pretende investigar o fenômeno
em duas regiões metropolitanas distintas do Brasil, de forma que também se faz necessário
entender os padrões regionais da migração de pessoas qualificadas no país. Para alcançar tal
pretensão, é possível recorrer ao trabalho de Serrano et al. (2013), que demonstra as diferenças
territoriais na distribuição de migrantes escolarizados no país, conforme os dados dos censos
de 1991, 2000 e 2010. Os autores demonstraram, primeiramente, que ocorreu aumento na
difusão de cursos superiores em todo o país ao longo dos últimos anos, fazendo com que
aumentasse a distribuição de pessoas qualificadas em todo o território.
Serrano et al. (2013) demonstraram ainda que, embora a dispersão de migrantes
escolarizados tenha arrefecido nos últimos anos, velhos fluxos se mantêm. Assim, muitos
imigrantes qualificados acabam ainda procurando como destino as cidades que possuem um
histórico de áreas concentradas socioeconomicamente, como Rio de Janeiro, São Paulo e
Brasília. Do ponto de vista da dinâmica migratória das microrregiões, os autores demonstraram
que existem padrões distintos consolidados no país, como podemos observar a partir da citação
a seguir: “[…] constatou-se que algumas microrregiões colaboram para uma distribuição mais
equitativa das pessoas de alta escolaridade, enquanto outras, em contrapartida, tendem a
concentrar mais estes contingentes […]” (SERRANO et al., 2013, p. 651).
Partindo de uma visão mais ampla, é visto no trabalho de Guimarães (2002) que a
migração das pessoas com maior grau de formação no Brasil vai em direção a localidades com
melhores níveis salariais, mais oportunidades de emprego e com os melhores índices de
qualidade de vida. Entre os anos de 2005 e 2010, segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2012), a taxa de imigração para Sul e Sudeste foi de 39,01% do
total da migração do estado nesse período.
Na cidade de Vitória-ES, Dota (2016) expõe que há grande expressão de trabalhadores
de alta e média formação que são residentes da RMGV. O autor também ressalta que “[…] há
uma seletividade dos migrantes que se direcionam para os municípios da RMGV, mais
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AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
RODRIGUES, Rennan Moraes; OLIVEIRA, Rachel Facundo Vasconcelos de; SANTOS, Yago Oliveira dos. A Dinâmica do Fluxo Migratório
de População com Alto Grau de Instrução em Duas Regiões Metropolitanas Brasileiras: Fortaleza-CE e Vitória-ES. Ensaios de Geografia.
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escolarizados, nas duas modalidades e nos dois períodos considerados [...]” (DOTA, 2016, p.
151), no que tange à migração em nível tanto interestadual quanto intraestadual.
O Ceará também sofreu com o fenômeno da fuga de cérebros, numa visão interestadual
que se destina às outras metrópoles que compõem as outras regiões metropolitanas que existem
no estado (QUEIROZ, BAENINGER, 2010). Nas próximas seções será apresentado um maior
detalhamento da migração de pessoas com maior grau de instrução, tanto para a RMF quanto
para a RMGV.
Metodologia
Este trabalho se apoia nos microdados do Censo demográfico de 2010 (IBGE, 2012).
Para separar a população segundo o nível de escolarização, utilizou-se a variável “Nível de
Instrução”, aplicando uma reclassificação, considerando:
- grau de instrução baixo: população sem instrução, com ensino fundamental incompleto,
ensino fundamental completo e ensino médio incompleto;
- grau de instrução médio: população com ensino médio completo e superior incompleto;
- grau de instrução alto, compreendendo aqueles com ensino superior completo ou além (pós-
graduação, especialização etc.).
No que tange à migração, optou-se pela variável “Data Fixa” para obter dados
relacionados à migração, portanto, são considerados migrantes aqueles sujeitos que residiam
em outro município e/ou unidade da federação no dia 31 de julho de 2005, portanto, cinco anos
antes do Censo Demográfico de 2010.
Para melhor refinamento dos dados, optou-se por adotar um recorte de idade de 25 anos
ou mais para a população estudada. Essa escolha se justifica pelo fato de que nessa idade
maiores chances de término do ensino superior, evitando inconsistências nas análises. O recorte
espacial da pesquisa, por sua vez, consistiu na RMGV, composta por sete municípios, e na
RMF, composta por 19 municípios.
Foram também realizados cruzamentos das informações a partir das variáveis
relacionadas com a estrutura etária (idade e sexo), com as questões de renda (com base no
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salário nimo SM) e com condição de moradia (se própria ou alugada, localização do
domicílio etc.).
A migração de população com alto grau de instrução na RMGV e na RMF
Antes de analisar a fundo os resultados obtidos a partir do Censo Demográfico de 2010,
é importante pontuar algumas distinções entre as Regiões metropolitanas analisadas. Primeiro,
a diferença de tamanho entre as duas metrópoles é notável, já que a RMF apresentou população
de 3,7 milhões de habitantes, enquanto a RMGV possuía aproximadamente 1,6 milhão de
habitantes em 2010.
Embora tenham tamanhos distintos, os volumes da migração bruta são relativamente
próximos, com uma diferença de 61 mil migrantes a mais na RMF em relação à RMGV, algo
que pode ser explicado pelas dinâmicas regionais em que se insere cada unidade da federação,
ou seja, as regiões Nordeste e Sudeste.
Porém, quando se estuda os dados, faz-se necessário dividi-los e analisá-los levando em
conta o grau de instrução desses imigrantes, evidenciando algumas diferenças importantes. A
Figura 1 mostra o grau de instrução dos imigrantes na RMF e na RMGV, podendo-se verificar
que a maioria dos imigrantes possui um baixo grau de instrução, e o médio grau de instrução
possui pouca diferença entre as duas Regiões metropolitanas. Contudo, uma diferença na
distribuição dos níveis de grau de instrução entre as duas Regiões metropolitanas, pois há uma
maior quantidade de imigrantes com alto grau de instrução em direção à RMGV (cerca de 5%
superior à RMF, que representa aproximadamente 7 mil pessoas a mais).
Figura 1: Tabela de migração por grau de instrução na RMF e na RMGV em 2010 Total e
proporcional
Grau de
instrução
RMF
RMGV
(%)
Baixo
55,8
Médio
31,8
Alto
12,5
Total
148.659
128.143
Fonte: Censo Demográfico de 2010 (IBGE, 2012). Tabulações especiais dos próprios autores.
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Para compreender o que por detrás do baixo volume de migrantes com alto grau de
instrução na RMF, é possível recorrer a Morais e Queiroz (2018), que apresentam que o fluxo
migratório de pessoas qualificadas para o Ceafoi negativo no quinquênio de análise dos dados
obtidos pela variável data fixa do Censo no período 2005/2010.
Por outro lado, enquanto a RMF apresentou saldo migratório negativo, no mesmo
período a RMGV passou a apresentar saldo migratório positivo. Dota (2016) também destaca
que nesse período houve um crescimento relevante de trabalhadores intelectuais com destaque
para a área da Educação.
Também vale ressaltar que nesse período o Espírito Santo recebeu importantes
investimentos industriais, como no caso da expansão e dinamização do setor de petróleo e gás
(ZANOTELLI et al., 2019), em que se observou um crescimento significativo de postos de
trabalho (RODRIGUES, 2018) e aumento da migração de trabalhadores que estavam ocupados
no setor (DOTA, 2019; RODRIGUES, 2019).
Perfil da população migrante com alto grau de instrução
A Figura 2 é um gráfico que exibe qual é a ocupação desses migrantes com alto grau de
instrução de ambas as Regiões metropolitanas. Em sua maioria, a distribuição das ocupações
entre os migrantes é aproximada entre essas duas regiões. Há alguns destaques interessantes: a
maioria dos migrantes que têm como destino a RMF e a RMGV possui atividades profissionais
intelectuais, sendo também conhecidos como profissionais liberais (como advogados, médicos,
professores, pesquisadores etc.), sendo esse grupo praticamente a metade do total entre aqueles
que possuem alto grau de instrução.
As diferenças exibidas na Figura 2 ainda mostram que há diferenças entre as ocupações
desses imigrantes. Na RMGV, as ocupações dos profissionais de serviços administrativos e
técnicos entre os migrantes são maiores em comparação com a RMF. Já na RMF é visto que
uma maior participação de militares e trabalhadores industriais.
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Figura 2: Gráfico de ocupação dos migrantes com alto grau de instrução na RMF e na
RMGV em 2010
Fonte: Censo Demográfico de 2010 (IBGE, 2012). Tabulações especiais dos próprios autores.
A estrutura etária dos migrantes de alto grau de instrução (Figura 3) apresenta
características importantes quando comparadas as duas Regiões metropolitanas. A maior parte
desses migrantes concentra-se na faixa etária entre 25 e 34 anos; além disso, é visualizado que
a maior parte desses migrantes é do sexo feminino, tanto na RMF quanto na RMGV,
Contudo, a distribuição entre as outras faixas etárias possui diferenças interessantes: na
RMF, as faixas etárias a partir dos 40 anos possuem maior expressividade que as mesmas faixas
etárias da RMGV. Essa disparidade é ainda mais expressiva na faixa etária de 60 anos ou mais
na RMF em relação à RMGV. Porém, é importante ressaltar que essa última faixa etária também
se mostra relevante entre os migrantes com alto grau de instrução em ambas as Regiões
metropolitanas.
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Figura 3: Pirâmides de estruturas etárias dos migrantes com alto grau de instrução na RMF e
na RMGV em 2010
\
Fonte: Censo Demográfico de 2010 (IBGE, 2012). Tabulações especiais dos próprios autores.
A renda em número de Salário Mínimo (SM) dos migrantes com alta instrução (Figura
4) também apresenta dinâmicas parecidas na distribuição entre as faixas salariais nas duas
Regiões metropolitanas. A maior parte dos migrantes com alta instrução está entre as faixas até
quatro SM. É visto ainda que, ao aumentar a quantidade da renda em SM, a quantidade de
migrantes irá diminuindo. No entanto, é visto que a faixa maior que 20 SM apresentam um
volume expressivo em relação a faixas anteriores (entre 10 e 20 SM).
Nesse segmento, quando é comparada a distribuição da renda entre os migrantes nas
duas Regiões metropolitanas, é visto que, além das faixas de renda menores que dois SM e de
oito a dez SM, a RMGV tem uma equiparação com as rendas ou possui um volume maior de
migrantes em relação à RMF.
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Figura 4: Gráfico de renda em número de SM dos migrantes com alto grau de instrução na
RMF e na RMGV em 2010
Fonte: Censo Demográfico de 2010 (IBGE, 2012). Tabulações especiais dos próprios autores.
Tal diferença salarial suscita uma série de questões referentes ao padrão espacial da migração,
podendo afetar, inclusive, a população não migrante. Basta pensar que um salário maior reflete
também em um maior padrão de consumo e na criação de necessidades específicas para atender
às demandas da classe social.
Nesse sentido, a entrada de migrantes qualificados em determinadas porções do espaço
metropolitano pode simbolizar a criação de novos meios de reprodução social, o que contribui
para uma transformação profunda em determinadas localidades, mas com grande potencial de
afetar toda a metrópole.
Na tentativa de compreender um pouco mais sobre os efeitos da migração qualificada
no espaço urbano, na próxima seção será abordada a relação entre a migração e as questões de
habitação, a fim de encontrar padrões da distribuição urbana no espaço para cada metrópole
aqui analisada.
Migração e a produção do espaço metropolitano
Pensar a migração também é pensar em habitação. Porém, a heterogeneidade do
fenômeno acaba revelando diferenças de consumo no mercado imobiliário. Assim, o perfil
migratório pode revelar diferentes formas de produzir o espaço.
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Os dados relacionados à condição de moradia dos migrantes com alto grau de instrução
são apresentados na Figura 5, que demonstra que, em 2010, a maior parte deles estava morando
em casa própria. No entanto, quando são divididos entre aqueles que quitaram o imóvel e
aqueles que ainda possuem imóvel financiado, é visto que esses migrantes, em sua maioria,
possuem o imóvel quitado. na comparação entre os imóveis próprios quitados e
financiados entre as duas Regiões metropolitanas, há mais migrantes com imóvel financiado na
RMGV em relação à RMF, chegando a quase 5% de diferença; no que tange aos imóveis
quitados, é visto o oposto.
Essa questão habitacional apresenta-se como de suma importância dentro deste trabalho,
no que se refere ao financiamento de imóveis e à transformação do ambiente urbano, uma vez
que os migrantes qualificados podem revelar a força desse grupo populacional na participação
ativa no mercado imobiliário. Em outras palavras, Harvey (2019) aponta que a cidade produzida
pelo capital não é pensada apenas como o lugar de moradia, mas também como lugar de
investimento.
A Figura 5 ainda revela que a condição de moradia desses migrantes em imóvel alugado
é expressiva nas duas Regiões metropolitanas, chegando a ser maior do que aqueles que
possuem casa própria quitada. Outra informação importante está na condição de moradia a
partir de sedimento por empregador, representando que por vezes essa migração ocorre com
garantia de habitação para o imigrante.
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Figura 5: Gráfico de condição de moradia dos migrantes com alto grau de instrução na RMF
e na RMGV em 2010 (percentual)
Fonte: Censo Demográfico de 2010 (IBGE, 2012). Tabulações especial realizada pelos próprios autores.
Assim sendo, quando é analisado o preço dos aluguéis pagos por esses migrantes com
alto grau de instrução nas duas Regiões metropolitanas, é denotado que a maior parte dos
migrantes na RMF pagam até um SM, sendo a única classe que se sobrepõe em relação aos
migrantes da RMGV (Figura 6).
Enquanto mais da metade da população migrante com alto grau de instrução na RMF
paga até um SM de aluguel, mais da metade da população migrante na RMGV paga entre um
e dois SM. Além do mais, os migrantes de alto grau de instrução da RMGV estão em maior
concentração nas faixas de dois a três SM e maior que três SM em relação à RMF.
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Figura 6: Gráfico de preço dos aluguéis em SM pago pelos migrantes com alto grau de
instrução e que residiam em habitação alugada na RMF e na RMGV em 2010
Fonte: Censo Demográfico de 2010 (IBGE, 2012). Tabulações especiais dos próprios autores.
Tais características se associam com o preço médio dos aluguéis em SM em ambas as
Regiões Metropolitanas. Dessa forma, para uma melhor compreensão espacial, elaboramos a
Figura 7, referente ao preço médio dos aluguéis em SM e à distribuição espacial de migrantes
de alto grau de instrução da RMF (2010). É possível, assim, compreender um pouco mais sobre
as diferenças entre as duas capitais, principalmente destacando a metrópole Fortaleza, que
apresentava preço médio de aluguel que não alcançava o valor estimado de um SM; por outro
lado, a cidade de Vitória apresentava aluguéis mais caros, como será evidenciado na Figura 8.
Mesmo com tais diferenças, em ambas as metrópoles se observou uma mesma tendência: as
regiões centrais concentravam o maior preço médio de aluguéis.
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Figura 7: Mapa do preço médio dos aluguéis em SM e distribuição espacial de migrantes de
alto grau de instrução da RMF (2010)
Fonte: IBGE (2012) e Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPCE, 2013).
O município de Fortaleza apresenta menor média de aluguéis se comparado com a
capital Vitória; esses valores foram obtidos por meio dos dados do IBGE (2012) e do IPCE
(2013). Dessa maneira, é possível notar que uma relação diretamente proporcional entre o
preço médio dos aluguéis e a distribuição dos imigrantes de grau elevado de instrução na RMF,
havendo uma contração maior deles nos municípios mais próximos da metrópole cearense,
como evidenciado na Figura 7.
Os aluguéis mais baixos estão nos últimos municípios que foram incorporados à RMF
em 2014, devido às melhorias dos transportes interurbanos de ônibus, vans e veículos leves
sobre trilhos (VLT) e à integração e até gratuidade de passagens. A diferença entre VLT e metrô
é que no metrô a tecnologia é muito parecida com a do trem e roda apenas no sentido centro,
até dois municípios da região metropolitana, Pacatuba passando por Maracanaú. Difere também
por possui alguns eixos da cidade tendo mais trechos em áreas subterrâneas, funcionando no
horário 5h30min as 22h 35min de segunda a sábado. Enquanto o VLT é mais leve do que os
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trens ou metrôs em vários aspectos: suas composições são menores, transportam menos
passageiros, custam menos à administração pública e circulam por 10 estações apenas dentro
da capital cearense, nos horários de 5h30min às 21h59min de segunda a sábado.
Isso possibilitou uma maior mobilidade de sujeitos, permitindo que morem em locais
mais distantes pelo custo dos imóveis e mesmo assim consigam ter deslocamento maior e
eficiente para trabalho, lazer, estudo e outros. A concentrada infraestrutura ligada a lazer,
educação e trabalho faz com que seja uma opção mais atraente para os imigrantes ficarem mais
próximos da metrópole e dos seus municípios limítrofes, pois acaba havendo uma quantidade
maior de oportunidades para os imigrantes com perfil relacionado a um maior grau de instrução.
Por outro lado, a RMGV apresenta aproximadamente o dobro do valor médio dos
aluguéis, se comparada à RMF. De forma mais específica, é possível visualizar que as cidades
de Vila Velha e Guarapari possuem o valor médio de aluguéis mais elevado do que a própria
capital cearense (Figura 8).
Quando analisada a geolocalização quanto ao valor dos aluguéis, a partir da distribuição
espacial dos migrantes de alto grau de instrução na RMGV em 2010 (Figura 8), é notado que
estes se concentram na capital Vitória e nas duas cidades vizinhas (Serra e Vila Velha),
corroborando as mesmas dinâmicas visualizadas no Mapa 1 sobre a concentração dos migrantes
com alto grau de instrução.
No trabalho de Santos (2018) são discutidas as relações construídas nas interações de
mobilidade dentro da RMGV, demonstrando que a capital Vitória, por toda sua dinamicidade,
acaba concentrando e recebendo bastantes migrantes pelas facilidades de morar no centro, como
a concentração de empregos, atividades culturais, entretenimento e baixo tempo de
deslocamento sendo, assim, condizente diretamente com o perfil de migrantes com alto grau
de instrução. Os dados para elaboração dos mapas foram do Censo (2010) e do Instituto Jones
dos Santos Neves (IJSN) (2013).
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Figura 8: Mapa de distribuição espacial dos migrantes de alto grau de instrução na RMGV
em 2010
Fonte: IBGE (2012) e IJSN (2013).
Vale destacar ainda o caso de Vila Velha, que foi o município com distribuição mais
igual entre os perfis migratórios aqui estudados. É provável que a explicação para tal fato esteja
presente na própria organização espacial do município, apresentando áreas de maior
valorização imobiliária, especialmente na orla, com dinamização muito próxima em relação a
Vitória, estabelecida a partir da inauguração da terceira ponte, na virada da década de 1980 para
1990 (HOLZ, 2019). Diferente disto, Vila Velha também apresenta áreas de menor valorização
imobiliária, principalmente em bairros que fazem conurbação com os municípios de Cariacica
e Viana, como evidenciado na (Figura 8).
Considerações finais
Embora a migração tenha se mostrado como um fenômeno variado de acordo com os
perfis (qualificados ou não qualificados) e com as diferenças regionais, foi possível observar
certos padrões que nos ajudam a pensar universalmente sobre o fenômeno. Apesar da maior
tendência de os migrantes qualificados se concentrarem em áreas centrais das metrópoles,
principalmente devido ao seu poder aquisitivo, em geral, não se observou grande discrepância
na distribuição espacial entre os migrantes qualificados.
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Vale ressaltar que no período em que o Censo de 2010 foi realizado, o Brasil acabara de
atravessar uma década de significativo crescimento econômico (especialmente com a alta dos
preços das commodities). Esse desenvolvimento acabara reverberando em diversas áreas, entre
elas o setor habitacional, em que algumas regiões ficavam com valores mais atrativos de compra
e aluguel de imóveis, podendo isso ter sido atrativo para a mobilidade dos sujeitos entre a
metrópole e seus municípios limítrofes.
Salientamos que existe, segundo os dados e análises realizadas, uma migração e
mobilidade da força de trabalho de imigrantes com uma formação qualificada, que levam em
conta fatores como preços dos imóveis e melhores oportunidades de atuação profissional.
Os dados do Censo de 2010 mostram que existe uma dinâmica migratória, o que pode
ter contribuído para discutir a importância da migração na produção do espaço da RMF e da
RMV. No caso específico de Vitória, é possível constatar que o grupo de população com maior
grau de instrução absorvida pelas Regiões metropolitanas tenha participado de forma
importante no mercado imobiliário local, principalmente no que diz respeito ao financiamento
de imóvel. Outro fator importante a se destacar é o valor da renda, que impacta diretamente na
diferença do custo de vida, aqui especificado pelo valor médio dos preços dos aluguéis,
evidenciando que o custo de vida na RMV é ainda maior que na RMF.
No caso da RMF, podemos notar que o fluxo migratório e a mobilidade dos
trabalhadores estão ligados ao melhoramento da infraestrutura entre os municípios que
compõem a Região metropolitana. Assim, foi possível notar que ocorre um deslocamento entre
os trabalhadores qualificados, levando em conta o custo de vida e as oportunidades trabalhistas.
Com base em todos os elementos apresentados, o artigo demonstrou que o fenômeno
migratório é de fato bastante heterogêneo, na medida em que apresenta distintas dinâmicas a
depender das complexidades espaciais e do perfil populacional dos migrantes.
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