Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
CAMARGO, Luís Henrique Ramos de. PLANEJAMENTO E GESTÃO NÃO-EUCLIDIANA DO ESPAÇO: para além da leitura clássica.
Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 9, nº 20, pp. 95-112, janeiro-abril de 2023.
Submissão em: 29/06/2023. Aceito em: 09/12/2023.
ISSN: 2316-8544
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da quarta dimensão, a dimensão temporal que se integra às outras três: altura, largura e a
profundidade. Este é o espaço-tempo.
A compreensão do espaço geográfico remete ao entendimento da sociedade que o
anima, pois, espaço sem sociedade é apenas a paisagem (SANTOS, 2014). Para Santos (2014),
espaço é a acumulação desigual de tempos. Esse conceito para o geógrafo remete à ideia das
diferentes fases temporais que atravessam a história da humanidade, e que se ligam a diferentes
etapas de espacialidades percebidas a partir de seus meios técnicos. Inicialmente, o meio
natural, onde a técnica ainda não se impôs; em seguida o meio técnico, que no caso brasileiro,
pode ser representado pela introdução dos engenhos de açúcar trazidos de Portugal; o meio
técnico-científico, que surge a partir de 1945 e caracteriza a integração mais ampla da ciência
com a técnica; por último, surgido a partir dos anos de 1970, o meio técnico-científico-
informacional, caracterizado pelo espaço dinamizado pela informática e suas nuances.
Essas concepções ligadas à técnica materializam no espaço diferentes paisagens
desiguais, que norteiam o pesquisador quanto à compreensão das fases de expansão do capital
ao longo do tempo. Quando uma sociedade sofre uma mudança, as formas ou objetos
geográficos assumem novas funções. Assim, como afirma Santos (1997, p. 49) “[...] a totalidade
da mutação cria uma nova organização social”.
Um lugar, ao se auto-organizar por questões socioeconômicas ou se reordenar de forma
funcional (como no caso da gentrificação de áreas periféricas), faz com que seus objetos
geográficos, por sua natureza, sejam ligados a novas funções, geradas na medida em que sua
dinâmica econômica-espacial exponencialmente altera logicamente novos sistemas de ações.
Essa mutabilidade do espaço pode ser compreendida à luz do espaço-tempo, onde cada lugar
tem em si uma dinâmica lógica e totalmente singular. A paisagem de cada lugar, ao reproduzir
seu histórico de mudanças, dá ao mesmo a sua singularidade e o diferencia espaço-
temporalmente de outros locais.
Um exemplo são as inovações que têm trazido intensa significação, ao transformar
regiões a partir do advento de estradas de ferro, telégrafo, automóvel e, mais recentemente, das
telecomunicações. Mesmo assim, como verifica Saquet (2015), os ritmos empresariais são
diferentes em lugares diferentes, portanto as mutabilidades também o são.