Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
SOUZA, Agriane Caldeira. ESPAÇOS DE VIVÊNCIAS DE UMA COMUNIDADE RIBEIRINHA NA AMAZÔNIA PARAENSE. Ensaios
de Geografia. Niterói, vol. 10, nº 22, pp. 13-39, setembro-dezembro de 2023.
Submissão em: 14/03/2023. Aceito em: 26/09/2023.
ISSN: 2316-8544
Este trabalho está licenciado com uma licença Creative Commons 13
SEÇÃO ARTIGOS
ESPAÇOS DE VIVÊNCIAS DE UMA COMUNIDADE RIBEIRINHA NA
AMAZÔNIA PARAENSE
LIVING SPACES OF A RIVERSIDE COMMUNITY IN PARÁ’S AMAZON
FOREST
ESPACIOS DE VIDA DE UNA COMUNIDAD RIBEREÑA EN LA AMAZONÍA
PARAENSE
Agriane Caldeira Souza1
Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
Paraíba, Brasil.
e-mail: agrianesouza@gmail.com
Resumo
Este trabalho é o resultado de uma pesquisa mais ampla de mestrado que tem como foco apresentar as diferentes
dinâmicas vivenciadas por moradores de uma comunidade ribeirinha da Amazônia Paraense, chamada de
Carapanatuba, no interior do município de Santarém. O modo de vida e a dinâmica territorial das populações
ribeirinhas são objetos de estudo em várias ciências, e aqui somos pautados na ciência geográfica, com auxílio de
autores como Santos (2002), Souza, (2018) e Tuan (2012) nas abordagens de categorias de espaço e lugar, que
amparam para a compreensão dos espaços de vivência dos moradores de Carapanatuba. Para a aquisição das
informações foram realizados trabalhos de campo, com o uso de entrevistas e de outros instrumentos como celular,
caderno de campo, entre outros. A Fenomenologia também foi utilizada como método de análise, pois cria pontes
para que tenhamos acesso às informações e às percepções mais apuradas para ouvir, olhar, sentir, perceber e avaliar
todos os fenômenos que transpassam a pesquisa. Mediante as observações e dos diálogos realizados durante o
trabalho sobre as vivências dos pescadores com seus espaços/lugares de vida, é perceptível a relação afetivas dos
pescadores para com a sua casa, que para eles é vista como um “porto seguro”, com as suas embarcações, com a
comunidade, com o rio. E que nas pequenas práticas cotidianas em que são socializados os saberes sobre a
dinâmica da natureza, é onde se constroem relações simbólicas e afetivas para com seus lugares de vida e trabalho.
Palavras-Chave: Ribeirinhos; modo de vida; vivências; Espaço.
1
Graduada em Geografia pela Universidade Federal do Oeste do Pará-UFOPA. Mestre em Geografia pela
Universidade Federal da Paraíba-UFPB. Professora da Educação Básica- João Pessoa/ Paraíba-Brasil.
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Abstract
This work is the result of a broader master's research that focuses on presenting the different dynamics experienced
by residents of a riverside community in the Paraense Amazon, called Carapanatuba in the interior of the
municipality of Santarém. The way of life and territorial dynamics of riverside populations are objects of study in
various sciences, and here we are guided by geographic science, with the help of authors such as Santos (2002),
Souza, (2018) and Tuan (2012) in the approaches of categories of space and place, which support the understanding
of the living spaces of Carapanatuba residents. For the acquisition of information, field work was carried out, using
interviews and other instruments such as cell phones, field notebooks, among others. Phenomenology was used as
an analysis method, as it creates bridges so that we have access to the most accurate information and perceptions
to hear, look, feel, perceive and evaluate all the phenomena that permeate the research. Through the observations
and dialogues carried out during the work on the experiences of fishermen with their spaces/places of life, it is
perceptible the affective relationship of fishermen with their home, which for them is seen as a “safe harbor”, with
their boats, with the community, with the river. And that in the small daily practices in which knowledge about
the dynamics of nature is socialized, is that they build symbolic and affective relationships with their places of life
and work.
Keywords
Riverside; lifestyle; experiences; space.
Resumen
Este trabajo es el resultado de una investigación de maestría más amplia que se enfoca en presentar las diferentes
dinámicas vividas por los habitantes de una comunidad ribereña en la Amazonía Paraense, denominada
Carapanatuba en el interior del municipio de Santarém. El modo de vida y la dinámica territorial de las poblaciones
ribereñas son objeto de estudio en diversas ciencias, y aquí nos guiamos por la ciencia geográfica, con la ayuda de
autores como Santos (2002), Souza, (2018) y Tuan (2012) en los planteamientos de categorías de espacio y lugar,
que sustentan la comprensión de los espacios de vida de los habitantes de Carapanatuba. Para la adquisición de la
información se realizó trabajo de campo, utilizando entrevistas y otros instrumentos como celulares, cuadernos de
campo, entre otros. Se utilizó la fenomenología como método de análisis, ya que crea puentes para que tengamos
acceso a la información y percepciones más precisas para escuchar, mirar, sentir, percibir y evaluar todos los
fenómenos que permean la investigación. A través de las observaciones y diálogos realizados durante el trabajo
sobre las experiencias de los pescadores con sus espacios/lugares de vida, es perceptible la relación afectiva de los
pescadores con su hogar, que para ellos es visto como un “puerto seguro”, con sus embarcaciones, con la
comunidad, con el río. Y que en las pequeñas prácticas cotidianas en las que se socializan conocimientos sobre la
dinámica de la naturaleza, es que construyen relaciones simbólicas y afectivas con sus lugares de vida y trabajo.
Palabras-clave
Ribereños; modo de vida; experiencias; espacio.
Introdução
Descreve-se que o ser ribeirinho é aquele que vive às margens dos rios, e que dele
depende e cria as suas relações sociais. Loureiro (1992, p.16). Entretanto, o fato de habitar as
margens dos rios não pode ser traduzido enquanto um pré-requisito para definir o ser ribeirinho.
O ribeirinho é muito mais o sujeito que, em suas práticas cotidianas, repete a vida nos rios e o
faz no sentido de ser ribeirinho. É aquele que se organiza em coletividade, em comunidade,
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vive por meio da partilha de saberes, de alimentos etc. Os povos ribeirinhos da Amazônia,
“daqueles cuja vida material e social está relacionada ao mundo das águas, ao universo
haliêutico, isto é, ao mundo das várias pescas, coletas, mariscagem”, destacando ainda as
“analogias que podem ser construídas em regiões cujas relações entre homem e meio ambiente
sejam influenciadas pelos elementos que guardam tais particularidades” (Furtado, 2002).
Podemos associar essas particularidades ao modo de vida muito característico aos ribeirinhos
da região amazônica, do qual tem-se o rio e o seu entorno, onde sua convivência e suas relações
com a natureza se estabelecem de maneira muito íntima, no seu modo de pensar, ser e agir.
E essa forma de dependência para com o meio ambiente também se vincula à questão
de pertencimento que é atribuída a esse lugar-ribeirinho, pois, nele, há uma geração sucessiva
de várias famílias, em que existem histórias carregadas de emoções que contam suas próprias
vidas. O ser ribeirinho pode ser identificado em um coletivo, ou seja, em uma comunidade
ribeirinha, o que é muito comum na Amazônia. Também pode ser identificado individualmente,
como o sujeito que estabelece sua morada às margens dos rios e a partir dele constrói suas
relações.
O objetivo deste trabalho é mostrar as diferentes dinâmicas que acontecem nesses
espaços ribeirinhos, como esses sujeitos se relacionam entre si, e quais suas relações com a
natureza, aqui em especial uma comunidade ribeirinha da Amazônia chamada de Carapanatuba
no interior do Município de Santarém/PA.
A pesquisa tem suporte da fenomenologia, uma vez que iremos trabalhar com pessoas
e compreender seus modos de vida, suas experiências. Por isso optamos por andar também
pelos caminhos da geografia cultural, por compreender que ela se aproxima mais do método
fenomenológico que busca descrever os fenômenos da experiência, além de procurar captar o
sentido e o significado oferecido pelos atores, grupos envolvidos, ao vivido (Surtegaray, 2005).
A fenomenologia cria pontes para que tenhamos acesso às informações e às percepções mais
apuradas para ouvir, olhar, sentir, perceber e avaliar todos os fenômenos que transpassam a
pesquisa.
O método fenomenológico valoriza a percepção do sujeito através de suas experiências
vividas, ou seja, a relação do homem com o meio em que está inserido. Por meio dele é
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permitida uma descrição filosófica dos fenômenos manifestados na experiência aos sentidos
humanos. A fenomenologia ajuda a ter a compreensão da profundeza do ser humano e faz com
que ele próprio se veja como um ser questionador. Martins (2009, p. 44) afirma que a
fenomenologia “fundamenta-se na busca do conhecimento a partir da descrição das
experiências como esta são vividas, não havendo separação entre sujeito e objeto”, ou seja, a
experiência do vivido é o que interessa, sem a vivência não há conhecimento sobre o sujeito.
Para buscar compreender os espaços de vivências dos moradores de Carapanatuba,
elegemos as categorias Espaço e Lugar para subsidiar a pesquisa. O Espaço é o conceito
chave da ciência geográfica e o estudo desta categoria oferece múltiplas possibilidades de
análises, de estudos e de debates científicos.
Para Milton Santos (2002), o conceito de espaço é indivisível do homem que o habita
e o modifica todos os dias. O espaço é o palco de contradições, de tensões, de resistência e de
lutas. É onde as práticas e as relações socioculturais são construídas, vivenciadas e fortalecidas.
O espaço é a especificação do todo social, um aspecto particular da sociedade global. (Santos,
2002). Assim, o espaço e a sociedade são indissociáveis, um necessita do outro, pois o espaço
é o elemento imprescindível para a reprodução da sociedade. Tuan (2012) destaca que espaço
e lugar são familiares e que indicam experiências comuns. O lugar é a segurança e o espaço é a
liberdade.
É a partir desses conceitos que pensamos em trabalhar os espaços de vivência dos
pescadores de Carapanatuba e buscar compreender seus olhares sobre o seu lugar de morada.
Estudar os lugares significa examinar um fenômeno específico do mundo vivido, elucidando a
intensidade das experiências no Lugar (Serpa, 2021).
De acordo com Tuan (2012), isso implica enxergar o lugar em diferentes escalas, como
uma cidade, uma comunidade, um bairro, uma estrada, uma casa, tudo pode ser lugar, basta que
neles tenham vidas, intimidade, relações de afetividades e representações simbólicas. Dessa
forma, pode-se ser vista nas vivências dos moradores de Carapanatuba, nas suas relações
simbólicas com a comunidade, com o rio, com a sua casa, com as suas embarcações, enfim.
Através desses conceitos, nos permitimos avaliar o lugar como uma ferramenta para buscar
compreender a relação do homem-sujeito com o seu meio.
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Dentro das atividades metodológicas, destacamos a realização do trabalho de campo
realizado nos anos 2021 e 2022, fazendo o uso de entrevistas. O uso de entrevistas como
instrumento científico de coleta de dados deve ser o reflexo de um planejamento metodológico
consciente e informado. Isto porque, por trás de uma escolha técnico-instrumental, o
enquadramento da pesquisa em um paradigma científico que oferece ao pesquisador contornos
e definições claras a respeito do tipo de problema que é possível investigar, como é possível
fazê-lo, qual tipo de raciocínio envolvido, qual a postura adotada pelo pesquisador e,
finalmente, que tipo de conhecimento pode ser obtido (Denzin; Lincoln, 2006). As entrevistas
contribuem na investigação dos sujeitos em questão, pois garantem o alcance de informações e
de acontecimentos sobre aspectos da vida dos sujeitos ao seu ambiente e ao espaço vivido.
As entrevistas foram organizadas de forma semiestruturada, o que possibilita o
pesquisador intervir durante o diálogo com novos questionamentos que possam surgir no
decorrer da entrevista. Trivinos (2008) garante que:
Entrevistas semiestruturadas, o enfoque qualitativo é possível, pois, elas são
resultadas não da teoria que alimenta o investigador, mas também de toda a
informação que ele recolheu sobre o fenômeno social que interessa, não sendo
menos importantes seus contatos, inclusive, realizados na escolha das pessoas que
serão entrevistadas (Trivinos, 2008, p.146).
Foram utilizados nomes fictícios para os entrevistados
2
, cada um deles recebeu o nome
de peixe de água doce. Além disso, foi utilizada a própria pesquisa bibliográfica, que serviu de
apoio teórico para o estudo. As observações da configuração paisagística local foram de
relevância imprescindível, além do uso de ferramentas que nos auxiliaram durante toda a coleta
de dados, como o aparelho celular para capturar imagens, gravador, caderno de campo, que é
um elemento indispensável para as anotações de detalhes das informações adquiridas.
Revelando o lugar: As relações dos moradores de Carapanatuba com seus lugares de vida
2
Todos os investigados assinaram termo de concessão de informação e a pesquisa passou por avaliação junto do
programa de pós graduação em geografia da UFPB do qual a pesquisadora está vinculada.
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Neste subitem, daremos visibilidade aos lugares de vida dos pescadores da
comunidade, mostrando como eles se relacionam no dia a dia, os seus pontos de encontro, os
lugares onde constroem as suas relações de vivências. Desse modo, utilizamos as imagens
fotográficas para demonstrar os lugares, visto que as fotografias são elementos de
representações importantes na geografia. Para Ruiz (2008),
A fotografia, além de ser o registro dos locais, fatos e pessoas que nos é importante,
nos leva a lugares que ainda não visitamos, pode também ser considerada como uma
fonte importante de dados, fatos e informações que se soubermos explorar
corretamente a transforma em um poderoso recurso ilustrativo (Ruiz, 2008, p. 20).
Portanto, usamos dessa ferramenta para ilustrar os lugares de vivências dos pescadores
de Carapanatuba, permitindo, assim, que os leitores possam visualizar o lugar, ainda não
visitado, podendo ter uma melhor interpretação da leitura. Dessa forma, a imagem fotográfica
se apresenta como uma fonte reveladora de pesquisa que demanda do pesquisador um novo tipo
de crítica. O testemunho da imagem fotográfica é válido, não importando se o registro foi feito
para documentar um fato ou para representar um estilo de vida (Lutz, 2010).
A fotografia é apenas um recorte espacial de outros espaços que a definem e os
estruturam, como o espaço geográfico, os espaços de vivências e os comportamentos dos
sujeitos que ali vivem. Assim, a fotografia se tornou imprescindível para fazermos a leitura dos
espaços de vivências dos ribeirinhos de Carapanatuba.
O espaço de encontros da Comunidade.
Antes de conhecermos a área de pesquisa, faremos uma breve contextualização do
termo “comunidade” para fundamentar melhor este subitem. Muitos estudos estão direcionados
para esse termo, assim, usaremos da interdisciplinaridade para o embasamento, trazendo os
olhares e as discussões sobre a temática de alguns autores como: Vaz (2010), Wagley (1977),
e Bauman (2020), que buscavam compreender as relações e as organizações de pequenas
sociedades.
Vaz Filho (2010) considera comunidade da seguinte forma:
O termo se impôs sobre as formas de organização baseadas nos núcleos familiares, e
implica em certo grau de institucionalização. Muitas comunidades têm estatutos
aprovados em assembleias gerais, ou elegem um presidente com tempo de mandato
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definido, que coordena as atividades coletivas e representa o grupo externamente (Vaz
Filho, 2010, p. 279).
Essa dinâmica citada pelo autor, de organização e de assembleias para a escolha de
um representante se faz muito presente na realidade da comunidade de Carapanatuba, onde os
comunitários elegem um presidente para representa-los em eventos na cidade de Santarém e em
outros movimentos locais em busca de melhorias da comunidade. Charles Wagley caracterizou
comunidades como lugares onde:
Existem relações humanas de indivíduo para indivíduo, e nelas, todos os dias, as
pessoas estão sujeitas aos preceitos de sua cultura. É nas suas comunidades que os
habitantes de uma região ganham a vida, educam os filhos, levam uma vida familiar,
agrupam-se em associações, adoram seus deuses, têm suas superstições e seus tabus
e são movidos pelos valores e incentivos de suas determinadas culturas. Na
comunidade a economia, a religião, a política e outros aspectos de uma cultura
parecem interligados e formam parte de um sistema geral de cultura, tal como o são
na realidade. Todas as comunidades de uma área compartilham a herança cultural da
região e cada uma delas é uma manifestação local das possíveis interpretações de
padrões e instituições regionais (Wagley, 1977, p. 40).
Zygmunt Bauman destaca que a comunidade é um lugar cálido, um lugar confortável
e aconchegante, onde a palavra comunidade sugere algo bom, onde se vive em harmonia e em
partilha (Bauman, 2020). A partir das abordagens dos autores, observamos em Carapanatuba
muito dessa dinâmica da partilha entre os comunitários e as suas convivências muito voltadas
para a harmonia e o bem do coletivo da comunidade, dos saberes que se perpetuam entre as
famílias e suas organizações nas diferentes vertentes da sociedade.
Carapanatuba é uma comunidade de várzea que está localizada dentro de uma região
chamada de Aritapera, que fica as margens esquerda do rio Amazonas, no município de
Santarém, estado do Pará. O nome Carapanatuba se deu em homenagem a um canal fluvial que
existia na comunidade, nome esse de descendência indígena, bem como Aritapera (Ari que
morava na sua tapera).
Para situar o leitor no espaço e no lugar desta pesquisa, consideramos importante tecer
breves considerações a respeito das áreas de várzea da Amazônia. As várzeas amazônicas são
áreas úmidas que inundam periodicamente por ocasião das enchentes, quando o nível das águas
no local, provenientes dos rios, começam a subir e atingir os terrenos, ou, por vezes, até as casas
dos moradores.
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Carapanatuba é uma comunidade que tem o ritmo da vida cotidiana inspirado
diretamente no ritmo das chuvas. A alternância entre secas e cheias se reflete de forma marcada
em todas as instâncias da vida social dos moradores: na disposição das casas; nas atividades
econômicas; nas festas; e no planejamento das escolas.
Um dos questionamentos feitos concerne a importância dos espaços coletivos para a
organização da vivência em comunidades. A senhora Acari, que é uma das grandes
participantes de eventos da comunidade e hoje é a atual coordenadora da associação dos
pescadores de Carapanatuba, relata que são nesses espaços do coletivo onde acontecem a
maioria dos encontros comunitários, que é ali que os moradores estabelecem suas normas, suas
regras e os acordos entre os moradores.
Pra mim, assim, é muito importante a gente ter essa convivência na comunidade,
ninguém vive isolado em um lugar, né? pode até viver, mas não por muito tempo. É
nesses lugares aqui como o barracão, que é onde a gente faz as reunião [sic] que na
maioria das vezes são lugar da gente se encontrar, os moradores todos, as vezes da
confusão entre um morador e outro, mas sempre a gente se acerta pensando no bem
da comunidade, por isso que eu digo que é bom a gente ter esses lugares pra gente se
encontrar, as vezes a gente se encontra na beira do campo, nas festa, mas é pra se
divertir. Agora essas coisas mais sérias de dinheiro, acordo de pesca, seguro de
pescador, tem que reunir todo mundo e ser aqui no barracão, que é da onde sai os
acertos das coisas. (Acari, representante dos pescadores, Casada, 34 anos. Entrevista
concedida em 14/12/2022).
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Figura 1: Barracão comunitário de Carapanatuba
Fonte: Acervo pessoal da autora (2019)
A igreja também é um espaço muito citado pelos entrevistados como um ponto de
encontro dos comunitários. Para além do espaço sagrado, a igreja, para eles, também é um
espaço de organização social e de partilha.
[...] quase todo domingo tem culto na igreja, a gente daqui de casa vai quase todo
domingo, eu e a minha esposa, que os filhos tão quase tudo pra cidade, aqui mermo
perto da gente a Ana, e o Pedro, mas ele não anda em igreja se a gente não fur
3
a
gente não sai de casa, quase não tem lugar pra sair aqui né, ainda mais quando tá tudo
cheio de água aqui, e isso quando a igreja não vai no fundo, . Eu vejo assim, a igreja
como um lugar pra gente rever os amigos, saber como tão de saúde, combinar uma
pescaria, saber o dia que vai pra cidade, essas coisas; gente reza é claro, minha
filha, faz a oferta do dízimo, mas depois que acaba o culto, a gente conversa sobre
outras coisas, eu gosto demais desses encontro [sic], assim, com todo mundo da
3
A região Amazônica possui uma grande riqueza sociolinguística, e isso se justifica através do processo de
colonização e ocupação dessa região, que contribui para toda essa diversidade, seja de origem indígena,
Portuguesa, Francesa, quilombola e Nordestina. Posto isso, durante as falas dos entrevistados em alguns momentos
serão perceptíveis a troca de vogais como o uso do “u” no lugar do “o” ou do “L” e também a forte presença da
letra “R”.
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comunidade. (Pirarucu, Pescador, aposentado, 75 anos. Entrevista concedida em
14/12/2022).
Diante das falas dos entrevistados, podemos observar que são nesses espaços coletivos
que eles se relacionam enquanto comunidade, é onde esses sujeitos estabelecem suas normas e
suas regras de convivência do coletivo, cada um faz sua vivência individual, familiar, mas são
dentro desses espaços, de encontros semanais, que eles se organizam e partilham de ideias em
comum na comunidade.
Figura 2: Igreja da comunidade de Carapanatuba
Fonte: Acervo pessoal, 2020.
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Figura 3: Igreja de Carapanatuba no período da cheia das águas.
Fonte: Acervo pessoal da autora (2020).
Dentro desse espaço comunitário de Carapanatuba, os moradores ainda prezam
bastante pela partilha, principalmente de alimentos. Como cita o entrevistado Pirarara:
Eu nasci aqui, cresci e depois fui pra cidade, mas não me acostumei, tudo é comprado,
as pessoas não tem o custume [sic] de repartir as coisas, na cidade tem de tudo, mas
se você não tiver o dinheiro, você não come, por isso que eu voltei pra cá, por que
aqui, tu pode ver, quando alguém pega uma caça grande, ou um peixe grande, sempre
divide com os vizinhos, com os nossos parente, né; é assim aqui, as vezes falta uma
farinha, um açúcar, vai no vizinho empresta, tu pode pedir um cheiro verde, um peixe
que eles te dão, mas vai na cidade pra ver se é assim, tu sabe que tu convive nisso.
Não vou dizer também que aqui a gente não compre as coisas, tipo uma quantidade
de peixe maior pra mandar pros [sic] parente na cidade, uma galinha caipira, a gente
compra sim, mas a gente ainda tem essa mania, digamos assim de dividir as coisas
com os vizinhos aqui na comunidade. (Pirarara, Morador, 58 anos, casado.)
Essa dinâmica da partilha entre os comunitários é muito comum em lugares da
Amazônia, principalmente na questão da alimentação, e muitas das vezes de produtos retirados
da natureza. Essa prática uma noção de que a ação do capitalismo ainda não invadiu
totalmente essas populações, o que é refletido na ação de solidariedade entre as pessoas que
delas pertencem.
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O espaço de morada: A casa
Figura 4: Família da comunidade em sua casa durante o período da cheia
4
.
Fonte: Acervo pessoal da autora (2021).
A casa palafita é uma das características principais da paisagem ribeirinha da
Amazônia. É necessário ter essa característica, uma vez que casas suspensas protegem os
moradores e as criações (gados, galinhas, cachorros etc.) das inundações ocasionadas pela cheia
do rio Amazonas, tendo em vista que a sazonalidade do rio interfere diretamente no modo de
vida dos moradores. As coberturas de palha também foram usadas nas várzeas de Santarém até
um passado recente. No entanto, alguns moradores da comunidade ainda usam a palha como
cobertura da casa, embora em menor proporção.
A casa é um dos primeiros referenciais, como “marcador”, pois é a partir dela que
passamos a perceber a exterioridade do mundo, o que evidencia como ponto de
referência no mundo, como forma de habitação e proteção, de dar sentido ao mundo.
A imagem da casa compõe a abstração imemorial e aproxima a junção entre memória
e imaginação, lembrança e imagem. A memória da primeira moradia como referencial
não nos abandona durante a vida, pois sempre retornamos a ela seja através das
memórias ou lembranças agradáveis ou não, como sonho e devaneio, e
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Cheia é assim chamada quando as águas dos rios chegam até metade da palafita da casa, muitas vezes invadem
até as casas.
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SOUZA, Agriane Caldeira. ESPAÇOS DE VIVÊNCIAS DE UMA COMUNIDADE RIBEIRINHA NA AMAZÔNIA PARAENSE. Ensaios
de Geografia. Niterói, vol. 10, nº 22, pp. 13-39, setembro-dezembro de 2023.
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obstinadamente está presente em nossa imaginação (ALMEIDA SILVA, 2010, p.
105-106).
Figura 5: Criação de galinha de moradores de Carapanatuba durante o período da cheia
Fonte: Acervo pessoal da autora (2021).
As casas na comunidade de Carapanatuba possuem esse estilo palafitas, em sua
maioria de madeira, casas com o assoalho de, no máximo, 3 metros acima do solo, devido ser
planície de inundação e com a cheia dos rios, acaba ficando submerso. Já no período da seca, a
estrutura que suspende a casa fica exposta, dando a noção de quão alta é para não correr o risco
de ser alagada no período da subida do rio. Na Figura (6), podemos identificar o quão altas
ficam as casas durante o período da seca, simbolizando a resistência dos moradores locais frente
as mudanças da natureza.
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Figura 6: Casa de palafita de morador da comunidade, durante o período da seca na região.
Fonte: Acervo pessoal da autora (2022).
As casas da comunidade, por volta dos anos 80 e anos 90, não eram tão altas como na
atualidade. Mas, com o aumento do volume das águas na enchente, muitos moradores foram
obrigados a elevar o assoalho das mesmas. Mesmo dentro dessa dinâmica de fortes enchentes,
quando as casas daqueles moradores que ainda não possuem seus assoalhos elevados são
inundadas pelas águas do rio Amazonas, os moradores não deixam as suas casas, eles fazem
uma construção, chamada de maromba, da qual fica submersa sobre o assoalho das suas casas
e dos seus animais, e assim se mantêm até a descida das águas, sendo ali onde eles passam a
maior parte do seu tempo.
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Figura 7: Casa de fogão de lenha no período das fortes cheias.
Fonte: Acervo pessoal da autora (2020).
Os moradores constroem os seus espaços de morada o mais confortável possível para
atender às suas necessidades. Antigamente, as casas possuíam apenas um único cômodo para
toda a família. Com o tempo, entretanto, as estruturas foram se modificando e os moradores
passaram a criar novos espaços dentro das casas, como é o caso das varandas queo utilizadas
enquanto um espaço de conversa com os vizinhos para tomar um café, contemplando a
paisagem. É um espaço onde podem colocar a sua rede para descanso, ou até mesmo para
guardar pequenos utensílios, como observamos na Figura 8, estrutura de varanda muito
característico das casas de palafitas. A varanda atua como elemento de transição do interior
para o exterior da casa, pois se torna uma janela de contemplação das coisas ao redor da casa,
por onde se constroem a leitura do tempo, observando a disputa dos pássaros por alimentos, as
passadas de embarcações pelo rio e os banzeiro das águas do rio.
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Figura 8: Estrutura de varanda muito característico das casas de palafitas.
Fonte: Acervo pessoal da autora (2021).
Sobre a habitação do ribeirinho, Almeida Silva afirma:
A casa é um dos primeiros referenciais, como “marcador”, pois é a partir dela que
passamos a perceber a exterioridade do mundo, o que evidencia como ponto de
referência no mundo, como forma de habitação e proteção, de dar sentido ao mundo.
A imagem da casa compõe a abstração imemorial e aproxima a junção entre memória
e imaginação, lembrança e imagem. A memória da primeira moradia como referencial
não nos abandona durante a vida, pois sempre retornamos a ela seja através das
memórias ou lembranças agradáveis ou não, como sonho e devaneio, e
obstinadamente está presente em nossa imaginação (Almeida Silva, 2010, p. 105-
106).
A casa se torna o lugar de maior vivência dos moradores da comunidade, não
durante a seca, mas com maior frequência durante o período da cheia, devido ao fato de não ter
outros espaços para se deslocarem e, caso isso aconteça, é preciso que o morador tenha uma
embarcação própria. Dessa forma, a maioria das famílias se mantêm dentro das suas casas
durante a maior parte do tempo.
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Figura 9: Moradora com sua embarcação do tipo canoa, ao lado de casa de criação de
galinhas
Fonte: Acervo pessoal da autora (2021).
Em conversa com os moradores, eles relataram as suas vivências dentro desse espaço,
no dia a dia e que, apesar das mudanças naturais, suas casas se tornam um lugar aconchegante
e seguro para eles, em comparação com outros lugares. Dona Surubim, por exemplo, relata que
sente muita falta da dinâmica da sua vida ribeirinha quando está na cidade:
Eu vou na cidade quando tem alguma coisa pra resolver, se não, eu fico aqui em
casa mesmo, não tem lugar melhor do a casa da gente, mana! Quando eu vou na
cidade eu fico doida pra voltar logo, não consigo passar muito tempo, eu lá, mas
minha cabeça tá aqui em casa, nas minhas coisas aqui e aqui a gente dorme a hora que
quer, come o que tiver, faz as coisas do nosso jeito. Na minha casa eu me sinto segura,
da chuva, temporal, de cobra, é nela que eu criei meus filhos, onde meus netos vêm
passar as férias. É aqui que eu tenho muitas lembranças da minha vida, então, pra
mim, a minha casa é o lugar mais importante daqui, tem outros lugares que eu ando,
mas a minha casa, é a minha casa. E na enchente então mana, é o tempo que eu fico
mais nela, aproveito pra lavar toda ela, época boa da água, molho as plantas, e durmo
que (Risos) [sic]. Surubim. Moradora, pescadora. Entrevista concedida em
dezembro de 2022.
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Essa dinâmica, de sair da comunidade para a cidade de Santarém, é frequente por parte
dos moradores, mas eles também relatam que o mais rápido que eles puderem voltar para as
suas casas, melhor é para eles. Isso nada mais é do que saber que um lugar chamado casa
para voltar, refletindo o sentimento de pertencimento que os moradores de Carapanatuba têm
pelo lugar onde vivem.
Quando questionado sobre alguma possibilidade de mudança da comunidade, de
abandonar sua casa, muitos dos moradores descartam essa possibilidade:
[...] eu nasci aqui na comunidade mesmo, minha era parteira, então eu nasci aqui
em casa mesmo, mais um motivo pra eu não sair, e minha infância foi aqui, nunca sai
daqui, assim, fui na cidade né, mas não pra morar, eu nem me vejo longe daqui,
aqui eu vivo bem, vou ali pescar um peixinho volto pra casa, deito na minha rede,
pego um vento[sic]aqui é muito bom, mana, não vive no estresse da cidade grande,
né, e aqui é mora a minha família, minhas raízes, tudo o que eu sei daqui da
comunidade, de pesca é deixado pelos meus parentes, antes de mim, eu gosto daqui,
eu não me vejo saindo daqui não, aqui é o meu lugar mesmo. Carauaçu. Morador, 47
anos, entrevistado em julho, 2021.
A fala acima remete ao que Souza (2018) afirma, que o lugar é um espaço dotado de
significados e de cargas simbólicas, aos quais se associam imagens, muitas vezes conflitantes
entre si: o lugar de “boa fama” ou de “má fama”, hospitaleiro, perigoso. O Lugar é, em
princípio, um espaço vivido; vivido, claro, pelos que moram ou pelos que trabalham lá
cotidianamente (Souza, 2018). Isso é o que se assemelha na fala do entrevistado, de enxergar o
seu lugar de vida, como um lugar bom, de se pertencer ao lugar, e de carregar a geração familiar
nesse lugar.
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O espaço das embarcações
Figura 10: Desembarque de passageiros da comunidade de Carapanatuba
Fonte: Acervo pessoal da autora (2021).
Abrimos este tópico com imagem de um desembarque de passageiros da comunidade
de Carapanatuba para ilustrar como acontece a dinâmica do transporte local. O acesso à
comunidade se somente através do meio fluvial. Os moradores que não possuem embarcação
própria, por outro lado, utilizam embarcações de grande porte para realizar o transporte, vide a
imagem 7. Sendo assim, sinteticamente, eles fazem uso de embarcações coletivas chamadas,
pela comunidade, de “barco de linha”, que fazem viagens da comunidade até a cidade mais
próxima, que é Santarém, todos os dias, além de possuírem a duração de mais ou menos quatro
horas de navegação, no valor de 35 reais a passagem. Esses “Barcos de Linhas”, que significa
linha de viagem, são os barcos de moradores de comunidades vizinhas que fazem a rota pela
comunidade de Carapanatuba, e vão em direção a cidade de Santarém, todos os dias da semana.
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Os moradores da comunidade, que fazem essa viagem no barco de linha
recorrentemente, uma vez ao mês vão para a cidade para fazer o rancho da família. Além disso,
os próprios pescadores também enviam suas mercadorias através desses barcos, pagando um
valor simbólico por cada encomenda enviada, sejam elas peixes para a comercialização ou para
suprir as necessidades de seus parentes citadinos.
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Figura 11: Morador deixando sua encomenda no “barco de linha”.
Fonte: Acervo pessoal da autora (2022).
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Figura 12: Encomendas enviadas pela embarcação por parentes dos moradores de
Carapanatuba
Fonte: Acervo pessoal da autora (2022).
Figura 13: Desembarque de produtos de passageiros da comunidade.
Fonte: Acervo pessoal da autora (2022).
Durante a viagem nessas embarcações, os passageiros fazem os reencontros com seus
conhecidos locais e de comunidades vizinhas. Esse espaço, do Barco de Linha”, se torna um
espaço de socialização, o que faz dele também um espaço de vivência na dinâmica dos
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moradores de Carapanatuba, e do qual é muito característico das vivências de sociedades
ribeirinhas da Amazônia.
Dentro dos barcos, muitas das socializações acontecem dentro de redes de pano ou de
rede de descanso, o que faz delas equivalentes às poltronas de viagem. A rede é um elemento
muito característico da Amazônia, sendo usada pelos povos originários da região. O uso das
redes deixa a viagem mais agradável para os passageiros, seja na contemplação da paisagem,
nas conversas e até mesmo para tirar uma soneca. Cada passageiro fica responsável por levar a
sua rede, mas o uso da rede não é obrigatório, visto que caso não a possua, o passageiro pode-
se sentar nas cadeiras oferecidas pelo dono da embarcação.
Figura 14: Passageiros fazendo o uso da rede no “Barco de Linha”
Fonte: Acervo pessoal da autora (2021).
A maioria dos moradores da comunidade, principalmente os pescadores, possui suas
embarcações de pequeno porte com motor rabeta
5
, botes e canoas, e essas embarcações se
tornam um espaço de vivência para eles, não só como a embarcação coletiva, como é o caso do
barco de linha, onde eles podem socializar entre si e com os demais, mas o seu bote de pesca,
por exemplo, se torna um ambiente de vivência, uma vivência individual.
5
É um motor que fica acoplado ao casco do barco, ou pequenos botes, ocupando menos espaço.
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Figura 15: Pescadores em embarcação canoa a remo.
Fonte: Acervo pessoal da autora (2021).
As pequenas embarcações não só são utilizadas para a execução da atividade pesqueira,
mas também enquanto um transporte utilizado para a realização do lazer local dos moradores.
Vamos fazer um comparativo dos transportes das grandes cidades, com os dos ribeirinhos da
Amazônia: nas cidades é feito o uso de ônibus como transporte coletivo; na área ribeirinha são
os “barcos de linha”; nas cidades é a dinâmica do uso individual de carros e motos pelos
citadinos; nas áreas de rios, fazem o uso das embarcações com motor rabeta; o uso da
bicicleta, por outro lado, se assemelha ao uso as canoas a remo pelos moradores locais. Esses
exemplos distinguem as experiências vivida pelos seres humanos, demonstrando as diversas
formas de socialização.
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Figura 16: Morador da comunidade utilizando embarcação com motor rabeta.
Fonte: Acervo pessoal da autora (2021).
O rio tambem é um espaço que está diretamente ligado na vidas dos moradores de
Carapanatuba. O rio é considerado, por muitos riberinhos da Amazônia,como uma espécie de
“rua”, pois ele é a principal via de acesso deles com os outros lugares. No entanto, o rio
simboliza muito mais do que essa porta de entrada e de saida. Cruz (2007), apresenta o rio como
um “espaço de referência identitária”, na Amazônia, pois o rio é um “espaço físico natural”,
uma vez que é fonte de subsistência e de contemplação diária dos que vivem às suas margens.
Na comunidade de Carapanatuba, muitos moradores tiram o seu alimento do rio, e
também adquirem seus recursos financeiros por meio da pesca. Além de que ele próprio se
torna fundamental como meio de transporte, seja particular ou público, e também é a principal
paisagem vista por eles, todos os dias, além de ser um elemento de fronteira nas extensões de
lotes de terra entre os vizinhos da comunidade. O rio contribui para o ritmo social ligado à
temporalidade destas populações.
O rio é o lócus da vida, como afirmou Santos e Almeida (2009, p. 05):
O rio é o elemento fundante das espacialidades na vida ribeirinha. Ele é fonte de
sobrevivência. Dele os ribeirinhos retiram o principal alimento. O pescado pode ser
comercializado ou utilizado na troca de mercadorias de primeira necessidade. A
plantação (roçado) e criação de animais são atividades econômicas secundárias.
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O rio se torna a principal referência indentitária de quem mora às suas margens, pois
eles estão conectados diariamente, construindo os seus modos de vida, suas experiências, seus
saberes, suas crenças, seus mitos. O rio é um espaço vivido por esses sujeitos.
Em Carapanatuba, pode-se perceber a dependência dos moradores para com o rio, e isso
faz com que eles próprios criem laços afetivos com o mesmo. Os moradores locais carregam
um sentimento de gratidão ao rio, pois ele está presente de diversas formas na vida, seja como
o lugar, onde eles exercem a atividade pesqueira, mas também no lugar onde eles lavam suas
roupas, retiram dali água para beber, molhar suas plantações, tomar banho, criar seus animais,
é dali que eles tiram a sua subsistência.
O rio é quem influencia diretamente na vida desses sujeitos, se eles vão poder passar
todo o período da enchente na sua morada, que tipo de plantações esses vão poder cultivar ou
até onde plantar, até que certo ponto eles vão poder fazer o uso de determinadas embarcações,
influencia até nos tipos de peixes que eles vão poder encontar em determinado período.Verifica-
se, assim, que os pescadores locais são sujeitos que dominam o rio e, ao mesmo tempo, sujeitos
que respeitam o rio. O rio, portanto, apresenta marcas simbólicas que organizam o espaço
vivido destes moradores, e que ele é um elemento importante na construção de relações e das
representações desses sujeitos.
Considerações Finais
O trabalho buscou evidenciar as vivências de homens e de mulheres de uma comunidade
ribeirinha na Amazônia Paraense, e foi perceptível a relação afetiva dos moradores para com a
sua casa, que, para eles, é vista como um “porto seguro”, com as suas embarcações, com a
comunidade, com o rio. E que nas pequenas práticas cotidianas em que são socializados os
saberes sobre a dinâmica da natureza, no qual eles constroem relações simbólicas e afetivas
com seus lugares de vida e de trabalho. A comunidade ocupa e produz suas vivências e
subsistências em um ambiente de várzea, que possui uma dinâmica de vida própria, e se
(re)produz enquanto uma unidade espacial.
Observou-se que existe uma interdependência dos moradores locais com o rio, tanto
como uma fonte de alimetação, mas também como uma via de acesso para o deslocamneto
desses moradores para outros lugares. O rio é quem influencia diretamente a vida desses
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sujeitos, se eles vão poder passar todo o período da enchente na sua morada, que tipo de
plantações esses vão poder cultivar ou até onde plantar, até que certo ponto eles vão poder fazer
o uso de determinadas embarcações, que é um dos espaços debatidos no trabalho.Verifica-se,
assim, que os moradores locais são sujeitos que dominam o rio e, ao mesmo tempo, sujeitos
que respeitam o rio, o rio apresenta marcas simbólicas que organizam o espaço vivido desses
moradores, e que ele é um elemento importante na construção de relações identitárias desses
sujeitos, e na forma como eles se oraganizam enquanto sociedade amazônica. Este trabalho
possibilita novos anseios de pesquisa na região, e assim poder fazer ecoar vozes e saberes de
sujeitos que formam e que vivem diretamente a realidade Amazônica.
Referências
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