Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
RESENDE, Gustavo Sousa. OS DETERMINISMOS DO MITO RATZELIANO E DO ANTI-IMPERIALISMO DIOPIANO:
uma comparação necessária. Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 10, nº 21, pp. 58-72, maio-agosto de 2023.
Submissão em: 19/04/2023. Aceito em: 23/08/2023.
ISSN: 2316-8544
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SEÇÃO ARTIGOS
OS DETERMINISMOS DO MITO RATZELIANO E DO ANTI-IMPERIALISMO
DIOPIANO:
uma comparação necessária
THE DETERMINISM OF THE RATZELIAN MYTH AND OF THE DIOPIAN ANTI-
IMPERIALISM:
a necessary comparison
EL DETERMINISMO DEL MITO RATZELIAN Y DEL ANTIIMPERIALISMO
DIOPIANO:
una comparación necesaria
Gustavo Sousa Resende
1
Universidade de Brasília (UnB),
Distrito Federal, Brasil
e-mail: guga10230@gmail.com
Resumo
Seleção natural de Charles Darwin, teorias de Lamarck, corrida imperialista europeia para partilhar e conquistar a
África, colonialismo e a ascensão de ideologias de superioridade racial e étnica: é nesse contexto que se encontra
o mundo durante o século XIX e início do século XX. Neste sentido, a geografia não fica de fora do desejo de se
estabelecer como uma ciência útil, ao elaborar leis gerais e funcionando como um instrumento do Estado-nação.
Ademais, o uso simplificado e até errôneo dos conceitos e teorias de Ratzel o condenaram a ser visto como
determinista, tendo seus trabalhos utilizados como estratégia em meio a uma Europa conflituosa, em um contexto
de rivalidade histórico epistemológica entre França e Alemanha, o que fez ascender e firmar o mito da geografia
Determinista Ratzeliana. Seguindo uma linha contrária, Cheick Anta Diop surgiu como uma alternativa
determinista que quebra com o caráter imperialista do Determinismo europeu. O presente artigo tem por objetivo
comparar dois Determinismos, o mito determinista de Friedrich Ratzel e o determinismo de Cheick Anta Diop,
construídos em contextos históricos similares. Deste modo, o seguinte artigo parte de uma análise bibliográfica de
textos originais de Ratzel e seus comentadores, além de leituras dos textos de Diop e seus releitores. Esse artigo
converge, portanto, com a importante discussão contemporânea sobre a decolonialidade do saber, isto é,
revisitando e trazendo à luz autores que buscam lutar contra a colonialidade e levantar uma autonomia do saber
para os países colônias, fomentando a construção de um conhecimento não europeu, que exalte os povos africanos
e latino americanos como construtores de saber. Por conseguinte, o seguinte trabalho conseguiu estabelecer
correlações entre pontos convergentes e divergentes entre os dois autores que se assemelham muito na explicação
da diversidade étnico-racial do mundo: a geografia.
Palavras-chave
Friedrich Ratzel; Cheick Anta Diop; Decolonialidade do saber.
1
Graduando em licenciatura e bacharelado em geografia pela Universidade de Brasília (UnB).
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AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
RESENDE, Gustavo Sousa. OS DETERMINISMOS DO MITO RATZELIANO E DO ANTI-IMPERIALISMO DIOPIANO:
uma comparação necessária. Revista Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 10, nº 21, pp. 58-72, maio-agosto de 2023.
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Abstract
The natural selection of Charles Darwin, the theories of Lamarck, the European imperialist race to share and
conquer Africa, colonialism and the rise of ideologies of racial and ethnic superiority: this is the context in which
the world finds itself during the 19th century. and early XX. In this sense, geography is not left out of the desire
to establish itself as a useful science, elaborating general laws and functioning as an instrument of the Nation-
State. In addition, the simplified and even erroneous use of Ratzel's concepts and theories condemned him to be
seen as a determinist, his works being used as a strategy in the midst of a Europe in conflict, in a context of
epistemological historical rivalry between France and Germany, which gave rise to and established the myth of
Ratzelian deterministic geography. Following a contrary line, Cheick Anta Diop emerges as a deterministic
alternative that breaks with the imperialist character of European determinism. This article aims to compare two
determinisms, Friedrich Ratzel's deterministic myth and Cheick Anta Diop's determinism, built in similar historical
contexts. Thus, the following article is based on a bibliographical analysis of original texts by Ratzel and his
commentators, as well as readings of texts by Diop and his readers. This article converges, therefore, with the
important contemporary discussion on the decoloniality of knowledge, that is, revisiting and bringing to light
authors who seek to fight against coloniality and propose an autonomy of knowledge for colonial countries,
promoting the construction of a non-coloniality. European knowledge, which exalts the African and Latin
American peoples as builders of knowledge. Therefore, the following work managed to establish correlations
between convergent and divergent points between two very similar authors to explain the ethnic-racial diversity
of the world: geography.
Keywords
Friedrich Ratzel; Cheick Anta Diop; Decoloniality of knowledge.
Resumen
La selección natural de Charles Darwin, las teorías de Lamarck, la carrera imperialista europea para compartir y
conquistar África, el colonialismo y el surgimiento de ideologías de superioridad racial y étnica: este es el contexto
en el que se encuentra el mundo durante el siglo XIX y principios del XX. En este sentido, la geografía no queda
al margen del deseo de constituirse como una ciencia útil, elaborando leyes generales y funcionando como
instrumento del Estado-Nación. Además, el uso simplificado y hasta erróneo de los conceptos y teorías de Ratzel
lo condenó a ser visto como un determinista, siendo sus obras utilizadas como estrategia en medio de una Europa
en conflicto, en un contexto de rivalidad histórica epistemológica entre Francia y Alemania, lo que hizo surgir y
asentar el mito de la geografía determinista ratzeliana. Siguiendo una línea contraria, Cheick Anta Diop surge
como una alternativa determinista que rompe con el carácter imperialista del determinismo europeo. Este artículo
tiene como objetivo comparar dos determinismos, el mito determinista de Friedrich Ratzel y el determinismo de
Cheick Anta Diop, construidos en contextos históricos similares. Así, el siguiente artículo parte de un análisis
bibliográfico de textos originales de Ratzel y sus comentaristas, además de lecturas de textos de Diop y sus
relectores. Este artículo converge, por tanto, con la importante discusión contemporánea sobre la decolonialidad
del saber, esto es, revisitando y sacando a la luz autores que buscan luchar contra la colonialidad y plantear una
autonomía del saber para los países coloniales, promoviendo la construcción de una no-colonialidad. Saberes
europeos, que exalta a los pueblos africanos y latinoamericanos como constructores de saberes. Por lo tanto, el
siguiente trabajo logró establecer correlaciones entre puntos convergentes y divergentes entre dos autores muy
similares para explicar la diversidad étnico-racial del mundo: la geografía.
Palabras-clave
Friedrich Ratzel; Cheick Anta Diop; Decolonialidad del saber.
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Introdução
Seleção natural de Charles Darwin, teorias de Lamarck, corrida imperialista europeia
para partilhar e conquistar a África, colonialismo e a ascensão de ideologias de superioridade
racial e étnica, é nesse contexto que se encontra o mundo durante o início do século XX e fim
do século XIX. Ademais, o positivismo, a racionalidade e a busca por leis naturais que regeriam
a realidade construíram e guiaram a sociedade e a ciência da época, influenciando autores a
produzirem ciências úteis aos desejos sociais e nacionais (Ribeiro, 2017; Lacerda, 2009). Por
conseguinte, visando o estabelecimento e manutenção dos Estado-nações, a ciência começa a
produzir para o caráter da conquista e do estabelecimento das superioridades nacionais em
relação ao outro.
Neste sentido, a geografia não fica de fora do desejo de se estabelecer como uma ciência
útil, visando identificar leis gerais e funcionando como um instrumento do Estado-nação. Na
Alemanha, por exemplo, o uso simplificado e até errôneo dos conceitos e teorias de Ratzel o
condenaram a ser contemplado como determinista, visto que seus trabalhos foram alterados a
fim de servirem como estratégia beligerante em meio a uma Europa conflituosa, além de sofrer
com alcunhas provenientes da rivalidade histórica entre França e Alemanha, o que fez ascender
e firmar o mito da geografia Determinista Ratzeliana (Antunes, 2021). Por conseguinte, é
possível afirmar que os trabalhos de Ratzel possuem um caráter ideológico e imperialista,
porém, esclarecer erros e distopias históricas faz-se necessário para que haja maior reflexão
sobre os clássicos da geografia, enriquecendo ainda mais o debate no campo epistemológico.
Seguindo uma linha contrária ao mito do Determinismo Ratzeliano e tendo suas obras
publicadas no mesmo contexto histórico, Cheick Anta Diop surge como uma alternativa
determinista que quebra com o caráter ideológico e imperialista do Determinismo europeu.
Ademais, suas teorias, também influenciadas por Darwin, trazem a ideia positivista da
construção de leis gerais, do entendimento objetivo da natureza e da destruição de um
pensamento preconceituoso para com a África, cujos trabalhos comprovaram que foi nesse
continente que a humanidade racional nasceu e se desenvolveu. Assim sugerimos que Diop
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conseguiu produzir um outro tipo de determinismo, que era anti-imperialista, libertário e
questionador, que ia contra tudo que a academia pregava.
O presente artigo tem por objetivo comparar dois Determinismos: o mito construído a
partir da obra de Friedrich Ratzel e o determinismo de Cheick Anta Diop. Além do mais, a
partir de escritos dos autores e dos seus comentadores, nota-se semelhanças epistemológicas
para elucidar a diversidade dos povos: a geografia, e diferenças, como a notória construção do
mito do Determinismo ratzeliano, que era claramente uma ferramenta de estabelecimento e
manutenção estatal e o outro de um Determinismo que questionava a ordem imperialista
vigente. Assim, é possível estabelecer uma correlação de semelhanças e diferenças por meio da
análise comparativa, enriquecendo ainda mais o debate entre um trabalho imperialista e anti-
imperialista.
Deste modo, o seguinte artigo parte de uma análise bibliográfica de obras originais de
Ratzel (2019a [1901]; 2019b [1901]; 2020 [1901]) e alguns de seus comentadores (Bezzi, 2004;
Costa, 1992; Barros, 2007; Antunes, 2021). Além de três obras de Cheick Anta Diop (2014;
1974; 2010) e de alguns de seus comentadores (Finch III, 2009; Mendes, 2021). Ademais, a
partir dos textos lidos, haverá uma comparação entre semelhanças e diferenças entre os dois
autores, com o auxílio de um quadro sinóptico para melhor organização das ideias de cada
pensador, fomentando a reflexão sobre um clássico geógrafo e um novo contribuinte para a
epistemologia geográfica.
Faz-se necessário salientar que Friedrich Ratzel, mesmo sendo um dos pilares históricos
da ciência geográfica, possui poucas obras originais traduzidas para o português, o que dificulta
o acesso direto às suas propostas. O mesmo ocorre com Cheick Anta Diop, apesar de por razões
diferentes talvez um amplo desconhecimento sobre sua obra, algo percebido até mesmo em
livros importantes no Brasil sobre a história do pensamento geográfico (Morais, 1989; Gomes,
1995). Por conseguinte, é de suma importância trazer Cheick Anta Diop para o campo
geográfico, pois o autor traz teses muito geográficas e que trazem à mesa um outro olhar sobre
a África, propondo uma ciência anti-imperialista, combatendo o eurocentrismo e revelando um
passado oculto sobre o continente africano. Esse artigo converge, portanto, com a importante
discussão contemporânea sobre a decolonialidade do saber (Santos, 2007; Azevedo, 2019;
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Silva, 2022), isto é, revisitando e trazendo à luz autores que buscam lutar contra a colonialidade
e levantar uma autonomia do saber para os países colônias, fomentando a construção de um
conhecimento não europeu, que exalte os povos africanos e latino americanos como
construtores de saber.
O presente artigo se estrutura em duas partes a fim de discutir a origem e diferenciação
da raça humana. A primeira divisão procura detalhar a origem e difusão do mito determinista
de Ratzel, além de aprofundar e desmistificar pensamentos e falas muitas vezes atribuídas ao
mesmo, objetivando uma reflexão sobre o autor clássico da geografia. Por conseguinte, a
segunda parte trabalha a relação entre Cheick Anta Diop e a geografia, e como seu pensamento
pode enriquecer a epistemologia geográfica, revelando um tipo de determinismo alternativo e
anti-imperialista, procurando a decolonização do saber.
Como elucidado, para ambos os autores o espaço geográfico realizaria uma pressão
adaptativa nos corpos, selecionando naturalmente os melhores (seleção natural de Darwin).
Contudo, a partir deste ponto, nota-se em seus trabalhos uma enorme diferença de abordagens
e de papéis dados tanto à geografia, ao meio natural, aos povos e a quem iria ler suas obras,
sendo percebido nitidamente o caráter imperialista, hierárquico e colonialista do mito
Determinista de Ratzel e, em contraponto, o anti-imperialismo, a luta contra o colonialismo, o
combate ao racismo e a exaltação de outra história da África presente no Determinismo
Geográfico Diopiano. Desse modo, o destrinchamento, diferenciação e comparação de ideias
entre Diop e Ratzel é de suma importância para o fortalecimento do pensamento Afrocêntrico
e seu Determinismo não eurocêntrico e a deslegitimação de um mito “Determinismo
Geográfico Ideológico” de Ratzel.
Origem e diferenciação das raças
Com uma aliança entre ciência e Estado, no século XIX, a Europa se encontrava em
uma intensa corrida para conquistar e partilhar a África, e a epistemologia que melhor servisse
a esses interesses, ganhava prestígio. Ademais, o Positivismo era a corrente epistemológica que
reinava na época, propondo uma ciência que buscava leis gerais, com o uso do método dedutivo,
considerando o homem o centro do universo e que este, por ser mais forte, deveria dominar a
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natureza (Lacerda, 2009). Assim, observa-se que Friedrich Ratzel e Cheick Anta Diop
conviveram neste mesmo contexto histórico epistemológico, sendo influenciados pelas ciências
físicas e naturais, que eram vistas como modelo do que era conhecimento científico.
Como elucidado, ambos os autores partem do mesmo ponto para explicar a
diversidade de raças e diferenciação de etnias e povos: a geografia, já que o espaço geográfico
realizaria uma pressão adaptativa nos corpos, selecionando naturalmente os melhores (seleção
natural de Darwin). Contudo, a partir deste ponto, nota-se em seus trabalhos a enorme diferença
de abordagens e de papéis dados tanto à ciência do espaço geográfico, ao meio natural, aos
povos e a quem iria ler suas obras, sendo percebido nitidamente o caráter imperialista,
hierárquico e colonialista do mito Determinista de Ratzel e, em contraponto, o anti-
imperialismo, a luta contra o colonialismo, o combate ao racismo e a exaltação de outra história
da África presente no Determinismo Geográfico Diopiano. Desse modo, o destrinchamento,
diferenciação e comparação de ideias entre Diop e Ratzel é de suma importância para o
fortalecimento do pensamento Afrocêntrico e seu Determinismo o eurocêntrico e a
deslegitimação de um mito “Determinismo Geográfico Ideológico” de Ratzel.
O mito do Determinismo Geográfico de Friedrich Ratzel
Para se entender as características e acepções relacionadas a Ratzel, deve-se
primeiramente compreender a origem do mito que diz que Ratzel era determinista. Assim,
quando se analisa o contexto da rivalidade franco-germânica que reinava na Europa, encontra-
se o Estado burguês da França investindo massivamente na produção geográfica para combater
a geografia alemã que, segundo Adolphe Thiers (Antunes, 2021), primeiro ministro francês da
época, fora a responsável pela derrota francesa na guerra franco-prussiana. Desta maneira, vê-
se a ascensão de Paul Vidal de La Blache e seus alunos, que rivalizam e criticam a geografia
ratzeliana, mas eram imbuídos da mesma finalidade: a expansão do Estado nacional (Moraes,
2003). Logo, La Blache critica a presença de temas políticos e a diminuição do protagonismo
humano na geografia de Ratzel, além de ser professor de Febvre, que sistematizou o
antagonismo entre Possibilismo e Determinismo, sendo o primeiro a denominar Ratzel de
Determinista (Antunes, 2021).
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Deste modo, percebe-se o uso simplificado e errôneo dos conceitos de Ratzel por autores
que se interessaram somente pelo caráter político e estratégico de suas obras. Assim, pensadores
como Rudolf Kjéllen, Mackinder, Ellen Sample, Karl Haushoffer e até Adolph Hitler, se
apropriaram de parte das contribuições intelectuais de Friedrich Ratzel e produziram uma
geografia verdadeiramente determinista (Antunes, 2021). Por conseguinte, a popularização do
mito de um Ratzel ferrenhamente determinista por parte desses autores implicou a alcunha de
vilão a Ratzel, o que empobrece a análise de suas obras e torna necessário analisar o Mito
Determinista de Ratzel para, além de esclarecer, também rechaçar essa geografia imperialista.
Friedrich Ratzel, influenciado pela corrida imperialista e a consolidação do Estado-
nação da Alemanha, pretendia produzir uma obra que exaltaria o povo alemão, suas conquistas
e sua geografia, por isso, nunca deixaram de levantar o nacionalismo germânico em seus textos.
Além disso, influenciado pelas ideias da seleção natural de Darwin e os conceitos biológicos
de Lamarck, produziu obras que delimitam que o “meio geográfico” é determinante e “domina”
o desenvolvimento social dos povos, buscando utilizar o princípio da causalidade para construir
leis naturais que explicassem como as diferentes geografias influenciavam o crescimento e
expansão das etnias mundo afora: “[...] a contribuição mais representativa de Ratzel foi o
determinismo geográfico, segundo o qual o homem era produto do meio. [...] também o homem
necessitaria adaptar o seu modo de vida ao ambiente em que vivia” (Bezzi, 2004, p. 51-52).
Com uma concepção naturalista, Ratzel dizia que a distribuição humana era determinada
pela natureza, sendo que “[...] a mobilidade natural das formas de vida [Lebensformen] pode
ser intensificada através de muitos meios [...]” (Ratzel, 2019a [1901], p. 120), e esta natureza
influenciava a política, no sentido de a melhor natureza, produziria homens mais fortes e estes
construiriam Estados-nação mais bem preparados, que cresceriam rumo à expansão e à
conquista de seus vizinhos. Neste momento, fica clara a construção de uma geografia como
política de Estado voltada à expansão, à competição, à batalha e à subordinação de quem não
era considerado civilizado, como dito por Ratzel (2019b [1901]) que tudo na vida é preparado
para o enfrentamento espacial (Raumbewältigung). A partir destas proposições, se constrói uma
corrente geográfica que prega a superioridade caucasiana como a raça mais civilizada, com o
melhor “meio geográfico”, portanto, com o povo mais forte que deveria expandir-se e
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conquistar, levando “civilização” para os “selvagens”: “o fardo do homem branco” (Ferro,
2004). Nesse sentido, percebe-se que
Os alemães edificaram a Geografia baseados no determinismo geográfico [...]. Esse
dogmatismo determinista justificaria a ideia de que as melhores condições naturais
dariam margem à formação de uma raça superior, fisicamente mais capacitada e, em
consequência, tecnicamente mais evoluída (Bezzi, 2004, p. 52).
Assim, os trabalhos de Ratzel, além de terem sido utilizados como uma ferramenta de
fomento a uma estratégia de Estado para a expansão, conquista, luta e competição, salientou a
existência de raças superiores, produtos de meios geográficos” melhores, legitimando a
conquista, subordinação e escravidão de povos considerados diferentes ou simplesmente
“selvagens”. Porém, esse uso foi devido à apreensão errônea de seus conceitos utilizados para
a guerra, focando em seu uso político militar (Antunes, 2021). Desta forma, como diz Bezzi
(2004, p. 53), por meio das condições oferecidas pela região, classificou-se os diferentes modos
de adaptação e relação homem-meio, dividindo as raças e etnias entre melhores e piores,
vencedores e perdedores, humanos e não humanos.
A partir disso, vê-se a equivalência entre o determinismo ambiental da época e os
interesses das potências dominantes do período, sendo teorias muito utilizadas ideologicamente
por países conquistadores (Alemanha e França, por exemplo), para se legitimar que o “meio
geográfico” construía padrões comportamentais mais civilizados ou não. Como salienta Bezzi
(2004, p. 56): “percebe-se que a visão determinista é perfeitamente funcional à ideologia e à
concepção de mundo e da sociedade que dominaram na época do capitalismo concorrencial” e
novamente Bezzi (2004, p. 56 apud Corrêa, 1986, p. 10) “[...] o determinismo ambiental
configura uma ideologia, a das classes sociais, países ou povos vencedores [...]. Justificam,
assim, o sucesso, o poder, o desenvolvimento, a expansão e o domínio”.
No campo da cultura, vê-se que Ratzel propõe que, por mais que o meio geográfico seja
o mesmo, a etnia influencia em como as potencialidades do meio serão utilizadas, como dito
por Barros que
[p]ara Ratzel, o princípio da difusão possuía ascendência sobre o das invenções
paralelas na inovação e mudança culturais. Isto é, meios geográficos iguais não
produziriam necessariamente os mesmos padrões culturais, sendo que para Ratzel, o
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foco das explicações das variações nos padrões culturais era o espaço, a terra, o meio
e suas difusões culturais mediante as migrações e não o interior biológico do homem
(gene) (Barros, 2007, p. 216-217).
Por conseguinte, essas afirmações já ajudam a desmistificar o determinismo ratzeliano,
visto que nem todas as explicações para as diversidades étnicas vinham da natureza, e tinham,
também, manifestações culturais.
Com isso, por mais que o meio ainda fosse predominante na relação homem-natureza,
a ação do ser humano era também importante para a utilização e transformação das
potencialidades que a natureza oferecia, o que se pode compreender que grupos étnicos por
mais que estivessem em meios semelhantes, desenvolveriam padrões culturais e
comportamentais diferentes entre si. O que para Ratzel foi visto como fator de superioridade
europeia fora a capacidade de expansão e conquista de terras para manutenção, crescimento e
refinamento de características positivas de raça e cultura, visto que
[...] no desenvolvimento da vida, cada ampliação da área de uma raça ou espécie
significa primeiramente seu crescimento em número, em seguida, sua adaptação às
mais diversas condições de vida e, por fim, a diminuição da possibilidade de regressão
à raça-tronco ou espécie-tronco através de cruzamento (Ratzel, 2019a [1901], p. 122).
Ademais, como visto em Antunes (2021), a construção do estigma de um determinismo
ratzeliano começa a ser concebido com Lucien Febvre, aluno de Paul Vidal de la Blache que, a
partir da simplificação de vários conceitos de Ratzel, cria a divisão de duas correntes
geográficas antagônicas: Possibilismo e Determinismo. Assim, como visto em Cazarotto
(2006), o determinismo com base positivista de Friedrich Ratzel é um mito, visto que estudos
mais recentes revelam sua crítica ao positivismo que pregava a previsibilidade e a fragmentação
das ciências. Por conseguinte, como apontam autores (Antunes, 2021), a obra de Moraes (2003)
popularizou essa dicotomia e simplificação dos conceitos ratzelianos, proporcionando a
estigmatização das obras de Ratzel dentro da academia geográfica brasileira.
Com fortes influências da geografia francesa, a geografia brasileira adotou o discurso
reducionista sobre Ratzel, associando-o a movimentos cujo o qual nem conhecera, como o
nazismo (MORAIS, 1989). Ademais, o crescimento e a influência da dita geografia crítica nos
anos setenta afirmou ainda mais as simplificações de Ratzel como somente “um Determinista”,
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o que cai em contradição visto que o próprio Marx apresenta ideias similares em alguns trechos
de sua obra quando propõe que uma natureza muito farta não ajuda no desenvolvimento humano
(Galvão; Bezerril, 2013). Como dito por ele: “uma natureza pródiga demais 'retém o homem
pela mão como uma criança sob tutela'; ela o impede de se desenvolver ao não fazer com que
seu desenvolvimento seja uma necessidade de natureza” (Marx, 1884, p. 1006). Por
conseguinte, o processo de revisão das obras de Friedrich Ratzel se faz necessário, visto que
por muito tempo o pensador foi marginalizado pela simplificação de seus conceitos aplicados
por seus alunos. (Galvão; Bezerril, 2013)
Deste modo, percebe-se finalmente o caráter ideológico do mito do determinismo
geográfico e das obras de Ratzel pois, a partir do momento que se usa a pressão adaptativa dos
meios geográficos para se legitimar a inventada superioridade do povo europeu do século XVIII
e XVI, o uso da ciência para legitimar a conquista. Ademais, quando Ratzel caracteriza altas
sociedades (aquelas que transformam e controlam a natureza) e as baixas sociedades (aquelas
que são controladas pela natureza), produz assim um discurso segregatório, ideológico e que
ferramentas e proposições necessárias para se apontar para o homem preto e a mulher preta na
África como não civilizados, não evoluídos e sem história, como dito por filósofos como David
Hume e Immanuel Kant (Lima, 2017). Por conseguinte, por mais que o próprio Ratzel não tenha
se proposto a realizar uma geografia dos Estados, visando a sobrevivência e expansão do
Estado-Nação alemão e não se denominaria determinista, ainda assim produziu um discurso
científico imbuído de ideologia e que legitimava o colonialismo, ditando a civilidade ou não
dos povos (Antunes, 2021).
Cheick Anta Diop
Seguindo a linha do mito do Determinismo Geográfico Ratzeliano, o senegalês Cheich
Anta Diop, também influenciado pelas teorias da seleção natural, da física e da biologia, produz
obras deterministas. Ademais, suas obras mudam os paradigmas de estudo da África e
inauguram uma corrente de combate ao colonialismo, valorizando as origens negras africanas
e o resgate da historicidade africana apagada pelos colonizadores. Por meio desses pilares, Diop
produziu seus pensamentos mais importantes, como percebemos em duas de suas principais
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RESENDE, Gustavo Sousa. OS DETERMINISMOS DO MITO RATZELIANO E DO ANTI-IMPERIALISMO DIOPIANO:
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obras: “A humanidade começou na África” (1974) e a da “Existência de dois berços da
humanidade durante a pré-história: o berço europeu e o berço africano” (2014), colocando o
povo negro como protagonista da história humana e salientando a importância da geografia para
o desenvolvimento da diversidade dos povos.
Evidenciar as obras de Cheick Anta Diop se faz importante, principalmente no campo
da epistemologia geográfica, pois ainda se tem uma ciência muito pautada no estudo de autores
e pensadores europeus. Ademais, evidenciar autores não europeus ajuda a combater o regresso
ao colonial e do colonizador, proporcionando, como visto em Santos (2007), um processo de
decolonialidade científica dos países do Sul global, fortalecendo o pensamento pós-abissal, isto
é, uma ecologia de saberes pautada na autonomia e respeito dos diferentes conhecimentos. Por
conseguinte, percebe-se um aspecto pós-abissal nas contribuições de Diop, pois seus textos
trazem o uso da ciência moderna como parte de uma ecologia dos saberes, construindo uma
ciência contra-hegemônica, de fortalecimento do pensamento do Sul global, combatendo a
colonialidade do saber (Santos, 2007), que outorga o modelo científico do velho continente
como único possível para se encontrar a verdade.
Assim, nota-se a partir dos escritos de Diop que a origem humana começou em África,
que, por meio da datação de carbono dos fósseis mais antigos, comprova-se o nascimento do
homem moderno racional no continente africano. Ademais, o cálculo da quantidade de
melanina na pele de múmias egípcias comprova a negritude desses povos e também a pressão
adaptativa geográfica do meio, com climas quentes e úmidos, vegetação de grande/médio porte,
o que cria uma pressão para que os seres humanos do berço meridional (africano)
desenvolvessem pele negra, cabelos crespos, crânio maior e traços mais avantajados como boca
e mandíbula. Assim, como diz a Lei de Gloger, animais de sangue quente, que vivem em lugares
quentes e úmidos secretam melanina, dessa forma tendo pigmentação mais escura.
Esta lei trabalha perfeitamente a relação dialética entre o homem e a natureza, onde as
características geográficas, morfológicas e climáticas do meio têm ação direta no
desenvolvimento de características fenotípicas dos seres vivos residentes daquele habitat,
incluindo seres humanos. Ademais, enquanto animais residentes de locais quentes e úmidos
secretariam melanina, obtendo uma coloração mais escura, o contrário também aconteceria,
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onde seres que residem em habitats de climas mais frios e secos, secretariam bem menos
melanina, ou nem secretariam essa substância, elucidando a sua coloração em tonalidades mais
claras.
Está comprovado com o determinismo geográfico anti-imperialista em Diop, que o meio
geográfico produziu características físico corporais nos africanos pré-históricos, porém, como
essa mesma tese explica a origem e diferenciação das raças a partir do aspecto geográfico? A
partir da teoria monogenética ou monocêntrica de origem dos povos, a qual afirma, como diz
Finch III (2009, p. 79), que todas as raças seriam variações do ser humano original que nasceu
em África, porém, a partir da migração durante a última Era Glacial, e o alojamento nos espaços
que hoje se encontram os países europeus, surgem os brancos caucasóides:
Assim, de acordo com Diop, entre cinquenta e quarenta mil anos atrás o Grimaldi
africano pôde migrar para a Europa pelo istmo de Gibraltar [...] e colonizar a maior
parte da Eurásia e dos Pirineus e até a Sibéria [...]. Entretanto, depois disso, a Era
do Gelo retomou a metade setentrional da Eurásia, e segundo Diop a volta desse
clima ártico criou uma pressão adaptativa que causou a despigmentação do Grimaldi
africano, resultando na aparência dos proto caucasóides [sic] [...] (Finch III, 2009,
p. 80).
O que fortalece ainda mais o determinismo geográfico e a seleção natural em Cheick
Anta Diop é o seu complemento: a teoria da origem do povo branco a partir do povo negro.
Nesse complemento, corroborando a tese de que o meio cria ou muda características e provoca
modificações genéticas em um povo que se estabelece por muito tempo em um espaço, Diop
diz que o albinismo/albinoidismo foi a característica física que o meio geográfico frio e de
pouco sol da Eurásia fomentou para o desenvolvimento dos proto-europeus caucasianos e foi
repassada geneticamente de geração em geração (Diop, 1974). Por conseguinte, nota-se a
presença massiva da influência adaptativa do meio geográfico no pensamento de Diop,
influenciando em características tanto do povo negro (clima úmido e quente que produz seres
humanos com pele mais melaninada, mais protegida e com cabelos crespos) quanto do povo
branco (pele mais clara devido à ausência de sol, para permitir a luz do sol entrar no corpo
humano e produzir vitamina D). Logo, nota-se que “[...] os primeiros homens eram etnicamente
homogêneos e negróides. A lei de Gloger [...] estabelece que animais de sangue quente,
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desenvolvendo-se em clima quente e úmido, secretam um pigmento negro (melanina)” (Diop,
2010 [1973], p. 39)
Dito isso, “o tipo humano que emergiu na Eurásia [...] teria sido um grupo de albinóides
[...]. Pode-se considerar que esses protocaucasóides eram ‘adaptados ao frio’” (Finch III, 2009,
p. 83). Assim, nota-se que “só a crescente expansão do albinoidismo cobre uma intensa pressão
seletiva em um meio ambiente como esse pode explicar o modo como se deu a despigmentação
em grande escala” (Finch III, 2009, p. 83).
Deste modo, fica evidente o papel fundamental do meio geográfico para “determinar”
características tanto físicas, biológicas e genéticas, na origem, diversidade e diferenciação das
etnias do berço negro africano meridional e do berço caucasóide europeu nórdico, sendo
importante ressaltar que o berço nórdico é filho direto do berço africano. Assim, nota-se o
Determinismo Geográfico em Diop, pois, seguindo a mesma linha de pensamento determinista
de Ratzel, produz uma corrente científica que bebe da biologia de Darwin, mas que segue a
linha da decolonialidade, combatendo o colonizador, destruindo sua ideologia da
hierarquização de raças e resgatando a historicidade africana. Ademais, quando se fala da tese
de Diop sobre os dois berços da civilização, há a presença da pressão geográfica sobre os seres,
no berço africano, com abundância de recursos, solo fértil perto de rios e “meio” propício,
salienta-se o desenvolvimento de sociedades sedentárias, com o refinamento da agricultura e
pecuária, além da confecção do culto aos mortos e o seu posterior enterro em caixões, com o
predomínio do matriarcado organizado. Enquanto no berço nórdico, a ascensão de
sociedades nômades, devido à escassez de recursos e climas extremamente gelados, o que
corroborou para o fogo ser cultuado como um Deus e os mortos serem cremados para facilitar
o seu transporte, além de serem povos totalmente beligerantes e altamente patriarcais (Diop,
2014).
Como elucidado acima, o autor se utilizou não só de relatos e escritos para provar que
a humanidade moderna racional surgiu na África, além dos pretos terem originado os brancos
e os primeiros egípcios serem negros retintos, como também se aproveitou dos exames de
laboratório de datação de carbono, para datar a idade das múmias, e da testagem de pele para
comprovar a alta taxa de melanina de múmias africanas pré-históricas e egípcias, corroborando
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com o pensamento de protagonismo da África na história. Desse modo, explicita Mendes (2021,
p. 22) “[...] é inegável que o laboratório, o radiocarbono, a datação baseada na dosagem de
potássio 40/Argon, os testes de melanina foram substanciais para legitimar suas afirmações”.
Assim, a partir dos argumentos apresentados acima, nota-se a presença potente do meio
influenciando na formação demográfica, social, econômica, política e cultural dos berços
civilizatórios. Ademais, é importante salientar que para Diop, a raça não teria papel primordial
para construção da cultura de um povo. Ao contrário do que já foi discutido por Ratzel, para o
pensador senegalês, independente das características étnicas, qualquer povo exposto a
condições geográficas do Berço Meridional desenvolveria a mesma cultura, costumes, crenças
e hábitos (Diop, 1974), sendo o meio o protagonista do desenvolvimento das diferenças étnicas,
sociais, econômicas e culturais. Logo, a cultura é influenciada diretamente pelo meio geográfico
em Diop (Finch III, 2009), assim retirando o protagonismo étnico como construtor cultural.
Dessa maneira, nota-se um teor determinista mais forte nas obras de Diop, cujo protagonista e
motor das diversidades étnicas é o meio, do que em Ratzel, que via a cultura como um fator
também importante para a diferenciação dos povos.
Além das proposições discutidas sobre Diop, o povo mais antigo da terra, os Khoisan,
habitantes naturais de onde hoje são as atuais África do Sul e Botswana, possuem o parentesco
genético mais próximo com os primeiros homo sapiens que existiram e se desenvolveram em
África (KHOISAN, 2019), assim, corroborando ainda mais a tese de Diop que a humanidade
surgiu em África e era negra. Além do mais, apresentar Diop não se faz necessário somente
para combater os dogmas existentes sobre o continente africano, mas também objetiva
apresentar um autor que se propôs a combater a academia eurocêntrica, decolonizando o saber
científico divulgado no Senegal, trazendo a África para o centro, sendo ela a protagonista da
história não dos africanos, mas da humanidade. Logo, -se Diop se fez importante para
muitas áreas em que atuou, como história, filosofia e literatura, possuindo contribuições ainda
não exploradas para o campo da geografia.
Considerações Finais
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A partir dos argumentos apresentados acima, pode-se repensar os preconceitos
projetados sobre os dois pensadores, o que torna o debate acerca do Determinismo Geográfico
cada vez mais rico e interessante. A primeira reflexão passível de ser realizada é que, por mais
que tenham partido do mesmo ponto e das mesmas influências teóricas, os dois autores tomaram
rumos diferentes, pois Friedrich Ratzel produziu um mecanismo de Estado, uma ferramenta
capaz de ajudar a expansão e consolidação pangermânica e legitimar o colonialismo europeu,
enquanto Cheich Anta Diop produz uma tese determinista que, além de se provar não só ciência
(para as exigências do que era ciência na época), revoluciona o modo como se enxerga África,
combatendo as teses do imperialismo racista que pregava que não existia história africana, como
visto no quadro sinóptico abaixo.
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Quadro 1 Teses sobre o determinismo
Fonte: Elaborado pelo autor
Assim, conclui-se que, de um lado temos o imperialismo, a colonialidade e os conflitos
entre potências, e de outro o anticolonialismo e o anti-imperialismo, além da africanidade e da
exaltação e resgate da história, do passado, da glória, do corpo e da beleza negra.
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Dessa forma, Friedrich Ratzel recebeu a fama de ser determinista e um funcionário a
serviço do Estado-nação da Alemanha, como visto em Costa:
Por isso a analogia de que o solo, pelas suas características intrínsecas, “favorece ou
emperra” o desenvolvimento dos Estados, é a idéia [sic] de que eles dependem de
determinadas condições naturais, tais como a forma de relevo, as condições de
circulação marítima e fluvial, etc., baseada na evidência empírica de que os “grandes
Estados” desenvolveram-se sobre essas bases (Costa, 1992, p. 33).
Novamente se nota essa parcela instrumentalista das contribuições ratzelianas para uma
geografia dos Estados maiores:
Apesar de insistir na tese de que o que importa nas políticas territoriais dos Estados é
formular e pôr em prática estratégias destinadas a manter a todo custo o que chama de
“coesão interna”, o que implicaria, à primeira vista, um esforço “para dentro”, os seus
trabalhos sobre o problema colonial alemão na África (vis-à-vis a Inglaterra e a
França, principalmente), a necessidade do Império alemão de “saídas para o mar”, o
“pangermanismo europeu” e especialmente as suas impressões sobre o
desenvolvimento norte-americano, estão todos eles reforçando a idéia [sic] de que
para ele o desenvolvimento dos povos, particularmente dos alemães, passa
necessariamente pelo alargamento do horizonte geográfico (Costa, 1992, p. 41).
A partir do que foi apresentado ao longo deste artigo, as ideias dos dois autores são
elucidadas, apresentando uma alternativa ao determinismo imperialista baseado nos trabalhos
de Ratzel. Ademais, observou-se como a ciência como ideologia legitimadora do imperialismo
ganhou forças durante o final do século XX e início do século XXI, pautando a produção
científica da época. Por conseguinte, apresentou-se Diop, autor senegalês que, com bases
também positivistas, traz um olhar novo sobre a África, exaltando-a como berço da civilização,
combatendo a visão eurocêntrica que o determinismo e os trabalhos de Friedrich Ratzel
produziram sobre o continente.
Além do mais, objetiva-se esclarecer como a geografia do mito do Determinismo de
Ratzel foi construída a partir do contexto histórico e da apropriação inadequada dos conceitos
ratzelianos por autores, esses sim, deterministas. Ademais, traz-se à mesa da discussão
acadêmica reflexões enriquecedoras que combatem o dogma científico sobre Ratzel como
Determinista, além de apresentar para geógrafas e geógrafos um novo autor que tem muito a
contribuir sobre o saber de uma geografia afrocentrada e que reflete a luta pela apropriação e
resgate da história da África. Por conseguinte, o debate comparativo sobre as duas geografias
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nos convida a refletir sobre o que achamos que sabemos e a conhecer um autor que não
sabemos nada sobre, contribuindo sempre para a evolução da ciência geográfica.
Dessa forma, o presente artigo vislumbrou trazer à tona o importante debate sobre a
decolonialidade do saber. Além do mais, elucidar as contribuições de Cheick Anta Diop para o
campo da geografia se faz necessário, principalmente para se estabelecer um novo olhar
científico sobre o continente africano, fugindo dos estigmas preconceituosos de certa
epistemologia europeia. Por conseguinte, a descolonização da África a partir da reescrita e
reflexão de sua história por meio de um autor africano, senegalês e negro contribuiu muito para
levantar o quão importante é para o povo colonizado se tornar protagonista de sua própria
história.
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