Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
SANTOS, Manuela de Souza; BRANDÃO, Paulo Roberto Baqueiro. TRILHA INTERPRETATIVA DA NATUREZA: PRÁTICAS DE
TURISMO PEDAGÓGICO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO POVOADO DE PENEDO (SÃO DESIDÉRIO, BAHIA). Ensaios de
Geografia. Niterói, vol. 10, nº 21, pp. 98-129, maio-agosto de 2023.
Submissão em: 14/04/2023. Aceito em: 17/07/2023.
ISSN: 2316-8544
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SEÇÃO ARTIGOS
TRILHA INTERPRETATIVA DA NATUREZA:
práticas de turismo pedagógico e educação ambiental no povoado de Penedo (São
Desidério, Bahia)
INTERPRETATIVE NATURE TRAIL:
educational tourism and environmental education practices in the village of Penedo (São
Desidério, Bahia)
SENDERO INTERPRETATIVO DE LA NATURALEZA:
prácticas de turismo pedagógico y educación ambiental en el pueblo de Penedo (São
Desidério, Bahia)
Manuela de Souza Santos1
Instituição (UFOB),
Bahia, Brasil.
e-mail: manuela.s3218@ufob.edu.br
Paulo Roberto Baqueiro Brandão2
Instituição (UFOB),
Bahia, Brasil
e-mail: paulo.baqueiro@ufob.edu.br
Resumo
Este escrito é o resultado da elaboração de uma proposta de trilha interpretativa da natureza com base nos
princípios do Turismo de Base Comunitária, que prioriza os agentes locais nas práticas turísticas realizadas,
visando a Educação Ambiental por meio do Turismo Pedagógico. A proposta elaborada foi direcionada à Trilha
do Paredão do Lapão, localizada no povoado de Penedo, em São Desidério (Bahia). Para a realização desta
pesquisa utilizou-se a metodologia IAP (Investigación-Acción-Participativa), que foi empregada tendo em vista a
construção de conhecimentos alicerçados na soma de saberes comunitários, na qual a obtenção de dados foi
efetuada por meio de pesquisa bibliográfica, reuniões, auscultas e rodas de conversas com membros da
comunidade local, observações participativas e análises na área de estudo, com base em características físico-
ambientais e socioculturais. Para a seleção dos pontos potenciais, utilizou-se o método IAPI (Indicadores de
Atratividade dos Pontos Interpretativos) para facilitar a organização dos atrativos conforme o potencial
interpretativo. Como resultado, tem-se a demarcação e a interpretação dos ditos pontos potenciais da trilha, que
permitirão o início das práticas de Turismo de Base Comunitária.
Palavras-chave
Trilha Interpretativa; Turismo de Base Comunitária; Turismo Pedagógico; Educação Ambiental; Penedo (São
Desidério, Bahia).
1
Bacharela em Geografia pela Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB); Graduanda do curso de
licenciatura em Geografia (UFOB).
2
Doutor, mestre e licenciado em Geografia. Professor Associado II da Universidade Federal do Oeste da Bahia,
onde leciona nos cursos de Geografia (Licenciatura e Bacharelado), no Programa de Pós-graduação em Ciências
Ambientais e no Programa de Pós-graduação em Ciências Humanas e Sociais.
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Geografia. Niterói, vol. 10, nº 21, pp. 98-129, maio-agosto de 2023.
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Abstract
This paper is the result of the elaboration of a proposal for an interpretive nature trail based on the principles of
Community-Based Tourism, which prioritizes local agents in tourism practices, aiming at Environmental
Education through Pedagogical Tourism. The elaborated proposal was directed to the Lapão Wall Trail, located
in the village of Penedo, in São Desidério (Bahia). The PAR (Participatory Action Research) methodology was
used to carry out this research, which was employed with a view to building knowledge based on the sum of
community knowledge, in which data were obtained through bibliographic research, meetings, auscultations and
conversation circles with members of the local community, participatory observations and analyzes in the study
area, based on physical-environmental and sociocultural characteristics. For the selection of potential points, the
IAPI method (Indicators of Attractiveness of Interpretive Points) was used to facilitate the organization of
attractions according to interpretive potential. As a result, we have the demarcation and interpretation of the so-
called potential points of the trail, which will allow the beginning of Community-Based Tourism practices.
Keywords
Interpretive Trail; Community Based Tourism; Educational Tourism; Environmental Education; Penedo (São
Desidério, Bahia, Brazil).
Resumen
Este texto resulta del desarrollo de una propuesta de sendero interpretativo de la naturaleza bajo los principios del
Turismo Comunitario, que pone en relieve los agentes locales en las prácticas turísticas a través de la Educación
Ambiental y Turismo Pedagógico. La propuesta ha sido desarrollada en el Sendero Paredão do Lapão, localizado
cerca del Pueblo de Penedo, en el municipio São Desidério (Bahia, Brasil). Para ello, se utilizó la Metodología de
Investigación-Acción Participativa en la construcción colectiva (Comunidad y Universidad) de conocimientos
sobre las características sico-ambientales y socioculturales. La elección de los puntos potenciales se utilizó el
método IAPI (Indicadores de Atractividad de Puntos Interpretativos) de modo a darle calidad a la organización de
los atractivos según su potencial interpretativo. Como resultado de dicho trabajo, se ofrece la demarcación e
interpretación de los puntos potenciales del sendero, lo que permitirá el inicio de prácticas de Turismo
Comunitario.
Palabras-clave
Sendero interpretativo; Turismo Comunitario; Turismo Pedagógico; Educación Ambiental; Penedo (São
Desidério, Bahia - Brasil).
Introdução
O presente escrito apresenta uma proposta de implantação de trilha interpretativa da
natureza, no contexto do Turismo de Base Comunitária (TBC), no povoado de Penedo (São
Desidério, Bahia). As trilhas de viés interpretativo vêm sendo estudadas no mundo desde o
século passado e, conforme Murta e Goodey (2002), foram aplicadas inicialmente pelo Serviço
Nacional de Parques dos Estados Unidos, nos anos finais da década de 1950, quando também
foi publicada a obra Interpretando nosso patrimônio, escrita por Freeman Tilden, à época, o
principal expoente de publicações sobre o assunto.
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No Brasil, segundo Sansolo e Bursztyn (2009), a interpretação passou a ter papel
relevante a partir dos anos 1990, o que evidencia uma trajetória recente da sua implementação
no país. Contudo, em se tratando da sua forma não sistematizada, a interpretação dos/nos
caminhos existe desde os primeiros viajantes, que registravam em diários suas percepções,
destacando as descrições da paisagem e os modos de vidas dos povos residentes.
Além disso, no que diz respeito às trilhas como atrativo turístico, elas têm sido
frequentemente utilizadas por aqueles que buscam ter um maior contato com áreas naturais ou
que buscam desbravar paisagens exuberantes. Nesse contexto, uma trilha deve proporcionar
bem-estar aos visitantes e conter elementos que favoreçam a fruição de saberes, com uma
sinalização direcional/informativa adequada e a participação efetiva dos agentes locais, tais
como agricultores, idosos, jovens e mulheres, o que reforça as identidades e a sua
potencialidade como atrativo.
Contudo, apesar da interpretação ter sido posta em prática como uma forma de valorizar
o patrimônio, ainda segundo Murta e Goodey (2002), a população local era excluída do
processo de planejamento das práticas turísticas, o que se agravou devido à falta do
imprescindível diálogo entre órgãos ambientais, comunidades locais e praticantes de lazer e
turismo em trilhas. Fato é que essa forma de pensar o turismo ainda é dominante na sociedade,
na medida em que as práticas massificadas seguem tendo um caráter hegemônico, o que implica
no consumo pouco responsável de espaços turísticos em detrimento de práticas turísticas
imbuídas de uma verdadeira apreciação ambiental, cultural e social (Rodrigues, 1997; Brandão,
2019).
Nessa conjuntura, a ausência de práticas turísticas singulares e que se distanciem da
agitação cotidiana dos grandes centros urbanos pode afetar negativamente a experiência dos
visitantes em busca de vivências distintas daquelas recorrentes nas formas massificadas de
turismo. Por essa razão, a utilização de abordagens específicas, voltadas para a adoção de um
modelo não-hegemônico de turismo, é de importância crucial tanto no planejamento quanto na
gestão dos locais potencialmente relevantes para o desenvolvimento de iniciativas de visitação.
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No contexto do turismo, a Educação Ambiental é de importância ímpar, podendo ser
aliada ao Turismo Pedagógico, que, por sua vez, é realizado com o objetivo de observar na
prática, o que, muitas vezes, é visto apenas por meio de conteúdos em salas de aula. A partir de
uma perspectiva histórica, vale afirmar, conforme Camargo (2001), que as viagens,
denominadas de Grand Tour a partir do século XVIII, com duração de aproximadamente dois
anos, possuíam como principal objetivo a formação educacional de jovens da aristocracia e
nobreza europeias. Apesar de não possuir elementos suficientes para serem considerados
turismo (no sentido contemporâneo do termo), a prática do Grand Tour teve grande importância
como uma espécie de protótipo do Turismo Pedagógico atual (Camargo, 2001).
Além disso, as trilhas interpretativas da natureza são um importante meio para suscitar
a consciência ambiental, o que também é uma intenção do Turismo de Base Comunitária,
desenvolvido em espaços rurais, urbanos e áreas de relevante interesse natural ou patrimonial.
De acordo com Maldonado (2009), tal prática ganhou relevância no contexto latino-americano
somente a partir de meados de 1980.
As trilhas de viés interpretativo, que diferem daquelas que servem apenas como
caminhos para transeuntes ou para combatentes de incêndios e queimadas, são um mecanismo
de subsídio à Educação Ambiental e ao Turismo Pedagógico, e podem, a longo prazo,
proporcionar o desenvolvimento de conhecimentos fundamentais.
Sob esse viés, o Turismo Pedagógico torna-se então um vetor motivador para a educação
ambiental, e as trilhas interpretativas são recursos formatados em atrativos turísticos capazes
de prover o resultado almejado: a consciência ambiental e a experiência do visitante com a
natureza e as comunidades locais.
Destarte, de acordo com as abordagens da Teoria Crítica, possibilita-se não somente a
crítica dos problemas ambientais eventualmente percebidos, mas a proposição de eventuais
soluções. Ademais, conforme apontado por Moraes (2007), o posicionamento dos agentes
sociais locais na busca pela valorização dos seus saberes frente às transformações emergentes
e da influência dos mecanismos da globalização em seus modos de vida faz desse ato de
resistência uma postura indispensável de teor político e social.
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Desse modo, este estudo encontra justificativa na proposição de uma modalidade de
turismo que pretende contrapor às práticas turísticas massivamente realizadas no espaço, que
têm ocasionado diversos impactos, sejam de ordem social, cultural ou ambiental, além de
propor um outro turismo, atinente às lógicas do comunitarismo
3
.
Nesse ínterim, é válido ressaltar que a falta de reflexão sobre o tema pode dar margem
à implantação de trilhas mal planejadas, o que pode resultar em um ambiente degradado, tendo
em vista a possível ocorrência de compactação do solo, supressão da flora e deslocamento da
fauna local, aumento na quantidade de resíduos descartados, aculturação
4
das comunidades
locais, entre outras implicações causadas pelo turismo de massa em espaços de relevante
interesse natural.
O presente escrito está organizado em quatro seções, com vistas a tornar inteligível a
proposta ora apresentada. O primeiro item traz uma breve caracterização da localidade de
Penedo (BA), contemplando aspectos locacionais, geográfico-históricos, socioculturais e
físico-ambientais; no trecho seguinte, foram abordados os principais conceitos e teorias que
fundamentam este estudo e a aplicação das trilhas interpretativas da natureza, assim como um
debate acerca das modalidades alternativas de turismo; a terceira seção, por sua vez, é de cunho
metodológico e explicita os procedimentos adotados na consecução da proposta de
implementação da trilha interpretativa da natureza no referido povoado; o quarto e último item
indica os elementos da proposta, interpondo, ainda, um conjunto de sugestões para o seu
desenvolvimento sustentável.
O povoado de Penedo e suas potencialidades turísticas
O povoado de Penedo está localizado no município de São Desidério (Figura 1), unidade
político-administrativa que se destaca como a segunda maior do estado da Bahia em extensão
territorial, com 15.157 km². Localizado no Território de Identidade da Bacia do Rio Grande,
3
Segundo Etizioni (2001) o comunitarismo prioriza, sobretudo, as necessidades da comunidade, frente as do
Estado e do mercado.
4
Conforme os antropólogos Redfield, Linton e Herskovits (1936), a aculturação é o processo de interação e
assimilação de elementos culturais entre diferentes grupos ou indivíduos que se encontram em um dado momento.
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São Desidério possuía, em 2010
5
, uma população de 27.659 habitantes (Brasil, 2010). Não
obstante, de acordo com a estimativa realizada pelo IBGE para 2021, a população total já pode
ser contada em 34.784 pessoas, das quais cerca de 70% habitam a zona rural do município.
Figura 1: Localização da área de estudo, Penedo povoado de São Desidério (Bahia)
Fonte: Elaborado pelos autores (2022)
No que concerne às características socioeconômicas, o PIB (Produto Interno Bruto) per
capita do município é de R$ 76.949,79 (2019), ao tempo em que o IDHM (Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal) é de 0,579, conforme o Censo de 2010, fato que denota
um desenvolvimento médio no que diz respeito à conjunção dos índices de renda, educação e
expectativa de vida. Vale mencionar, portanto, que, a despeito de São Desidério possuir o maior
PIB agrícola do país (Brasil, 2020) e obter expressivos resultados econômicos via produção
agroexportadora de commodities como soja, milho e algodão, a desigualdade persiste como
uma contradição ainda insolúvel.
5
Os dados empregados neste escrito foram obtidos antes da disponibilização dos resultados do Censo 2022. Assim,
optou por apresentar os números do censo anterior, comparando-os, quando possível, a estimativas e outros
levantamentos mais atualizados.
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A unidade político-administrativa em tela possui a totalidade do seu território inserida
no domínio do cerrado, cujas feições dominantes são assim caracterizadas por Ab’Saber (2003):
Quando se atingem as áreas interiores [...], depara-se com o arranjo clássico,
homogêneo e monótono da paisagem peculiar às áreas de savana. As formações
vegetais talvez não sejam tipicamente de savanas, mas o arranjo e a estrutura de
paisagens constituem uma amostra perfeita dos quadros paisagísticos zonais, que
caracterizam essa unidade tão frequente do cinturão intertropical do globo.
Nos interflúvios elevados dos “chapadões”, onde predominam formas topográficas
planas e maciças e solos pobres (latossolo e lateritas), aparecem cerrados, cerradões e
campestres, os quais, via de regra, descem até a base das vertentes, cedendo lugar ao
fundo aluvial dos vales às florestas-galeria, em geral largas e contínuas [...]
A drenagem superficial da área do cerrado é composta por duas nervuras hidrográficas
apenas totalmente integradas durante a estação chuvosa. Há uma drenagem perene, ao
fundo dos vales, que responde pela alimentação das florestas-galeria nos intervalos
secos. E existe uma trama fina e mal definida de caminhos d’água intermitentes nos
interflúvios largos, a qual, associada com a pobreza relativa dos solos, responde pela
ecologia do cerrado. [...]
A vegetação dos cerrados, tendo se desenvolvido e se adaptado, em algum momento
do Quaternário (ou mesmo dos fins do Terciário), a essa estrutura de paisagens, de
planaltos tropicais interiorizados dotados de solos lateríticos, é certamente um dos
quadros de vegetação mais arcaicos do país (Ab’Saber, 2003, p. 30-31).
Quanto ao povoado de Penedo, essa localidade, que ocupa as duas margens do médio
curso do Rio das Fêmeas, dista 28 quilômetros da sede municipal, cujo acesso é feito, em sua
maior parte, por meio da rodovia BA-463, além de um pequeno trecho (cerca de oito
quilômetros) por estrada rural não pavimentada. Com base em pesquisa direta realizada em
2020
6
, contempla 216 habitantes, dos quais, 111 são homens e 116 são mulheres.
A localidade não possui uma história formalmente registrada. Assim, é preciso recorrer
à memória coletiva dos seus habitantes mais velhos, aqueles que defendem que a localidade
surgiu em meados dos anos 1940, por conta de um suposto eremita judeu de quem se tem
poucas informações que, por curiosidade, teria exercido uma involuntária atração
populacional para as proximidades de uma grota onde vivia em isolamento voluntário.
Ademais, Brandão (2022) aponta outras características:
6
Os levantamentos de dados sociodemográficos foram realizados no âmbito do projeto de extensão “Ativação do
patrimônio biocultural e Turismo Comunitário no povoado de Penedo (São Desidério, Bahia)”, cadastrado na
Universidade Federal do Oeste da Bahia.
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[...] a localidade preserva características típicas de uma ruralidade assentada nas
práticas da agricultura familiar, além de ter, no seu entorno, espaços relativamente
bem preservados de vegetação do tipo mata-galeria que protege nascentes e pequenos
cursos d’água alimentadores do Rio das Fêmeas.
Em Penedo, o cerrado possui feições particulares, o que, sob alguns aspectos,
influencia no modo de vida daquela população, dada a sua estreita relação com os
ritmos da natureza, em especial quanto às práticas produtivas, sejam elas agrícolas ou
artesanais (Brandão, 2022, p. 119).
Dessa forma, quanto às atividades produtivas, a população local vive, em sua maioria,
da agricultura de subsistência, caracterizada como sendo um meio imprescindível para a
manutenção dessa população, haja vista que muitos dos alimentos consumidos diariamente
provêm do próprio povoado. Além disso, produtos como queijo, biscoitos, farinha de mandioca,
cachaça, licor, leite, óleo e pudim de coco babaçu (Orbignya phalerata) o comercializados
em feiras e na sede municipal. Nesse contexto, importa mencionar que o coco babaçu e os
produtos derivados se destacam como uma das potencialidades do povoado, tendo em vista o
valor cultural agregado.
Convém destacar a importância do protagonismo feminino, que, em diferentes
contextos, tem permitido mudanças significativas na conjuntura social das envolvidas e de suas
famílias. As mulheres estão à frente das atividades culturais, de mobilizações sociais (que
envolvem, inclusive, ato em defesa do meio ambiente local) e das práticas produtivas
relacionadas ao coco babaçu, desde a coleta até a manufatura dos seus subprodutos.
Esse protagonismo feminino tem gerado um embrionário processo de organização
comunitária, com enfoque na preservação das nascentes e corpos d’água próximos, das áreas
de cerrado ainda relativamente bem preservadas e no enfretamento ao controle de acesso à água
protagonizado pela gestão de uma PCH (Pequena Central Hidrelétrica) localizada na calha do
Rio das Fêmeas, à montante do povoado (Brandão, 2020).
Os rios, a fauna e flora, bem como os saberes e fazeres locais, são características que
evocam possibilidades de experimentação, por visitantes, de vivências de lazer e turismo que
revelam e exaltam toda a riqueza dessa singularidade, mas sem ameaçá-la. Assim, este estudo
se soma a outros concluídos ou em andamento que atendem a uma proposta de cooperação
comunidade-universidade para o desenvolvimento de uma participativa proposta de Turismo
de Base Comunitária em Penedo.
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Pensar em um sistema de trilhas interpretativas em Penedo parte da identificação dos
caminhos pré-existentes para se atingir os locais de lazer, pesca e coleta de produtos do
extrativismo pela comunidade. Durante os trabalhos prévios, foram identificados quatro
caminhos com potencial para serem formatados em trilhas interpretativas, entre os quais conta-
se a Trilha do Paredão do Lapão, que ocupou a atenção destes autores na formulação dos meios
para a sua operacionalização, como se verá alhures.
Trilha teórico-conceitual para o desenvolvimento da proposta
A abordagem teórico-conceitual desta proposta está centrada na análise de dois temas:
as trilhas interpretativas, sua natureza, características, formas de implementação e os usos em
contextos socioeducativos; e o Turismo de Base Comunitária (TBC), sua natureza, papel no
desenvolvimento de práticas turísticas não massificadas e harmônicas em pequenas
comunidades.
Trilhas interpretativas no contexto do Turismo Pedagógico
De acordo com Murta e Goodey (2002, p. 36), “[...] trilha é uma rota, existente ou
planejada, que liga pontos de interesse em ambientes urbanos ou naturais”. Os pontos de
interesse em questão são aqueles visualizados e sentidos ao decorrer da trilha e a atenção para
aquilo que deva ser visualizado ocorre a partir da observação cuidadosa realizada durante o
percurso trilhado. No mais, considera-se que uma trilha possui viés interpretativo
[...] quando pontos relevantes e recursos são mostrados para as pessoas que irão
utilizá-las, através de intérpretes especializados (guias, professores, monitores
preparados para a finalidade), complementados por folhetos interpretativos ou ainda
painéis e outros recursos (Menghini, 2005, p. 93).
Nessa perspectiva, conforme Guimarães (2010), os pontos relevantes, aos quais
Menghini (2005) se refere, conjuntamente com o transcorrer do percurso da trilha, tornam
possível aos visitantes vivenciar e interagir de maneira positiva com o ambiente à medida que
são socializados saberes tradicionais e conhecimentos científicos. Nesse tocante, o visitante terá
a oportunidade de não somente observar a paisagem, mas também extrair dela conhecimentos
que extrapolam o tempo presente e abarcam uma dimensão histórica da realidade.
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De acordo com Santos (2006, p. 66), “[a] paisagem é o conjunto de formas que, num
dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre
homem e natureza”. A sua abordagem analisa a paisagem como a materialização das relações
que envolvem os seres humanos e a natureza em um dado tempo, o que a distingue do conceito
de espaço, sendo esse último imbuído de forma e conteúdo em constante processo de
totalização. Conforme Aziz Ab’Saber (2003), a paisagem é sempre uma herança, haja vista que,
herdam-se as marcas de processos antigos, sejam eles fisiógrafos, biológicos ou patrimoniais.
Nesse ínterim, a interpretação ambiental torna-se de suma importância. Segundo Murta
e Goodey (2002)
A definição clássica de interpretação ambiental foi cunhada pelo "pai" do assunto, o
norte-americano Freeman Tilden (1967) como "uma atividade educacional que
objetiva revelar significados e relações através da utilização de objetos originais, de
experiências de primeira mão e por meio de mídia ilustrativa, ao invés de
simplesmente comunicar informações factuais” (Murta e Goodey, 2002, p. 14).
Seguindo essa lógica, Alcantara (2007, p. 37) menciona que “a trilha interpretativa será
o meio pelo qual as pessoas poderão desfrutar da natureza de maneira planejada, segura e
consciente, sendo assim um instrumento pedagógico e recreativo”. Nesse sentido, a trilha
interpretativa da natureza pode ser utilizada como instrumento para subsidiar a Educação
Ambiental por meio do Turismo Pedagógico, que, ao ser implantada de forma adequada,
proporcionará a interpretação dos elementos visualizados na paisagem de forma
contextualizada, o que possibilitará, além da apreciação, o despertar da consciência ambiental
dos visitantes.
O Turismo Pedagógico, no que lhe concerne, está associado à realização de atividades
extraclasse, sendo aquelas realizadas fora da sala de aula, organizadas pela gestão escolar
conjuntamente com empresas especializadas, com o objetivo de proporcionar aos estudantes
um maior contato com aquilo que se estuda em sala de aula (Ansarah, 2001). Contudo, no
contexto do TBC, o intermédio de empresas especializadas necessita de um olhar acurado,
tendo em vista o enfoque nas iniciativas comunitárias locais. Ademais,
O Turismo Pedagógico é a modalidade que se adequa à proposta de aproximar teoria
e prática por constituir-se em sua essência por viagens ou excursões organizadas de
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estudo do meio com finalidade de transportar o conhecimento teórico, aprendido em
sala para a realidade, enquanto oportuniza momentos de socialização e descontração
(Rubim, 2010, p. 13).
Nessa conjuntura, as trilhas interpretativas se tornam uma ferramenta imprescindível,
haja vista que, durante o percurso trilhado, os indivíduos interagem com o ambiente através dos
sentidos (visão, audição, olfato, tato e paladar), possibilitando assim, o contato empírico daquilo
que foi estudado. Assim sendo, Fernandes, Scheffler e Pellin (2010, p. 8) citam Ham (1992),
ao enfatizarem que a interpretação ambiental pode ser entendida como “o caminho para a
comunicação, que traduz a linguagem técnica de uma ciência ambiental ou relacionada, para os
termos e ideias do público em geral”. Desse modo, a interpretação ambiental pode ser entendida
como uma espécie de ponte que possibilita o intercâmbio de conhecimentos, tornando viável
uma abordagem holística da realidade ao fazer uso de uma linguagem simples e acessível.
Turismo de Base Comunitária, Economia Social e Solidária
O Turismo de Base Comunitária é uma modalidade recente, embasada na Economia
Solidária, de caráter emancipador, solidário e contra-hegemônico, que visa a garantia de
melhorias na qualidade de vida da população local. Nesse sentido, segundo Coriolano (2009, p.
282): “[…] o turismo comunitário é aquele em que as comunidades de forma associativa
organizam arranjos produtivos locais, possuindo o controle efetivo das terras e das atividades
econômicas associadas à exploração do turismo”. Uma definição mais detalhada e que inclui a
dimensão ambiental é a de Tucum (2008), para quem
[o] turismo de base comunitária é aquele no qual as populações locais possuem o
controle efetivo sobre o seu desenvolvimento e gestão, e está baseado na gestão
comunitária ou familiar das infraestruturas e serviços turísticos, no respeito ao meio
ambiente, na valorização da cultura local e na economia solidária (Tucum apud
Sansolo; Bursztyn, 2009, p. 147).
Como já mencionado, essa forma de desenvolvimento turístico está alinhada à chamada
Economia Social e Solidária, que, segundo Coraggio (2011, p. 44-45),
[a]o ver a economia como inseparável da cultura, a Economia Social a enxerga como
um espaço de ação constituído não por indivíduos utilitaristas que buscam vantagens
materiais, mas por indivíduos, famílias, comunidades e coletivos de diversos tipos que
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se movem dentro de instituições consolidadas pela prática ou acordadas como arranjos
voluntárias que atuam fazendo transações entre a utilidade material e os valores de
solidariedade e cooperação
7
(Coraggio, 2011, p. 44-45, tradução dos autores).
Ademais, de acordo com Paul Singer (2002), a Economia Solidária é uma modalidade
que difere do modelo capitalista, na qual a competição, a sobrevivência dos mais fortes e a
acumulação de desvantagens por parte dos menos favorecidos são algumas características
determinantes. Nesse sentido, a Economia Solidária rompe com a estrutura capitalista à medida
que se dá em um contexto em que há relações igualitárias, em que todos cooperam uns com os
outros ao invés de competir.
Singer (2002, p. 9) ressalta que “[a] chave dessa proposta é a associação entre iguais em
vez do contrato entre desiguais”. Assim sendo, os direitos e deveres são proporcionais a todos.
Não um patrão e um subordinado. O que existe é a consolidação da autogestão, que é
realizada de forma democrática, ao invés da heterogestão, na qual a administração é hierárquica
e existem níveis no que se refere aos cargos oferecidos. Contudo, o maior inimigo da autogestão
é o desinteresse dos envolvidos no processo, que, em muitos casos, se recusam a desempenhar
determinadas atividades requeridas pelo modelo de Economia Social e Solidária.
Nessa perspectiva, Fabrino, Nascimento e Costa (2016) elaboraram parâmetros
fundamentais para analisar se as iniciativas que levam a denominação de Turismo de Base
Comunitária de fato estão de acordo com os princípios dessa proposta de turismo, os quais os
autores definiram como sendo seis. A saber: dominialidade, organização comunitária,
interculturalidade, democratização de oportunidades e retenção de benefícios, integração
econômica e qualidade ambiental.
Contudo, os autores anteriormente mencionados concluíram que as características
principais do TBC estão associadas à dominialidade e organização comunitária enquanto os
demais parâmetros são uma possibilidade e, quando consolidados, um resultado. A qualidade
7
No original: “[a]l ver la economía como inseparable de la cultura, la Economía Social la mira como espacio de
acción constituido no por individuos utilitaristas que buscan ventajas materiales, sino por individuos, famílias,
comunidades y colectivos de diverso tipo que se mueven dentro de instituciones decantadas por la práctica o
acordadas como arreglos voluntarios, que actúan haciendo transaciones entre la utilidade material y los valores
de solidaridad y cooperación”.
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ambiental, conforme os autores, se trata de uma intenção, na medida em que a população local
não tem a capacidade de resolver questões relacionadas por conta própria tal como no caso
do saneamento ambiental , mas pode se organizar para cobrar medidas dos governantes para
solucionar o problema.
Assim sendo, nota-se que, para a efetivação de uma proposta de Turismo de Base
Comunitária, faz-se necessário que a população local tenha sob si as condições plenas de
apropriação simbólica e material do espaço que será utilizado para a finalidade em questão, e
que esteja suficientemente organizada para tratar da gestão das necessidades que porventura
surgirem com base nos princípios da Economia Social e Solidária.
Caminhos metodológicos da proposta
O presente trabalho resulta de uma pesquisa aplicada que, conforme Gil (2008), faz uso
da pesquisa pura ou básica para embasar o seu desenvolvimento. Todavia, a característica
fundamental da pesquisa aplicada está relacionada à utilização de uma teoria na prática, na qual
utilizam-se conhecimentos consolidados da pesquisa pura, uma vez que ela depende das
informações existentes para que a aplicação em uma situação prática seja viabilizada. Os
objetivos da pesquisa são exploratórios, visando explorar situações, contextos, relações e
fenômenos da vida humana. A pesquisa exploratória em questão envolve dados qualitativos,
pesquisa bibliográfica e o estudo de um caso específico.
Para a obtenção dos dados, fez-se uso da metodologia IAP (Investigación-Acción-
Participativa), que possui o pesquisador e sociólogo colombiano Orlando Fals Borda (1925-
2008) como um de seus precursores na América Latina. Foi no decorrer da década de 1970 que
os procedimentos alternativos de pesquisa-ação-participante passaram a ser formalizados,
sendo esse um momento imprescindível para a produção de conhecimento pela academia,
focado em problemas voltados para a escala local, visando a emancipação política, educacional
e cultural dos envolvidos.
Definiram-se também em meados dos anos de 1970 os critérios da metodologia, sendo
eles rigorosos e pertinentes para a produção de conhecimentos, sobretudo, para a população
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mais necessitada. A IAP possui uma grande preocupação em construir conhecimentos e retornar
os resultados das pesquisas realizadas aos sujeitos estudados. Nesse contexto, salienta-se que a
distinção positivista entre sujeito e objeto é evitada, de modo que se cultiva a relação sujeito-
sujeito, em uma relação horizontal que visa a igualdade e o respeito mútuo na construção de
conhecimentos por meio da soma e da partilha de saberes (Fals Borda, 1999).
Nesse contexto, ao fazer uso da metodologia se faz necessário compreender que a
Pesquisa-ação-participante não é uma apropriação do saber popular, haja vista que
De fato, nunca é demais relembrar o quanto este saber e cultura popular têm feito pela
civilização, o qual vai desde produtos agrícolas indígenas a práticas emricas de
saúde e belos aportes artísticos. Não é tão raro encontrar pessoas cultas que se
apropriam do saber popular ou de suas técnicas e artes e os transformam, fazendo
parecer como novos descobrimentos e modas: é o caso de artigos como a “ruana” na
cavalaria espanhola, danças como a cumbia nos salões de festas, o primitivismo na
pintura, a narrativa costumbrista
8
(Fals Borda, 1981, p. 25).
Desse modo, é preciso entender que a IAP visa a valorização dos saberes populares sem
que o conhecimento científico seja negligenciado, de modo a propiciar convergências entre as
ciências popular e acadêmica, tendo em vista a produção de conhecimentos aplicáveis ao
cotidiano e que, de fato, favoreçam, sobretudo, as classes que mais precisam desse suporte.
Nesse ínterim, é necessário salientar o papel da universidade nesse processo, de modo a
preservar a autonomia decisória da comunidade, conforme as etapas denominadas por Brandão
(2020) como “Tempo de (Re)conhecimento e Acolhimento”, “Tempo de Sistematização de
Conhecimentos” e “Tempo de Cooperação Comunidade-Universidade”. Nessas etapas de
trabalho científico, denominadas de “tempos”, o primeiro trata dos momentos de aproximação
entre a comunidade e a universidade, no qual dialoga-se acerca dos anseios de ambas, tendo em
vista a coalizão de interesses e o desenvolvimento de uma relação de confiança mútua a ser
cultivada e fortalecida no decorrer do processo. Tratando-se do segundo tempo, isto é, o
8
No original: En efecto, no sobra recordar lo mucho que este saber y cultura popular han hecho por la
civilización, lo cual va desde produtos agrícolas indígenas hasta prácticas empíricas de salud y ricos aportes
artísticos. No es infrecuente encontrar personas cultas que se apropiam del saber popular o de sus técnicas y
artes y los transforman haciéndolos aparecer como nuevos descubrimientos y modas: es el caso de artículos como
la “ruana” em la caballería española, bailes como la cumbia em los salones, el primitivismo em pintura, la
narrativa costumbrista”.
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“Tempo de (Re)conhecimento e Acolhimento”, direciona-se a atenção para a coleta e análise
dos dados referentes às características físico-ambientais, sociais e econômicas do povoado. No
terceiro tempo, por sua vez, enfatiza-se as atividades cooperativas, em que se vislumbra a
construção de conhecimentos e propostas a partir da soma de saberes, sejam eles produzidos na
academia ou fruto de atividades empíricas do saber popular.
A pesquisa-ação participante objetiva a autonomia dos envolvidos, para que os mesmos
se tornem protagonistas naquilo que se pretende desenvolver em perspectiva cooperativa. Além
disso, a proposta foi construída a partir de uma abordagem qualitativa, que contempla dados
textuais, fotografias, auscultas coletivas, etc. A abordagem qualitativa geralmente é conduzida
no local onde o fenômeno ou campo de pesquisa ocorre, no qual o processo social diz respeito
ao cotidiano das pessoas. Para tanto, os instrumentos e técnicas para a coleta dos dados mais
adequados são observações e análises participativas, reuniões, auscultas e rodas de conversas
com os membros da comunidade.
Por outro lado, importa salientar que as análises realizadas durante o percurso da trilha
são imprescindíveis para a coleta dos dados referentes aos aspectos operacionais da mesma
(Figuras 2 e 3).
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Figura 2 Aspectos operacionais observados.
Fonte: Andrade e Rocha (2008), adaptado pelos autores (2022)
As trilhas podem ser classificadas de acordo com seu grau de dificuldade, geralmente
determinado pelo terreno, a distância, a inclinação e outros fatores. Existem trilhas de nível
fácil, que são adequadas para iniciantes e pessoas com pouca experiência, trilhas de nível
moderado, que exigem um pouco mais de resistência física e habilidades básicas, e trilhas de
nível avançado, que são desafiadoras e exigem um bom condicionamento físico e conhecimento
técnico.
Figura 3 Nível de dificuldade de trilhas.
Fonte: Andrade e Rocha (2008), adaptado pelos autores (2022)
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Para a avaliação e seleção dos pontos que dispõem de potenciais interpretativos para
realização da escolha do traçado da trilha, além dos pontos de paradas para a interpretação dos
atrativos, utilizou-se o método IAPI (Indicadores de Atratividade dos Pontos Interpretativos)
elaborado por Magro e Freixêdas (1998), que é composto por algumas etapas, a saber:
Etapa 1: Levantamento dos pontos potenciais para a interpretação, realizado após a
visita à Trilha do Paredão do Lapão: nessa primeira etapa, realizou-se o levantamento
dos pontos potenciais para a interpretação, após observações acerca dos elementos
naturais e culturais disponíveis na área de estudo. Nesse contexto, os atrativos foram
fotografados, além de realizada a descrição dos mesmos, para alimentar o banco de
dados necessário para a efetivação da proposta. Para o georreferenciamento dos postos
potenciais, fez-se uso de um aparelho de GPS (Global Positioning System) para
dispositivos móveis.
Etapa 2: Levantamento e seleção de indicadores de atratividade: após o levantamento
dos pontos potenciais, definiu-se os indicadores de atratividade, como, por exemplo, a
vegetação nativa do Cerrado, a fauna, a proximidade com corpos d’água, os sons, o
relevo, as áreas de interesse histórico e a sensação de conforto proveniente do contato
com esses locais.
Etapa 3: Elaboração e uso da ficha de campo: com base na escolha dos indicadores,
elaborou-se uma ficha de campo com a finalidade de relacionar os pontos potenciais,
sendo observado também a presença ou a ausência dos pontos interpretativos
previamente selecionados. Nesse contexto, ao utilizar a ficha de campo, faz-se uso de
símbolos para facilitar a identificação da intensidade dos elementos analisados no local
(X = presente; XX = grande quantidade; XXX = predominância). Além disso, aos
indicadores selecionados são atribuídos pesos, em que
[a] intensidade anotada para cada indicador será transformada em números de 1 a 3,
que devem ser multiplicados pelo seu respectivo peso. Estes valores somados
permitem chegar à pontuação final dos sítios.
A atribuição de valores numéricos para os indicadores objetiva facilitar a contagem
de pontos para cada local analisado. Embora haja uma certa tendência de chamar este
tipo de análise de quantitativa, consideramos a avaliação como qualitativa. Segundo
Litton (1979), avaliações quantitativas da paisagem são frequentemente denominadas
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de maneira errônea. Muitos elementos visuais podem ser medidos e colocados em
uma escala, mas as avaliações resultantes são mais comparativas que quantitativas. O
autor afirma que o uso de números arbitrários (ou relativos) para representar critérios
visuais/ estéticos é bastante comum e útil (Magro e Freixêdas, 1998, p. 8).
No mais, é valido salientar que embora nesta pesquisa haja participação de sujeitos na
cessão de dados por meio de entrevistas, não houve submissão ao Conselho de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal do Oeste da Bahia para obtenção de parecer, uma vez que
amparo na Resolução n. 510, de 7 de abril de 2016, emitida pelo Ministério da Saúde,
especialmente no seu Artigo 1º, que trata dos casos de dispensa de registro junto ao Sistema
CEP/CONEP (Comitê de Ética em Pesquisa/Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) para
trabalhos acadêmicos realizados no âmbito das Ciências Humanas e Sociais (BRASIL, 2016).
Não obstante, visando resguardar direitos dos sujeitos envolvidos, foi solicitado aos
participantes que, após leitura e devido aclaramento, assinassem um termo de consentimento
livre e esclarecido.
O passo a passo da proposta
Após realizar o trajeto da trilha com um grupo de moradores locais, obteve-se os dados
apresentados no Quadro 1, o qual apresenta a função da trilha destinada à recreação e ao
subsídio à Educação Ambiental e ao Turismo Pedagógico. Nesse contexto, os recursos
comunicacionais definidos para a trilha interpretativa do Paredão do Lapão abrangem:
sinalização apropriada, sinalização de entrada com a utilização de placas bilíngues (português
e inglês), contendo as informações sobre as principais características da trilha, além de
informações de segurança, como uma lista de contatos de emergência, além de mapa da trilha.
No que diz respeito à sinalização no decorrer do percurso, o ideal é que seja pintada em rochas,
troncos de árvores, na forma de piquetes ou outras superfícies duráveis encontradas no decorrer
da própria trilha.
Além da utilização adequada dos instrumentos de sinalização
9
, a presença de guias
locais na trilha é indispensável em razão do conhecimento que possuem com os elementos
9
Santos (2020) apresenta uma síntese das modalidades de sinalização apropriadas para trilhas.
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observados na paisagem. Contudo, é necessário salientar que, apesar do conhecimento empírico
dos moradores ser fundamental, é imprescindível que, ao assumirem a posição de guias e
auxiliarem os visitantes na interpretação dos elementos que dispõem de potencialidades,
participem de oficinas, cursos e palestras sobre o assunto, para que estejam preparados de forma
exitosa para a função.
Quadro 1 Caraterização geral da Trilha do Paredão do Lapão.
Função
Recreativa e socioeducativa
Forma
Linear
Grau de dificuldade
Fácil
Pontos interpretativos
11
Metragem
1.350 m
Tempo médio
42 minutos
Nível de dificuldade
Leve
Fonte: Elaborado pelos autores (2022)
Com base nas observações realizadas, ficou patente que se trata de uma trilha linear,
tendo em vista que, tanto na ida, quanto no retorno, utiliza-se o mesmo trajeto. Contudo, que
se salientar que existe a possibilidade de a trilha vir a ser classificada como circular, de acordo
com o relato dos moradores do povoado, uma vez que, de acordo com os relatos de moradores,
anteriormente existia um caminho que garantia a volta para o ponto inicial sem a necessidade
de realizar o mesmo trajeto, ainda que, atualmente, esteja intransitável, graças ao avanço da
vegetação. Ademais, em relação ao grau de dificuldade da trilha do Paredão do Lapão, trata-se
de uma trilha de fácil realização, com nível de dificuldade leve, pois exige pouco esforço físico,
além de não possuir obstáculos, o que a torna ideal para praticamente todos os tipos de público.
O trajeto de ida e volta, quando realizado sem paradas demoradas, possuiu duração
média de 42 minutos. Contudo, conforme os objetivos da trilha, esse tempo poderá se estender
para aproximadamente duas horas, considerando as paradas para a realização da interpretação
dos pontos potenciais e de momentos para descanso e contemplação dos elementos da paisagem
que mais se destacam em relação aos aspectos sensoriais perceptíveis.
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A seguir, serão apresentados os resultados obtidos a partir dos levantamentos feitos em
campo, com aplicação das etapas metodológicas propostas por Magro e Freixêdas (1998):
Etapa 1: Levantamento dos pontos interpretativos: após visita à Trilha do Paredão do
Lapão, foram selecionados os temas, isto é, os elementos que possuem um conteúdo a
ser interpretado, tais como elementos históricos, culturais, ambientais, etc. Nesse
contexto, foram selecionados onze pontos interpretativos para os nove temas
selecionais, como pode ser visto no Quadro 2.
Quadro 2 Pontos com potencial para interpretação na Trilha do Paredão do Lapão.
Tema
Pontos
PI 3, PI 4, PI 6
PI 10
PI 7, PI 9, PI 11
PI 2
PI 3
PI 1, PI 3
PI 1, PI 8, PI10
PI 6, PI10
PI 5
Fonte: Elaborado pelos autores (2022)
Etapa 2: Seleção de indicadores: com os temas devidamente designados, realizou-se a
definição dos indicadores (Quadro 3), considerando critérios sensoriais, que dispõem de
beleza cênica e de elementos oportunos para a interpretação.
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Quadro 3 Indicadores dos pontos potenciais a serem interpretados na Trilha do Paredão do
Lapão.
Indicador
Características
Beleza cênica
Locais em que há destaque da paisagem
Vestígios de fauna
Pegadas e demais vestígios de fauna
Água
Curso d’água visualizado a partir do ponto
Diversidade e relevância
Diversidade de fauna e flora ou contexto
pertinente à realização de interpretação
Conforto
Conforto térmico e cenicamente aprazíveis
Som
Sons da água do rio e de pássaros
Fonte: Elaborado pelos autores (2022)
Etapa 3: Elaboração e uso de ficha de campo: a ficha de campo foi utilizada para
relacionar a presença e a ausência dos indicadores escolhidos nos pontos selecionados.
Nesse contexto, os indicadores ganharam pesos e a presença em maior ou menor
intensidade dos indicadores foi sinalizada da seguinte forma: “X” para a presença dos
indicadores, “XX” para presença em grande quantidade e “XXX” para a predominância
desses elementos.
Quadro 4 Indicadores de atratividade da Trilha do Paredão do Lapão.
Pontos
Beleza
cênica
(3)10
Vestígio de
fauna (3)
Cursos
d’água (3)
Diversid./
Relev (3)
Conforto
(2)
Som (3)
Soma
PI 1
XX
XX
XX
X
XXX
29
PI 2
XX
6
PI 3
XXX
XXX
XX
XXX
XXX
39
PI 4
XXX
XXX
XX
XX
XXX
31
PI 5
XXX
9
PI 6
XXX
XXX
X
XXX
XXX
36
PI 7
XX
XX
X
14
PI 8
XX
X
X
XX
XXX
25
PI 9
X
XXX
12
PI 10
X
XX
XX
15
PI 11
X
XX
9
Fonte: Elaborado pelos autores (2022)
10
Pontuação para cada (X).
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Assim sendo, conforme os dados obtidos, é perceptível que os pontos potenciais que
mais se destacaram foram aqueles localizados em trechos do Rio das Fêmeas, rio que faz parte
da bacia do Rio Grande, e que, segundo a percepção dos moradores, tem sido afetado pela
instalação de duas PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas), responsáveis pelo abastecimento
de energia destinada aos pivôs centrais utilizados para irrigação à montante do rio, o que reduz
a vazão das águas no povoado. Por outro lado, os pontos potenciais com a presença de aves,
buritis (Mauritia flexuosa) e babaçuais também se destacaram, além do ponto em que melhor
se observa o Paredão do Lapão (Figura 4).
Figura 4 Vista parcial do Paredão do Lapão, desde o P6.
Fonte: acervo dos autores (2022)
Nesse contexto, o ponto potencial que obteve menor pontuação foi a clareira, devido à
ausência de uma diversidade de elementos para a interpretação. Contudo, o ponto oferece um
importante contexto ambiental a ser interpretado, uma vez que é um ponto impactado por
atividades humanas, o que permite proporcionar debates e análises sobre as consequências da
intensificação não controlada de usos dos espaços de relevante interesse natural. Por outro lado,
pelo motivo anteriormente mencionado, é um local receptivo à edificação de construções de
apoio. Sendo assim, optou-se por sua permanência nos temas a serem a interpretados.
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SANTOS, Manuela de Souza; BRANDÃO, Paulo Roberto Baqueiro. TRILHA INTERPRETATIVA DA NATUREZA: PRÁTICAS DE
TURISMO PEDAGÓGICO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO POVOADO DE PENEDO (SÃO DESIDÉRIO, BAHIA). Ensaios de
Geografia. Niterói, vol. 10, nº 21, pp. 98-129, maio-agosto de 2023.
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Proposta de trajeto e roteiro para visitação
Ao considerar o trajeto da trilha e os pontos potenciais selecionados, sugere-se a
realização da trilha com onze paradas para interpretação. Os pontos para interpretação
selecionados apresentam elementos que permitem a visualização na prática daquilo que é visto
na educação formal, seja no Ensino Básico ou Superior.
Conforme a Lei n. 9.795/1999, a Educação Ambiental não-formal é voltada para a
sensibilização da coletividade no que tange às questões ambientais. Assim sendo, as trilhas
interpretativas da natureza são um importante instrumento da educação não-formal para o
despertar da consciência ambiental nos indivíduos.
Na Figura 5, é possível observar o trajeto da trilha e a sua proximidade com o rio,
elemento da natureza que, desde os primórdios, sempre foi considerado imprescindível para a
vida humana, haja visto que os primeiros aglomerados humanos se alocaram próximos a
grandes cursos d’água, tendo em vista a disponibilidade do líquido e a fertilidade dos solos.
Dessa forma, além de abordar a grande relevância dos rios da região, em especial, do rio
avistado na trilha, pode-se, também, contextualizá-lo em um cenário mais amplo.
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Figura 5 Vista aérea da Trilha do Paredão do Lapão, com destaque para os pontos.
Fonte: Elaborado pelos autores a partir do Google Earth (2022)
Além disso, torna-se pertinente, ao mencionar a temática água, fazer referência ao ciclo
hidrológico e à importância dos rios e da vegetação, ao passo que a evaporação, a transpiração
das plantas e a infiltração são importantes etapas desse ciclo. Quanto aos pontos interpretativos,
conforme já mencionado, cada um possui características próprias e, em função disso, sugere-se
temas específicos para aqueles selecionados (Figura 6), como se verá adiante.
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Figura 6 Composição de imagens dos pontos interpretativos selecionados.
Fonte: Elaborado pelos autores (2022)
Ponto de encontro (tema: Boas-vindas): trecho inicial, onde deve ser feita a recepção
dos visitantes e instruí-los com as orientações gerais referentes à trilha
11
. Nesse ponto,
os guias deverão informar aos visitantes acerca da duração média do caminho a ser
percorrido, contextualizar a trilha no que diz respeito ao povoado e sobre os momentos
de paradas para interpretação, abordar os aspectos socioculturais e ambientais da
localidade, além de reforçar a necessidade de que sejam conscientes, para não deixarem
resíduos ao longo da trilha e terem o cuidado de não subtrair elementos bióticos ou
abióticos.
PI 1: os sons de pássaros e a grande de variedade de babaçuais se destacam nesse ponto,
tornando-o um local relevante para que os guias informem os visitantes acerca das aves
avistadas, tais como o pássaro preto (Gnorimopsar chopi), o Jacú (Penelope
11
É importante ressaltar que algumas instruções devem ser dadas previamente, antes mesmo do encontro no ponto
inicial da trilha, tais como o tipo de vestimenta adequada, portar uma garrafa d’água e utilizar calçados que
facilitem a locomoção.
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ochrogaster), e as rolinhas (Columbina talpacoti), de seus sons, principais
características e sua relação com o Cerrado. Além disso, podem explicar o porquê da
presença do babaçu.
PI 2: de acordo com Lima (2005), a dinâmica de uma clareira envolve a queda ou morte
de árvores e, em consequência disso, ocorre a abertura do dossel, o que impacta
diretamente no aumento da incidência de luz e da incidência solar sobre o solo e nas
vegetações de pequeno porte, além de provocar a redução da umidade, que, por sua vez,
corrobora para o aumento da temperatura. Assim sendo, percebe-se que o ponto possui
grande relevância e muitos elementos a serem interpretados.
PI 3: o terceiro ponto selecionado é um trecho do Rio dos Fêmeas com grande presença
de coco babaçu e buritis. É perceptível a beleza dos atrativos visualizados, com
potencial para atrair a atenção dos visitantes, tornando o cenário oportuno para
contextualizar o processo de coleta e de quebra do coco-babaçu e seus múltiplos usos
pela comunidade. Ademais, pode-se destacar a importância do buriti, característico de
ambientes com solos permanentemente alagados, próximos de nascentes ou bordas de
mata-galeria.
PI 4: nesse ponto, pode-se contemplar mais um trecho do Rio das Fêmeas, trecho
oportuno para abordar temas como hidrografia, a importância dos rios para as
comunidades locais e os problemas percebidos pela população local. A água é um bem
coletivo, o que implica em responsabilidade igualmente coletiva. Nesse sentido, sugere-
se que sejam abordadas práticas conscientes quanto ao uso água e os riscos relacionados
aos resíduos lançados nos corpos d’água.
PI 5: no quinto ponto interpretativo selecionado observou-se que alguns troncos e ramos
de arvores estão queimados. Nessa conjuntura, o local propicia abordar a relação do
Cerrado com fogo, enfatizando a capacidade das plantas de se adaptarem. Sugere-se
também abordar a tortuosidade de algumas plantas do Cerrado, versando sobre a relação
entre clima e fitofisionomia.
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PI 6: o ponto que dá nome à trilha é o de maior relevância cênica do percurso, posto que
nele é possível observar o Paredão do Lapão margeando o rio. Esse ponto permite uma
pausa mais demorada, com descanso, banho e aprendizado sobre a formação rochosa.
No mais, o Paredão também é utilizado para a realização de escaladas. Contudo, pelos
riscos e especificações que envolve, a atividade não foi contemplada nesta proposta.
PI 7: nesse ponto vê-se o buriti, que é um tipo de vegetação que atrai uma fauna bastante
diversa, em busca de alimento. No ponto interpretativo em questão, encontrou-se
vestígios da presença de capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris) na trilha, indicados por
um morador local. Vale reportar que, em pontos interpretativos com presença de fauna,
é imprescindível a instalação de placas com as principais características, cuidados e
curiosidades, com utilização de imagens e cores vivas.
PI 8: esse é mais um dos pontos em que se permite a parada para observação de aves e
descanso entre palmáceas típicas do Cerrado (buritis e babaçu).
PI 9: o ponto possui relevância por ser área de trânsito de animais. Em visita, pôde-se
observar pegadas de paca (Cuniculus paca) no sentido do rio. Esses animais podem ser
observados à distância, sob orientação de guias.
PI 10: esse ponto denota relevância graças à presença de um jenipapeiro (Jenipa
americana), árvore de grande porte, cujos frutos são comestíveis e amplamente
utilizados pelos moradores do Penedo em diferentes receitas, como, por exemplo,
bebidas e infusões, doces e remédios caseiros. Assim, o local propicia um diálogo sobre
os saberes-fazeres locais na produção de alimentos e bebidas. Além de proporcionar a
contemplação do Paredão do Lapão e a observação de aves que se alimentam do fruto.
PI 11: Apesar de pouco percebida em trilhas, a fauna de invertebrados possui um papel
na dinâmica e preservação da natureza, merecendo, portanto, ser prestigiada. Nesse
ponto, é possível observar cupins (Isoptera) e seus habitats, os cupinzeiros.
Propostas adicionais para a infraestrutura da trilha
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Na trilha proposta, foram observados alguns aspectos que podem ser mais bem
qualificados, haja vista que, até então, o caminho pré-existente a partir do qual se pretende
implantar a trilha não dispunha de infraestrutura, esta que, ao ser implementada, tornará a
experiência do visitante mais agradável e segura. Nesse contexto, sugere-se:
Implantação de placa informativa contendo a distância que será percorrida, o tempo
médio de duração e o nível de dificuldade da trilha.
Recuperação do solo em trechos erodidos pela lixiviação provocada pelas águas pluviais
e pisoteio do gado.
Emprego de sinalização direcional em trechos onde bifurcações na trilha, evitando
que visitantes possam confundir-se ao percorrer o trajeto proposto.
Alargamento da trilha em trechos onde o dossel invade o percurso, com galhos e folhas
dificultando o trânsito.
Implantação de lixeiras no ponto de encontro para o descarte adequado de resíduos.
Foram avistados restos de alimentos e plástico ao longo da trilha.
Aprofundamento dos estudos para avaliação da possibilidade de transformação da trilha
em circular.
Nesse contexto, observa-se a importancia do planejamento e da realização de
investimento em infraestrutura, haja vista a necessidade de garantir a qualidade dos serviços
oferecidos. Destarte, cabe também investir na construção de um pequeno receptivo no ponto de
encontro, seja para demarcar o início da trilha, para servir como local para as instruções e
diálogos iniciais ou para descanso no retorno do percurso.
Considerações finais
O propósito deste escrito é dar ciência de uma proposta de trilha interpretativa da
natureza nas imediações do povoado de Penedo, em São Desidério (Bahia), visando a realização
de atividades de Educação Ambiental e Turismo Pedagógico, de modo a suscitar a consciência
ambiental nos visitantes. Ademais, a proposta contempla, por meio de uma cooperação
Comunidade-Universidade, um dos anseios dos moradores locais, que almejam a implantação
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de um sistema de trilhas como base para o desenvolvimento de uma iniciativa de Turismo
Comunitário que seja avesso à massificação dos seus espaços de reprodução social e econômica
e convergente com uma prática turística que reforce ao invés de ameaçar a autonomia, o
pertencimento e a solidariedade como princípios.
A proposta em tela visa dar um anteparo técnico-científico para a implantação da Trilha
do Paredão do Lapão, especialmente no que tange à identificação do potencial de interpretação
dos pontos e aplicação dos indicadores de atratividade. No entanto, não se pretendeu, aqui,
encerrar todos os aspectos que envolvem um planejamento amplo e complexo.
Vale afirmar, portanto, que esta proposta apresenta os elementos preliminares para a
apropriação da trilha como recurso para a Educação Ambiental, cabendo à equipe do projeto
que ora se debruça sobre o desenvolvimento de iniciativas ligadas ao Turismo Comunitário em
Penedo definir, a partir dos desígnios da comunidade, os planos de ação, sequências didáticas
e itinerários formativos que se pretende trilhar. Neste sentido, a proposta ora apresentada se
converte em ponta de lança para o desenvolvimento de um sistema de trilhas que permita ao
visitante vivenciar atividades contemplativas e socioeducativas, todas elas planejadas sob os
princípios e diretrizes da Educação Ambiental.
Deste modo, ainda que a transformação de um caminho utilizado pela comunidade local
para a realização de deslocamentos cotidianos em uma trilha interpretativa exija a incorporação
de outras etapas de trabalho, como a análise de capacidade de carga (Brasil, 1975; Cifuentes,
1992), do limite aceitável de câmbio (Merigliano, 1987; Cole e Mccool, 1992) e a definição das
formas de incorporação de uma Economia Social e Solidária no seu processo de turistificação
todas devidamente planejadas para serem executadas em momento oportuno , por meio
deste escrito, é possível afirmar que a Trilha do Paredão do Lapão é absolutamente exequível e
detentora das potencialidades que se requer para tal.
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