Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
MOREIRA, Tiago Rodrigues. Paisagens do mundo que existo. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 9, nº 19, pp. 211-218, set-dez, 2022.
Submissão em: 08/07/2022. Aceito em: 21/10/2022.
ISSN: 2316-8544
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ABERTURA
De frente, numa zona fronteiriça, vejo linhas, rabiscos, chapiscos que doem minhas meninas,
as dos olhos castanhos cor de caramelo. Percebo uma parede torta, rugosa, sensível e com
arestas cor de vinho.
Ao leste, rascunho de uma asa ainda que quebrada, dilacerada, deserta, jogada aos abutres;
Ao sul, triângulo pueril que vira e volta, sobe e desce... Movimentado... Lembra-me da
caricatura da vida humana, condição de aviltamento;
No norte, lágrimas suavemente salgadas na cor vermelha, esvaindo, jorrando, um reflexo
esmagado... Soterrado pelas histórias, dias cores de cinza;
No oeste instaura o caos, queda do raio, solapamentos de tecido, fios se desfazendo do próprio
tear da existência. Desmoronamento das falésias;
Ameaçados pelas fissuras do desabamento dessa parede, seres insolentes, a existência em
movimento, paisagens preocupantes...
Musguentas!
Que sinto agora em minhas mãos, ainda, é a esperança do topázio queimado, do abraço do
pássaro que me deixa voar, da queda o que me importa é o impulso de subir, subir como as asas
que me envisca.
Um sonho bastardo!
Abraçando o pássaro com o olhar, o abraço se esvai, se desfez, sinto nos meus a-braços a trágica
perda, o pássaro! Acelero meus punhos, interiorizo a queda, o vento ainda morno me assusta
novamente, me solto do abraço, eu estou indo...