Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
SILVEIRA, Patrícia Gomes de. “HOJE É DIA DESENHAR”: trabalhando Cartografia nas aulas remotas. Ensaios de Geografia. Niterói,
vol. 9, nº 10, pp. 215-225, janeiro-abril de 2023.
Submissão em: 04/09/2022. Aceito em: 29/03/2023.
ISSN: 2316-8544
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SEÇÃO VISUALIDADES
“HOJE É DIA DE DESENHAR”:
trabalhando Cartografia nas aulas remotas
"TODAY IS DRAWING DAY":
working Cartography in virtual classes
"HOY ES DÍA DE DIBUJAR":
trabajando Cartografía en las clases virtuales
Patrícia Gomes da Silveira1
Colégio Pedro II (CPII)
Rio de Janeiro, Brasil
Email: silveirag.patricia@gmail.com
Resumo
No ano letivo de 2021, com o objetivo de desenvolver o desenho nas aulas remotas de Geografia, quatro turmas do 6º
ano do Ensino Fundamental de uma instituição federal de ensino localizada na cidade do Rio de Janeiro (RJ)
participaram do “Concurso Cartografia para Crianças”. Desde 1997 este concurso é organizado anualmente no Brasil
pela Sociedade Brasileira de Cartografia (SBC). A metodologia aplicada nas aulas de Geografia consistiu em uma
sequência didática de atividades destinadas a desenvolver a alfabetização cartográfica e a aplicação dos conceitos
básicos de Cartografia na prática. A participação dos alunos no concurso trouxe novos olhares sobre a Cartografia
escolar e levou os alunos a perceberem que eles podem e devem ser protagonistas na elaboração de mapas.
Palavras-chave
Desenho; Aula remota; Cartografia; Geografia Escolar
Abstract
In the 2021 academic year, aiming to develop drawing in the virtual classes of Geography, four classes of 6th year of
elementary school from a federal educational institution located in the city of Rio de Janeiro (RJ) participated in the
“Cartography for Children Contest”. Since 1997 this contest is held annually in Brazil on the behalf of the Brazilian
Society Cartography (SBC). The methodology applied in Geography classes consisted of a didactic sequence of
activities seeking to develop cartographic literacy and the application of the main concepts of Cartography. The
1
Professora de Geografia do Colégio Pedro II (RJ). Doutora em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em
Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGG – UFRJ). Membro da Rede Brasileira de História da
Geografia e Geografia Histórica (Rede Brasilis).
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participation of students in the contest brought new perspectives about Cartography and led students to realize that
they can and should be protagonists in the creation of maps.
Keywords
Drawing; Virtual classes; Cartography; Geography teaching.
Resumen
En el curso 2021, con el fin de incentivar el dibujo en las clases de Geografía a distancia (debido a la pandemia
mundial del Covid-19) decidí participar con cuatro clases del 6º de Primaria en el “Concurso de Cartografía para
Niños” En este texto presento algunos dibujos realizados por estudiantes de educación básica durante clases de
alfabetización cartográfica. La actividad trajo nuevas perspectivas sobre la Cartografía escolar y llevó a los estudiantes
a darse cuenta de que pueden y deben ser protagonistas en la elaboración de mapas.
Palabras-clave
Dibujo; Aprendizaje remoto; Cartografía; Geografía Escolar.
INTRODUÇÃO
No espaço escolar, é comum no decorrer das aulas os docentes perceberem que alguns
estudantes estão dispersos e alheios à explicação do conteúdo. Muitos estão desenhando,
imaginando e construindo novos espaços e práticas sociais. Nestes desenhos, sentimentos,
experiências, ideias e visões de mundo são representados pelos alunos, afinal “é por meio do
desenho, em atividade individual ou coletiva, que o não dito se expressa nas formas, nas cores,
na organização e na distribuição espacial” (PONTUSCHKA, PAGANELLI e CACETE, 2009,
p. 293). Como defende Nei Erling (2009, p. 99), “(...) o domínio da linguagem cartográfica
torna-se uma necessidade na formação de qualquer cidadão, aparecendo como um tema
importante no currículo escolar”. Sobre este tema, a Base Nacional Comum Curricular – BNCC
(BRASIL, 2018, p. 364) destaca que: “No Ensino Fundamental – Anos Finais, espera-se que os
alunos consigam ler, comparar e elaborar diversos tipos de mapas temáticos”. Nesse sentido,
ao invés de reprimir o ato de desenhar, por que não aproveitar esse potencial e interesse dos
estudantes pelo desenho nas aulas de Geografia, especialmente no ensino de Cartografia? É
fundamental que os estudantes saibam ler, analisar e interpretar mapas, mas também que eles
sejam protagonistas da criação de mapas e desenhos (ALMEIDA, 2001; MARTINELLI, 2017).
No ano letivo de 2021, no contexto das aulas remotas (devido à pandemia global de
COVID-19), decidiu-se trabalhar “à distância” o desenho nas aulas de Geografia com quatro
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turmas do 6º ano do Ensino Fundamental do Colégio Pedro II (campus Engenho Novo II) –
prestigiada e secular instituição de ensino localizada na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Uma das
motivações para trabalhar de forma conjunta Cartografia, desenho e ludicidade é a existência
do “Concurso Cartografia para Crianças”. Promovido desde 1997 pela Sociedade Brasileira de
Cartografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento Remoto (SBC), um dos objetivos do
concurso é “possibilitar a ampliação das fronteiras da Cartografia, embasado na premissa básica
de estimular as nossas crianças a atuarem como protagonistas (...)” (ERLING, 2009, p. 101)
2
.
A cada ano um tema é escolhido para orientar alunos e professores na execução dos desenhos
e, em 2021, “Mapeando o Futuro” foi o tema privilegiado
3
. Com a divulgação oficial do
concurso nacional em julho de 2021, o planejamento das aulas foi reorganizado a fim de
assegurar a participação dos alunos do 6º ano no “Concurso Cartografia para Crianças”, bem
como o envio dos desenhos à Comissão Organizadora do concurso até a data limite de 30 de
setembro de 2021
4
.
O presente artigo está organizado da seguinte forma. Na primeira seção, são explicados
os procedimentos metodológicos adotados para viabilizar a participação dos alunos no
concurso. Na segunda seção, são apresentados os principais resultados da seqüência de
atividades didáticas desenvolvidas com as turmas do 6º ano da mencionada instituição. Por fim,
apresenta-se uma breve avaliação da prática educativa desenvolvida identificando as
contribuições ao ensino de Geografia na educação básica e as limitações vivenciadas em sua
execução, especialmente no contexto das aulas remotas.
METODOLOGIA
2
Em 1993, a Associação Cartográfica Internacional (ICA) criou o concurso internacional “Prêmio Barbara
Petchenik de Mapas Infantis”. A versão brasileira do concurso foi criada em 1997 pela Sociedade Brasileira de
Cartografia (SBC). No Brasil, o “Concurso Cartografia para Crianças” – “Prêmio Profª Lívia de Oliveira” recebe
desenhos de estudantes da rede de ensino fundamental e médio, de escolas públicas e privadas do país. O concurso
é organizado segundo quatro faixas etárias: menores de 6 anos; entre 6 e 8 anos; entre 9 e 12 anos; e entre 13 e 15
anos. Fonte: Site Mapas de Crianças.
3
Em consonância com o tema do “Prêmio Barbara Petchenik de Mapas Infantis” para o período de 2021 a 2023:
“A map of my future world”. Fonte: Site Mapas de Crianças.
4
Maiores informações sobre o concurso, consultar a live: ‘Lançamento do Livro Mapa de Crianças e do edital do
Prêmio Lívia de Oliveira – 2021’, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=UHJ_Uwolw3Y> .
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Inicialmente, foram trabalhados os conteúdos de Cartografia com os alunos –
componente essencial do currículo de Geografia do Ensino Fundamental (BRASIL, 2018).
Durante algumas aulas remotas (síncronas e assíncronas) no mês de setembro, foram abordados
os seguintes temas: importância e usos dos mapas, tipos de representação cartográfica,
elementos essenciais do mapa, escala cartográfica e coordenadas geográficas. Após trabalhar
estes conteúdos, as turmas foram informadas sobre a participação no “Concurso Cartografia
para Crianças”. Depois de alguns minutos de silêncio, diversos comentários e perguntas
preencheram a sala de aula online. Os alunos ficaram bastante motivados, afinal iam sair um
pouco da rotina de explicação, exercício e trabalho: poderiam desenhar durante as aulas.
Segundo Rosângela Doin de Almeida (2001, p. 18), a aquisição de referenciais geográficos
pelos alunos “[...] deve ser gradativa e realizar-se por meio de atividades que o levem a
vivenciar técnicas de representação espacial”.
A fim de viabilizar a participação dos estudantes no concurso, foram planejadas duas
aulas síncronas (com duração de 40 minutos cada aula) para apresentar a proposta do concurso
e a atividade didático-cartográfica que eles deveriam elaborar. O conteúdo destas aulas é
descrito a seguir:
Primeira aula: Na primeira parte da aula, as principais regras do concurso foram
explicadas de forma detalhada. Sobre os desenhos, estes devem seguir algumas orientações,
como: desenho original feito à mão representando a superfície terrestre ou parte dela, desenho
com mensagem reconhecível sobre o tema do concurso, e uso de elementos cartográficos
apropriados (símbolos, cores, orientação). Na segunda parte, os alunos tiveram a oportunidade
de tirar as dúvidas sobre o concurso, e entender melhor o quê e como eles poderiam desenhar.
Segunda aula: Solicitou-se aos alunos que refletissem sobre o tema do concurso:
“Mapeando o Futuro”. Foram propostas as seguintes questões para o debate na aula remota:
“Como eu vejo o futuro? Como um mapa pode me ajudar hoje e no futuro? De que forma eu
posso mapear o futuro? Como serão feitos os mapas no futuro?”. Após esta reflexão, solicitou-
se aos alunos que fizessem o desenho em seu tempo livre e que, no prazo determinado,
enviassem pelo Moodle – plataforma de ensino à distância.
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Percebeu-se que, nas aulas remotas dedicadas ao concurso, o envolvimento dos alunos
era mais significativo. Muitos deles queriam expressar o que pensavam dos mapas, ou do futuro
do planeta, ou mostrar como estava o desenvolvimento do desenho.
Na próxima seção, são apresentados os principais resultados dessa prática educativa e
suas contribuições ao ensino de Geografia escolar.
RESULTADOS
A prática educativa descrita foi desenvolvida nas aulas remotas de Geografia no ano
letivo de 2021 com quatro turmas (uma média de 30 alunos por turma) do 6º ano do Ensino
Fundamental do Colégio Pedro II – Engenho Novo II (RJ). Os desenhos apresentados são fruto
desse trabalho didático-pedagógico baseado no desenvolvimento da alfabetização cartográfica
com estudantes do 6º ano.
Cabe esclarecer que, de acordo com as regras do concurso, cada instituição de ensino
pode enviar somente 20 (vinte) desenhos em qualquer faixa etária. Nesse cenário, com base nos
critérios do “Concurso Cartografia para Crianças”, como: (1) qualidade na execução; (2) uma
mensagem reconhecível; e (3) conteúdo cartográfico, a docente das turmas escolheu vinte
desenhos para representar a instituição no concurso na categoria entre 9 e 12 anos, e de forma
online estes desenhos foram enviados à Comissão Organizadora.
Com base nas aulas de Cartografia e nas produtivas discussões sobre o tema do concurso,
os alunos produziram desenhos criativos, originais e coloridos que representam suas visões de
mundo sobre a geografia dos lugares e o futuro dos mapas (Figuras 1, 2 3 e 4).
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Figura 1: Desenho “Cidade e seus lugares”
Fonte: Acervo da autora (2021).
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Figura 2: Desenho “A cidade no futuro”
Fonte: Acervo da
autora (2021).
A avaliação dos desenhos no âmbito do concurso ocorreu em duas etapas. Na primeira
etapa, com base nos critérios de seleção mencionados, a Comissão Organizadora e o Conselho
Assessor escolheram, entre os milhares de desenhos recebidos de estudantes de todo o Brasil,
os 100 (cem) melhores
5
. E foi com enorme alegria, que o desenho “Mapa Mundi 2099” foi
escolhido na primeira etapa como um dos cem melhores do país (Figura 3). Possivelmente a
escolha deste desenho justifica-se pela sua criatividade, adequação ao tema do concurso e uso
dos elementos cartográficos, como legenda, orientação e título. Na segunda etapa, os cem
melhores desenhos puderam concorrer ao Prêmio “Profa Lívia de Oliveira” pela votação do
5
A Comissão Organizadora do “Concurso Cartografia para Crianças”, designada pela SBC, é composta dos
seguintes membros: Prof. Dr. Antonio Carlos F. Sampaio (SBC/UFU), Prof.ª Dr.ª Carla Cristina Reinaldo Gimenes
de Sena (UNESP/Ourinhos), Eng. Nei Erling (SBC), Profª Drª Angelica Carvalho Di Maio (UFF) e Drª Waldirene
Ribeiro do Carmo (USP). O Comitê Assessor, convidado pela SBC, é composto pelos seguintes membros: Prof.ª
Dr.ª Regina Araújo Almeida (USP), Prof.ª Dr.ª Rosângela Doin de Almeida (UNESP/Rio Claro), Prof. Dr.
Marcello Martinelli (USP), Prof.ª Dr.ª Maria Elena Simielli (USP), Prof.ª Dr.ª Tomoko Iyda Paganelli (SBC) e
Prof. Dr. Jader Janner Moreira Lopes (UFF). Fonte: Site Mapa de Crianças.
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público na Exposição Virtual realizada no site do concurso (Mapa de Crianças), na qual foram
escolhidos os 3 (três) melhores desenhos dentro de cada faixa etária.
Figura 3: Desenho “Mapa Mundi 2099”
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Desenho eleito como um dos cem melhores do Brasil pela Comissão Organizadora do “Concurso Cartografia
para Crianças”, edição 2021. Fonte: Acervo da autora (2021).
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Figura 4: Desenho “Bem-vindos à cidade do futuro”
Fonte: Acervo da autora (2021).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer das aulas remotas de Geografia, procurou-se diversificar as atividades
didáticas, abordando o conteúdo programático de forma lúdica e prática. Ao analisar os
desenhos elaborados pelos alunos para participar no “Concurso Cartografia para Crianças”,
percebe-se que grande parte conseguiu aplicar nos desenhos os conceitos básicos da
Cartografia, como legenda, escala e orientação. Os alunos se mostraram bastante motivados e
interessados nas atividades propostas nas aulas de Geografia, ainda que fossem remotas. Com
objetivo de reforçar a alfabetização cartográfica dos alunos, sugere-se que este conteúdo seja
resgatado no início do próximo ano letivo, e aplicado de forma regular no currículo escolar,
para que os alunos possam compreender a relevância da Cartografia no entendimento e análise
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de fenômenos e processos geográficos nas mais diversas escalas e períodos. Espera-se que a
atividade apresentada neste artigo possa ser inserida no planejamento didático das turmas do
Ensino Fundamental no contexto das aulas presenciais, como uma forma de dinamizar o ensino
de Geografia e despertar a curiosidade dos alunos para temas da Cartografia.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, R. D. de. Do desenho ao mapa – iniciação cartográfica na escola. São Paulo:
Contexto, 2001.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular – BNCC: Educação é
a base. Brasília: MEC, 2018. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/>.
Acesso em 29 jan. 2023.
ERLING, N. CONCURSO CARTOGRAFIA PARA CRIANÇAS (PROJETO). Boletim de
Geografia, p. 97-104, 6 out. 2009.
Mapa de Crianças. Concurso Cartografia para Crianças. Disponível em:
<https://www.mapasdecriancas.com/>. Acesso em: 30 jan. 2023.
MARTINELLI, M. O ensino da cartografia temática. In: CASTELLAR, S. (Org.). Educação
Geográfica: teorias e práticas docentes. São Paulo: Contexto, 3º edição, p. 51-65, 2017.
PONTUSCHKA, N. N.; PAGANELLI, T. I.; CACETE, N. H. Para ensinar e aprender
Geografia. São Paulo: Cortez, 2009.
