Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
AZEVEDO, Rebeca da Rocha. O PET Geografia UFF/Niterói como Lugar: 25 anos de significados. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 10,
nº 23, e102301, 2024.
Submissão em: 05/06/2023. Aceito em: 09/10/2023.
ISSN: 2316-8544
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SEÇÃO ARTIGOS
O PET Geografia UFF/Niterói Como Lugar:
25 anos de significados
The PET Geography UFF/Niterói as a Place:
25 years of meaning
El PET Geografía UFF/Niterói Como Hogar:
25 años de significados
DOI: https://doi.org/10.22409/eg.v10i23.58713
Rebeca da Rocha Azevedo1
Universidade Federal Fluminense (UFF),
Rio de Janeiro, Brasil
e-mail: rerocha@id.uff.br
Resumo
Esse artigo aborda o grupo PET Geografia da UFF/Niterói como Lugar; lugar de formação, de luta, de orgulho e
lugar de encontro. Fundado em 1979 o Programa de Educação Tutorial, através do tripé de Pesquisa, Ensino e
Extensão, complementa a formação de discentes de diferentes universidades e cursos do país. É nas especificidades
dos grupos que cada PET encontra os seus sentidos. No ano de 2021 o PET-GEO comemorou seus vinte e cinco
anos de existência e como forma de celebrar essa data foi realizado o curta PET-GEO: 25 anos”, onde membros
antigos e atuais puderam registrar um pouco dessa história a partir de suas memórias. Neste artigo essas memórias
foram revisitadas reforçando os significados do presente. Em meio a essas lembranças a ideia do PET como Lugar
tornou-se ainda mais clara. O conceito de Lugar pode ser entendido como um centro de significados forjados na
experiência. Logo, é diante da experiência de fazer parte que o grupo PET-GEO foi entendido como Lugar nesse
texto.
Palavras-chave
Lugar; Programa de Educação Tutorial (PET); Geografia; UFF; Registros.
1
Geógrafa e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Petiana egressa do PET Geografia da UFF campus Niterói.
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Abstract
This article addresses the group PET Geography of UFF/ Niterói as a place; place of training, struggle, pride and
meeting place. Founded in 1979 the Tutorial Education Program, through the tripod of Research, Teaching and
Extension, complements the training of students from different universities and courses in the country. It is in the
specificities of the groups that each PET meets its senses. In the year 2021 PET-GEO celebrated its twenty-five
years of existence and as a way to celebrate this date was realized the film "PET-GEO: 25 years", where old and
current members could record a little of this history from their memories. In this article these memories were
revisited reinforcing the meanings of the present. In the midst of these memories the idea of PET as a Place became
even clearer. The concept of Place can be understood as a center of meanings forged in experience. Therefore, it
is before the experience of being part that the PET-GEO group was understood as Place in this text.
Keywords
Place; Tutorial Education Program; Geography; UFF; Records.
Resumen
Este artículo aborda el grupo PET Geografia da UFF/Niterói como Hogar; hogar de formación, de lucha, de orgullo
y hogar de encuentro. Fundado en 1979 el Programa de Educación Tutorial, a través del trípode de Investigación,
Enseñanza y Extensión, complementa la formación de estudiantes de diferentes universidades y cursos del país.
Es en las especificidades de los grupos que cada PET encuentra sus sentidos. En el año 2021 el PET-GEO celebró
sus veinticinco años de existencia y como forma de celebrar esa fecha se realizó el corto "PET-GEO: 25 años",
donde miembros antiguos y actuales pudieron registrar algo de esa historia a partir de sus memorias. En este
artículo estas memorias fueron revisitadas reforzando los significados del presente. En medio de estos recuerdos
la idea del PET como Hogar se hizo aún más clara. El concepto de Hogar puede ser entendido como un centro de
significados forjados en la experiencia. Luego, es ante la experiencia de formar parte que el grupo PET-GEO fue
entendido como Hogar en ese texto.
Palabras clave
Hogar; Programa de Educación Tutorial (PET); Geografía; UFF; Registros.
Introdução
No ano de 2021 o PET Geografia da Universidade Federal Fluminense (UFF) completou
25 anos de existência, e durante parte desse tempo pude fazer parte do grupo, conhecer o
programa e criar memórias que agora fazem parte de quem sou. O Programa de Educação
Tutorial (PET) busca complementar a formação superior a partir de pequenos grupos de
discentes tutorados por um professor efetivo da universidade a qual o grupo esteja vinculado.
O primeiro a ser criado na Universidade Federal Fluminense foi o PET de Engenharia
de Telecomunicações, o qual começou suas atividades em 1994, seguido pelo PET Geografia e
o PET de Engenharia Mecânica, ambos fundados no ano de 1996. Atualmente, existem onze
grupos PET Sesu/MEC, localizados nos campi de Niterói, Nova Friburgo, Rio das Ostras e
Volta Redonda. Além destes, a universidade desenvolveu no ano de 2012 o ProPET UFF,
programa custeado pela instituição, aos moldes do PET SEsu/MEC, que visa através da
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Pesquisa, Ensino e Extensão aperfeiçoar a qualidade da formação dos discentes e melhor
prepará-los para suas carreiras e vida como cidadãos. Hoje a UFF apresenta nove grupos
ProPET nos campi de Niterói, Campos dos Goytacazes e Nova Friburgo (Universidade Federal
Fluminense, 2022).
Cada grupo PET ou ProPET apresenta uma dinâmica própria dentro das suas áreas de
interesse, mesmo tendo os mesmos ideais e objetivos apresentam diferenças por estarem
associados a áreas distintas, com trabalhos e pessoas específicas. Logo, ao estar em um grupo
como esse estabeleço relações e agrego significados particulares, assim crio “Lugares”. Diante
disso, neste artigo busquei explorar a ligação do PET Geografia da UFF, grupo com mais de
vinte e cinco anos e ao qual participei durante aproximadamente cinco, com o conceito
geográfico de lugar.
Programa PET
O Programa iniciou seus trabalhos em 1979, com o nome de Programa Especial de
Treinamento sob a supervisão da CAPES durante seus primeiros 20 anos. Tendo como
referência o bem-sucedido “Sistema de Bolsas”, programa desenvolvido na década de 1950 na
Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, que mostrou
como o apoio com a concessão de bolsas a um grupo de estudantes que desenvolviam estudos
mais especializados poderia promovê-los, os destacando dentro do grupo de discentes (Melo
Filho, 2019). Em seu início o projeto possuía uma estrutura extremamente meritocrática, que
se expressava desde suas regras de seleção e permanência, até em sua proposta de
complementar a formação de um pequeno grupo de discentes da graduação para ampliar suas
chances de entrada na pós-graduação. “O objetivo seria a criação de um grupo de elite
intelectual, por meritocracia simples e pura, em contraposição à massificação do ensino superior
que ocorria no Brasil” (Melo Filho, 2019, p. 36). Fato que despertou consideráveis críticas sobre
o projeto.
Desde o início, o programa teve que lidar com a instabilidade de manter seu trabalho.
No ano de 1984 houve a primeira ameaça de dissolução, tentativa que se repetiria entre os anos
de 1995 e 2000 (Melo Filho, 2019). Após a eleição do Presidente Fernando Henrique Cardoso
(no cargo por dois mandatos de 1995 a 2022), o ensino superior passou por um período de
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intenso desmonte e perda de recursos públicos, o que atingiu o PET em larga escala. O programa
vinha sofrendo críticas por parte da CAPES, com a justificativa de não se enquadrar nas suas
novas premissas e apresentar um elevado custo para o governo. Neste contexto foi decretado o
fim das atividades do programa até o dia 31 de dezembro de 1999. Contudo, diante de uma
ampla mobilização por parte de docentes e discentes vinculados aos grupos PETs de todo o
Brasil, apoiados pela sociedade civil e grande parte do legislativo da época, o governo brasileiro
teve que revogar sua decisão.
Essa mobilização, foi um dos movimentos de mais legítimos da sociedade brasileira
para conquistar seus direitos. Por sua grandeza e legitimidade resultou na maior
conquista do PET em sua história, pois no dia 11 de novembro de 1999 o governo
brasileiro recuou e assinou o ofício circular 13.300/MEC/SESu, suspendendo a
decisão de encerrar as atividades do PET, vinculando-o à Secretaria de Ensino
Superior (SESu), sob a responsabilidade do Departamento de Projetos Especiais de
Modernização e Qualificação do Ensino Superior (DEPEM) (Melo Filho, 2019, p. 45-
46).
Sob nova supervisão, o PET passou nos anos seguintes por um período de transição, nos
quais a relação com o MEC e o apoio do governo foram favorecidas; isso após a entrada do
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no cargo por dois mandatos de 2003 e 2010, e no terceiro
a partir de 2023. Em 2005 foi aprovado no Congresso Nacional a Lei 11.180/2005, que
estabelecia o programa como “Programa de Educação Tutorial”. Fato que demarcava uma
mudança na nomenclatura, mas também propunha algumas mudanças na forma de visualizar o
programa.
O PET tem aquele famoso tripé de ensino, pesquisa e extensão, de modo que o
estudante teria que desenvolver atividades mais horizontais do que verticais. Ele não
se especializa, os princípios do programa não é ter essa especialização precoce dos
programas de iniciação científica, por exemplo, o PET-GEO não foge dessas
características (Nunes, PET-GEO: 25 anos, 2023).
O Programa de Educação Tutorial busca complementar o ensino da graduação para os
membros de seus grupos. Independentemente da área de conhecimento a qual possam estar
vinculados, cada PET procura desenvolver atividades que explorem os três pilares da educação
superior: a Pesquisa, para o desenvolvimento do potencial acadêmico e inovador do campo; o
Ensino, promovendo um compartilhamento de ideias e descobertas dentro e fora dos espaços
universitários, além de colaborar para o próprio curso de graduação ao qual possa estar
vinculado; e a Extensão, que reforça a importância da universidade não “fechar-se em si
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mesma”, mas de agregar à formação da sociedade. Além disso, cada um desses pilares deve ser
desenvolvido de forma horizontal. Os membros do grupo PET devem ter consciência de que o
programa busca melhorar o ensino da graduação não somente para o grupo, mas que sejam
também canais comunicantes com os demais alunos e a sociedade fora das universidades. A
horizontalidade também deve existir internamente em cada PET. O tutor tem a função de
orientar e tutorar os discentes em sua formação, mas abrindo espaço para o desenvolvimento
da autonomia de cada um; e os estudantes devem buscar aprimorar suas habilidades coletivas
de trabalho, expandindo suas competências relacionais. É apoiado nessa dinâmica que o
programa busca proporcionar aos petianos/as/es a melhor experiência de ensino superior.
PET-Geografia UFF/Niterói
No ano de 2021 o PET Geografia da UFF/Niterói completou 25 anos de existência,
como parte das comemorações o núcleo GEO-CINE (Núcleo de Geografia e Cinema) atuante
na época, decidiu produzir um curta-documentário que contasse um pouco da história do grupo
a partir de quem fez parte dele. Sendo assim, contactamos os tutores e a tutora, antigos e atual,
petianos/as/es egressos e os/as/es do período, para que esse fosse um material produzido em
conjunto, com a colaboração de todos/as/es que formaram o PET-GEO. Entre os entrevistados
estão os ex-tutores Rogério Haesbaert, primeiro tutor e fundador do PET-GEO (1996-1999), e
Satiê Mizubuti (2002-2006), mais o tutor atual Sergio Nunes na posição desde 2007. Entre os
petianos/as/es foram entrevistados/as os/as egressos/as Anita Loureiro (1997-2000), Paulo
Henrique Amorim (2004-2007), Paula Fernandes (2012-2015) e Bronzi Rocha, membro do
PET-GEO de 2019 até o momento em que o curta foi produzido.
O curta, lançado no ano de 2023, foi idealizado e produzido pelas petianas Rebeca
Rocha, Maria Carolina Castro e Juliana Cardoso. Contando a participação de tutores e
petianos/as/es, o curta-documentário participativo teve o objetivo contar a história dos 25 anos
do PET Geografia pelas memórias dos seus membros e de comemorar a existência do grupo,
criando um registro afetivo e político. Nas entrevistas, o olhar de cada participante formou as
respostas às perguntas que tinham um caráter às vezes emotivo, outras de defesa coletiva. Não
tínhamos a pretensão de definir o PET da Geografia, mas sim de juntos/as/es relembrarmos a
experiência de estar e ser do PET.
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Assim, a partir do “PET-GEO: 25 anos” começo a contar a história desse grupo, que
começou durante a década de 90 quando os grupos PETs se multiplicaram pelas instituições de
ensino superior do Brasil. O PET Geografia UFF/Niterói foi fundado no ano de 1996 ainda com
o nome de Programa Especial de Treinamento. Neste período, a Geografia da UFF passava por
um momento catalisador do curso. Segundo o professor Rogério Haesbaert, primeiro tutor do
grupo, “a criação do PET veio no bojo dessa transformação e dessa dinamização, antecipando
assim a própria criação do mestrado no programa, que se deu em 1999” (PET-GEO: 25 anos,
2023).
Inicialmente com quatro bolsistas, o grupo atingiu a completude em 1998 com o total
de doze bolsistas, número que permanece até os dias atuais. Para um curso que estava em plena
expansão, a possibilidade de haver um grupo de doze bolsistas, interessados e respaldados para
desenvolver sua formação, colaborou para seu fortalecimento, principalmente em um período
em que a existência de bolsas na universidade para graduandos era ainda mais escassa. Os
objetivos do grupo iam ao encontro com os objetivos defendidos pelo programa em todo o país.
O PET visa colaborar na formação dos graduandos que faziam parte do grupo, mas não só. As
atividades promovidas, assim como produções de textos, vídeos e eventos deveriam fomentar
o curso de graduação ao qual pertenciam e se possível outros; assim como estabelecer elos com
as escolas de ensino básico e a comunidade. Paulo Henrique Amorim, egresso do PET
Geografia (2004-2007) complementa os objetivos do grupo ao relembrar de seu período junto
ao PET:
[...] então nós fomos desenvolvendo um entendimento de que a oportunidade de estar
no PET era algo que a gente deveria de certa forma compartilhar com os colegas que
não poderiam participar do grupo por outros motivos, porque trabalhavam, porque
moravam longe da universidade... Então nós passamos a pensar como nós podemos
colaborar para que o curso de graduação fosse melhor (Amorim, PET-GEO: 25 anos,
2023).
Ser do PET é estar ciente das responsabilidades que estes objetivos carregam, mas
também de suas contrapartidas, como a bolsa. Contudo, o atraso do pagamento delas em alguns
períodos, ou a falta de ajuste em seu valor, fez com que a presença de alguns estudantes fosse
inviável. Essa é uma questão presente nas preocupações do grupo PET Geografia, uma vez que
a visão geossocial direciona grande parte das suas discussões,
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e no Brasil a renda é um obstáculo gigantesco para que as pessoas frequentem a
universidade em tempo integral, não é o único. A gente sabe que existem questões
raciais muito fortes, questões de gênero muito fortes, mas a renda é uma barreira sim!
Certo que existem pessoas que são voluntários no PET, são voluntárias porque
acreditam na proposta, porque se identificam com aquele grupo, mas penso que o ideal
era que s tivéssemos bolsas para todos os estudantes que tivessem interesse em se
dedicar integralmente à universidade, e bolsas com uma remuneração suficiente para
que um jovem possa se sustentar (Amorim, PET-GEO: 25 anos, 2023).
A permanência dos discentes nas universidades é uma questão que merece atenção. A
possibilidade de ter uma formação complementar a partir da participação em um grupo como
um PET não deveria ser vista como um privilégio. As bolsas colaboram para isso, mas não
somente, elas funcionam como um reconhecimento do trabalho desenvolvido por cada um dos
membros que compõem e formam o PET.
Eu acho que as bolsas, elas o fundamentais para a gente se manter na universidade
para começar, e no grupo de pesquisa para permitir essa experiência mesmo. Eu acho
que as coisas têm que ser pagas. A gente, a pesquisa, ela tem que ser vista como
trabalho, ainda que não um trabalho, durante a graduação, de geógrafo, porque vo
ainda está se formando, mas que seja vista tal como um estágio. Os estágios não são
remunerados? Quando você trabalha em empresa o estágio é remunerado, eu acho que
a pesquisa tem muita necessidade de ter esse vínculo não necessariamente
empregatício, mas ser remunerado no sentido de você fazendo a pesquisa, você
trabalhando, você tá gastando seu tempo, sua energia, seu aprendizado, e para muitos
estudantes se isso não for remunerado, isso é impeditivo de fazer pesquisa (Fernandes,
PET-GEO: 25 anos, 2023).
Fazer pesquisa é trabalhoso e custoso, mas necessário. Justamente por isso, a pesquisa
se apresenta como um dos pilares do PET. Mas pesquisar o quê? O PET Geografia tem a
autonomia como uma das suas principais características, por acreditar que o primeiro passo
para o desenvolvimento da ciência é o interesse na descoberta. Desde seu surgimento, o grupo
busca junto aos estudantes membros estabelecer os temas de interesse, como disse o tutor Sergio
Nunes no curta-documentário de 25 anos do grupo, recorrendo a Rubem Alves, “não basta
desejar fazer, precisa aprender a desejar”. Juntos no PET em alguns momentos como uma
unidade, em outros subdivididos em núcleos, nós estudantes buscamos desenvolver os temas e
a posteriori partilhá-los com o curso, escolas ou com quem possa interessar, fortalecendo os
outros pilares do Ensino e da Extensão.
Entre os temas que o PET Geografia deteve atenção nos últimos 25 anos, alguns se
tornaram recorrentes, como: Questões Raciais; Questão Urbana; Cinema/questão imagética;
Educação; Movimentos Sociais e Estudos de Comunidades. Estas são questões que se
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apresentaram como foco de interesse do grupo em mais de um período, reforçando o caráter
geossocial que o grupo apresenta. O PET Geografia sempre esteve na busca de pensar o espaço
de maneira sensível e relevante, trazendo para o bojo das suas discussões questões que
afetassem diretamente os discentes, mas que também provocassem uma ampliação dos
horizontes de conhecimento, complementando o curso.
Por apresentar características próprias o PET Geografia pode ser considerado um grupo
que vai além do seu escopo acadêmico. Ser parte do PET-GEO é desenvolver uma experiência
que colabora para a formação enquanto estudante de uma graduação, mas é também estabelecer
um encontro de diferentes. É criar nós e para alguns também relação de pertencimento. É estar,
ter, ser um Lugar.
O PET-GEO como Lugar e a construção de uma história
“A gente tinha essa ambiência, a sala do PET, um lugar muito bom pra gente poder se
encontrar, como eu falei trocar ideias, trocar mesmo os textos, os livros; o contato com Rogério
Haesbaert, que foi sem dúvida um excelente tutor”. Esta é uma fala da Anita Loureiro, petiana
egressa do PET Geografia UFF e atualmente tutora do PET Geografia Cultura e Cidadania:
Diálogo de Saberes no Ensino de Geografia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
quando perguntada sobre as lembranças que tinha do PET na época em que era petiana. As
lembranças que carregamos dos lugares aos quais experienciamos demarcam as ligações
estabelecidas com a espacialidade, mas também com as pessoas que compunham cada um
desses lugares, pois, para além da materialidade concreta, os lugares são composições de
experiências corpóreas, entre pessoas, ou seres vivos no geral.
O PET é um programa que se apresenta como uma possibilidade de longa duração.
Toda pessoa que integra um grupo PET tem a possibilidade de permanecer nele até a finalização
de sua graduação, com direito a bolsa até o fim, caso seja bolsista. O fato de uma longa
permanência ser viável torna-se importante para o desenvolvimento completo e com qualidade
de alguns projetos, mas também para o ganho de valor de um lugar para aqueles/aquelas que o
experienciam. “O lugar pode adquirir profundo significado para o adulto através do contínuo
acréscimo de sentimentos ao longo dos anos” (Tuan, 1983, p. 37). Logo, é através da
experiência cotidiana que um lugar adquire significado. Por experiência, Yi-Fu Tuan em seu
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livro “Espaço e Lugar” (1983) disse ser “é um termo que abrange as diferentes maneiras através
das quais uma pessoa conhece e constrói a realidade” (p. 9).
Contudo, essa realidade é construída de variadas formas por pessoas diferentes, pois,
além de perspectivar por meio de diferentes ângulos, cada pessoa carrega consigo cargas
históricas e sociais distintas. Sendo assim, um lugar é forjado diante do encontro de díspares.
Nessa interpretação, o que dá a um lugar sua especificidade não é uma história longa
internalizada, mas o fato de que ele se constrói a partir de uma constelação particular
de relações sociais, que se encontram e se entrelaçam num locus particular. [...] Trata-
se, na verdade, de um lugar de encontro (Massey, 2000, p. 184).
… são muitas lembranças boas, lembranças do convívio cotidiano com o grupo, com
os outros alunos que vinham participar também nesse caráter multiplicador que o PET
tem, que é muito importante. Eu acho que marcou bastante pra mim foram os
encontros (Haesbaert, PET-GEO: 25 anos, 2023).
Em um primeiro plano, um lugar pode parecer um local de conflito de constante
divergência, e sim, em alguns momentos ele é um espaço de discordância. Porém, ao se
adicionar camadas é possível perceber que é justamente a não convergência constante que
especificidade a um lugar. É na sua pluralidade de sentidos que está a sua fortuna. “Se se
reconhece que as pessoas têm identidades múltiplas, pode-se dizer a mesma coisa dos lugares.
Ademais, essas identidades múltiplas podem ser uma fonte de riqueza ou de conflito, ou de
ambas” (Massey, 2000, p. 183). Quando falamos de um grupo dentro de uma universidade, o
encontro de diferentes torna-se ainda mais primoroso. É por meio da apresentação de
perspectivas diferentes, às vezes sobre o mesmo tema, que o conhecimento e as produções
acadêmicas podem ser refinados. Pontos de vistas diferentes, referências outras contribuem para
o enriquecimento do estudante, seja no âmbito profissional/acadêmico, seja nas relações
pessoais estabelecidas.
E foi uma experiência fantástica, porque eles foram muito colaboradores, muitas vezes
eu aprendi com vários deles. Na verdade, o professor aprende todo dia na sala de aula
também. Mas no PET foi muito maior porque as oportunidades do diálogo ali eram
permanentes. Então foi uma fase profundamente enriquecedora para mim. E considero
que foi uma das melhores experiências que eu vivi do ponto de vista acadêmico e do
ponto de vista humanístico (Mizubuti, PET-GEO: 25 anos, 2023).
Com a passagem do tempo essa especificidade preenche um espaço antes indistinto,
com significados próprios, e é neste processo que o Lugar é tecido. “O que começa como espaço
indiferenciado transforma-se em lugar à medida que o conhecemos melhor e o dotamos de
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valor” (Tuan, 1983, p. 6). Contudo, o PET como Lugar não deve ser pensado a partir de uma
configuração puramente interna e isolada. Pelo contrário, os grupos PETs devem estar também
integrados com a graduação, estabelecer relações com outros grupos PETs e de outros
programas, e para além do ambiente universitário criando canais de extensão. Isto posto,
percebe-se que sua identidade é gerada também por ligações mais amplas. “Lugares seriam,
portanto, pontos de encontro de redes de relações sociais, movimentos e comunicações cujas
relações recíprocas tenham sido construídas em escala muito maior do que aquelas definidas
para o lugar naquele momento” (Ferreira, 2000, p. 75).
Retornando à fala da Anita Loureiro, o Lugar sempre se associa a uma espacialidade,
uma sala, um prédio, um campus, uma universidade… São as relações desenvolvidas e
valoradas em um espaço específico que o forjam. Portanto, é ao falar sobre o conceito e também
sobre um lugar particular que seu caráter simbólico se destaca, “mas que nunca seja reduzido a
um símbolo despido de sua essência espacial, sem a qual torna-se outra coisa, para a qual a
palavra "lugar" é, no mínimo, inadequada” (Holzer, 1998, p. 76). Sendo assim, o PET Geografia
torna-se Lugar para seus membros (ao menos para esta autora) em razão das pessoas que por lá
passaram e se relacionaram, pelos encontros estabelecidos com diferentes, interna e
externamente, mas também por esses encontros terem ocorrido na sua maioria na Universidade
Federal Fluminense.
Todavia, um mesmo espaço não é garantia da manutenção de um Lugar, ou ao menos
não do mesmo Lugar. João Santos Nahum e Denison da Silva Ferreira dizem em seu texto
“Entre o vivido e o relacional: interpretações geográficas do lugar(2015), que “ainda que
permaneçam as mesmas configurações espaciais, os lugares têm suas significações
permanentemente mudadas” (p. 524). Durante os 25 anos do PET Geografia passaram por ele
três tutores e uma tutora, e mais de 60 estudantes. Quantas identidades o PET-GEO já assumiu
para cada uma dessas pessoas? Não é possível dizer que este foi um mesmo lugar para
todos/as/es. Porém, cada um de nós alinhavou um pouco a história deste grupo.
A história do Lugar de um grupo como o PET-GEO é forjada coletivamente. Por mais
que cada pessoa contribua com a sua perspectiva e participação durante o tempo de presença
no grupo, a história é contínua, e não acaba com a saída de um membro. É um ininterrupto
“tecer de histórias em processo” (Massey apud Nahum & Ferreira, 2015, p. 522), a história do
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AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
AZEVEDO, Rebeca da Rocha. O PET Geografia UFF/Niterói como Lugar: 25 anos de significados. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 10,
nº 23, e102301, 2024.
Submissão em: 05/06/2023. Aceito em: 09/10/2023.
ISSN: 2316-8544
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grupo ao longo de sua existência, mas também parte de nossas histórias individuais. É uma
imbricação do passado que ainda se faz presente, e de novas relações como o contato de
membros que já fazem parte do grupo com os novos.
[…] todas essas relações interagem com a história acumulada de um lugar e ganham
um elemento a mais na especificidade dessa história, além de interagir com essa
própria história imaginada como o produto de camadas superpostas de diferentes
conjuntos de ligações tanto locais quanto com o mundo mais amplo (Massey, 2000,
p. 185).
Entre os encontros que tramam um Lugar, está aquele estabelecido com o tempo. Este
talvez seja um dos mais essenciais para que um Lugar se apresente como tal. um tempo
quanto passado, a história que aquela espacialidade já experienciou através de outras relações.
Há um tempo recente, que contribui para uma experiência cotidiana de geração de valor. E
o tempo presente, que significa o lugar para aqueles e aquelas que o experienciam agora. O
encontro com o tempo é múltiplo e simultâneo, não podendo ser desencontrado do espaço. É
neste nó que o lugar é arrematado.
Os retalhos de memória que permanecem nas lembranças de seus membros, e
possivelmente em alguns que experienciaram o PET-GEO através de eventos, artigos, vídeos
ou de outras maneiras, contribuem para essa história coletiva. Pensando nisso, o curta “PET-
GEO: 25 anos” (2023) foi criado. É preciso que a história seja revisitada, e de certa forma
revivida, para que não se acredite que a história de um lugar é insignificante. Pelo contrário, é
importante relembrar e ver diante de olhares outros os significados que um lugar pode ter tido,
e quais ainda se mantém. É importante sempre encontrar com o passado.
Conclusão
O professor Rogério Haesbaert, primeiro tutor do PET-Geografia da UFF, disse ao
documentário do “PET-GEO: 25 anos” (2023) que “se todo aluno universitário tivesse o que o
petiano tem, essa experiência universitária, que ele tem efetivamente, a gente teria uma
universidade que faria jus ao seu nome.” Se todo aluno universitário pudesse obter uma
bolsa, receber uma tutoria durante parte de seu tempo de graduação buscando coletivamente
desenvolver potenciais de pesquisa, ensino e extensão, e ao mesmo tempo ampliar seu senso
crítico de cidadania, realmente isso aconteceria.
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Enfim, o PET Geografia da Universidade Federal Fluminense em Niterói vem a mais
de 25 anos tecendo uma história conjunta de muitos significados. Ele foi um lugar de
treinamento, um lugar de luta, um lugar de conquista, um lugar de orgulho e com certeza é um
lugar de encontro. Essa história é possível de ser formada, pois acreditamos que uma formação
complementar não somente é necessária, como enriquecedora. Durante esse tempo vários
projetos puderam ser desenvolvidos, pessoas puderam trabalhar em conjunto e algumas até
estabeleceram relações pessoais. As histórias entrelaçadas nesse lugar em algum momento, ou
em vários, formam um tecido único que é o PET-GEO.
Referências
FERREIRA, L. F. Acepções Recentes do Conceito de Lugar e sua importância para o mundo
contemporâneo. Revista Territórios, Rio de Janeiro, ano V, n°9, pp. 65-83, jul./dez., 2000.
HOLZER, W. O Lugar na Geografia Humanista. Capítulo da tese "Um estudo fenomenológico
da paisagem e do lugar: a crônica dos viajantes no Brasil do século XVI". FFLCHI USP, 1998.
mimeo. Disponível em: https://vdocument.in/o-lugar-na-geografia-humanista-werther-
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LUGAR.doc. Direção de Rebeca Rocha, produção do Núcleo de Geografia e Cinema
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MASSEY, D. Um Sentido Global de Lugar. In: O espaço da diferença / Antoni A. Arantes
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MELO FILHO, J. F. Programa de Educação tutorial: trajetória, desafios e articulações. Revista
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Disponível em: https://periodicos.ufms.br/index.php/REPET-T/article/view/8134
NAHUM, J. S.; FERREIRA, D. S. Entre o vivido e o relacional: interpretações geográficas do
lugar. BGG v.42; n.2 - págs. 513-529 - Maio de 2015
PET-GEO: 25 anos. Direção de Rebeca Rocha, produção do Núcleo de Geografia e Cinema
(GeoCine). Niterói: Programa de Educação Tutorial da Geografia - UFF/Niterói, 2023.
Publicado no YouTube (23 min) Disponível em:
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TUAN, Y. F. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: DIFEL, 1983.
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE. Educação Tutorial - PET e ProPET. Disponível
em: https://www.uff.br/?q=educacao-tutorial-pet-e-propet. Acesso em: 18 de setembro de
2022.