Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
LOPES, Jahan Natanael Domingos. Espaço Sexual: uma geografia do foder. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 11, nº 24, e112412, 2024.
Submissão em: 15/11/2023. Aceito em: 29/04/2024.
ISSN: 2316-8544
Este trabalho está licenciado com uma licença Creative Commons 1
SEÇÃO ARTIGOS
Espaço Sexual:
uma geografia do foder
Sexual Space:
a fucking geography
Espacio Sexual:
una geografía del follar
DOI: https://doi.org/10.22409/eg.v11i24.59115
Jahan Natanael Domingos Lopes1
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),
São Paulo, Brasil
e-mail: jahan_natanael@hotmail.com
Resumo
Em abertura da geografia do foder, elaborou-se uma abordagem ontológica à foda geográfica. Constitui-se, para
tanto, em vista fenomenológica, o sentido do sexo (o evento) e da foda (a intenção). Por mais, discute-se a Terra
e o Mundo rumo aos territórios do sexo e às sexualidades do território. Dessarte, lança-se à Antiguidade com
Hesíodo (séc. VII a.C.) para a cosmologia do foder geográfico: entre Gaia (Terra) e Urano (Céu), tem-se a
interrupção do coito por Cronos (Tempo) irrompendo o desejo sexual entre a transa, positiva e a trepa,
negativa. Guia-se, então, à discussão filosófica, entre Sade e Sacher-Masoch (iluminismo obscuro) contra Kant
(iluminismo conservador), para a constituição do território sádico (pelas dominações) e do território masoquista
(pelas apropriações). Ademais, encontra-se a perversidade da globalização pelo sistema da foda global: do
território (enraizador) e do mercado global (desenraizador); intensificada pelo ciberespaço. Alia-se, por fim, uma
geografia foda ao geoexistencial.
Palavras-chave
Pensamento geográfico, Geografia existencial, Desejo, Sexo.
1
Graduando na licenciatura e bacharelado em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
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LOPES, Jahan Natanael Domingos. Espaço Sexual: uma geografia do foder. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 11, nº 24, e112412, 2024.
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Abstract
In the opening of the fucking geography, an ontological approach to geographical fucking was elaborated. To
this end, from phenomenology, the sense of sex (the event) and of fuck (the intention) is constituted. Moreover,
the Earth and the World are discussed in the direction of the territories of sex for the sexualities of the territory.
From there, he launched himself into Antiquity with Hesiod (c. VII B.C.) for the cosmology of geographical
fucking: between Gaia (Earth) and Uranus (Heaven), there is the interruption of coitus by Kronos (Time)
erupting the sexual desire between have sex, positive, and fuck, negative. To the philosophical discussion,
between Sade and Sacher-Masoch (obscure enlightenment) against Kant (conservative enlightenment), for the
constitution of the sadistic territory (by the dominations) and the masochistic territory (by the appropriations).
Moreover, the perversity of globalization by the system of the global fuck: of the territory (rooter) and the global
market (uprooter); intensified by cyberspace. Finally, a fuck geography is combined with the geoexistential.
Keywords
Geographical thinking, Existential Geography, Desire, Sex.
Resumen
En la apertura de la geografía del follar, se elaboró un abordaje ontológico al follar geográfico. Por lo tanto, en
una visión fenomenológica, se constituye el sentido del sexo (el evento) y de la folla (la intención). Además, se
discute la Tierra y el Mundo rumbo a los territorios del sexo y a las sexualidades del territorio. A partir de ahí, se
lanza a la Antigüedad con Hesíodo (VII a.C.) para la cosmología del follar geográfico: entre Gea (Tierra) y
Urano (Cielo), existe la interrupción del coito por Cronos (Tiempo) que hace erupción del deseo sexual entre la
folla, positiva y la montada, negativa. Se guía, a la discusión filosófica, entre Sade y Sacher-Masoch (ilustración
oscura) contra Kant (Ilustración conservadora) para la constitución del territorio sádico (por las dominaciones) y
del territorio masoquista (por las apropiaciones). Así mismo, se encuentra la perversidad de la globalización por
parte del sistema de la folla global: del territorio (arraigador) y del mercado global (desarraigador); intensificado
por el ciberespacio. Finalmente, una geografía follada se combina con lo geoexistencial.
Palabras clave
Pensamiento geográfico, Geografía existencial, Deseo, Sexo.
Introdução
Melhor seria definir a filosofia, como a praticava Platão, como uma espécie de
palestra erótica, que continha e aprofundava a antiga ginástica agonal com todas
as condições que a precediam... O que é que resultou, em última análise, desse
erotismo filosófico de Platão? Uma nova forma da arte do Agon grego, a dialética.
(Nietzsche, 2020, p. 67)
A compreensão geográfica do sexo permite uma abertura que transpassa desde os
lugares eróticos até o erotismo terreno. De modo a situar o evento sexual, abre-se, de modo
poético, a perspectiva versificada por C. Andrade (2013, p. 27): “O chão é cama para o amor
urgente, / amor que não espera ir para a cama. / Sobre o tapete ou duro piso, a gente / compõe
de corpo e corpo a úmida trama.” Nisso, um entrelaçamento dos corpos em suas correlações
situa uma atividade sexual de espacialidade polimorfa. Dessarte, ao discurso geográfico da
sexualidade, cerceia A. Frémont (1999, p. 91): “Sexo, desejo? O geógrafo hesitará muito
antes de afirmá-lo. Mas podemos negar a realidade desses dois modelos e o antagonismo dos
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comportamentos em relação ao espaço que eles traduzem”
2
. Tal interdição aniquila o estudo
de uma geografia erótica advinda dos desejos sexuais: com ênfase às parafilias, dentre elas a
agorafilia (prazer por lugares abertos) e a claustrofilia (prazer por lugares fechados) (Lopes
2023). Além disso, pode-se ignorar como o sexo convoca lugares circunscritos, por vezes
secretos, da cama conjugal até motéis em vista mercadológica dos espaços de coito. Todavia,
ao revés do silêncio, trama-se, através do conceito de desejo, a abertura geográfica sobre o
sexo, atenta a fetiches e a perversões.
Atrelado ao pensamento de uma geografia do sexo, há a relação político-social a partir
do tabu perante a possibilidade de uma geografia do foder. Isto é, em diferenciação tem-se o
sexo enquanto evento erótico e o foder enquanto intenção erótica. Associa-se o conceito de
foder geográfico para com o geógrafo inglês D. Bell (2009) em seu trabalho “Fucking
Geography” (traduz-se livremente: geografia do foder), encaminhado para um evento da
Associação Americana de Geógrafos (AAG) de 1994, cujo título foi questionado a ponto de o
trabalho ser recusado, considerado ultrajante. Sua explicação para o uso do termo, em uma
entrevista para J. Silva et P. Vieira (2010, p. 319), foi qualificar: “‘fucking’ tanto como verbo
como adjetivo, sinalizando um desejo de foder (com) a geografia e, por outro lado, a
exasperação com a disciplina”. Dito isso, o autor faz menção à inspiração proveniente de um
desenho de Tom of Finland, um dos artistas finlandeses mais conhecidos do mundo,
sobretudo por suas obras relacionadas à sexualidade, marcadamente homoerótica. Essa obra,
simultaneamente inspiradora e impactante, é um desenho monocromático feito com grafite,
como se observa na Figura 1 muito provocativa e pertinente à concepção dual do foder:
negativo e positivo.
A imagem clama por uma reflexão, todavia precedida por um atento, a conotação
sexual possui uma singela desconstrução, a saber, como diz C. Lehmann (2015, s/p) sobre o
artista pornográfico: “Certa vez, ele jurou: ‘Meus homens seriam homens orgulhosos e
felizes’. Os pênis de seus jovens são gigantescos, mas geralmente seus sorrisos bem-
humorados são maiores. Assim, marca-se um artista transgressor da cultura heteronormativa,
ademais, contra a cultura conservadora, sobretudo no estigma religioso cristão ao qual o sexo
2
Tradução livre de : Sexe, désir ? Le geógraphe hésitera longtemps avant de l'affirmer. Mais peut-on nier la
réalité de ces deux modeles et l'antagonisme des comprotements par rapport à l'espace qu'ils traduisent”.
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com intenção de prazer é entendido como pecaminoso. Dessa maneira, ao sentido geográfico
da liberdade sexual atenta-se: estereótipos de gênero e estigmas específicos resultam das
desigualdades sociais e contribuem para produzir normas e prescrições de conduta, com
impactos na saúde” (Villela; Monteiro, 2015, p. 537). Geograficamente, sua obra do homem
musculoso, nórdico, penetrando o planeta está aberta para interpretações tanto benévolas
quanto maléficas. Esse paradoxo é a fundamentação ontológica do foder geográfico.
Figura 1 Sem título
Fonte: Lehmann (2015, página única).
Tom of Finland (Touko Laaksonen, finlandês, 1920 - 1991), sem título, grafite no papel, 12” x 9”, presente do
artista, coleção permanente da Fundação Tom of Finland, 1976.
Guia-se pensá-la, também, como uma ilustração proeminente à precisão do indicativo
de experiência dito geograficidade. O modo de ser geográfico exerce relações de prazer e de
dor, ambas compreensivas como sentidos para o foder geográfico. Com isso, alude-se à
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definição construída por E. Dardel (2011, p. 1, destaque do autor) desejosa por “uma
geografia em ato, uma vontade intrépida de correr o mundo, de franquear os mares, de
explorar os continentes. [...] Amor ao solo natal ou busca por novos ambientes, uma relação
concreta liga o homem à Terra, uma geograficidade”. Isso implica o aspecto de cumplicidade
existencial do homem com a Terra, em relações de vivência e de habitação. Essa
indissociabilidade permite entender uma humanidade que fode feliz a Terra, em uma
geograficidade ilustradora da sexualidade.
Habitar a Terra, dos elevadores aos telhados, aflora a espacialidade sexual no
fundamento da existência geográfica. Além do sexo normativo, encontra-se toda a
complexidade de revolta sexual displicente com o status quo. Desse modo, averígua-se, aos
horizontes de M. Santos et M. Silveira (2011, p. 97), em que “uma boa parcela da
humanidade, por desinteresse ou incapacidade, o é mais capaz de obedecer a leis, normas,
regras, mandamentos, costumes derivados dessa racionalidade hegemônica. Daí a proliferação
de ‘ilegais’, ‘irregulares’, ‘informais’”. Há, por conseguinte, fodas em todos os lugares
possíveis de oferecer a libertinagem suficiente ao clamor da libido geográfica. Ao prumo que
se enaltece a excitação sentida corporalmente dos geógrafos:
Muito foi escrito e mais ainda foi dito sobre a natureza da geografia; muito pouco
sobre a natureza dos geógrafos. Se pudéssemos submeter alguns colegas
representativos a uma psicanálise geográfica, tenho certeza que frequentemente
desvendaríamos a libido geográfica como sendo muito mais uma sensibilidade
estética do que impressões de uma montanha, deserto, ou cidade como um desejo
intelectual de resolver objetivamente os problemas que tais ambientes apresentam
(Wright, 2014, p. 12).
O foder geográfico em sua dialética convoca o paradoxo existencial, a
geograficidade em libido de prazer e a geograficidade em libido de dor. Firma-se, portanto, a
possibilidade de conferir um foder a Terra por deleitar-se com suas magníficas aberturas: o
prazer para com as belezas naturais e para com a vastidão de lugares passíveis para o gozo; e,
por outro lado, um foder a Terra destruidor para com os meios ambientes e, inclusive, para
com a segregação dos horizontes dos desejos sexuais. Versa-se, logo, tanto às afetividades
quanto às perversidades; fode-se em aproximação da natureza ou fode-se em afastamento da
natureza. O homem é um animal que fode (homo futuere). Ademais, fode a Terra e fode o
Mundo, tanto ao seu deleite quanto à sua derrocada existencial. Em vista de uma
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fenomenologia do foder, posição que axiologicamente permite um conluio paradoxal entre o
positivo e o negativo, ao sentido geográfico, orienta-se o percurso a ser compreendido.
Nesse incurso, dirige-se a uma pertinente perspectiva política que medeia a orientação
do sexo à sociedade, para qual: “Nós não temos que considerar o Estado apenas como a
maior influência sobre a forma como a cidadania sexual se constitui, mas também outras
influências poderosas como a religião (Silva; Vieira, 2010, p. 321). Na historicidade humana
que, conjuntamente, afetiva à Terra e perversa à Terra, encontra-se a sobrecarga da
geograficidade atual em meio à globalidade agravante. Aproximar essas concepções
contraditórias positivas e negativas na axiologia do foder , em tessitura de uma mesma
amálgama, permite compreender a sexualidade nos processos do significado de humanidade
no “caráter híbrido e fluido das subjetividades sexuais e do significado da sexualidade para a
realidade socioespacial (Silva, 2009, p. 4). Relacionar, pois, as imbricações entre o sexo e o
desejo para com a complexidade geográfica do foder, atravessa um fenômeno comum à
humanidade.
Dessarte, salienta-se compreender a geografia do foder de modo a aprofundar as
questões sexuais em horizontes que abarcam tanto o foder positivo, perante a ausculta da
Terra quanto o foder negativo, pela exploração da Terra. Por conseguinte, estima-se constituir
o sentido territorial do foder através do Mundo em sua perversão da globalidade. Nisso,
investigar-se-ão, de modo fenomenológico enquanto metodologia de aporte da perscrutação
do fenômeno foder em unipolaridade epistêmica em sua geograficidade , a complexidade do
corpo rente aos processos eróticos dos lugares e, sobretudo, a vinculação para com o poder
defronte às fronteiras sexuais. Isso em uma discussão explícita dos territórios da sexualidade e
das sexualidades dos territórios. Nesse caminho, espera-se que haja grande gozo no decorrer
da temática do sexo e do desejo enquanto alicerces de uma geografia congruente à
humanidade geoexistencial.
Terra fodida
Daí o fato de que o ponto essencial (pelo menos, em primeira instância) não é tanto
saber o que dizer ao sexo, sim ou não, se formular-lhe interdições ou permissões,
afirmar sua importância ou negar seus efeitos, se policiar ou não as palavras
empregadas para designá-lo; mas levar em consideração o fato de se falar de sexo,
quem fala, os lugares e os pontos de vista de que se fala, as instituições que incitam
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a fazê-lo, que armazenam e difundem o que dele se diz, em suma, o “fato
discursivo” global, a “colocação do sexo em discurso”.
(Foucault, 1988, p. 16)
Em busca de constituir os enlaces correspondentes ao sexo (evento) e o foder
(intenção) perante a geograficidade, instigar-se-á a cosmologia grega. Dessarte, abre-se à obra
Teogonia escrita por Hesíodo (1995), poeta da Beócia no século VII a. C., enfatizando-se o
relato sexual entre Gaia (Terra) e Urano (Céu). Nesse caminho, salienta-se: “Num universo
ainda informe, prevalece a força fecundante do Céu, que, ávido de amor e com inesgotável
desejo de cópula, frequenta como macho a Terra de amplo seio.” (Torrano, 1995, p. 44).
Conforme a Terra e o Céu estavam unidos em cópula, geraram-se muitos filhos: seis Titãs,
três Cíclopes, seis Titânides e, por fim, três Hecatonquiros. Ao Urano e à Gaia, o primeiro
penetrador da segunda, alinha-se o foder geográfico em uma maestria poética. Isto posto,
concerne-se que “o Céu fundamento-origem da lúcida e dominadora raça dos Deuses
Olímpios é thalerós, fecundo, opulento de Vida e de sêmenes, ávido de cópulas.” (Torrano,
1995, p. 27). É contra o farto coito, configurador da práxis sexual, que Cronos, um dos titãs,
castra o pai e, disso, afastam-se Céu e Terra. Por conseguinte, permeado por Cronos o
Tempo , projeta-se a espacialidade dos desejos, advinda da voluptuosidade interrompida.
Com o momento de fim do deleite Céu-Terra, derroca-se o sexo em perpetuidade e
alastra-se o sexo como desejo, ou seja, como vontade de foder. A castração é a interdição do
ato, gerando a necessidade do ímpeto, do poder, para conseguir a consumação, espaço-
temporal, da foda. Em relato versificado, orienta-se: “Veio com a noite o grande Céu, ao redor
da Terra / desejando amor sobrepairou e estendeu-se / a tudo. Da tocaia o filho alcançou com
a mão / esquerda, com a destra pegou a prodigiosa foice / longa e dentada. E do pai o pênis /
ceifou com ímpeto e lançou-o a esmo / para trás.” (Hesíodo, 1995, p. 93). E, assim, o filho
vence o pai, uma resolutiva máxima do complexo edipiano. Adentra-se neste trabalho,
somente, no sentido de formulação do sexo em desejo. Ademais, reivindicando tempos ainda
mais longevos:
Antigamente, num ‘mundo’ ainda preso à natureza, ainda fortemente marcado pelas
antigas privações, o medo dominava invisivelmente: medo da escassez, medo da
doença, medo das forças ocultas, pânico diante da mulher e da criança, medo diante
da sexualidade, e não apenas medo da morte, mas também dos mortos. Esses medos
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suscitavam mecanismos de defesa e proteção: encantamento, magia. (Lefebvre,
1991, p. 51, destaque nosso).
Os medos são concepções diferenciais através da espacialidade cultural do mundo,
isso, com efeito, a partir da geodiversidade axiológica da constituição social para com a
natureza. Estabelece-se, porém, um núcleo duro de medos, haja vista que “em todas as
comunidades duradouras os valores sociais básicos são quase iguais. Entre os mais
importantes estão o respeito pela vida, pela propriedade e pelas regras de conduta sexual”
(Tuan, 2005, p. 170). Nesses horizontes, a territorialidade do sexo entra em questão, ao que as
intenções sexuais, em sua diversidade de expressões possíveis, são elencadas: as possíveis
permitidas e as possíveis reprimidas. A jurisdição da foda é geográfica: regida de modo
diferente em cada unidade de identidade cultural. Urge, assim, a contraposição: “A crítica da
vida cotidiana implica, pois, concepções e apreciações em escala de conjunto social
(Lefebvre, 1991, p. 37). O ser humano, enfático apreciador do sexo, intenciona suas fodas em
lugares regidos por normas conjunturalmente aceitas: da cama dita de casal até eventos de
fandoms sexuais. Do medo, provoca-se à marginalidade as condutas sociais dos destemidos.
Há, reiterando, a designação do foder positivo (ligado ao prazer) e a do foder negativo
(ligado a dor). Nisso, está-se aqui rente ao pensamento de I. Kant (2009, p. 114) acerca dos
juízos estéticos instaurados em uma psicologia transcendental, ao que em um princípio a
priori “os emancipa da psicologia empírica, na qual de outro modo permaneceriam sepultados
sob os sentimentos de prazer e dor (com a mera qualificação, que nada diz, de ser um
sentimento mais delicado), para colocá-los, e por meio deles a faculdade de julgar”. Disso, é o
foder tanto uma faculdade estética quanto uma faculdade política em sua abertura do juízo.
Abrem-se o Prazer e a Dor na articulação dos desejos sexuais cujo ápice está rente ao seguinte
conceito: “O gozo (pois tal é a palavra que designa o íntimo da satisfação)” (Kant, 2009, p.
51). A conduta territorial do prazer e da dor alicerça-se na configuração social conforme o
regime político situado. Por mais, o território imputa a transcendentalidade moral da
imanência do gozo.
Salienta-se, neste intercurso, a sexualidade dos territórios, seu sadismo e seu
masoquismo entranhados na sociedade: permitindo e punindo, obedecendo e supliciando. O
território fode com a população: ao foder de gozar com ela e, ademais, ao foder de contra-
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gozar com ela. Desse rumo: “Poderíamos enfatizar as características foucaultianas de que o
poder não é um objeto ou coisa, mas uma relação [...] Além disso, o poder é também
‘produtivo’, como no poder disciplinar estudado pelo autor em relação às prisões, às fabricas,
à sexualidade etc.” (Haesbaert, 2019, p. 83-84). As relações de poder, entremeadas no
cotidiano sociossexual, estabelecem as normativas do foder geográfico na práxis sexual.
um arranjo espacial normativo e extra-normativo ao poder do foder estabelecendo a
sexualidade do território por um território da sexualidade:
Quando pensamos nas regiões do sexo numa cidade, nos deparamos com um
conjunto de elementos associados. Ruas calmas, e perpendiculares às avenidas, uma
concentração de grupos heterogêneos de uma fauna particular de espécies noturnas
de pessoas, assim como um conjunto de atividades vinculadas, como bares, hotéis,
saunas, discotecas, terminais de ônibus. Nessa perspectiva o território do sexo forma
uma articulação espacial através dos hotéis, motéis, bares e os estacionamentos
isolados. (Villalobos, 1999, página única).
Disso, pensa-se em uma geograficidade exercida de modos lícito e ilícito, em uma
dialética interpenetradora dos indivíduos em suas particularidades desejosas e dos coletivos
em suas regras a serem promovidas em uma política de maiorias. Consoante ao território
sexual, excerta-se a seguinte definição: “Neste caso, o controle ‘territorial’ visa
principalmente a disciplinarização dos corpos, procedendo para isso a uma disposição
ordenada no tempo e no espaço.” (Haesbaert, 2019, p. 151). Fodam-se os lugares a partir dos
territórios! O corpo é docilizado por meio do contra-desejo, instituído por normativas e por
regimentos, em um processo de subjetivação. Entre displicentes e disciplinadores conduz-se a
uma geopolítica sexual: “Política do sexo: isso é, necessidade de regular o sexo por meio de
discursos úteis e públicos e não pelo rigor da proibição.” (Foucault, 1988, p. 28). Depreende-
se, portanto, que a discussão sobre o sexo é política. Isso porque confronta a diversidade
existencial da humanidade em sua ontológica diversidade sexual defronte aos discursos
sociais e aos ditames axiológicos da conduta sexual.
Consente-se, ao rumo da discussão do sexo enquanto evento constituído pela ação
do corpo autoerótico e/ou inter-erótico , versarem-se duas modalidades de foda: transas e
trepas. O foder positivo é compreendido pela transa e o foder negativo é compreendido pela
trepa. Há quem deprecie a transa e enalteça a trepa (ainda que a transa prevaleça benévola),
contudo, marca-se somente o dilema da foda: palavra designadora de uma mútua vantagem e
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desvantagem. Pois bem, transpassa-se na leitura geográfica que: No espaço social, como no
coração de cada moradia, um único lugar de sexualidade reconhecida, mas utilitário e
fecundo: o quarto dos pais. Ao que sobra resta encobrir-se; o decoro das atitudes esconde
os corpos, a decência das palavras limpa os discursos” (Foucault, 1988, p. 10). lugares de
transar e lugares de trepar, a espacialidade social organiza moralmente e materialmente tais
arranjos configurados nos territórios do sexo.
Por conclusão, julgar-se devem o prazer e a dor ao nível territorial, assentando-se a
jurisdição das regras e das normativas politicamente efetivas do p(f)oder. Alicerça-se que ao
mundo dos Estados modernos, uma linha de fuga a partir do geofoder como um “tipo de
poder que exerceu sobre o corpo e o sexo, um poder que, justamente, não tem a forma da lei
nem os efeitos da interdição: ao contrário, que procede mediante a redução das sexualidades
singulares” (Foucault, 1988, p. 47). Com isso, a conclusiva máxima do espaço social está a
par de uma dinâmica complexa entre a maioria, politicamente dedutiva ao sexo, e a minoria,
politicamente indutiva ao sexo. Esse confronto é marcado pela ditamização social, ao que
prevalece a perversão territorial: “A sociedade moderna é perversa, não a despeito de seu
puritanismo ou como reação à sua hipocrisia: é perversa real e diretamente” (Foucault, 1988,
p. 47). E é isso, a política social é foda. O poder e o foder, em sonoridades próximas,
assemelham-se também conforme a constituição de suas conotações territoriais: formam-se
perversos e fetichistas, ou seja, projetam prazer e dor perante o Outro.
Abrir-se-á, ainda mais, a perspectiva da corporalidade defronte ao poder que fode e a
foda que exerce poder. O poder territorial rege a sexualidade em suas efetivações, enquanto os
corpos defrontam diretamente esse poder regulador. Ao mais, trata-se de uma maquinaria
completa à compulsão moderna do corpo: “Os agenciamentos maquínicos de corpos são as
máquinas sociais, as relações entre os corpos humanos, corpos animais, corpos cósmicos.
(Haesbaert, 2019, p. 124). Desse modo, contemplam-se corpos configurados no ditame
industrial, aos ritmos das máquinas, pela mecânica de movimentações de tempo e de espaço
altamente delimitados. Encontra-se aqui: A besta humana [famoso livro de Zola]: a máquina
humanizada e o homem com suas necessidades animalescas; o homem atormentado pela
máquina e a máquina que toma de empréstimo ao homem a vida parasitária” (Sartre, 2002, p.
280). É, pois, no devir da máquina que a sexualidade humana toma seu rumo mais rígido e
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AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
LOPES, Jahan Natanael Domingos. Espaço Sexual: uma geografia do foder. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 11, nº 24, e112412, 2024.
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conservador. O sexo para a reprodução humana: eis a lei da máquina e a do espaço: um
espaço reproduzido por humanos para produzir a sua reprodução.
Atenta-se, a máquina fode a humanidade em seu poder de agenciar o modo do corpo
exercer o sexo: isso pautado para toda a complexidade da sexualidade. Os corpos, pênis
grandes e seios fartos, o estipulados por uma reprodução técnica, atualmente informacional,
do ciberespaço. Isso ao que: “A forma social e a forma mental parecem dadas num ‘mundo’,
assim como as formas da arte, da estética ou do estetismo, e assim como as formas
ritualizadas das relações sociais” (Lefebvre, 1991, p. 52). Essa, porquanto, é a vida cotidiana
no mundo contemporâneo, uma vida de formas reproduzidas, repetitivas em uma compulsão
regrada por uma pornografia que ascende o ideal formal ao ideal funcional.
O meio informacional fode com a mentalidade em preparo da efetiva foda corporal
regulamentada no agenciamento técnico da práxis sexual. Cada território promove uma
sociedade sexualmente articulada por um padrão estético do sexo e constitui uma mentalidade
global a partir de sua maior ou menor abertura para com o ciberespaço. Resvala-se pensar na
pornografia que “a atitude dos indivíduos frente à pornografia são avaliações desse tipo de
material, que servem como indicativos para o uso e percepção dos efeitos do uso no
comportamento sexual e nos relacionamentos amorosos” (Baumel et al, 2019, p. 132). A trepa
torna-se a representação da transa. Ainda, conduz-se ao pensamento maior de uma verdadeira
geopornotopia constituída, em princípio, pela analogia da Playboy: “A Playboy é a cobertura
de solteiro, o avião particular, o clube e seus quartos secretos, o jardim transformado em
zoológico, o castelo secreto e o oásis urbano... A Playboy se transformaria na primeira
pornotopia da era da comunicação de massas” (Preciado, 2020, p. 13). Verte-se a conduta
sexual do território à territorialidade da internet pelo mundo da informação aos assíduos em
sua estética. Disso, ocorre a transmutação dos lugares à territorialização sexual através da
globalização enquanto espiritualização empírica informacional.
Desses prumos, chega-se à foda que acontece na Terra, paradoxalmente positiva e
negativa, configurada nos territórios sexuais e nas territorialidades do sexo. Foda-se a
geograficidade da conduta regrada e normativa ao que tange à sexualidade dos corpos! Isto é,
escapar-se devem as sociedades das transcendências morais à formulação territorial do foder
entre o prazer e a dor. A diretriz do espaço sexual abre-se em regionalidades estabelecidas por
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acontecimentos em lugares de transas e em lugares de trepas. O sexo é um evento intencional
à foda geográfica, situa-se espacialmente na política territorial do sexo. Nessa relação de
diretrizes das intenções, transforma-se, o sexo, em um fato geográfico mediante o foder.
Fode-se, para o bom e para o mau, praticando o bem e praticando o mal. Eis o todo do homem
geográfico transvestido, um homem que é mulher, um homem que é não-binário, um homem
que é gay, um homem que é hétero, um homem que é lésbica, um homem que é puta... ou só,
um humano que é foda!
Mundo fodido
Agora, como o homem, afinal, possui esse impulso por natureza, surge a pergunta:
até que ponto alguém tem o direito de fazer uso de seu impulso sexual, sem
degradar sua humanidade? Até que ponto uma pessoa pode permitir que outra
pessoa do sexo oposto satisfaça sua inclinação por ela? Podem as pessoas
venderem-se ou alugarem-se, ou por qualquer tipo de contrato, permitirem o uso de
suas faculdades sexuais?
3
(Kant, 1997, p. 156-157)
Compreende-se que a práxis sexual admite uma configuração geográfica a partir de
sua espacialidade. O modo de ser do corpo, aberto ao mundo, alia-se a uma irradiação
espacial cerceada pela relação humana em sua constituição político-social. A pauta iluminista,
conhecida também como Aufklärung (Esclarecimento), ganha destaque pela base
conservadora de um modelo cristão de sexo rente à foda naturalizada com uma teleologia
postulada: a reprodução humana. Ao rumo do imperativo categórico, instrui I. Kant (2005, p.
352): “O fim da natureza na coabitação dos sexos é a procriação, isto é, a conservação da
espécie”. Esse temperamento da razão prática é orientador de uma compreensão
transcendental do sexo aquém dos juízos de gosto. Foder essa visão, isto é, marcar as
intenções das subjetividades através das múltiplas sexualidades, é o caminho a ser trilhado.
Em vista de compactuar com uma prospecção iluminista obscura, a saber, a visão da
racionalidade sexual elevada à mais alta transgressão da natureza, funda a abordagem a ser
seguida. Nesse caminho, concentra-se em dois autores: o francês Marquês de Sade (1740-
3
Tradução livre de: Now since man, after all, possesses this impulse by nature, the question arises: To what
extent is anyone entitled to make use of their sexual impulse, without impairing their humanity? How far can a
person allow another person of the opposite sex to satisfy his or her inclination upon them? Can people sell or
hire themselves out, or by any kind of contract allow use to be made of their facultates sexuales?.
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1814) com seu livro maior A filosofia na alcova, ou, os Preceptores imorais (Sade, 1999),
originando a expressão “sadismo” e, em conjunto, o austríaco Leopold von Sacher-Masoch
(1839-1895) com seu livro primaz A vênus das peles (Sacher-Masoch, 2008), originando a
expressão “masoquismo”. Ambos promovem literaturas sexuais propondo uma abertura
sexual de experiência intensa no ínterim das subjetividades em suas proximidades para com
seus desejos de foder exalados no grande pêndulo do prazer e da dor. Tece-se, nessa trama
histórica, uma concepção contra-filosófica: “A libertinagem, na época em que triunfam as
luzes, viveu uma existência obscura, traída e acuada, quase informulável antes de Sade ter
escrito Justine e especialmente Juliette como formidável panfleto contra os ‘filósofos’ [...]”
(Foucault, 1972, p. 101). É “foda” aqui a palavra que cabo de conjugar os sentimentos de
extremidades justapostas em um mesmo sentido, um paradoxo irresolvível a uma filosofia do
esclarecimento, mas evidente em uma filosofia do obscurecimento.
Por outra entrada, pela concepção lefebvriana, tem-se a constituição de dois conceitos
concernentes e conflitantes ditos por R. Haesbaert (2019, p. 95): “Logos e Eros (desejo) [...]
‘Logos’, vinculado à dominação, e as forças mais subjetivas do ‘Eros’, vinculado à
apropriação.” O primeiro aproxima-se do sadismo que domina a ordem e o segundo, ao
masoquismo que obedece à apropriação. Com mais detalhamento: “Enquanto o Logos
‘inventoria, classifica’, associando saber e poder, Eros ou ‘o grande desejo nietzschiano’ tenta
superar as separações entre obra e produto, repetitivo e diferencial, necessidade e desejo”
(Haesbaert, 2019, p. 95). Dito isso, prospecta-se a composição logo-erótica e ero-lógica na
espacialidade sadomasoquista do foder geográfico. Ainda assim, confere-se pensar que “a
apropriação prevalece sobre a dominação, pois o espaço apropriado por excelência, segundo
Lefebvre, é ‘o espaço do prazer’ (l’espace de la jouissance).” (Haesbaert, 2019, p. 369,
destaque do autor). Delimita-se pensar em um espaço do foder em que o prazer e a dor são
cerceados por um predomínio masoquista, da apropriação.
Ao penetrar na geopolítica do foder, advoga-se que os desejos articulam o território
sádico, tecido pelas maiorias (dominadoras) e o território masoquista, tecido pelas minorias
(apropriadoras). Define-se, para tanto, o conceito: “maioria implica uma constante, de
expressão ou de conteúdo, como um metro padrão em relação ao qual ela é avaliada.
Suponhamos que a constante ou metro seja homem-branco-masculino-adulto-habitante das
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cidades-falante de uma língua padrão-europeu-heterossexual” (Deleuze; Guattari, 1995, p.
55). As minorias afastam-se da maioria, concentricamente, ao que o centro é o mais foda!
Foda (negativa) porque deseja-se poder, entretanto foda (positiva) porque pode-se desejar.
Constitui-se, por fim, a relação sadomasoquista entre a minoria e a maioria a partir de uma
configuração geográfica sócio-histórica. Entre múltiplas escalas e transpassando múltiplas
culturas, as maiorias e as minorias redefinem-se infinitamente, em um confronto dialetizado e
dialetizante.
mais. Pelo paradoxo geográfico do foder, abre-se uma duplicidade de
perversidades sadista e masoquista que, ao passo de G. Deleuze (2009, p. 21), são
reversíveis malgrado opostas: “Sob todos os aspectos, veremos, o ‘professor’ sádico se opõe
ao ‘educador’ masoquista”. Explicita-se: o sadismo é a imponência de um perante o outro, ao
sentimento de preencher-se em detrimento do outro dominado. Outrossim, atenta-se: o
masoquismo é a ditamização das regras gerais perante o outro, ou seja, ao sentimento de
preencher-se na disponibilização de um contexto apropriado ao seu dispor íntegro e completo
mediante um contrato. Nesse sentido, destaca-se que: “o equilíbrio continua a ser entre as
realidades tradicionais profundas: sadistas e masoquistas, senhores e escravos, doutores e
analfabetos, indivíduos de cultura predominantemente europeia e outros de cultura
principalmente africana e ameríndia” (Freyre, 2004, p. 115). De modo ainda mais explícito,
exemplifica-se com os dirigentes do Estado, que fodem as massas, todavia são as massas que
dão poder aos governantes para fodê-las.
Perante as relações de sadismo territorial de maiorias e de masoquismo territorial de
minorias, encontram-se, inclusive, no cotidiano dos lugares. Como uma casa: dizer que uma
casa é foda permite-se orientar tanto para a luxúria (positiva) quanto para a depravação
(negativa). Com efeito, contextualizada pela axiologia do território legislador das casas ,
delineiam-se as fronteiras da legalidade e da ilegalidade dentro da configuração espacial do
foder. Cerceia-se, pois, o fenômeno de uma casa foda, isto é, marcada por uma constituição
positivo-negativa, conforme aloja uma libido somente discernível a partir da experiência
geográfica. Ao sentido do foder geográfico em uma casa, parte-se do dilema de perversões,
convertido em um dilema entre a maioria aberta ao sadismo dominador e a minoria aberta ao
masoquismo apropriador:
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casas em que o elemento pessoal se retira quase completamente... o interessado
tem excitações sexuais batendo em rapazes e moças, [...] faz incidir o sentimento de
poder sobre pessoas determinadas, assistimos aqui a um sadismo pronunciado que se
move, em grande parte, por desenhos geográficos ou matemáticos (Krafft-Ebing
apud Deleuze, 2009, p. 22).
O sadismo e o masoquismo são, nesse contexto, modos de territorializações do poder
em via de consumar os desejos libidinais do foder. As diferenças entre maioria e minoria, tão
já, correspondem ao fluxo do poder em uma circularidade de preenchimento mútuo,
paradoxal, que designado pelo foder. O poder contra o sádico advém do masoquismo,
assim como o poder contra o masoquista advém do sadismo. Nesse sentido, fundamenta-se a
própria relação da historicidade genealógica do sadismo:
O Marquês de Sade como foi mostrado por Simone de Beauvoir viveu o declínio
de um feudalismo, cujos privilégios eram contestados, um a um; seu famoso
“sadismo” é uma tentativa cega para reafirmar seus direitos de guerreiro na
violência, fundamentando-os na qualidade subjetiva de pessoa. Ora, essa tentativa
penetrada pelo subjetivismo burguês, os títulos objetivos de nobreza são substituídos
por uma superioridade incontrolável do Ego. Desde a partida, seu impulso de
violência é desviado. Mas quando ele pretende ir adiante, encontra-se perante a Ideia
capital: a Ideia de Natureza. Ele pretende mostrar que a lei da Natureza é a lei do
mais forte, que os massacres e as torturas limitam-se a reproduzir as destruições
naturais etc. (Sartre, 2002, p. 91).
Dessa compreensão, salienta-se depreender a foda geográfica como modo de orientar o
conflito entre o Humano e a Natureza e, por sua vez, entre a natureza humana e a natureza
natural. É sexual o conflito territorial, ou melhor, são fodas as contradições perversas
estabelecidas entre os dominantes e os dominados, os apropriadores e os apropriados. Disso,
assenta-se: “O pensamento de Sade não é nem o de um aristocrata, nem o de um burguês: mas
a experiência vivida de um nobre banido de sua classe que, para expressar-se, não encontrou
nada além, dos conceitos dominantes da classe ascendente e que, ao servir-se deles,
deformou-os” (Sartre, 2002, p. 93). Perpetra-se, nessas imbricações propositivas, um sentido
rente ao humanismo sexológico ao que orienta a complexidade socioespacial da coexistência
geográfica em termos sexuais.
Aprofundar-se-á, nesse trajeto, para a compreensão do conceito de perversão, aqui
compreendido de modo a assentar o dilema entre sadismo e masoquismo, em sua ordenação
da práxis sexual. Concernente a esse caminho, ao mundo projetado pela globalização,
estabelece-se que: “a perversidade deixa de se manifestar por fatos isolados, atribuídos a
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distorções da personalidade, para se estabelecer como um sistema (Santos, 2008, p. 29). O
território, pois, é o ditador da regulação entre a maioria e a minoria através da política
normativa social, mas encontra na foda global uma normatização globalizada do sexo. Dito
isso, ao contexto contemporâneo, reafirma-se: “Esse sistema da perversidade inclui a morte da
Política (com um P maiúsculo), que a condução do processo político passa a ser atributo
das grandes empresas” (Santos, 2008, p. 30). O mercado global, entre as multinacionais e as
transnacionais, não configura limitações originadas nas regulações dos múltiplos territórios.
Dessarte, o capitalismo global é genealógico de uma configuração desligada dos
enraizamentos que, aos poucos, toma o controle das soberanias e, desse modo, a foda
geográfica torna-se refém do mercado globalizado.
Firma-se a globalização perversa, em uma geografia do foder, como perversão global:
perversão sadomasoquista dos territórios e, sobretudo, entre eles. No cúmulo, as empresas
passam a gerir de modo desgovernado, atravessando os Estados, o sadismo e o masoquismo
sociais. Então, impulsiona-se a ponto que: “o sistema da perversidade legitima a preeminência
de uma ação hegemônica, mas sem responsabilidade, e a instalação sem contrapartida de uma
ordem entrópica, com a produção ‘natural’ da desordem” (Santos, 2008, p. 30). O processo
arremata-se por desterritorializações globais do controle mundial, reterritorializando (pelas
multinacionais), ou não (pelas transnacionais), em novos centros de poder. Dissimula-se o
mundo humano em uma perversidade global, em um contínuo arrefecimento do poder
territorial, contido entre as fronteiras, sob a conduta sexual e, sobretudo, reconfigurando o
sadomasoquismo social. Certamente, pode-se pensar em situações positivas e negativas
perante a esse processo de perversão. Ao menos, encontra-se a adequação do foder geográfico
enquanto conceito-chave para a configuração do mundo da atualidade, paradoxalmente em
ordem e em desordem.
mais. Corresponde-se pensar não em um fim dos territórios, ao contrário, em um
processo de multiterritorialidades (Haesbaert, 2019). Dessa tese, a perversão é guia para a
compreensão do processo social entre o território e o mercado das subjetivações e
explicita como é foda o mundo geográfico. Pode-se encontrar, inclusive, uma perspectiva
literária brasileira da desterritorialização sexual configurado a partir de Mário de Andrade
(1893-1945) com o livro intitulado Macunaíma: o herói sem nenhum caráter (Andrade,
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2019). Constrói-se, por esse incurso, uma narrativa conflitante entre o território sexual e o
desenraizamento do corpo, deslocando o sexo individual para o desejo socio-territorial:
Talvez por isso Macunaíma seja nosso romance mais emblemático, com suas
metáforas carregadas de deboche. É a irônica metáfora do espaço-corpo nacional,
decomposto pelo desenraizamento territorial do seu próprio corpo. [...] Macunaíma
se mexe quando se trata de ‘brincar’ (fazer sexo) e descansar, num culto eterno à
preguiça (Moreira, 2007, p. 151).
Confere-se, ainda, o processo de distensão entre o sadismo e o masoquismo, em
concepção globalizante, doravante o modo em que a perversidade é intensificada. Os
enraizamentos e os desenraizamentos estão coligados aos corpos, vinculados aos lugares,
ditamizando as intenções deles pelos desejos geográficos. A expressão sexual é partícipe dos
processos geográficos, a saber, a geograficidade é sexual em sua intencionalidade fodida e
fodedora. Dessarte, ao conceito de raiz, aprofunda-se: “O enraizamento é talvez a necessidade
mais importante e mais desconhecida da alma humana. [...] O ser humano tem uma raiz por
sua participação real, ativa e natural na existência de uma coletividade que conserva vivos
certos tesouros do passado e certos pressentimentos do futuro” (Weil, 1996, p. 411).
Outrossim, o território (principal agente enraizador), em sua coligação à interobjetividade dos
corpos, exerce seu poder em ditames competitivos para com a lógica do mercado (principal
agente desenraizador), formulando o dilema território-mercado da intersubjetividade no
processo de subjetivação do corpo-consciência.
É-se, portanto, através da multiterritorialidade, devido aos territórios estilhaçados
pelas desterritorializações, o caminho da configurão da liberdade do exercimento múltiplo
das sexualidades. Ainda assim, predominam-se o território sádico e o território masoquista
nas relações geopolíticas em múltiplas escalas. Definidos a partir do dilema entre as maiorias
e as minorias, ou seja, entre dominações e apropriações; o qual é depreendido pelo território
que enraíza pregando o regimento de conduta sexual e o mercado global que desenraíza
configurando o sistema de perversidade da globalização. Diante de tudo isso, a concepção
anarquista pode parecer atrativa na intenção da desterritorialização, tanto quanto o socialismo
em reforço dos aparatos, com ênfase ao estatal, da territorialização. De um modo ou de outro,
o Mundo é fodido de modos positivo e negativo, em guia do sadismo da maioria dominante e
do masoquismo da minoria apropriante. Esse é o tratado da foda: a geograficidade das
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existências sexuais exercendo sua intenção de foder um mundo e, no círculo espiralado no
olho do cu , sendo fodida por ele.
Considerações finais
Adentro da geografia sexual, entalha-se a temática sexológica em sua geograficidade
tecida tanto pela geografia do sexo, a partir da espacialidade do sexo (o evento sexual), quanto
pela geografia do foder, a partir da espacialidade do foder (a intenção sexual). Nesse sentido,
pauta-se a configuração ontológica do ser humano, diferenciando-se os fenômenos do sexo
como ação e do foder como desejo. Ao enfoque da geografia do foder, goza-se com sua
polissemia contida na foda, paradoxalmente positiva e negativa. Ademais, em proposição,
atrelam-se o positivo com o prazer e o negativo com a dor, em constituição de juízos a serem
abertos pelo espaço sexual. Desse modo, uma fenomenologia do foder ao situar, em um
único polo, a origem paradoxal do foder geográfico. Por mais, sexualiza-se a situação da
humanidade para com a Terra e para com o Mundo: isto é, fode-se a Terra e fode-se o Mundo
em uma geograficidade fodedora e fodida.
Para a concepção da foda geográfica, aprofunda-se na literatura hesdica, constituída
por uma cosmologia sexual. Nessa narrativa greco-clássica, primordialmente, coligam-se,
mutuamente, a Terra (Gaia) e o Céu (Urano) conforme uma cópula farta. Outrossim, o Tempo
(Cronos) entremete-se, em uma convocação espacial, e efetua a castração do pai. Nisso,
percebe-se um sentido de desejo estabelecido pela cópula latente da ligação terrena-mundana.
Esse desejo sexual, porquanto, acomete toda a natureza natural e humana. Assim, afirma-se
mais uma vez: o homem é um animal que fode (homo futuere). Dos discursos sobre o sexo,
marcam-se dois: por um lado, prisma-se a luminosidade kantiana em um conservadorismo
sexual dedicado à reprodução e por outro, prisma-se a obscuridade de Marquês de Sade (pelo
sadismo) e de Sacher-Masoch (pelo masoquismo). Ambos os lados construindo, pelo
racionalismo, o sentido da lascívia humana. Contudo, o território impõe-se em regulações da
conduta sexual mediante as normativas sociais. Prossegue-se, então, adentrar-se no âmago
humano em abertura tenra da geograficidade sexual por seu lado obscuro, contra a filosofia
iluminista, em sua dinâmica socioespacial.
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Em abertura da sexologia geográfica, visa-se o espaço sexual em uma concepção
axiológica do território do sexo. Seguem-se, para tanto, o território sádico e o território
masoquista, isso ao que o sadismo se define pelo sentimento de preenchimento perante a
dominação do outro e o masoquismo, de preenchimento perante a disponibilização íntegra
pela apropriação do contrato concedido ao outro. Há, pois, uma concepção dialética e não
reversível dos modos de se foder. Em múltiplas escalas, a perversão é corrente na
humanidade, fundamentada pelo dilema entre as maiorias (dominadoras), abrindo-se o
sadismo social e as minorias (apropriadoras), abrindo-se o masoquismo social. Coadunam-se,
então, os territórios com a práxis sexual no reduto sócio-histórico. Da perversão social ao
processo de globalização perversa, visam-se os territórios das sexualidades como abertura
para as sexualidades dos territórios.
Por mais, perscruta-se a foda global mediante a perversidade sistêmica constituindo o
cotidiano socioespacial. Disso, assevera-se o processo de subjetivação, fundamentado pelo
dilema entre o território (enraizador) e o mercado global (desenraizador), haja vista a
axiologia complexificar-se em conjunto à ordenação e à desordenação da conduta sexual.
Desse sentido, globalizam-se as normativas do foder geográfico pelo deturpamento da práxis
sexual. Maquiniza-se o sexo rente à própria maquinização do homem: sobretudo através do
cotidiano pornográfico do ciberespaço. Tece-se uma verdadeira geopornotopia, na ilusão
global em um alienante foder geográfico. Consoante a liberdade territorial que se defronta à
putaria mundana, apela-se para uma multiterritorialidade do sexo e, sobretudo, uma
transterritorialidade das sexualidades. Isso, ao intento de foder o poder para poder foder.
Complexificar-se devem as aberturas construídas, haja vista a temática sexual ser
escassamente abordada geograficamente. O estudo socioespacial exige tal asserção. Através
da ratificação acadêmica de palavras “tabu”, tão correntes no cotidiano humano, busca-se
tornar a discussão mais convidativa. Aqui, agradeço esse trabalho ao funk de sabedoria
infinda sobre o sexo e seus dilemas e dedico a todas as pessoas de “boca-suja” pela
amplitude do vocabulário existencial. Afinal, as palavras, quaisquer que sejam, nunca serão
baixarias, porque são somente multiplicidades. O foder é um fenômeno rente à geografia e,
por sua vez, a geografia é foda! Foda como uma transa de modo positivo e foda como uma
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trepa de modo negativo. Dessarte, espera-se que este trabalho seja tão rigoroso quanto solícito
à obstrução da censura de se tematizar a foda geográfica.
Referências
ANDRADE, C. O Amor Natural. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
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Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
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Submissão em: 15/11/2023. Aceito em: 29/04/2024.
ISSN: 2316-8544
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ISSN: 2316-8544
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