Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
MATTOS, Lucas Nascimento de; ROSALIN, João Paulo; FRANCO, Fernando Chamone; BEZERRA, Rafael Freitas; SANTOS, Leandro
Luís Lino dos; FERREIRA, Jonathan. Esporte, Cidade e Geografia: entrevista com o professor Dr. Victor Andrade de Melo. Ensaios de
Geografia. Niterói, vol. 9, nº 19, pp. 196-210, set-dez de 2022.
Submissão em: 08/11/2022. Aceito em: 18/11/2022.
ISSN: 2316-8544
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SEÇÃO ENTREVISTAS
VICTOR ANDRADE DE MELO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Breve apresentação do entrevistado
Victor Andrade de Melo é professor da UFRJ e coordenador do Sport: Laboratório de História do Esporte e do
Lazer
Palavras-chave
História dos esportes; História do Lazer; Geografia Histórica dos Esportes
Brief presentation of the interviewee
Victor Andrade de Melo is a professor at Federal University of Rio de Janeiro and coordinate “Sport: Laboratory
of Sports’ History and leisure
Keywords
Sports’ History; Leisure’s History; Historical Geography of Sports
Breve presentación del entrevistado
Victor Andrade de Melo es professor en la Universidad Federal de Río de Janeiro y coordenador del “Sport:
Laboratorio de Historia del deporte y del ócio
Palabras-clave
Historia de los deportes; Historia del ocio; Geografia Historica de los deportes
VICTOR ANDRADE DE MELO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
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MATTOS, Lucas Nascimento de; ROSALIN, João Paulo; FRANCO, Fernando Chamone; BEZERRA, Rafael Freitas; SANTOS, Leandro
Luís Lino dos; FERREIRA, Jonathan. Esporte, Cidade e Geografia: entrevista com o professor Dr. Victor Andrade de Melo. Ensaios de
Geografia. Niterói, vol. 9, nº 19, pp. 196-210, set-dez de 2022.
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Introdução
Maior referência da Geografia nos
estudos sobre esportes e cidade no Brasil, o
professor Gilmar Mascarenhas (2014)
aponta para os megaeventos esportivos
como promotores da reestruturação do
capital, pois são sempre acompanhados por
grandes projetos urbanos. A partir da
escolha do Brasil como sede da Copa do
Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016,
observou-se na geografia brasileira uma
intensificação do debate e da produção
acadêmica sobre os megaeventos esportivos
e seus impactos na estrutura e no modo de
vida urbano (Gaffney, 2014). Os caminhos
abertos por esses debates e estudos atraem
novos pesquisadores, que encontram na
prática esportiva e sua espacialização uma
interessante forma de observar, analisar e
compreender o espaço urbano.
Com base em um dos principais
portais brasileiros sobre o tema, o site
Ludopédio, que conta com grande acervo de
textos, artigos, teses e dissertações sobre o
Futebol (e outros esportes), pelo menos
30 grupos de estudos ativos no Brasil sobre
esportes e sociedade. A multi ou
interdisciplinaridade é citada por 10 entre
os 31 grupos, indicando uma interessante
tendência aglutinadora do estudo dos
esportes. Sobre a Geografia, apenas um
grupo de Estudos, o Mundo Dentro e Fora
das 4 Linhas (GEMDF4L), tem como foco
a análise do fenômeno esportivo em uma
perspectiva geográfica. Sem incitar uma
rivalidade entre ciências (deixemo-las no
campo de Futebol, como deve ser), a
Geografia pode receber muito mais
destaque no campo dos esportes, dada a
existência de trabalhos de qualidade na
área.
Inspirados pelo clima de Copa do
Mundo, convidamos o professor Victor de
Andrade Melo, uma das principais
referências nos estudos sobre esportes e
cidade, para uma entrevista onde o tema
será “Qual é o potencial da Geografia no
estudo sobre esportes?”. Nos últimos anos,
o professor vem se aproximando da
Geografia ao trabalhar a relação das práticas
esportivas com a produção do espaço
urbano e a reprodução da vida moderna.
Entendemos que a sua obra apresenta uma
perspectiva histórica que traz importantes
contribuições ao tema, rompendo com a
hegemonia dos megaeventos nos estudos
esportivos.
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A entrevista foi realizada em
formato remoto, devido à formação
heterogênea do Grupo de Estudos, que
conta com alunos de diversas Instituições
Públicas de Ensino, espalhadas pelo
território brasileiro.
Grupo de Estudos Mundo Dentro e Fora
das 4 Linhas: Entrevista com o Prof. Dr.
Victor de Andrade Melo
Quando você começou a estudar esporte?
Comecei a estudar esporte foi no
ano de 1995, quando eu estava preparando
o meu projeto para o doutorado. Depois eu
passei a estudar um pouco de
entretenimento, lazer, e acabei fazendo os
pós doutorados assim, um pouco daquilo
que me interessava em cada momento.
Então, primeiro eu fiz um pós-doutorado
em Estudos Culturais na UFRJ, depois fiz
um pós-doutorado em História da UFF.
Depois eu fiz um pós-doutorado em
educação quando eu saí, porque a princípio
eu era professor da Escola de Educação
Física da UFRJ, depois eu fui para a
faculdade de educação e eu fiz um pós-
doutorado em educação. E agora,
recentemente, eu concluí esse pós-
doutorado em Geografia com o Márcio
Piñon. Então, eu acabei tendo uma
formação muito indisciplinada ou pouco
disciplinar. Eu fui dialogando com aquelas
áreas que eu achava que eram importantes
para sustentar esse meu interesse central,
notadamente na relação do esporte com a
cidade, com o processo de urbanização.
Algo que é muito constante no seu
trabalho é essa relação dialética entre
esporte e cidade. Qual é a sua relação
com a Geografia e como você a na
discussão dos esportes e da cidade?
Minha proximidade com a geografia
começou por causa da minha relação com
o Gilmar (Mascarenhas), o grande pioneiro
do Brasil na tentativa de aproximar a
geografia do estudo do esporte. Eu conheci
o Gilmar bem no iniciozinho no ano de
1996. Estava começando a fazer o
doutorado e acho que ele também. Não
tinha um fórum para reunir os geógrafos do
esporte, mas na história a gente tinha.
Esse Congresso surgiu em 1993 e eu acho
que eu conheci o Gilmar no quarto
Congresso, que foi de 1996, e o Gilmar
procurando alguém para dialogar. Por
que? Não tinha ninguém na geografia para
ele dialogar. A gente ficou próximo de
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imediato. Eu sempre li muitos trabalhos do
Gilmar e seus trabalhos sempre me
pareceram importantes. Depois ele acabou
se aproximando mais do turismo, e depois
se engajou profundamente naquele
movimento dos megaeventos, no qual teve
participação importantíssima. Mas eu
gostava mais do início, quando ele falava
mais de uma geografia histórica. Mas eu
sempre lia as coisas dele, a gente sempre
conversava... Em 2000, eu acabei sendo
convidado para escrever um livro chamado
“Rio Esportivo”, em que eu tentava
organizar as práticas esportivas da cidade
por regiões. E eu convidei o Gilmar para
fazer o prefácio. Ele disse pra eu fazer
alguma coisa na geografia, porque eu
curtia esse debate. E a gente ficou de
escrever alguma coisa em conjunto, até no
concurso dele para (professor) titular, eu
estava na banca e ele disse: “Cara, vamos
ver se agora a gente finalmente consegue
escrever alguma coisa juntos”. E se deu
a tragédia. Eu já tentava me aproximar um
pouco da história urbana. A história
urbana sempre foi a minha jogada. Mas
acho que determinante foi quando eu
comecei a fazer um trabalho sobre o
subúrbio do Rio de Janeiro. Quando fui
fazer o trabalho sobre o subúrbio do Rio de
Janeiro, tem pouquíssima coisa da história
sobre subúrbio. pra fazer esse trabalho,
ainda em continuidade, acabei encontrando
coisa pra caramba na geografia e no
urbanismo. Não dava mais para fugir desse
debate (com a geografia). Na verdade, é um
debate central no trabalho, porque minha
questão é perceber como o esporte se
articula com o desenvolvimento da cidade,
como ele é uma decorrência do processo de
urbanização, como ele é um agente do
processo de urbanização e como isso está
ligado notadamente à estruturação de um
mercado de entretenimento. Então, o meu
interesse sempre é pensar como é que o
mercado de entretenimento tem a ver com
esse processo de urbanização e como é que
o esporte faz parte dele. Eu tinha lido nesse
último trabalho alguma coisa do Lefèbvre e
comecei um pouco a trabalhar essa ideia de
que os agentes esportivos são produtos e
produtores do espaço. Eles são
fundamentais no forjar das múltiplas
identidades que compõem uma cidade
Você acha que os esportes poderiam ser
produtores do espaço urbano?
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Eu acho que talvez os estudos de vocês vão
apontar isso também. Talvez o esporte seja
um dos grandes produtores do espaço. Ele
é mais potente enquanto produtor do
espaço do que a gente imagina. Ele acaba
estabelecendo verdadeiras vocações
urbanas, verdadeiros perfis de ocupação.
Então isso é possível perceber. Eu tenho
feito alguns estudos por bairro, primeiro na
forma de artigo, e agora estou fazendo uns
ebooks. Então, agora, por exemplo, estou
fazendo um ebook sobre o Vila Isabel
Futebol Clube, um clube que existiu entre
1910 e 1944. E é incrível como o Vila Isabel
Futebol Clube é a expressão de um bairro
que está na fronteira com o subúrbio,
porque efetivamente na divisão de 1890,
aquela freguesia ali, freguesia do Engenho
Novo, era a última freguesia urbana. Mas
veja, era a última freguesia urbana e o
Méier fazia parte dessa freguesia e ela
supostamente não seria uma freguesia
urbana. Mas não é a legislação que
determina se uma área é urbana ou não
suburbana. É também a apreensão do
espaço e a apreensão dos indivíduos do
espaço que vai permitir que se gere uma
determinada identidade daquele espaço.
Então, o Méier pertence na legislação lá do
século XIX à área urbana, mas eles
reivindicam uma identidade suburbana.
Que é diferente da identidade suburbana de
Madureira. Madureira e Méier disputavam
quem era a capital do subúrbio. Então,
quando a gente olha no mapa, você vai ver
que Vila Isabel está bem pertinho do ier.
É Vila Isabel, Lins, Engenho Novo e Méier.
Então, Vila Isabel está na fronteira da área
urbana. Menos do que o Méier, mas tá.
Enquanto o Méier está na área urbana, mas
reivindica uma identidade suburbana, Vila
Isabel está na área urbana e dialoga com a
Zona Sul. Então aquele grupo de indivíduos
quer, de alguma forma, produzir o bairro
para que não seja a expressão da
suburbanidade, mas da elite carioca que
está naquele momento se espalhando para
a Zona Sul. E a gente viu como é que o
Vila Isabel Futebol Clube se movimenta
para executar essa ideia. Ele é um player
importantíssimo na organização, não só do
bairro, mas na organização das
mentalidades. Então, não é por acaso que o
Vila Isabel consegue ir para a Liga
Metropolitana e ficar na primeira
divisão, enquanto o Vasco vai demorar pra
caramba para ser aceito. Quer dizer, então,
vejam por esse nosso papo, olha como
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que o ferramental da geografia é
ultrapotente para a gente olhar não o
esporte, mas para olhar a cidade, lógico.
Nós estamos dizendo o seguinte: “Nós
estamos olhando a cidade pelo esporte e o
esporte pela cidade”. É por isso que eu
falava para vocês que eu gostava tanto
daquele Gilmar lá do início, porque aquele
Gilmar lá do início fazia isso de uma forma
espetacular. Depois, ele acabou fazendo
outra coisa de forma espetacular, aquela
coisa dos megaeventos. Então, eu acho que
a gente tem um manancial, cara, assim,
para olhar para o esporte a partir da
geografia e olhar para a geografia a partir
do esporte. A gente tem um manancial
incrível!
Poderíamos, de que maneira, inferir uma
relação entre o contexto suburbano e o
futebol? Como esse esporte suburbano se
relaciona com as identidades e
alteridades?
Então, uma cidade como o Rio de
Janeiro, ela tem um montão de identidades
que se chocam. Você tem uma identidade,
identidade aqui entendido como uma
estrutura estruturante, como um certo
discurso sobre uma representação, sobre
alguma coisa que é tanto mais considerada
conforme o seu poder de convencimento.
Então, a gente tem uma identidade da
cidade, identidade carioca, identidade,
primeiro era fluminense, depois a
identidade carioca. Mas a gente tem pelo
menos duas grandes identidades em choque
ou de enfrentamento, que é a identidade
suburbana e a identidade urbana. Mas em
cada uma dessas partes a gente também tem
identidades próprias. Na área que
antigamente era dita área urbana, a gente
tem a formação de uma série de bairros ali
da Tijuca, Vila Isabel, Andaraí, que é bem
diferente daquelas identidades que estão se
formando na Zona Sul, perto da praia. Da
mesma forma que a Zona Suburbana, ela
tem múltiplas identidades, porque ela tem
uma área que é mais rural, que durante
muito tempo foi mais rural, e tem uma outra
área que teve um grande inchaço urbano,
a área do Méier, a área de Madureira, de
tal maneira que é possível a gente até
sugerir que no Rio de Janeiro tem alguns
bairros que têm identidade. Temos a
identidade do Méier, a identidade da
Tijuca, a identidade de Campo Grande. O
que eu tenho investigado é entender como é
que os clubes funcionam como uma agência
pedagógica nessa organização desses
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perfis de espaços. Desse perfil de bairro.
Da formação, da produção do espaço.
Então, é sempre nessa dimensão. O clube,
ele de alguma maneira, é uma expressão de
um espaço que está sendo produzido e de
outra forma, ele é agente fundamental na
produção desse espaço. Então, eu acho que
aí, quando eu mergulhei nessa expectativa
de trabalho, ficou impossível não
dialogar com a geografia. Quer dizer, era
uma coisa que eu já devia ter feito há mais
tempo e talvez não fizesse porque tinha o
Gilmar. Era mais fácil ler as coisas do
Gilmar. Ele escrevia tão bem. Era tão
bacana o que ele produzia, que eu acabava
dialogando um pouco mais a partir da
produção dele. Então foi isso um pouco o
caminho que me levou da história urbana
para a geografia. E esse mergulho que eu
fiz com a supervisão do Márcio foi muito
bacana. Eu me senti muito feliz de ter
passado esse ano com o grupo,
aprendendo e discutindo mais sobre as
coisas da geografia.
Diante dessa condição que o senhor traz,
de entender as dinâmicas de alteração da
infraestrutura, para dizer que o
espaço ganha uma condição ativa na vida
da sociedade?
para dizer que o espaço é muito mais
importante de ser investigado do que nós
historiadores costumamos considerar. Eu
gosto muito de um texto do professor
Maurício Abreu, “Sobre a memória das
cidades que ele faz uma provocação que
nos faz pensar “em que momento que a
gente disse que o geógrafo cuida do
espaço no presente e o historiador só cuida
do tempo no passado?”. Ora, então ele vai
dizer que quando a gente promove esse
encontro dessas duas coisas, tem um
enorme potencial. Então, acho que dá para
dizer que, pelo menos do ponto de vista da
história, e mais do que se refere ao esporte,
a gente estudou pouco como o espaço é
interveniente fundamental na configuração
do fenômeno esportivo, e na configuração
de todas as redes de sociabilidade da
cidade. E é por isso que a gente tem um
enorme potencial de investigação. O
esporte tem uma dinâmica de participação
que pressupõe um maior ativismo dos
indivíduos. Vou dar um exemplo aqui.
Estudar clube é praticamente estudar o Rio
de Janeiro inteiro, porque praticamente
não bairro do Rio de Janeiro que não
tenha um, dois, três clubes. Agora você
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poderia falar o mesmo para cinema. Em
1955, a gente tinha um monte de bairro no
Rio de Janeiro que tinha cinema, né? Então
a gente pode dizer que é possível estudar a
rede de sociabilidade da ocupação do
espaço pelos cinemas. Mas qual é o
ativismo do frequentador de cinema e do
frequentador do cenário esportivo? Eu
sempre faço uma brincadeira que ninguém
torce pro cinema de seu bairro. Enquanto a
própria natureza competitiva de emulação
de competição do fenômeno esportivo faz
com que a gente tenha uma outra relação
com o espaço, ainda mais profunda e
umbilical. Então eu acho que é por isso que
o esporte, ele tem essa relevância em
relação a outros temas sociais. Por que o
esporte tem toda a relevância no Estado-
nação? Porque ele dramatiza o encontro
entre as nações. Você vai para o Festival de
Cannes, por exemplo, quando um cineasta
espanhol ganha o prêmio, você não diz “A
Espanha ganhou o prêmio”, mas numa
Copa do Mundo você diz “a Espanha
ganhou o prêmio”, o Brasil ganhou a
competição”. Então eu acho que por isso
1
Botafogo, Caju, Paquetá: a Baía de
Guanabara em festa - o remo e a produção do espaço
(1866-1895)
que esse nosso tema é bastante relevante,
talvez até tenha uma relevância mais
intensa do que outras, no que se refere a
entender os processos de conformação da
urbanidade.
Você acha que existe uma combinação
entre futebol, geografia e história para
tentar traçar esse desenvolvimento
urbano, esse desenvolvimento dos
esportes na cidade?
Eu acho que é muito possível. Os
meus trabalhos de história não são os
mesmos depois que eu passei e tenho
passado por esse contato com a geografia.
Eu olho para o espaço com uma outra
intencionalidade e entendendo que o
espaço é uma variável importantíssima a
ser considerada. Então, eu acho que é um
pouco o esforço que eu tenho feito de fazer
uma geografia histórica do esporte. que,
nesse caso, fazendo pelos clubes.
Recentemente eu lancei um artigo na
Record
1
falando um pouco sobre a
configuração do espaço Baía de
Guanabara. A gente nunca fala que uma
parte importante do que a gente chama de
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Baía de Guanabara foi configurada pelos
clubes de remo, pelas práticas de natação,
pelas belas competições de mergulho, por
essas coisas todas. Porque aquele espaço, a
princípio, ele era concebido para fins
somente econômicos, ou políticos, de
defesa. Então, quando a cidade começa a
aderir a novos padrões de modernidade,
quando a gente começa a configurar o
espaço público como lugar de festa, de
entretenimento, de forma mais categórica,
a Baía de Guanabara não é mais um
lugar de economia. Ela passa a ser um
lugar de festa, de entretenimento. Não
porque você toma banho de mar, mas
porque você faz excursão, porque tem
passeio marítimo, porque você tem as
competições. Então você tem a produção de
um novo espaço, um novo olhar, de um novo
perfil daquele espaço. Conversando com
João Malaia, que é meu querido amigo e
fera em história econômica, então, volta e
meia falo pra ele “Imagina, João, se a gente
pudesse fazer uma comparação disso com o
aumento do preço das terras naquela
região do Rio de Janeiro”. Assim, a Zona
Sul começa também a ser valorizada
porque tem essa outra estrutura de
entretenimento que se constitui em
elemento de valorização do espaço. Então
a gente muitas vezes acha que não, porque
tem esgoto, mas porque tem estrutura. É
verdade, mas em lugares que tem
entretenimento, também valorizam o preço
da terra. As conexões do esporte com a
produção da urbanidade são muito mais
profundas do que a gente costuma
considerar e se cruzam com muitas outras
questões que a gente pode investigar. Por
exemplo, transporte público. Infraestrutura
urbana. Um exemplo no trabalho que eu fiz
da Lagoa Rodrigo de Freitas. Quando você
configura aquele espaço como espaço de
entretenimento, porque primeiro era um
espaço de entretenimento dos operários que
ali viviam. Depois, aquela área começou a
passar para o processo de gentrificação na
década de 1920, com a intervenção da
reforma Carlos Sampaio. Então, uma das
primeiras coisas que a gente observa é o
aumento de linha de transporte público,
porque você tem que fazer as pessoas
chegarem até o evento esportivo. Isso no
passado e isso no presente. Se realmente
implantar aquele estádio ali no Gasômetro,
no caso o estádio do Flamengo. É porque o
estádio do Flamengo é quase igual ao
duende. A gente acha que existe, mas nunca
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viu. Então vai ficar a vida toda. Mas vamos
dizer que implante o estádio do Flamengo
ali naquela região. A gente não pode
imaginar o número de mudanças que pode
ter aquele espaço, o espaço que hoje é
relativamente meio abandonado, um
espaço de passagem, mas o potencial que
tem de desenvolver coisas ali ao redor vai
ser impressionante. Ao mesmo tempo, a
gente vai ter que pensar como é que as
pessoas vão chegar, a linha de ônibus e
todas essas coisas. Então eu acho que a
conexão do esporte com os mais diversos
tempos da urbanidade faz com que vocês
tenham coisa pra caramba para estudar.
Tem milhares de pontos bacanas que a
gente ainda não se debruçou. Só falando de
cidade, imagina as outras coisas que têm a
ver com o escopo da geografia no cenário
internacional.
Quais são as suas referências? Primeiro
no geral, digamos assim, e depois se vo
tem referências na geografia para além
do Gilmar, se existe.
Eu trabalho muitos anos com os
pensamentos do historiador inglês Edward
Palmer Thompson. Gosto muito da ideia
dele de experiência. Gosto muito da ideia
dele de auto formação, como os grupos,
eles têm um processo de auto formação, não
são formados de fora. Então, essa é uma
inspiração geral para o meu trabalho. Na
geografia do esporte, o Gilmar eu falei,
e trabalho muitos anos com o
professor Maurício Abreu. Os estudos do
professor Maurício Abreu são incríveis, no
sentido que transita em um montão de área.
Você não pode dizer que ele é de uma.
Ele também é da história, ele também é do
urbanismo. São muito potentes, né? E
tantos anos depois que ele fez, continua
muito, muito potente. E o meu esforço nesse
último ano foi desvendar o Lefebvre, que
não é exatamente um autor fácil, e acabei
me aproximando de alguns colegas da
geografia que fazem boas leituras que eu
acho do Lefebvre, por exemplo a Ana Fani
Carlos, da USP, que eu gosto pra caramba
das coisas que ela escreve. Também gosto
pra caramba das coisas que ela escreve
sobre geografia urbana e geografia crítica.
Então é um pouco esses autores que eu
tenho mais me dedicado, mais me
debruçado.
Como você acha que as classes sociais
atuam nessa dialética entre o esporte e a
cidade?
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A ideia de que o fenômeno esportivo é um
fenômeno de elite, ele não corresponde
exatamente à sua ocorrência histórica, se a
gente ampliar o olhar sobre o fenômeno.
Quando se diz “o turfe era um esporte de
elite”... Veja, o dono do cavalo era de elite,
mas o jóquei era das camadas populares e
o estádio era dividido de tal maneira que as
camadas populares também estavam
presentes no espaço. Vopode dizer que
as camadas populares tinham menos
possibilidade de participação ativa no
espetáculo, isso sim. Mas você não pode
dizer que elas não estavam presentes desde
sempre, porque o fenômeno esportivo, ele é
também um fenômeno de mercado. Ele é
uma ocorrência de natureza econômica.
Então, a princípio, é preciso entender que
existem mecanismos de sustentação da
prática. É por isso que o povo tem que ser
chamado para participar. Qual foi a
primeira instalação esportiva no Brasil
construída? O Hipódromo do Prado
Fluminense, construído em 1849, ali no
bairro de Olaria, Benfica, São Francisco
Xavier. Agora é o conjunto “cidade
carioca” do Minha Casa Minha Vida.
Pode-se dizer que essa é a primeira
instalação esportiva do Brasil, e desde que
ela foi criada você tem espaços populares
para assistir. Esse, por exemplo, foi o do
remo. Não é por acaso que o Pereira
Passos, que estava tentando construir um
sentido de modernidade para a cidade na
sua relação com o mar, indicando a Zona
Sul como caminho de crescimento da
cidade, ele vai construir o Pavilhão de
Regatas em Botafogo. Ele vai atender a esse
público específico. E um pavilhão de
regatas em Botafogo, conformando um
perfil do espaço. Inclusive um perfil
esportivo do espaço. A gente tem ali o
Clube de Regatas Guanabara e o Clube de
Regatas Botafogo. Na Praia da Saudade, o
próprio Iate Clube Brasileiro, que foi
criado ali e hoje aquele espaço não existe
mais, porque simplesmente a gente
conseguiu ceder para estacionamento de
barco de rico, virou o Iate Clube do Rio de
Janeiro, um verdadeiro crime contra a
cidade. Mas logo ali depois você tinha
também o clube de futebol do Botafogo,
tinha o estádio lá. Então, veja como a gente
vai criando aí uma mancha esportiva.
E os extratos médios?
O que me parece é que a gente tem que
estudar melhor como é que se deram os
Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
MATTOS, Lucas Nascimento de; ROSALIN, João Paulo; FRANCO, Fernando Chamone; BEZERRA, Rafael Freitas; SANTOS, Leandro
Luís Lino dos; FERREIRA, Jonathan. Esporte, Cidade e Geografia: entrevista com o professor Dr. Victor Andrade de Melo. Ensaios de
Geografia. Niterói, vol. 9, nº 19, pp. 196-210, set-dez de 2022.
Submissão em: 08/11/2022. Aceito em: 18/11/2022.
ISSN: 2316-8544
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207
movimentos dos diversos grupos sociais ao
redor dessas ocorrências. Movimentos de
reivindicação, por exemplo. Foi comum que
hipódromos tenham sido destruídos, e por
que foram destruídos? Quando os
populares percebiam que tinha armação no
jogo, eles não iam reclamar na delegacia de
polícia, eles quebravam tudo. Você tem
uma forma de resistência urbana que
colocada. Estou escrevendo um trabalho
com o Ricardo sobre o jóquei. Que
personagem é esse que vem das camadas
populares, mas frequenta aquele cenário
ali de elite, que o esporte mesmo como
uma possibilidade de ascensão social? E,
fundamentalmente, eu acho que o mais
difícil é a gente entender como é que o
esporte foi um elemento central na
configuração de grupo de estrato médio.
Assim, é difícil pra caramba, porque do
ponto de vista econômico, é difícil precisar
quem é o grupo de estrato médio. Quer
dizer, quem é a classe média nessa história?
Mas eu acho que foi um dos mecanismos
que os grupos de estrato médio
encontraram para emular uma relação com
a elite. Eu também tenho um clube, eu
também posso disputar. Talvez a gente
possa chegar a argumentar que esse é o
caso do Vasco da Gama, por exemplo, que
não é um grupo que faz parte da elite stricto
sensu da cidade, mas é uma determinada
fração de elite, que se movimenta e começa
a ter algum grau de enfrentamento com
esses grupos de elite. A gente tem mais um
outro elemento interessantíssimo a pensar
nessa relação entre cidade e urbanidade,
que é não a participação dos estratos
sociais, como as questões de natureza
econômica. Eu acho que na área de história
do esporte, cara, eu estou super convencido
que a gente avançou pra caramba numa
história cultural do esporte e passou para a
história política do esporte, a história
social do esporte. Agora, a história
econômica, cara, ainda tem pouquíssima
gente fazendo. Fazendo super bem, hoje,
o João (Malaia) mesmo.
Na última década, no que se refere à
produção acadêmica sobre esporte, a
geografia se debruçou sobre
megaeventos e sobre futebol. Mas como
você mesmo diz “o mundo não começou
com futebol”. Então, de que forma você
entende que a geografia pode se incluir
nessa discussão esportiva para além dos
megaeventos e para além do futebol?
Eu tenho um trabalho que está até na
gina do grupo, que se chama “O esporte
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nas ANPUR”, não sei se você conhece
esse trabalho. Antes de ter o nosso
simpósio, que vai fazer 20 anos agora, o
Simpósio da História do Esporte, eu fui
pegando todos os anais da ANPUR pra ver
onde aparecia o esporte na ANPUR. Até
que a gente tem o nosso simpósio. E aí, no
início, cara, era igual na gente. Era 80% de
futebol e 20% das vezes era eu mesmo
que gosto do século XIX, e o século XIX não
tem futebol. Quer dizer, o futebol estava
começando em São Paulo. Acho que eu
escapei de estudar futebol porque gosto
mais do XIX que do XX, então, deve ter sido
mais ou menos por isso. E aí,
paulatinamente, o futebol ainda é
importante. Talvez o futebol hoje ocupe um
espaço de 30 a 40%. O que é lógico, o
futebol é um esporte importantíssimo,
fascinante. Mas a gente ganhou muito,
cara, quando a gente diversificou as
modalidades. Eu sempre acho assim,
diversificar é muito saudável para um
campo acadêmico. Se a gente faz história
cultural do esporte e fica todo mundo meio
que repetindo coisas muito parecidas,
então é legal quando alguém faz história
política, história social, história
comparada, história econômica. Se a gente
vai ficar estudando a identidade, que foi um
tema que era moda, ou torcida organizada,
fica tudo meio que pré-concluído. O
esporte é uma das ferramentas que as
mulheres mais utilizaram para ter maior
protagonismo social no século XIX e
início do século XX. Primeiro como público
e depois como participante, como atletas.
Então, eu sempre acho que a gente ganha
pra caramba quando a gente diversifica. Eu
acho que para o movimento da história do
esporte, foi muito saudável que hoje a gente
só tenha entre 30 e 40 por cento, o que já é
bastante, mas o que tem que ser, porque o
futebol é um espaço de relevância, sim, mas
tem tantos outros olhares que a gente pode
dar para a sociedade... Por que, pra quê a
gente estuda o esporte? Para entender o
mundo, né? O esporte é a nossa chave para
entender a sociedade, o que não significa
que a gente não possa entender o esporte
também. Eu acho que se a gente tem vários
olhares a partir do esporte, a gente pode
entender também a olhar o mundo de forma
mais diversa, mais múltiplo e talvez até
mais completa na soma desses estudos.
Quais foram as suas últimas publicações
e se você tem projetos futuros nessa área
de esporte e cidade?
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Eu estou continuando fazendo os projetos
sobre bairro e esporte, escrevendo com o
Bruno sobre o Vila Isabel. Nesse formato
dos ebooks que eu estou gostando muito de
fazer. Nada contra as editoras tradicionais,
mas acho o ebook legal. A gente pode botar
mais fotos, mais imagens, é de graça, fica
livre na rede, todo mundo pode usar, eu me
sinto mais à vontade para escrever. Fica um
negócio meio artesanal, poesia marginal
dos anos 70, sabe? Eu acabei de escrever
um livro que talvez saia ano que vem, sobre
os 25 anos do Projeto Grael. Com a minha
querida amiga Juliana, nós estamos agora
fechando um livro sobre as comemorações
de 1922, e é um livro também de difusão. A
gente está mostrando quais foram as obras
que foram feitas pra 1922 e quais que
ficaram do dia de hoje. Só que a gente está
usando como o percurso a maratona de
1922. Eu faço bastante coisas ao mesmo
tempo. Eu vou fazendo assim, vou e vou
articulando. Eu quero fazer um super livro
sobre o Pavilhão, mostrar como é que
aquilo ali é importantíssimo e como foi
mais um bem que a gente desperdiça
dinheiro, e isso tem a ver com o demérito, o
descrédito, a desvalorização da Baía de
Guanabara. Você simplesmente abandona
a Baía de Guanabara. Imagina, a gente tem
uma das maiores piscinas urbanas do
mundo e está poluída. Olha como a gente
extirpa do cidadão um grande espaço de
lazer, de entretenimento, para ter aula de
natação, escola de natação, como teve no
passado. Então, a gente simplesmente deixa
isso acontecer também na medida em que a
gente elege a Zona Sul do Rio de Janeiro
como o espaço da Cidade Maravilhosa, né?
Olha, eu quero fazer essa relação assim, de
processo de ocupação da Zona Sul,
desvalorização da Baía de Guanabara,
perda do valor do espaço, fim do Pavilhão
de Regatas. Eu achando que o Pavilhão
de Regatas é uma saída para a gente
discutir esse negócio. Então, mais ou menos
isso, que fazendo devagarinho, fazendo
as coisas.
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Referências
ABREU, M. Sobre a Memória das Cidades.
Revista da Faculdade de Letras
Geografia I série, Porto, v. 14, p. 77-97,
1998. Disponível em:
<https://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/1
609.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2022.
GAFFNEY, C. Geography of Sport. In
MAGUIRE, J. Social Sciences in Sport, p.
109134, 2014. Disponível em: <
https://www.academia.edu/6374382/Geogr
aphy_of_Sport>. Acesso em: 10 nov. 2022.
MASCARENHAS, G. J. Entradas e
Bandeiras: a conquista do Brasil pelo
Futebol. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2014.
MELO, V. A. Uma geografia do esporte: as
experiências dos clubes de iatismo da Zona
da Leopoldina (Rio de Janeiro, 1941-
1954). GEOUSP Espaço e Tempo
(Online), [S. l.], v. 24, n. 1, p. 83-103,
2020. DOI: 10.11606/issn.2179-
0892.geousp.2020.163185. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/geousp/article/
view/163185. Acesso em: 17 out. 2022.
2
Doutorando em História Contemporânea no Programa de
Sociedade e Cultura pela Universitat de Barcelona. Mestre
em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em
Geografia da Universidade Federal Fluminense
(POSGEO/UFF).
3
Doutorando vinculado ao Programa de Pós Graduação
em Geografia da UNESP campus Rio Claro, onde
desenvolve sua tese intitulada "Usos do território,
solidariedades institucionais e especificidades produtivas:
as indicações geográficas para produtos agropecuários no
estado de São Paulo".
4
Graduando em Geografia pela Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG)
Lucas Nascimento de Mattos
2
Universitat de Barcelona (UB),
Barcelona, Espanha
e-mail: lucas.nmattos@gmail.com
João Paulo Rosalin
3
Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita
Filho" campus Rio Claro (UNESP - RC),
São Paulo, Brasil
e-mail: joao.rosalin@unesp.br
Fernando Chamone Franco
4
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
Minas Gerais, Brasil
e-mail: chamone.fernando1@gmail.com
Rafael Freitas Bezerra
5
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
Fluminense campus Centro (IFF - Campos dos
Goytacazes),
Rio de Janeiro, Brasil
e-mail: freitasrafaelbez@gmail.com
Leandro Luís Lino dos Santos
6
Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita
Filho" campus Rio Claro (UNESP - RC),
São Paulo, Brasil
e-mail: leandro.lino@unesp.br
Jonathan Ferreira
7
Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita
Filho" campus Rio Claro (UNESP - RC),
São Paulo, Brasil
e-mail: joowfe@gmail.com
5
Licenciando em Geografia no Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF) campus
Campos Centro.
6
Mestrando em Geografia na Universidade Estadual
Paulista "Júlio de Mesquita Filho" campus Rio Claro
(UNESP - RC)
7
Mestrando em Geografia pela Universidade Estadual
Paulista "Júlio de Mesquita Filho" campus Rio Claro
(UNESP - RC)