Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
AMARAL, Marcos Vinícius da Silva. SEM CHÃO, SEM TETO: metamorfoses da paisagem e impactos da mineração no desastre-crime da
Braskem em Maceió - AL. Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 10, nº 21, pp. 235-246, maio-agosto de 2023.
Submissão em: 03/09/2022. Aceito em: 27/06/2023.
ISSN: 2316-8544
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JUSTIFICATIVA
Diz o ditado popular que “Quem perde o teto” em recompensa — ou, olhando de outro
modo — “ganha as estrelas” no lugar. Parte de uma filosofia que busca, quando em
adversidade, um olhar otimista, para a superação da situação. Esse ditado ganha uma especial
singularidade quando pensado desde o contexto social brasileiro, o qual, por uma diversidade
de motivos (econômicos, políticos, ambientais...) o teto pode ceder lugar ao céu para famílias,
quarteirões e bairros inteiros. Neste trabalho, utiliza-se o telhado e sua composição na paisagem,
observada desde imagens de satélite, como unidade de análise na exposição dos impactos
socioambientais gerados pela extração do mineral salgema pela mineradora Braskem, na área
urbana da cidade de Maceió - AL.
As imagens selecionadas para esse trabalho retratam mudanças territoriais
significativas, surgidas em meados do ano de 2018, com a ocorrência de tremores de terra que
precederam rachaduras nas edificações, trincas e fissuras em ruas inteiras de alguns bairros,
atingindo mais de 40 mil pessoas (Santos; Viegas, 2021). Estudos realizados pelo Serviço
Geológico do Brasil (2021) apontaram correlação entre as atividades de exploração do mineral
os infortúnios vividos pela população maceioense, uma vez que a retirada do mineral no
subsolo, no correr dos últimos 30 anos, gerou “bolsões” de espaço vazio em grande
profundidade, fato que está lentamente levando ao afundamento bairros em torno da Lagoa
Mundaú, onde encontra-se instalada também a planta da Braskem.
Em um período de aproximadamente 3 anos (2018-2021), nota-se na comparação das
imagens o surgimento de uma ausência na paisagem: o desaparecimento dos telhados das
edificações. Nos retratos dos anos de 2018-2019, observa-se, em tons marrons-avermelhados,
os pequenos “quadradinhos” dispostos em diferentes orientações, compondo as ruas e
quarteirões. Já nas imagens que compreendem os anos de 2020-2021, nota-se a abrupta
materialização no espaço geográfico da tragédia ocasionada pela atividade mineradora, com a
forçada ressignificação do uso destes espaços, agora significado direto da ausência de vida em
movimento que ali houvera outrora (embora, registre-se, há pessoas que decidem como
simbólico e honroso ato de memória e resistência permanecer em suas casas apesar de todas
adversidades). Destaca-se, então, o “esqueleto” das casas, sobrados e prédios, o marrom-