Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
KECH, Anderson, SPINELLI, Juçara; BRANDT, Marlon. MOVIMENTOS SOCIAIS E GEOGRAFIA: perspectivas sobre como a ação social
transforma a ciência geográfica. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 10, nº 22, pp. 40-59, setembro-dezembro de 2023.
Submissão em: 27/07/2023. Aceito em: 29/09/2023.
ISSN: 2316-8544
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pertinentes enquanto um valioso objeto de estudo, devido às suas formações únicas e
capacidades intelectuais, que trazem inovação em suas metodologias de estudo e de
interpretação espaço-social, de forma que possam, com novos conhecimentos e interpretações,
contribuir para transformar territórios e espaços.
Não poderíamos finalizar este artigo sem tecer algumas palavras sobre uma grande
perda recente na ciência, em especial, na Geografia. É imperativo, neste momento que mescla
sentimentos de dor, de gratidão e, ao mesmo tempo, de ânimo para ter coragem de continuar a
caminhada, homenagear o geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves (falecido em 06/09/2023)
pelo seu importante legado. Crítico, ativista, corajoso em suas denúncias e atento às causas
sociais e ambientais, dentre seus ensinamentos, enfatizava o papel dos movimentos sociais e
incentivava que não nos calemos frente às injustiças socioambientais; e que possamos, cada vez
mais, unir forças em um grande movimento para fazer frente às mazelas decorrentes do
capitalismo necropolítico. Em tempos de fortes mudanças climáticas, com efeitos catastróficos
na sociedade e no espaço já em curso (a exemplo das chuvas extremas que devastaram cidades
do Vale do Rio das Antas e do Taquari no Rio Grande do Sul, no início de setembro de 2023),
seu texto publicado no Boletim Gaúcho de Geografia, periódico da Associação dos Geógrafos
Brasileiros/Seção Porto Alegre, em 1998, é tão atual que não nos permite esquecer seu
pronunciamento, manifestando que “[a] Geografia e a Sociedade são, assim, dois momentos de
um mesmo processo de construção do devir: aqui e agora” (p. 30). E encerramos o artigo, para
abrir novas reflexões, com mais um extrato de seu texto, demarcando: Carlos Walter Porto-
Gonçalves, SEMPRE PRESENTE!
O que assistimos é, sem dúvida, a um novo processo de marcar a terra, de grafar a
terra, de geografar, isto é, de constituir novas afinidades, novas identidades, novos
espaços em comum, novas comunidades de destino, novas territorialidades. E agora,
sem dúvida, não mais ‘por cima”, pelos ‘de cima’ e para os ‘de cima’. Tudo indica
que o Estado Nacional ou será democrático, o que implica reformá-lo no sentido de
incorporar os ‘de baixo’, ou a exclusão mostrará a sua face bárbara, como aliás já o
vem fazendo ali onde o Estado foi levado paroxisticamente ao mínimo, como na
Albânia, na antiga Iugoslávia, na antiga União Soviética, ou mesmo na Colômbia, ou
no Líbano. É preciso considerar esses casos não como aberrações, mas como um
passível histórico que já nos anuncia o amanhã, caso o processo de globalização na
sua vertente hoje hegemônica não seja civilizado por movimentos sociais como os que
aqui indicamos. Consideremos que movimento indica mudança de lugar e, aqui,
movimento social quer exatamente significar que determinados segmentos sociais ao
se movimentarem estão recusando os lugares que a sociedade, através de seu polo