Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
KECH, Anderson, SPINELLI, Juçara; BRANDT, Marlon. MOVIMENTOS SOCIAIS E GEOGRAFIA: perspectivas sobre como a ação social
transforma a ciência geográfica. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 10, nº 22, pp. 40-59, setembro-dezembro de 2023.
Submissão em: 27/07/2023. Aceito em: 29/09/2023.
ISSN: 2316-8544
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SEÇÃO ARTIGOS
MOVIMENTOS SOCIAIS E GEOGRAFIA:
perspectivas sobre como a ação social transforma a ciência geográfica
SOCIAL MOVEMENTS AND GEOGRAPHY:
perspectives on how social action transforms geographical science
MOVIMIENTOS SOCIALES Y GEOGRAFÍA:
perspectivas sobre cómo la acción social transforma la ciencia geográfica
Anderson Kech
1
Universidade Federal da Fronteira
Sul (UFFS),
Campus Chapecó, SC, Brasil
e-mail: andersonkech@gmail.com
Juçara Spinelli
2
Universidade Federal da Fronteira
Sul (UFFS),
Campus Erechim, RS, Brasil
e-mail: jucara.spinelli@uffs.edu.br
Marlon Brandt
3
Universidade Federal da Fronteira
Sul (UFFS),
Campus Chapecó, SC, Brasil
e-mail: marlon.brandt@uffs.edu.br
Resumo
As diversas transformações sociais criam constantes mudanças nas dinâmicas urbanas e geográficas, despontando
em novas formações e conexões humanas no que tange a discutir a cidade, seu território e pertencimento. Aos
agentes sociais, denominados por Corrêa (1995) como grupos sociais excluídos, ou seja, vivendo em situação de
vulnerabilidade social e de constante luta pelo direito à cidade e à moradia, o amparo surge, muitas vezes, por
meio de redes de apoio, constituídas nas ações dos movimentos sociais. A formação de movimentos sociais e de
intensificação dos estudos sobre sua forma de atuação e seu papel político e social, ao final do século XX,
possibilitou que a geografia, enquanto ciência, tivesse uma visão mais crítica e cada vez mais próxima ao homem
e de suas intervenções no espaço. Tal interface vem permitindo transformações por meio das ações sociais, tanto
na geograficidade do espaço quanto na construção do pensamento geográfico.
Palavras-chave
Movimentos sociais; Ciência geográfica; Transformação socioespacial.
1
Mestrando em Geografia pela Universidade Federal da Fronteira Sul UFFS.
2
Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS, professora adjunta dos cursos
de Geografia - Licenciatura e Bacharelado e do Programa de Pós-Graduação em Geografia - PPGGEO da
Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Erechim, RS.
3
Doutor em História pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Professor do Programa de Pós-
graduação em História PPGH e do Programa de Pós-graduação em Geografia PPGGEO da Universidade
Federal da Fronteira Sul UFFS.
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Abstract
The various social transformations create constant changes in urban and geographic dynamics, emerging in new
formations and human connections when it comes to discussing the city, its territory and belonging. For social
agents, called by Corrêa (1995) as excluded social groups, that is, living in a situation of social vulnerability and
constant struggle for the right to the city and housing, support often comes through support networks, constituted
in the actions of social movements. The formation of social movements and intensification of studies on their form
of action and their political and social role, at the end of the 20th century, enabled geography as a science to have
a more critical view and also increasingly closer to man and his interventions in the world space. This interface
has been allowing transformations through social actions, both in the geography of space and in the construction
of geographic thinking.
Keywords
Social movements. Geographic science. Socio-spatial transformation.
Resumen
Las diversas transformaciones sociales crean cambios constantes en las dinámicas urbanas y geográficas,
emergiendo en nuevas formaciones y conexiones humanas a la hora de discutir la ciudad, su territorio y su
pertenencia. Para los agentes sociales, llamados por Corrêa (1995) como grupos sociales excluidos, es decir, que
viven en situación de vulnerabilidad social y lucha constante por el derecho a la ciudad y a la vivienda, el apoyo
muchas veces llega a través de redes de apoyo, constituidas en las acciones de los actores sociales. movimientos.
La formación de movimientos sociales y la intensificación de los estudios sobre su forma de acción y su papel
político y social, a finales del siglo XX, permitieron a la geografía como ciencia tener una visión más crítica y
también cada vez más cercana al hombre y sus intervenciones en el mundo el espacio. Esta interfaz ha ido
permitiendo transformaciones a través de acciones sociales, tanto en la geografía del espacio como en la
construcción del pensamiento geográfico.
Palabras clave
Movimientos sociales; ciencia geográfica; Transformación socio-espacial.
Introdução
A geografia, enquanto ciência, possui, em seu cerne teórico e metodológico, as
categorias de análise geográfica: espaço, paisagem, território, região e lugar; que são abordadas
e analisadas a partir de diferentes perspectivas, influenciadas por distintas correntes do
pensamento geográfico. Essas cinco categorias abarcam, na verdade, os pressupostos clássicos
de ordem geográfica, relevantes para o embasamento de estudos geográficos. Muitos autores,
tais como Moraes (1981), Moreira (1982), Castro, Gomes e Corrêa (1995), Sposito (2004) e
outros, debateram as diferentes abordagens existentes para estas categorias, tecendo
importantes considerações acerca do escopo epistêmico e metodológico que as envolvem. Não
raro, diversas referências enfatizam que a principal categoria é o próprio espaço geográfico,
uma vez que ele expressa as relações homem-natureza. Inúmeros outros trabalhos, por exemplo,
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focalizam o território e suas múltiplas territorialidades, para expressar e espacializar temas a
eles pertencentes. Independentemente da abordagem, tais categorias trazem, portanto,
percepções e interpretações sobre as realidades sócio-humanas e físico-ambientais que nos
cercam.
Considerando a Geografia enquanto uma ciência em movimento, na
contemporaneidade, vêm surgindo discussões sobre novas teorias e métodos de análise, a
exemplo da exploração sobre o espaço uno e múltiplo (Suertegaray, 2001) e da revisitação sobre
o tema dos movimentos sociais como novas categorias geográficas (Porto-Gonçalves, 1998,
2006; Fernandes, 2005; Souza, 1989, 2008, 2009; Pedon, 2013; Bartholl, 2018).
Nessa perspectiva, com a passagem do tempo e as transformações na natureza, na
sociedade e na ciência, pode-se destacar que significativas mudanças possibilitaram que a
geografia expandisse a forma de compreender o mundo, de enxergar e de entender o que
permeia o espaço geográfico. Por meio de aproximações dos estudos sobre o homem e suas
relações modificadoras do meio físico e social, a pesquisa teórica e de ação participante
possibilita que o pensamento geográfico tenha um olhar ainda mais amplo, crítico, ativo,
reflexivo e até, por vezes, militante, ativista e comprometido com as questões e causas sociais
e ambientais.
Parte histórica dessa aproximação entre a geografia, o homem e o ambiente se
por meio das formações de movimentos sociais e de suas construções de lutas coletivas em prol
do combate à violação de direitos (pela moradia, pela terra, pelas questões raciais, de gênero e
diversidade, pelo trabalho etc.) e da busca por inserção no cotidiano social com melhores
condições de vida. Assim, os movimentos sociais, com o passar das décadas, foram se tornando
cada vez mais relevantes, tanto em relação ao objeto de pesquisa quanto aos difusores de novos
conhecimentos e de debates, a exemplo dos territórios e pertencimento através da ação social,
como salienta Gutiérrez: “O território se converte em ponto de referência para o surgimento da
prática social. Nele intervém impactos que continuamente a reestruturam desde o econômico,
o político e o social. Por isso que a relação entre prática social e território não é estática, rígida,
nem imutável” (Gutiérrez, 2012, p. 163).
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O presente artigo visa tecer reflexões sobre a ação social enquanto eixo transformador
da ciência, em especial, da Geografia, a partir das frentes investigativas e interpretativas
participantes de movimentos de luta, de resistência, de interação social e ambiental.
A importância dos movimentos sociais enquanto contribuição para a transformação da
ciência geográfica, parte de diversas construções e de ações na história. Essa, está relacionada
à própria trajetória do pensamento geográfico, sobretudo a partir da renovação crítica pela qual
a geografia e as ciências humanas - como um todo - passaram a partir da década de 1960.
Renovação essa que trouxe não apenas diversos questionamentos sobre a Geografia em si, mas
sobre os seus objetos de pesquisa, apontando, por exemplo, para a necessidade de se estudar
sob a ótica “dos de baixo”, preocupação que norteia o pensamento de autores como o historiador
Edward Palmer Thompson (1987) desde a publicação de sua mais conhecida obra: “A
Formação da Classe Operária”, publicada em 1963; mas também através da experiência desses
grupos e sujeitos, que, para Sharpe (1992, p. 41), “viveram o tempo subjacente, dominado, que
mergulhou e sumiu no tempo da classe dominante e na sua História”, revisitando as memórias
e experiências daqueles homens e mulheres, “cuja existência é tão frequentemente ignorada,
tacitamente aceita ou mencionada apenas de passagem”.
Buscar-se-ão reconhecer essas transformações socioespaciais e conceituais da
Geografia por meio de dados e de fontes históricas, bem como a partir de estudos que refletem
o “diálogo com os movimentos sociais”, a partir de exemplos investigativos-participantes já
realizados, a exemplo dos movimentos populares urbanos, fortemente abordados por Souza
(1989; 2008; 2009).
Barros (2020) exemplifica como fonte histórica tudo o que possa ser produzido pelos
seres humanos, ou seja, tudo que possa trazer vestígios de suas ações e de suas interferências,
e que assim permita compreender o passado e os desdobramentos do presente.
São fontes históricas tanto os tradicionais documentos textuais (crônicas, memórias,
registros cartoriais, processos criminais, cartas legislativas, jornais, obras de literatura,
correspondências blicas e privadas e tantos mais) como também quaisquer outros
registros ou materiais que possam nos fornecer um testemunho ou um discurso
proveniente do passado humano, da realidade que um dia foi vivida e que se apresenta
como relevante para o Presente do historiador (Barros, 2020, p. 5).
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O referido autor ainda menciona que, a partir do século XX, com a perspectiva da
interdisciplinaridade, principalmente nas ciências humanas, ampliam-se as possibilidades
interpretativas, com ênfases mais amplas e inter-relacionadas com outras áreas do
conhecimento. Menciona que, entre a geografia e a história, até mesmo uma paisagem pode
passar a ser vista como uma possibilidade documental, fazendo parte de interpretações quanto
às modificações naturais do ambiente e de respectivas ações do homem no espaço (Barros,
2020).
A investigação perseguiu levantamentos e revisão bibliográfica sobre o assunto,
contando com bases históricas, compilação de informações de fontes oficiais e de entrevistas
publicadas em canais midiáticos, bem como uma primeira exploração acerca dos movimentos
sociais, sua forma de atuação e os seus consequentes processos e formas espaciais,
desenvolvidos e interpretados em perspectiva geográfica. A ideia do texto é alcançar uma leitura
ampla, demonstrando que a Geografia, além de se aproximar da temática dos movimentos
sociais ao longo de sua trajetória, na contemporaneidade, também incorporou ações e
movimentos ativos, em muitos casos, transformadores das realidades sociais e ambientais.
O artigo está estruturado com sua introdução e em duas seções: os movimentos sociais
e a geografia; sujeitos, atores e a institucionalização acadêmica dos movimentos sociais como
objeto de estudo na Geografia, além das considerações finais.
Os Movimentos Sociais e a Geografia
Os estudos geográficos mostram que movimentos sociais têm uma relação intrínseca
para com o espaço no qual estão inseridos. A geografia desempenha um papel fundamental na
formação e nas dinâmicas dessas organizações, influenciando suas necessidades, prioridades e
interações com o ambiente circundante. A geografia molda e é moldada pelas práticas sociais.
Os movimentos sociais emergem e se desenvolvem em resposta a desafios específicos do
espaço geográfico, buscando melhorar a qualidade de vida das comunidades e promover a
coesão social.
A formação de movimentos sociais para estudos sobre a cidade auxilia na formação de
debates e de estudos complexos sobre os diversos setores urbanos que compõem uma cidade.
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Isso se dá através de um grupo de pessoas, dispostas e aptas a compreender as transformações
sociais e as verdadeiras necessidades da cidade ou bairro onde vivem, tornando o local um foco
de reflexão e de transformação.
Estudar o território motiva o conhecimento das condições espaciais, geográficas,
sociais e culturais associadas com os usos e simbologias que posicionam as práticas
sociais vinculadas à dinâmica de constituição do território e, portanto, fornece os
elementos potenciais requeridos para a transformação total da realidade, em busca de
avançar na geração de condições de vida mais adequadas para a população vinculada
a esses processos (Gutiérrez, 2012, p. 154).
Os estudos sobre a cidade como formação territorial, sobre sua espacialidade, conexões
físicas, sociais e transformações geográficas, partem do entendimento de que a cidade é
composta por um grupo heterogêneo de sujeitos, que pautam essas constituições a partir de suas
diversas ações no espaço. Conforme Schonardie (2021), a dinâmica urbana é cada vez mais
complexa, através de diferenças culturais, ocupacionais e laborativas, também por meio de
reflexos entre concentração de riquezas e o aumento de desigualdades sociais em uma mesma
cidade.
Segundo Corrêa (1995), o espaço urbano é simultaneamente fragmentado e articulado,
sendo que essa divisão é uma expressão espacial de processos sociais, em que o espaço urbano
é um reflexo da sociedade, com uma forte divisão entre áreas residenciais segregadas,
refletindo, dessa forma, a complexa estrutura social de classes.
Em primeiro lugar, por ser um reflexo social e fragmentado, o espaço urbano,
especialmente o da cidade capitalista, é profundamente desigual: a desigualdade constitui-se
em característica própria do espaço urbano capitalista. Em segundo lugar, por ser um reflexo
social, e porque a sociedade tem sua dinâmica, o espaço urbano é também mutável, dispondo
de uma mutabilidade que é complexa, com ritmos e natureza diferenciados. (Corrêa, 1995, p.
8).
A partir dessa compreensão, de que o espaço urbano é mutável em relação aos seus
diversos atores, Corrêa (1995) elenca quem produz o espaço urbano, citando os seguintes: a) os
proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais; b) os proprietários
fundiários; c) os promotores imobiliários; d) o Estado; e) os grupos sociais excluídos.
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KECH, Anderson, SPINELLI, Juçara; BRANDT, Marlon. MOVIMENTOS SOCIAIS E GEOGRAFIA: perspectivas sobre como a ação social
transforma a ciência geográfica. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 10, nº 22, pp. 40-59, setembro-dezembro de 2023.
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Monteiro (2021), ao analisar a obra de Souza (1989), enfatiza que, a partir de um novo
prisma sobre o ativismo de bairro, o autor apresentou uma profunda reflexão transdisciplinar
nos estudos urbanos. Sua abordagem se revelou “transgressora” às normas disciplinares da
época, pois, ao pesquisar sobre o fato social considerando o ativismo de bairro, o autor
mobilizou recursos analítico-conceituais necessários para a elucidação do papel e do significado
destes, os quais atribuem ao espaço um referencial de suporte material, organizativo, simbólico
e afetivo em suas manifestações. Salienta-se que, na perspectiva de Souza (1989), a discussão
sobre o significado e o alcance político dos ativismos é examinada a partir de outros aportes
político-filosóficos, e a experiência humana concreta revela a luta pela humanização da cidade,
do bairro e da rua. Destaca-se também que, ao questionar o modelo civilizatório em curso, o
autor desvela as contradições e os conflitos urbanos para além das lutas de classe
incorporando, também, a dimensão cultural crítica e a crítica das relações sociais, econômicas
e políticas no espaço. Tais considerações são importantes para a compreensão das interfaces do
papel do geógrafo pesquisador e participante para uma nova concepção (em curso)
epistêmica da Geografia e a ressignificação dos sujeitos, atores e agentes.
De acordo com Pedon (2013), o espaço geográfico é produzido a partir de um processo
histórico que se baseia nessas contradições sociais. Ademais, que se considerar o
protagonismo dos sujeitos, dos atores e dos agentes sociais em cada movimento social
específico. Assim, trazer como protagonismo de pesquisa grupos usualmente marginalizados
na sociedade não coloca de lado outros produtores de espaço, mas sim abraça diferentes
perspectivas de produção do espaço e de conhecimento, as quais são simbióticas à sociedade,
pois existem devido aos cenários de contradições sociais e geográficas. Os movimentos
sociais, justamente por abrangerem diversas complexidades em sua estrutura e por não fazerem
parte de um conformismo social, fizeram com que o meio acadêmico, em sua cronologia
histórica, tenha sido estimulado a rever conceitos, olhares e práticas pedagógicas através de
diversas conexões, assim sendo até o tempo atual. A geografia crítica, que observa o homem
como um sujeito de sua história e não apenas um elemento da paisagem, parte desses
movimentos sociais. O espaço deve ser considerado como um conjunto indissociável do qual
participam, de um lado, um certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos
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sociais; e, de outro lado, a vida que os anima ou aquilo que lhes dá vida. Isto é a sociedade em
movimento. (Santos, 1988, p. 7).
Pedon (2013) afirma que o interesse de geógrafos por movimentos sociais fez parte da
renovação da geografia entre a década de 1970 e a década de 1980. “Entre as razões que levaram
o estudo dos movimentos sociais encontra-se, de um lado, a projeção de um expressivo número
de movimentos sociais [...] que vinham conquistando espaços políticos essenciais para suas
reivindicações” (Pedon, 2013, p.13).
Ainda de acordo com Pedon (2013), o espaço, até a década de 1970, tinha quase sempre
a condição de um simples reflexo das relações sociais, como um substrato no processo de
desenvolvimento social. Em 1978, ocorreu, no Brasil, o III Encontro Nacional de Geógrafos
(III ENG), em Fortaleza (CE), no qual o autor afirma que representou o surgimento de vários
movimentos de crítica e de renovação da ciência geográfica em âmbito nacional. “É no contexto
das transformações políticas e sociais vividas pela sociedade brasileira a partir do final da
década de 1970 que ocorre a inserção de ideias relativas à valorização das ações políticas mais
amplas no campo da pesquisa geográfica” (Pedon, 2013, p 15).
No ano de 1989, o geógrafo Milton Santos, em uma entrevista para a revista Geosul, da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foi questionado sobre os acontecimentos da
Geografia do final da década de 70, até o ano da decorrida entrevista, partindo do III Encontro
Nacional de Geógrafos de 1978 (III ENG), em que o mesmo comenta:
Acho que 1978 foi a eclosão de um movimento que vinha se gestando há mais tempo
e que havia uma fermentação extremamente bem orquestrada. [...] Havia um grupo de
geógrafos brasileiros preocupados com a Geografia brasileira, dispostos a mudar seu
rumo, seu sentido acadêmico, na construção de uma nova teoria geográfica, uma nova
posição que fosse também, ao mesmo tempo, política e acadêmica, dentro da
geografia (Santos, 1989, p. 142).
Dentre o período de que data o Encontro de Geógrafos de 1978, muitas mídias locais e
nacionais realizaram publicações em jornais e revistas, conforme visto na Figura 1, enfatizando
as programações do evento e as discussões realizadas.
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Figura 1: Matéria de jornal “O POVO” sobre o III ENG - Fortaleza - CE
Fonte: Jornal “O POVO” – Fortaleza-CE (25/07/1978).
Disponível em: <https://mauricioabreu.com.br/multimidia>. Acesso em: 20 jul. 2023.
Na reportagem da Figura 1, além da programação do evento, são enfatizadas as
atividades de encerramento, mencionando, inclusive, a realização da Assembleia Geral da
Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), que demarca, a cada evento, as principais
atuações dos novos membros da Comissão Executiva eleitos para a gestão, os quais têm a
responsabilidade de cumprir e de revisar os documentos estatutários e as ações da Associação.
A trajetória da AGB, e de suas seções locais, tem forte representação em relação a uma
geografia ativa e comprometida com as questões socioambientais.
Conforme salienta Pedon (2013), a exploração da geografia crítica permitiu o
desenvolvimento do conceito de formação socioespacial, formulado por Milton Santos (1977)
no texto “A Sociedade e o espaço: a formação social como teoria e como método”. Na sua
formulação, o conceito de formação socioespacial é assentado no plano da historicidade do
espaço e que abarca a totalidade e a unidade de todas as esferas (estruturais e supraestruturais)”.
A produção do espaço começa então a ser entendida enquanto um processo que, cada
vez mais, carrega intencionalidade com reprodução das relações sociais. No início da década
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de 1980, a geografia brasileira condensava em sua bibliografia o fundamental de novas ideias,
e, a partir da metade dessa década, os movimentos sociais passaram a ser alvo de interesse dos
geógrafos brasileiros de forma mais sistemática, com diversos estudos de caso de mobilização
popular pelo país. Pedon (2013) salienta:
Pensar acerca do papel que a geografia poderia cumprir nessa empreitada intelectual
até hoje se mostra uma tarefa difícil, dada a parca produção teórica a esse respeito. Os
estudos de casos se multiplicaram; contudo, o principal referencial desses estudos
continuou a ser aqueles vindos de outras ciências (Pedon, 2013, p. 21)
.
na década de 1990, as primeiras reflexões sobre o conceito de movimentos
socioterritoriais ocorreram, resultando em importantes publicações e estendendo seus diálogos
nos anos iniciais do século XXI.
Estes trabalhos resultam de um desafio e esforço no sentido de superar os conteúdos
sociológicos do conceito de movimento social, muito utilizado nos trabalhos de
geógrafos, mas que pouco contribui para um estudo geográfico dos processos
desenvolvidos pelos movimentos produtores e construtores de espaços sociais e
transformadores de espaços em territórios (Fernandes, 2005, p. 289).
Em entrevista conduzida por João Rua em 1998 para a Geo UERJ, o entrevistado
Bernardo Mançano Fernandes, geógrafo e renomado estudioso dos movimentos sociais no
campo e da problemática rural brasileira, foi questionado sobre sua visão quanto à geografia no
mundo conforme ano datado da entrevista, ao que Fernandes responde:
Parece-me que a geografia crítica contribuiu muito para o desenvolvimento da Ciência
Geográfica, especialmente no Brasil. [...] A diversidade dos trabalhos apresentados
por pesquisadores e alunos é espantosa. Estamos trabalhando com temas novos.
Mesmo a minha experiência é nova. Trabalhar com a forma de organização social e
com a territorialização dos movimentos sociais em Geografia é uma experiência
recente. Este tema sempre foi pensado como objeto de estudo dos sociólogos. [...].
Hoje precisamos construir caminhos, produzir conhecimentos e colocarmo-nos
defronte à realidade, interpretá-la para transformá-la (Fernandes, 1998, p. 125).
Com as mudanças de visões no campo da geografia e da inter-relação entre sociedade e
espaço, também se torna necessária a observação na qual, para Santos (1996), a técnica está
inserida em um contexto social, econômico e cultural, sendo moldada por esses elementos e,
por sua vez, influenciando-os. Ele destacou a importância de compreender a técnica como um
processo social e não apenas como um conjunto de ferramentas ou de procedimentos técnicos.
“As técnicas são um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza
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sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço. Essa forma de ver a técnica não é, todavia,
completamente explorada” (Santos, 1996, p. 16).
Santos também apontou que a noção do espaço geográfico poderia ser completamente
compreendida a partir da técnica. Nesse sentido, os movimentos sociais se tornam um estudo
pertinente, contínuo e relevante quanto às suas técnicas e apropriações, em constante mudanças.
Abreu (2000, p. 15) destaca ainda que “a geografia não pode se definir como o estudo
da duração do presente, ainda que seja este o palco preferencial de atuação do geógrafo". Sendo
ela uma forma de abordagem do real, o que a distingue das outras ciências sociais são
exatamente as questões que coloca para o entendimento desse real, da sociedade”.
Fernandes (2005) realça que alguns movimentos resultam na produção e na construção
de espaços, que se espacializam e que possuem espacialidades. Também alguns movimentos
transformam espaços em territórios, se desterritorializam e são desterritorializados, e se
reterritorializam. Nessa mesma perspectiva, Martin (2020, p. 30) menciona que “para cada um
dos movimentos socioespaciais cujo propósito é precisamente espacial a prova do espaço,
que é também uma prova no espaço, é bem na verdade o teste da sua capacidade em espacializar
e territorializar as suas lutas com êxito”.
Assim, pode-se concluir que a ação social transforma a ciência geográfica, promovendo
avanços na forma de reflexão, na institucionalização acadêmica dos movimentos sociais e em
suas práticas enquanto objeto de estudo e de participação na Geografia e de seus
desdobramentos na ciência e na sociedade. Diante de um breve apanhado cronológico que
compõe este artigo, alinhado aos principais eixos orientadores da geografia crítica e às
entrevistas citadas, ressaltamos a importância e o diálogo das formações de movimentos sociais
na contribuição da geografia como percebemos hoje, como uma ciência que segue se
transformando conforme as relações sociais abrangem novas esferas conceituais, técnicas,
dimensões escalares, pedagógicas e políticas. A ação social permite mobilizar novas discussões
dentro da geografia e é inexorável no impacto da sociedade como um todo. Nessa perspectiva,
retomando Souza (1989), que já destacava:
[…] a questão do ativismo é inseparável da questão da organização. Mas que
organização se poderá advogar, consoante um prisma autonomista? Naturalmente,
uma organização não-burocrática, não-"partidária"; uma organização
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AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
KECH, Anderson, SPINELLI, Juçara; BRANDT, Marlon. MOVIMENTOS SOCIAIS E GEOGRAFIA: perspectivas sobre como a ação social
transforma a ciência geográfica. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 10, nº 22, pp. 40-59, setembro-dezembro de 2023.
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programaticamente aberta e organizacionalmente libertária, que promova sem o
recurso a constrangimentos a referida e imprescindível articulação (Souza, 1989, p.
44-45).
Seguindo o raciocínio de diversos autores mencionados, a exemplo de Souza (1989;
2009), a ação social permite mobilizar essas novas discussões dentro da Geografia, sendo um
desafio teórico e prático aos pesquisadores-participantes, diante das metamorfoses do espaço e
da própria ciência que, cada vez mais, precisa se fazer presente e atuante diante das lutas pelas
desigualdades e direitos violados, sejam ambientais ou socioculturais. Nesse contexto, para
além da mescla interdisciplinar, é imprescindível a ação e a atuação de agentes, de atores e de
sujeitos comprometidos e engajados, de forma aberta e libertária.
No cenário do mundo globalizado, principalmente nas últimas décadas do século XX e
no contexto recente, se rearticulam as formas de dominação, quer no campo da economia, quer
no mundo do trabalho, fortemente operados pelas políticas econômicas hegemônicas
internacionais, seus mercados e seus agentes financeiros. Nesse contexto, surgem movimentos
de resistência a esse modelo, tais como pelo direito de acesso à terra para o trabalho rural e à
vida no campo, pelo cumprimento da função social da propriedade, direito à moradia e à cidade,
pelo respeito racial e de diversidades, entre outros. Assim, fortes movimentos de luta vêm se
configurando com renovação dos atores sociais, dos sujeitos envolvidos na práxis da ciência e
de ativismos em espectro multiescalar, o que reconfigura a própria institucionalização dos
movimentos sociais no campo da ciência.
Sujeitos, Atores e Institucionalização Acadêmica dos Movimentos Sociais
O debate sobre atores e sujeitos sociais, nas ciências humanas e sociais, não é novo.
Contudo, muitas vezes, o tratamento teórico desses termos é abordado de forma muito próxima
ou, até mesmo, como sinônimos. Touraine (1999) menciona sobre a dificuldade da separação
das ideias de indivíduo, de sujeito e de ator, por serem termos, segundo o autor, que necessitam
ser definidos pela relação de uns com os outros, tanto sobre o meio quanto a estrutura da qual
fazem parte. A proximidade do tratamento dos termos se dá, assim, por estar relacionada a um
estado de ação dos indivíduos durante a sua intervenção em algum movimento, manifestação
ou ação social.
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Castro (2013) menciona que a questão que se apresenta para a atribuição da
adjetivação do sujeito ou do ator é o questionamento de onde vem a formulação da ordem que
desencadeia a ação. Segundo o autor:
A resposta a esta questão envolve um outro termo que, no nosso modo de ver, deve
ser atribuído aos instrumentos de ações operados por aqueles que Marx denominou
de personas do capital, ou seja, os agentes. Agentes são os grandes conglomerados
econômicos que determinam o sentido do crescimento das cidades, o consumo das
produções sociais, e o Estado, que regula de forma desigual e pela força as
contradições da sociedade. Assim, a ordem de que resulta a ação produtora do espaço
capitalista é oriunda do agente, mas as negações de tais ordens produzem outros
espaços e têm os sujeitos como motor (Castro, 2013, p. 88).
O autor enfatiza, também, que comumente o debate em torno dos conceitos de sujeito
e de ator social tem se dado em torno da noção de autonomia, demarcada pela ausência de
alienação na formulação de discursos daqueles que estão à frente de ações que acabam
potencializando a formação de grupos que se organizam em movimentos sociais. Em síntese,
considera-se que o que diferencia a significação atribuída aos sujeitos e aos atores sociais são
“os campos onde cada um deles se situa na luta de classes”. Nesse sentido, considera-se que a
composição de um movimento social se pela ação de coletivos, envolvendo, portanto,
diversos sujeitos. O discurso exterior, para esse movimento social, é ressignificado de acordo
com os interesses do movimento. Por sua vez, o ator “é aquele que desempenha papel
determinado e desencadeia ações de impactos que variam das escalas locais à mundial” (Castro,
2013, p. 88).
Em que se pese o debate acerca dos termos e dos papéis dos sujeitos e dos agentes na
lógica dos movimentos sociais, a institucionalização acadêmica dos estudos sobre os
movimentos sociais acabou sendo constituída pelo próprio processo de atuação e de ativismo
dos sujeitos e dos agentes dos movimentos e de seus reflexos no espaço e na sociedade. Castro
(2013) aborda, inclusive, a maturidade da geografia brasileira nos estudos sobre movimentos
sociais, trazendo uma retrospectiva sobre o esforço de alguns geógrafos que se dedicaram a
contribuir, a partir do estudo de movimentos sociais específicos, com avanços teóricos,
metodológicos e interpretativos que tiveram o espaço e o território como alicerces de análise
geográfica. Tais estudos, em permanente construção, revelam que o tema dos movimentos
sociais abriu e segue trilhando caminhos para uma futura proposição de uma frente ou de uma
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categoria de análise da geografia: a ão coletiva como um novo viés epistemológico de análise
geográfica.
Nessa medida, Santos (2006) sintetizou três tendências analíticas sobre geografia e
movimentos sociais: a) a Geografia da organização dos movimentos sociais, centrada na
produção acadêmica com foco na estrutura organizativa dos grupos e dos movimentos sociais,
focando sua forma de atuação, suas agendas políticas mobilizadoras e, sob o viés das
geograficidades, a configuração espacial de abrangência de suas ações (nível local, temático e
nível mais amplo, envolvendo outras escalas); b) Geografia das lutas sociais, pautada pelos
estudos da “materialização” das formas de lutas e dos conflitos sociais no espaço, ou seja, nos
estudos que buscam interpretar espacialmente as formas das lutas e nas dimensões de evidência
dos conflitos, no espaço e no tempo; e c) Geo-grafias dos movimentos sociais, caracterizando-
as e apresentando seus principais referenciais e autores; focada, também, nos esforços de
pesquisadores para a proposição de categorias analíticas de leitura dos movimentos sociais,
considerando os avanços no acúmulo de conhecimentos e as novas bases conceituais da
Geografia contemporânea, bem como nos esforços acadêmico para a proposição de uma
categoria do pensamento crítico-político, próprio da Geografia, a partir dos estudos dos
movimentos sociais (tendência mais recente na proposição e categorização do debate). Tais
tendências podem sinalizar um novo desenvolvimento epistemológico da Geografia, uma vez
que permitem abordagens interdisciplinares e diversas, com debates articulados acerca de temas
que deflagram os movimentos de resistência e de luta em múltiplas escalas.
Considerações Finais
Na epistemologia do pensamento geográfico, nem sempre o homem foi objeto de
investigação e de estudo. Conforme Bergamo e Cattaneo (2013), foi necessário, ao longo da
história, uma gradação de conceitos e de teorias, permeando diversas áreas de conhecimento
que fossem aproximando da geografia o estudo sobre o homem, partindo, principalmente, de
esforços filosóficos que tentavam aproximações geográficas. Ainda conforme os autores, o
estudo sobre o homem como objeto de estudo geográfico se torna de grande relevância por se
tratar da convivência dos homens com o meio natural.
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As crescentes evoluções tecnológicas, políticas e sociais permitiram criar um espaço
contraditório de relações humanas, no qual emergem de suas diversas camadas sociais, em
especial atenção às camadas de grupos sociais excluídos, como apontado por Corrêa (1995),
em que despontam os movimentos sociais, historicamente lutando por melhoria de qualidade
de vida e participação popular na transformação urbana. Os movimentos sociais em cada década
trazem a geografia enquanto ciência cada vez mais próxima, e intrínseca, ao homem.
Segundo Monbeig (2006), é necessário provar que a geografia contribui para o
enriquecimento das mentes, provar sua utilidade no mundo, onde a pesquisa deva dar um
instrumento útil à coletividade; nesse caminho, os movimentos sociais são capazes de permitir
o intercâmbio de conhecimentos e de causas.
Os movimentos sociais, enquanto ação social e campo de estudo, possibilitam a
participação em diferentes espaços sociais e a cooperação entre os participantes, a identificação
de interesses comuns, desde a construção de relacionamento de confiança e fortalecimento da
capacidade local o que permite a aproximação entre governo municipal, universidades e,
principalmente, com as comunidades, a fim de que elas contribuam para a tomada de decisões
(Sperandio, 2010).
Continuamente, a educação se mostra como um processo emancipatório e enquanto
parte do nosso cotidiano. A educação está no reflexo do que pode ser passado por conhecimento
científico ou por vivências e experiências de vida. Independentemente do caminho, o
conhecimento permite entender causas, buscar por soluções, desenvolvimento e é um reflexo
direto de bem-estar, de se entender no mundo, entender processos e poder participar em tomadas
de decisões conscientes e justas.
Os movimentos sociais ganham cada vez mais espaços em meios políticos, a exemplo
do conselho das cidades (ConCidades) de natureza deliberativa e consultiva, integrante da
estrutura do Ministério das Cidades, que se formou em 2004 e vem se consolidando como um
instrumento de gestão democrática da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano PNDU,
sendo essa uma das muitas pautas políticas engajadas em movimentos sociais e que exemplifica
em nível estrutural nacional a importância da consulta pública com embasamento social para a
gestão das cidades a partir da visão social. Os movimentos sociais também são cada vez mais
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pertinentes enquanto um valioso objeto de estudo, devido às suas formações únicas e
capacidades intelectuais, que trazem inovação em suas metodologias de estudo e de
interpretação espaço-social, de forma que possam, com novos conhecimentos e interpretações,
contribuir para transformar territórios e espaços.
Não poderíamos finalizar este artigo sem tecer algumas palavras sobre uma grande
perda recente na ciência, em especial, na Geografia. É imperativo, neste momento que mescla
sentimentos de dor, de gratidão e, ao mesmo tempo, de ânimo para ter coragem de continuar a
caminhada, homenagear o geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves (falecido em 06/09/2023)
pelo seu importante legado. Crítico, ativista, corajoso em suas denúncias e atento às causas
sociais e ambientais, dentre seus ensinamentos, enfatizava o papel dos movimentos sociais e
incentivava que não nos calemos frente às injustiças socioambientais; e que possamos, cada vez
mais, unir forças em um grande movimento para fazer frente às mazelas decorrentes do
capitalismo necropolítico. Em tempos de fortes mudanças climáticas, com efeitos catastróficos
na sociedade e no espaço já em curso (a exemplo das chuvas extremas que devastaram cidades
do Vale do Rio das Antas e do Taquari no Rio Grande do Sul, no início de setembro de 2023),
seu texto publicado no Boletim Gaúcho de Geografia, periódico da Associação dos Geógrafos
Brasileiros/Seção Porto Alegre, em 1998, é tão atual que não nos permite esquecer seu
pronunciamento, manifestando que “[a] Geografia e a Sociedade são, assim, dois momentos de
um mesmo processo de construção do devir: aqui e agora” (p. 30). E encerramos o artigo, para
abrir novas reflexões, com mais um extrato de seu texto, demarcando: Carlos Walter Porto-
Gonçalves, SEMPRE PRESENTE!
O que assistimos é, sem dúvida, a um novo processo de marcar a terra, de grafar a
terra, de geografar, isto é, de constituir novas afinidades, novas identidades, novos
espaços em comum, novas comunidades de destino, novas territorialidades. E agora,
sem vida, não mais ‘por cima”, pelos ‘de cima’ e para os ‘de cima’. Tudo indica
que o Estado Nacional ou será democrático, o que implica reformá-lo no sentido de
incorporar os ‘de baixo’, ou a exclusão mostrará a sua face bárbara, como aliás o
vem fazendo ali onde o Estado foi levado paroxisticamente ao mínimo, como na
Albânia, na antiga Iugoslávia, na antiga União Soviética, ou mesmo na Colômbia, ou
no Líbano. É preciso considerar esses casos não como aberrações, mas como um
passível histórico que nos anuncia o amanhã, caso o processo de globalização na
sua vertente hoje hegemônica não seja civilizado por movimentos sociais como os que
aqui indicamos. Consideremos que movimento indica mudança de lugar e, aqui,
movimento social quer exatamente significar que determinados segmentos sociais ao
se movimentarem estão recusando os lugares que a sociedade, através de seu polo
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hegemônico, quer lhes atribuir. O movimento social e a sociedade instituindo novos
lugares (Porto-Gonçalves, 1998, p. 30).
Agradecimentos
A pesquisa contou com o auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do
Estado de Santa Catarina FAPESC via Edital 12/2020 UNI2020121000338.
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