Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
SILVA, Marcus Vinícius dos Santos, MELO, Viviane Lúcia dos Santos Almeida de. AVALIANDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS
AULAS DE GEOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL NO MUNICÍPIO DE JOÃO ALFREDO PERNAMBUCO, BR. Ensaios de
Geografia. Niterói, vol. 10, nº 22, pp. , set-dez de 2023.
Submissão em: 01/08/2023. Aceito em: 05/09/2023.
ISSN: 2316-8544
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SEÇÃO ARTIGOS
AVALIANDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS AULAS DE GEOGRAFIA NO
ENSINO FUNDAMENTAL NO MUNICÍPIO DE JOÃO ALFREDO
PERNAMBUCO, BR
EVALUATING ENVIRONMENTAL EDUCATION OF GEOGRAPHY CLASSES IN
ELEMENTARY EDUCATION IN THE CITY OF JOÃO ALFREDO
PERNAMBUCO, BR
EVALUACIÓN DE LA EDUCACIÓN AMBIENTAL EN CLASES DE GEOGRAFÍA
EN LA EDUCACIÓN PRIMARIA EN EL MUNICIPIO DE JOÃO ALFREDO
PERNAMBUCO, BR
Marcus Vinícius dos Santos Silva1
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
Pernambuco, Brasil.
e-mail: marcus.santossilva@upe.br
Viviane Lúcia dos Santos Almeida de Melo 2
Universidade de Pernambuco (UPE),
Pernambuco, Brasil
e-mail: viviane.almeida@upe.br
Resumo
O presente artigo tem como objetivo analisar como a Educação Ambiental (EA) está sendo trabalhada nas aulas
de Geografia no Ensino Fundamental no município de João Alfredo - PE à luz de uma metodologia de abordagem
qualitativa e exploratória. Como procedimentos de análise e coleta de dados foi realizada uma pesquisa
bibliográfica aliada a uma sondagem a partir de um questionário, aplicado aos professores que lecionam Geografia
no Ensino Fundamental do município de João Alfredo - PE. A partir dos resultados obtidos, pôde-se concluir que
os professores que lecionam Geografia, em sua maioria, têm dificuldades em trabalhar as temáticas de EA em
razão de alguns fatores, como, por exemplo, o fato da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) não valorizar a
EA, a falta de apoio da equipe gestora (gestores e coordenadores), dificuldades referentes a materiais didáticos
além do livro, limitação da carga horária e a falta de formação em geografia (licenciatura) por parte de muitos
profissionais que lecionam geografia na rede municipal do município João Alfredo. Também foi informado pelos
entrevistados que a pandemia da Covid-19 motivou a trabalhar a EA recorrentemente, mostrando a sua importância
no contexto do ensino de Geografia.
Palavras-chave
Educação Ambiental (EA); Ensino de Geografia; BNCC.
1
Graduado em Licenciatura em Geografia Universidade de Pernambuco (UPE) e mestrando no Programa de
Pós-Graduação em Educação Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
2
Professora da Universidade de Pernambuco (UPE) - Campus Mata Norte.
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SILVA, Marcus Vinícius dos Santos, MELO, Viviane Lúcia dos Santos Almeida de. AVALIANDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS
AULAS DE GEOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL NO MUNICÍPIO DE JOÃO ALFREDO PERNAMBUCO, BR. Ensaios de
Geografia. Niterói, vol. 10, nº 22, pp. , set-dez de 2023.
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Abstract
This article aims to analyze how Environmental Education (EE) is being worked in Geography classes in
Elementary School in the municipality of João Alfredo - PE in the light of a methodology of qualitative and
exploratory approach. As procedures for analysis and data collection, bibliographic research was carried out,
together with a survey using a questionnaire, applied to teachers who teach Geography in the Elementary School
in the municipality of João Alfredo - PE. From the results obtained, it can be concluded that teachers who teach
Geography, for the most part, have difficulties in working the themes of EE due to some factors, such as, for
example, the fact that the BNCC does not value the EE, lack of support from the management team (managers and
coordinators), difficulties to teaching materials beyond the textbook, limited workload, and lack of training in
geography (degree) by many professionals who teach geography in the municipal network of the municipality João
Alfredo. It was also reported by respondents that the Covid-19 pandemic motivated them to work on environmental
education recurrently, showing its importance in the context of teaching Geography.
Keywords
Environmental Education (EE); Geography Teaching; BNCC.
Resumen
El presente articulo tiene como objetivo analizar como la Educación Ambiental (EA) está siendo trabajada en las
clases de Geografía en la Enseñanza Fundamental en el municipio de João Alfredo- PE a la luz de una metodología
de abordaje cualitativa y exploratoria. Como procedimientos de analices y coleta de dados fue realizada una
pesquisa bibliográfica aislada a un sondaje a partir de un cuestionario, aplicado con los profesores que enseñan
Geografía en la Enseñanza Fundamental del municipio de João Alfredo- PE. A partir de los resultados obtenidos,
se puede concluir que los profesores que enseñan Geografía, en su mayoría, tienen dificultades en trabajar las
temáticas de la EA en razón de algunos factores, como, por ejemplo, el facto de la BNCC no valorizar la EA, la
falta de apoyo de la equipe gestora, dificultades con los materiales didácticos, además del libro didáctico y
limitaciones de carga horaria. También fue informado por los entrevistados que la pandemia de Covid-19 he
motivado a trabajar la EA recurrentemente, mostrando su importancia en el contexto del enseño de Geografía.
Palabras-clave
Educación Ambiental (EA); Enseñanza de la Geografía; BNCC.
Introdução
Nos dias correntes, discutir a Educação Ambiental (EA) no âmbito escolar é uma atitude
bastante difícil, sobretudo, diante de um conjunto de paradigmas modernos que requer cautela
quando trabalhados em sala de aula. A intensificação do Efeito Estufa, o Aquecimento Global,
mudanças climáticas, o recorde de queimadas no Pantanal, o desmatamento acentuado da
Floresta Amazônica, a devastação ligada a grilagem de terras e a diminuição da fiscalização de
crimes ambientais são alguns dos muitos desafios que mancham com tintas fortes o quadro
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socioambiental brasileiro. Sendo assim, no âmbito escolar é preciso viabilizar uma atmosfera
favorável à construção de aprendizagens socioambientais essenciais à construção de seres
multiplicadores de boas práticas com valores e atitudes sustentáveis e ecologicamente corretos.
Apesar da BNCC se mostrar frágil no que diz respeito às habilidades e competências
sobre a EA, o professor de Geografia pode desempenhar um papel relevante em relação a ela
nas suas aulas. A criatividade, o pensamento autônomo e a criticidade, aliados aos temas
transversais e às problemáticas ambientais, são elementos indispensáveis, desde que
possibilitem aos alunos construir seu próprio saber, o que oportuniza, portanto, o ideário de
corresponsabilidade sobre as transformações do meio ambiente (Silva; Silva, 2022).
Os educandos, quando bem instruídos pelos conceitos e valores da EA, se formam como
conhecedores dos reais problemas ambientais globais, nacionais e, principalmente, locais, o que
contribui para serem capazes de enfrentar os desafios socioambientais e mitigá-los, uma vez
que atitudes individuais, por menores que sejam, quando se juntam a tantas outras, surtem
efeitos sustentável e ecologicamente positivos. Considerando esse contexto, o objetivo do
presente estudo foi avaliar a forma de abordagem da Educação Ambiental (EA) nas aulas de
Geografia no Ensino Fundamental (Anos Finais) no município de João Alfredo-Pernambuco.
Como caminho metodológico para se chegar ao objetivo proposto, foi realizada uma
pesquisa qualitativa de caráter exploratório, dividida em 02 (duas) etapas. A primeira etapa
consistiu em realizar uma discussão teórica a respeito da EA no Ensino da Geografia, com base
em artigos científicos, dissertações e livros, coletados de forma aleatória no Google Acadêmico
e no acervo físico e digital dos autores. A segunda etapa buscou a compreensão de como os
professores que lecionam Geografia no Ensino Fundamental (Anos Finais) nas escolas
municipais de João Alfredo PE, trabalham a EA no âmbito escolar através de um questionário
misto disponibilizado via Google Forms.
Educação Ambiental (EA) e o Ensino de Geografia
A EA é uma dimensão da educação que consiste em proporcionar às pessoas uma
compreensão crítica e global do Meio Ambiente para que, a partir disso, seja possível construir
atitudes ecologicamente corretas em comunhão com uma posição crítica e participativa sobre a
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conservação dos recursos naturais e/ou a sua adequada utilização, o que contribui para uma
melhoria da qualidade de vida, eliminação da extrema pobreza e do consumismo desenfreado
(Medina, 1999). Nos tempos correntes, a EA vem sendo ainda mais essencial para o
desenvolvimento de sujeitos com uma postura crítica e participativa em prol de uma
mobilização de caráter individual e coletivo no contexto das emergências e paradigmas
modernos, entre eles o desmatamento, as mudanças climáticas e a proliferação de doenças,
como resposta às alterações da natureza.
De tal modo, considerando os documentos que orientam a educação brasileira, verifica-
se que nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), nas Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCNs) e na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a EA é pautada como um tema
transversal, dado o seu caráter complexo que envolve valores sociais, éticos, econômicos,
culturais, científicos e outros. Nenhuma área mostra-se capaz de abordá-la plena e
integralmente, cabendo aos diversos componentes curriculares privilegiá-la a seu modo
(Branco; Royer; Godoi Branco, 2018).
No caso da BNCC, documento de caráter normativo que estabelece o conjunto orgânico
e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os educandos devem atingir ao longo da
educação básica (BRASIL, 2018), é dada uma ênfase maior à sustentabilidade relacionada ao
meio ambiente e ao uso dos recursos naturais (Branco; Royer; Godoi Branco, 2018). Contudo,
a EA, tal como é proposta pela BNCC, acaba marginalizando o tema e tornando a sua prática
esporádica, além de sua abordagem se tornar responsabilidade individual dos docentes (WINK,
2022), o que torna relevante a autonomia do professor para o uso da Geografia aliada a EA no
âmbito do ensino básico para o despertar da consciência ecológica.
No que concerne à BNCC, o termo “Educação Ambiental (EA)” aparece uma única vez,
na página 19, espaço dedicado à introdução do documento, não aparecendo mais ao longo do
texto. A EA é reduzida a um tema que deve ser contemplado nos currículos e nas propostas
pedagógicas, o que permite concluir que existe na BNCC um total sequestro da EA, inclusive
cedendo lugar para o termo “educação para o desenvolvimento sustentável” (Silva, Loureiro,
2019). Tal realidade não causa espanto, uma vez que existe uma espécie de camuflagem das
temáticas ambientais, que pode ser explicada pela EA ter um caráter crítico, emancipador, de
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construção de valores e atitudes sustentáveis, o que vai contra os interesses do sistema
capitalista de produção.
Para Chaves e Farias (2005), a consciência ecológica não nasce do vazio, mas de uma
nova consciência ética e de uma realidade, como a poluição, a degradação do meio ambiente,
as desigualdades sociais e outros. No entanto, a consciência ecológica por si não leva à
efetivação de uma ação transformadora, corroborando com a sociedade tal qual ela se encontra.
Para que a EA se efetive, é essencial que os conhecimentos e as habilidades sejam construídos
e as atitudes possam ser construídas e reverberadas com base em valores éticos e de justiça
social (Pelicioni; Philippi Júnior, 2014).
A nova consciência ética e a realidade dos problemas ambientais alinhadas aos
conhecimentos geográficos trabalhados sob o viés da EA têm o poder de sensibilizar os
educandos e de promover o conhecimento para compreensão da nefasta exploração da natureza
e, com ela, a decisão de agir com base na valorização das funções dos diferentes elementos do
meio e dos serviços ecossistêmicos que prestam. Frente a isso, a Geografia se torna uma aliada
de seres multiplicadores de boas práticas e com modos de agir e pensar a realidade que a cerca
de forma contrária ao modelo econômico capitalista vigente.
A Geografia enquanto ciência que trata do espaço geográfico, caracterizado pela relação
das ações humanas com a natureza, abre espaço para inserção da EA em suas discussões e
problematizações. Para Santos (1988), o espaço habitado é um meio geográfico completamente
distinto, qualitativamente e estruturalmente, em comparação a tempos históricos pretéritos,
sobretudo, ao espaço anterior à Revolução Industrial, em que a articulação tradicional e
histórica da comunidade com o seu quadro orgânico natural é alterada em favor do
mercantilismo. Os resultados diretos e indiretos desse fenômeno se espalham por toda a face da
terra e atingem todas as espécies, tendo em vista que o ser humano se utiliza do saber científico
e das tecnologias construídas contrariamente às suas primeiras relações com o entorno natural
(Santos, 1988, p. 16).
Tendo em vista o exposto, o ensino da Geografia revela-se importante para a superação de
uma visão ingênua e reducionista dos problemas ambientais e de suas reais causas e
consequências, entre essas, senão as predominantes, aquelas prejudiciais aos espaços naturais
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e habitados e ao próprio ser humano. Silva e Oliveira (2019) elencam que trabalhar a EA nas
aulas de Geografia, através das práticas de ensino, é uma atitude interessante e necessária, pois
a Geografia permite trabalhar as questões ambientais partindo de abordagens socioambientais
com o propósito de formar sujeitos ativos críticos e atuantes na realidade vivida.
O vazamento de óleo no Oceano Atlântico, o desmatamento e as sucessivas queimadas
na Floresta Amazônia, os incêndios do Pantanal Brasileiro e outros eventos suscitados pela
força humana sobre a natureza são exemplos da destruição ambiental que corroboram para a
perda da biodiversidade, para o desequilíbrio ecológico e, assim, para o comprometimento da
qualidade de vida dos seres humanos. Tudo isso sendo exemplos claros da intensificação das
alterações danosas ao meio ambiente promovidas pelos seres humanos e que merecem ser
explicadas pelo viés geográfico e político. Reigota (2009) bem esclarece a necessidade de se
enxergar a EA como uma educação política:
Quando afirmamos e definimos a educação ambiental como educação política,
estamos afirmando que o que deve ser considerado prioritariamente na educação
ambiental é a análise das relações políticas, econômicas, sociais e culturais entre a
humanidade e a natureza e as relações entre os seres humanos, visando a superação
dos mecanismos de controle e de dominação que impedem a participação livre,
consciente e democrática de todos. A educação ambiental como educação política está
comprometida com a ampliação da cidadania, da liberdade, da autonomia e da
intervenção direta com os cidadãos e cidadãs na busca de soluções e alternativas que
permitam a convivência digna e voltada para o bem comum (Reigota, 2009, p. 09).
Sendo assim, é preciso inserir no contexto do ensino de Geografia novas abordagens
nas discussões e problematizações ou até mesmo resgatar métodos mais amplos que elucidem
causas, consequências e possíveis soluções aos problemas apresentados. A superação de uma
visão reducionista perpassa também pela superação de uma visão simplificadora das próprias
discussões ambientais e das práticas pedagógicas (Cocato, 2021). O mesmo autor
complementa:
Sem um debate teórico-metodológico mais aprofundado, se caminha para um
apaziguamento das contradições socioambientais de um sistema cada vez mais
insustentável. O resgate da dimensão política é também o resgate da ética ambiental.
A questão ambiental não é apenas a história da degradação da natureza, mas também
da exploração do ser humano (que é natural, assim como sua força de trabalho) pelo
ser humano, visando ganhos econômicos em forma de privilégios (Cocato, 2021, p.
7).
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Para Cavalcanti (1999), um dos objetivos da Geografia é levar os alunos ao
entendimento da intensificação dos problemas sociais e, dessa forma, levá-los também a
enxergar que eles são responsáveis por esses problemas e, além disso, desenvolver nos alunos
uma atitude de agentes responsáveis pela construção de ambientes, não como responsáveis
genéricos, todos iguais, mas como responsáveis atuantes, cada qual a seu modo. Ou seja, o
papel da Geografia é construir com os alunos uma ética ambiental que permita uma prática
democrática, respeitosa e solidária com a própria natureza, com os ambientes construídos
(resultado das ações físicas e sociais).
Vale lembrar que os seres humanos contemporâneos vivem profundas dicotomias. Não
se consideram como elementos da natureza, mas, ao contrário disso, como meros espectadores
e/ou exploradores dela. Esse distanciamento abissal dos seres humanos sobre a natureza
potencializa as ações da humanidade tidas como racionais, mas que geram graves
consequências, sendo urgente respostas políticas e pedagógicas neste início de século para
barrar o antropocentrismo (Reigota, 2008).
Diante do quadro ambiental planetário em que a EA encontra ainda mais
imprescindibilidade, o papel do ensino de Geografia vinculado a objetivos valorativos pode ser
relevante para trabalhar o espaço íntimo de sobrevivência dos alunos em seu cotidiano e nas
suas diferentes concepções: o vivido, o percebido e o concebido (Cavalcanti, 1999). Nesse
contexto, com a aproximação da realidade cotidiana pelos educandos, a disjunção entre
sociedade e natureza que tende a ainda existir nas escolas e nas práticas geográficas pode ser
contornada com a construção de valores e convicções do ponto de vista indissociável
socioambiental para que se criem ambientes construtores de soluções e que esses cresçam em
maior velocidade que os problemas ambientais.
Comungando com o exposto, Silva e Silva (2022) entendem que os locais íntimos de
sobrevivência disponibilizam aos alunos uma maior familiaridade com os possíveis problemas
ambientais, o que acaba suscitando uma maior margem para solucionar junto com a comunidade
os problemas ambientais observados, seja poluição e degradação dos rios, ruas e outros. Para
além disso, a EA, quando trabalhada a partir dos espaços íntimos de sobrevivência dos alunos,
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faz surgir maiores chances de atuar criticamente não na sua realidade próxima, mas para
além dela em distintas escalas geográficas.
Para Kaercher (1996), a questão ambiental não deve ser vista como um discurso
saudosista: "antigamente o mundo era melhor porque era mais limpo e calmo". Ao contrário
disso, deve ser explorada a partir do ponto de vista que o desequilíbrio ambiental não se resume
ao desequilíbrio homem-natureza, mas também ao desequilíbrio entre os próprios seres
humanos, pois existem aqueles que lucram com a destruição do meio ambiente e as relações
sub-humanas às quais muitos trabalham e/ou vivem. Isso também é um desequilíbrio da relação
do ser humano com a natureza e entre os pares. O autor pontua, ainda, que se deve atentar ao
processo histórico de intensificação da destruição da natureza (industrialização) não sempre
como sinônimo de progresso, e não se deve pensar em uma visão inatingível de que seria melhor
se os seres humanos não destruíssem a natureza.
Cocato (2021) elenca que, para a transformação do contexto socioambiental, questionar
é preciso. Questionar o modelo de produção econômico-político, colocando uma crítica na
organização da sociedade vigente; questionar a dominação da natureza, em favor de uma visão
ampla socioambiental e incluir nas discussões os indivíduos e os povos excluídos
historicamente, que tinham relações mais saudáveis com o espaço natural e que foram tachados
como atrasados. Mais do que isso, é preciso questionar os conceitos de progresso e de
desenvolvimento que estão associados à dominação e à erradicação da natureza, que são as
causas primordiais dos atuais problemas ambientais, veiculadas pela mídia com um caráter
descritivo e acrítico.
Nesse sentido, a Geografia pode ser um componente curricular potencializador da
compreensão crítica das questões envoltas aos problemas ambientais, suas causas e
consequências e, não isso, pode mobilizar os educandos ao pensar e agir no mundo de
maneira ecologicamente correta e sustentável. A EA, apesar de ser trabalhada através de
componentes curriculares no âmbito escolar e em possíveis atividades extensionistas, deve ser
estendida por todo o trajeto de vida dos alunos enquanto sujeitos multiplicadores de boas
práticas e que buscam transformar individualmente ou em conjunto suas convicções e ações
para sustentabilidade ambiental.
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Metodologia
Delimitação e Caracterização do Objeto de Pesquisa
A pesquisa foi realizada com 13 (treze) professores do Ensino Fundamental (Anos
Finais) que lecionam Geografia nas escolas municipais da Zona Urbana e da Zona Rural no
município de João Alfredo - PE, pertencente à mesorregião do Agreste Setentrional. Segundo
o site da Prefeitura Municipal de João Alfredo, o município se situa em uma área de 134,147
km², o que representa 0,2% da população do Estado, com uma população de 30.375 habitantes
no último censo demográfico (Censo 2010) e uma estimativa de 33.570 habitantes em 2021. A
sua densidade demográfica corresponde a 239,45 hab./km² com um Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) 0,576 considerado baixo.
A Rede Municipal de Ensino conta com 10 (dez) escolas que ofertam o Ensino
Fundamental (Anos Finais), sendo 02 (duas) na Zona Urbana e 08 (oito) na Zona Rural,
totalizando o número de 87 (oitenta e sete) professores distribuídos entre os componentes
curriculares ofertados (Português, Matemática, Ciências, História, Geografia, Artes, Educação
Física, Língua Inglesa e, de forma optativa, Ensino Religioso). No ano, estudam 403
(quatrocentos e três) alunos, no ano 448 (quatrocentos e quarenta e oito) alunos, no ano
386 (trezentos e oitenta e seis) alunos e no ano 369 (trezentos e sessenta e nove) alunos, a
partir de dados da quantidade de estudantes matriculados nas escolas públicas municipais no
ano de 2021 (INEP, 2022).
A escolha do público-alvo está atrelada à facilidade de obter sinalização positiva para
colher os dados necessários para responder aos questionamentos da pesquisa. A coleta dos
dados apresentados nesta pesquisa se deu entre os dias 01 e 30 de novembro de 2022.
Métodos e Técnicas
Para realização desta pesquisa, foi considerada a metodologia de abordagem qualitativa
sob o viés de uma investigação exploratória com base nos objetivos propostos. Para Minayo
(2007), a pesquisa qualitativa consiste em responder questões particulares que, no caso das
Ciências Sociais, não podem ou não deveriam ser quantificadas, trabalhando assim com um
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universo de motivos, crenças, valores, aspirações e atitudes, enquanto a investigação científica
sob o viés exploratório proporciona maior familiaridade com um determinado objeto de estudo,
tornando-o mais explícito (Gil, 2002).
Nesta pesquisa, a metodologia qualitativa de caráter exploratório teve como objetivo,
em um primeiro momento, realizar uma discussão teórica a respeito da EA no Ensino da
Geografia e, em um segundo momento, compreender de forma aprofundada como os
professores das escolas municipais de João Alfredo - PE do Ensino Fundamental (Anos Finais)
enxergam e trabalham a EA no âmbito escolar.
Os procedimentos metodológicos de análise e coleta de dados utilizados foram uma
pesquisa bibliográfica para melhor familiaridade com o tema proposto, a qual foi realizada com
base em livros e artigos de Cocato (2021), Silva e Oliveira (2019), Pelicioni e Philippi Júnior.
(2014), Reigota (2009), entre outros, assim como nos documentos curriculares nacionais, além
de um questionário disponibilizado no Google Forms para obtenção das informações dos (as)
professores (as), como vai ser apresentado na próxima seção. Se entende como uma pesquisa
bibliográfica um apanhado geral de trabalhos realizados e que tem importância por
fornecerem dados e informações atuais e relevantes para o tema pesquisado enquanto o
questionário se utiliza de uma série de perguntas que devem ser respondidas por escrito e sem
a presença do entrevistador (Lakatos; Marconi, 2003).
Resultados e discussão
O primeiro questionamento se deu quanto à formação acadêmica dos professores que
lecionam o componente curricular Geografia. Dos 13 professores que tivemos retorno, 08
(61,5%) são licenciados em Geografia enquanto 05 (38,5%) são licenciados em outros
componentes curriculares, sendo que destes 02 são formados em História, 02 em Língua
Portuguesa e 01 em Ciências Biológicas (Figura 1).
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Figura 1: Formação acadêmica dos professores que lecionam Geografia nas escolas públicas
do Ensino Fundamental (Anos Finais) do município de João Alfredo - PE, em estudo
realizado no período entre 01 e 30 de novembro de 2022.
Fonte: Autores (2022)
As aulas de EA podem se tornar pouco comprometidas com a sensibilização e
conscientização socioambiental dos sujeitos na condição de ensinantes, sobretudo, no que
concerne aos professores(as) que não são formados nas áreas do conhecimento correlatas com
a Geografia. De tal modo, tanto os professores que não têm sua formação inicial em
Licenciatura em Geografia quanto os professores licenciados em Geografia, mas que não
tiveram uma formação adequada para as temáticas ambientais, podem apresentar dificuldades
na sua prática docente.
Corroborando com o exposto, Castellar (2015) pontua que o conteúdo é o que
condições para que o aluno, junto com seu professor, construa o seu conhecimento. No entanto,
o processo de ensino-aprendizagem começa debilitado quando os professores não o
formados nas disciplinas que lecionam, o que implica na incerteza desde a definição dos
conteúdos que devem ser privilegiados, dos conceitos que devem ser articulados com os
conteúdos até a efetivação de uma aprendizagem significativa. No que se refere à formação dos
professores de Geografia, a referida autora afirma, ainda, que melhorias nos cursos de
graduação são importantes, principalmente, na grade curricular.
A EA tem um papel de suma relevância para o exercício da cidadania de modo político,
ecológico, sustentável e justo, desde que os professores, no desempenho do seu magistério, não
38,5%
61,5%
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Geografia. Niterói, vol. 10, nº 22, pp. 151-174, set-dez de 2023.
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rotulem a EA como uma dimensão da educação que vislumbra o que venha a ser, mas focalizem
nos problemas ambientais que realmente existem, suas causas e consequências, sobretudo, a
partir do espaço íntimo de sobrevivência dos educandos. Dessa forma, ela assumirá um papel
social além de discursivo, prático, e se concretizará de maneira imediata nas suas comunidades
e no dia a dia dos educandos.
O segundo questionamento focalizou procurar respostas de como se trabalha a EA em
sala de aula nos dias correntes, quando foi constatado que 30% dos docentes indicaram utilizar
o livro didático, 25% projetos esporádicos na escola e/ou ações em alusão a datas
comemorativas ao meio ambiente, 22,5% citaram textos, 17,5% aulas de campo e 5% outras
formas (vídeos, documentários, músicas e jogos educativos como brincos e trilhas foram
citados) (Figura 2):
Figura 2: Metodologia de trabalho da EA pelos professores que lecionam Geografia nas
escolas públicas do Ensino Fundamental (Anos Finais) do município de João Alfredo - PE,
em estudo realizado no período entre 01 e 30 de novembro de 2022.
Fonte: Autores (2022)
Os projetos esporádicos na escola, muitas vezes propostos pela rede de ensino e/ou pela
equipe gestora, textos e livros didáticos são metodologias importantes, aliadas ao trabalho com
as temáticas ambientais; contudo, não devem ser enxergados de forma vaga e como as únicas
possibilidades veiculadoras de conhecimento, o que requer um olhar crítico dos professores. As
aulas de campo, considerando, sobretudo, a realidade local dos alunos para posterior
30%
25%
17,5%
5%
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contextualização com escalas mais amplas (regional, nacional e global) e outras estratégias que
colocam os educandos na posição de protagonistas são metodologias de suma relevância nesse
contexto. A construção de maquetes, criação de vídeos, exploração de jogos didáticos físicos e
virtuais, criação de podcasts com os problemas locais, suas causas, consequências e possíveis
soluções são alguns de tantos outros exemplos que podem ser explorados nas aulas de
Geografia, de acordo com as condições propícias ou não ao seu desenvolvimento.
Nesse contexto, é preciso se soltar das amarras dos livros didáticos e de aulas pautadas
em uma educação bancária, do inculcamento de conteúdos, onde cabe ao professor falar e aos
alunos escutar (Freire, 1987). Trabalhar as aprendizagens essenciais previstas no currículo e na
vida cotidiana dos alunos não deve ser uma tarefa enfadonha, mas uma atividade em favor da
construção do ser cidadão que escreve as páginas da sua história de vida com valores e atitudes
ecologicamente corretas, pensando em si, nos outros de sua geração e nas gerações futuras.
Segundo Rubens Alves (2012), existem escolas que se assemelham a gaiolas, enquanto
outras se assemelham a asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam
a arte do voo e deixem de ser pássaros, pois a essência dos pássaros é o voo. Por outro lado, as
escolas que são asas existem para dar aos pássaros coragem para voar, uma vez que elas não
podem ensinar o voo, pois ele nasce dentro dos pássaros. De tal modo, escolas que são asas
encorajam os alunos a desacelerar as ações predatórias em desfavor do meio ambiente, da
própria qualidade de vida e de tantas outras espécies ao mesmo tempo que dissipam conceitos
e valores compatíveis com a sustentabilidade ambiental que tendem a refletir ações.
A terceira indagação dirigida aos professores que lecionam Geografia buscava entender
como eles trabalhavam os conteúdos no componente curricular Geografia, se de forma
compartimentada ou não (Figura 3).
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Figura 3: Formas de trabalhar a EA pelos professores que lecionam Geografia nas escolas
públicas do Ensino Fundamental (Anos Finais) do município de João Alfredo, sob o ponto de
vista de suas áreas, em estudo realizado no período entre 01 e 30 de novembro de 2022.
Fonte: Autores (2022)
Obteve-se como resposta que 02 professores (as) trabalham a EA apenas com a
Geografia Física (7,7%) e 11 professores a partir da Geografia Física e Humana (92,3%). Mais
uma vez, analisando as respostas individualmente, chegou-se à conclusão de que as 02 respostas
que indicam o trabalho das temáticas ambientais apenas com a Geografia Física foram
sinalizadas por não serem licenciados em Geografia. Portanto, parece existir uma
compartimentação do saber geográfico além do seu fim didático para alguns professores. A EA
pressupõe que compreendamos o mundo em sua totalidade, complexidade e interdependência,
considerando os elementos físicos, biológicos e antrópicos nas suas mais variadas formas e
conexões e a Geografia, quando bem trabalhada, é um terreno fértil que contribui para
transformação ambiental e social dos educandos.
No entanto, um dado relevante chamou a atenção: outros professores que alegaram não
serem licenciados em Geografia responderam que abordam as temáticas ambientais a partir da
Geografia Física e Humana, ou seja, parece que os professores, mesmo que não licenciados em
Geografia, podem, de alguma forma, ser motivados pelas pautas socioambientais e ser
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conhecedores da relação indissociável entre ser humano e natureza. Assim como elenca Freire
(2000), parece que esses (as) docentes ousam em assumir:
[...] o dever de lutar pelos princípios éticos mais fundamentais como do respeito à vida
dos seres humanos, à vida dos outros animais, à vida dos pássaros, à vida dos rios e
das florestas. Não creio na amorosidade entre homens e mulheres, se não nos tornamos
capazes de amar o mundo. A ecologia ganha uma importância fundamental neste fim
de século. Ela tem de estar presente em qualquer prática educativa de caráter radical,
crítico ou libertador (Freire, 2000, p. 67).
O quarto questionamento buscou identificar os problemas que os professores encontram
para trabalhar as temáticas ambientais. Neste contexto, a limitação da carga horária em relação
ao ano letivo foi a variável que os professores mais citaram (46%), seguida pela falta de apoio
da equipe gestora (30,8%), pela dificuldade de acesso a materiais que vão além do livro didático
(30,8%), não existe dificuldade (23,1%) e limitação da carga horária em relação ao ano letivo
(15,4%) (Figura 4).
Figura 4: Dificuldades para trabalhar a EA pelos professores que lecionam Geografia nas
escolas públicas do Ensino Fundamental (Anos Finais) do município de João Alfredo - PE,
em estudo realizado no período de 01 e 30 de novembro de 2022.
Fonte: Autores (2022)
Meneguzzo e Meneguzzo (2013) corroboram com a resposta dos professores que foram
questionados, quando entendem que o trabalho do professor é limitado por uma gama de fatores.
Falta de conhecimentos conceituais; teórico-metodológicos; ausência ou limitada perspectiva
46%
30,8%
30,8%
15,4%
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interdisciplinar envolvendo toda equipe pedagógica e administrativa da escola no que se refere
a realização de aulas diversificadas, inclusive fora do ambiente escolar; escassez de verbas para
realização de trabalhos de campo, indisponibilidade de materiais pedagógicos e ausência de
flexibilidade de troca de horário com outros docentes.
No entanto, recorrer a atividades pedagógicas que sejam realizadas com materiais de
fácil custeio e aquisição é uma alternativa válida. A utilização de materiais recicláveis, cola,
tesoura e outros são aliados na facilitação da aprendizagem dos educandos para a construção de
maquetes que representam, por exemplo, a poluição do rio, do ar e do solo a partir do entorno
dos alunos, o que permite que eles se tornem não só conhecedores, mas multiplicadores de boas
práticas. De acordo com Freire (1987), o ser humano não pode participar ativamente na
sociedade e na transformação da realidade se ele não tem conhecimento da sua própria realidade
e da sua capacidade de transformá-la, e a EA, aliada ao ensino da Geografia, é um eixo
estruturante nesse processo.
A equipe gestora da escola, juntamente com o corpo docente e toda a equipe pedagógica,
devem acreditar no potencial da EA para um futuro mais justo e sustentável. A escola é
fundamental por ser um lugar propício para construção de reflexões, tomada de consciência do
meio ambiente, dos valores e de uma outra forma de agir ambientalmente, o que suscita a
sensibilização dos alunos frente às problemáticas socioambientais. Para isso, não basta projetos
esporádicos e dias específicos de meio ambiente (Silva; Silva, 2022).
O quinto questionamento teve como intuito investigar se os professores se sentem
preparados para trabalhar as temáticas da EA nas aulas de Geografia; como exemplos, serão
expostas algumas das respostas mais relevantes:
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Quadro 1: Percepção dos professores sobre o trabalho com as temáticas da EA nas
aulas de Geografia do Ensino Fundamental (Anos Finais) do município de João Alfredo - PE,
em estudo realizado no período de 01 e 30 de novembro de 2022.
P1: Não me considero preparado. Não sou da área de Humanas e isso limita muito minhas
aulas.
P2: Apesar de trabalhar a Educação Ambiental nas minhas aulas eu não me considero muito
preparado. Falta de formação continuada e de uma formação inicial mais próxima da
Educação Ambiental acho que comprometem meu trabalho.
P3: Me considero preparada para trabalhar as temáticas da EA. Além da minha formação
ser em Ciências Biológicas (sempre era explorada a EA) ela sempre foi interessante aos
meus olhos. A escola tem um papel muito importante na tomada de consciência e
sensibilização dos estudantes sobre a sustentabilidade.
P4: Sim, pela base que tive na universidade e por conta do meu TCC ser especialmente
sobre EA, pude me aprofundar mais na temática. Contudo, ainda considero que tenho
bastante a melhorar.
P5: Não, acredito que ainda tenho muitas dúvidas sobre o assunto.
Fonte: Autores (2022)
O que mais chama atenção nos dados elencados é que, após serem verificadas as
respostas individualmente, constatou-se que os professores que não se sentem preparados em
trabalhar as temáticas da EA são, em sua maioria, professores não licenciados em Geografia.
Corrobora-se o fato aliando-se às respostas de um (a) professor(a) com formação em Língua
Portuguesa que afirma não ter propriedade sobre as temáticas ambientais em razão de não ser
licenciado na área das Ciências Humanas e de um(a) professor(a) com formação em Ciências
Biológicas, que sinaliza a EA como interessante além de ter sido explorada na sua graduação.
Neste contexto, conclui-se que a revalorização da EA, portanto, é de suma importância nas
formações continuadas e na formação inicial dos docentes, e neste caso sem se sobrepor a
mediação didática da Geografia como área do conhecimento específica.
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A partir desses dados, acredita-se que o ensino da EA não está sendo trabalhado de
forma satisfatória nas escolas públicas do Ensino Fundamental (Anos Finais) no município de
João Alfredo-PE. A falta de preparação por parte dos docentes, sejam eles licenciados em
Geografia ou não, é um elemento preocupante para o trabalho com as temáticas ambientais. O
professor de Geografia ou de outras licenciaturas, quando bem formado, tem todas as
prerrogativas para desempenhar um papel decisivo na formação dos sujeitos na condição de
aprendizes. Os conhecimentos do campo de ensino e aprendizagem da Geografia facilitam a
construção do conhecimento em favor da EA de forma contínua, uma vez que seu objeto de
estudo é o Espaço Geográfico.
O sexto questionamento indagou, no ponto de vista dos (as) professores (as) que
lecionam Geografia, se a EA é valorizada na BNCC. As respostas, em sua quase totalidade
(92,3%), com exceção de uma, sinalizam que a EA não é valorizada na BNCC. Esse pode ser
um dos motivos para que os currículos dos sistemas e redes de ensino estaduais e municipais
destaquem a EA de maneira transversal e os professores de Geografia dediquem esforços para
o trabalho com as temáticas ambientais (Figura 5):
Figura 5: Percepção dos professores que lecionam Geografia nas escolas públicas do Ensino
Fundamental (Anos Finais) do município de João Alfredo - PE a respeito da EA na BNCC,
em estudo realizado no período de 01 e 30 de novembro de 2022.
Fonte: Autores (2022)
O sétimo questionamento buscou respostas que explicassem se a pandemia da Covid-
19 de alguma maneira motivou os professores que lecionam Geografia a trabalharem as
92,3%
7,7%
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temáticas da EA. Os licenciados em Geografia se dividiram nas respostas: alguns afirmaram
que a pandemia da Covid-19 motivou a trabalhar as temáticas ambientais com mais frequência
e outros afirmaram que, independentemente da pandemia supracitada, já trabalhavam a EA em
suas aulas. Por outro lado, entre os professores questionados não licenciados em Geografia, um
deles elencou que trabalha a EA quando é disposta no livro didático e outro que nunca
trabalhou a EA nas aulas de Geografia. No quadro abaixo, estão dispostas algumas respostas
dos professores questionados:
Quadro 02: Motivação dos professores que lecionam Geografia no Ensino Fundamental
(Anos Finais) do município de João Alfredo - PE, no momento de pandemia, em estudo
realizado no período de 01 e 30 de novembro de 2022.
P1: A pandemia da Covid-19 demonstrou como as relações do ser humano com a natureza
no espaço e no tempo se intensificaram, principalmente, após a revolução industrial. Essa
realidade da pandemia colocou os alunos e professores lado a lado com as consequências da
ação predatória dos seres humanos na natureza.
P2: Passamos a vivenciar no dia a dia as consequências da pandemia da COVID-19 que
muito se relaciona com a intensificação dos impactos ambientais negativos. A mídia mostrou
muito essa relação e a EA é uma forma de trabalhar essa temática.
P3: Todos os alunos, até mesmo aqueles que não interessavam saber sobre a relação dos seres
humanos com os habitats naturais, foram obrigados a conviver com notícias e relatos diários
do papel do ser humano frente a eventos como o da pandemia.
P4: Durante e depois da pandemia trabalhei mais esses assuntos.
P5: Só trabalho a EA quando ela é disposta pelo livro didático ou orientação da escola.
Fonte: Autores (2022)
A pandemia se apresentou à população mundial e, especificamente, aos educandos (as)
e professores(as), como um sinal de alerta e um vetor de denúncia de que a natureza tem as suas
normas e diretrizes próprias e que, quando ações predatórias são desencadeadas sobre ela,
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sobretudo, inescrupulosamente para atender as reais necessidades ou não dos seres humanos, a
proliferação de distintas doenças surge como resposta. Nesse sentido, os professores têm um
papel fundamental na sensibilização dos educandos, alertando-os que a natureza deve ser
entendida além dos recursos que nos prestam e que são essenciais à sobrevivência da nossa
espécie. E, para isso, uma compreensão filosófica de vida e da sociedade se faz necessário. Para
Bispo (2012) a Geografia possui capilaridade suficiente para contribuir com as reflexões da
educação ambiental, através da perspectiva socioambiental, de modo holístico e
interdisciplinar.
Para Silva e Silva (2022), a EA é efetivamente necessária no momento de pandemia e
pós-pandemia para a construção de agentes transformadores de suas próprias práticas, que
possivelmente são contribuidoras para os desastres e catástrofes naturais que se sucederam,
que ainda estão em curso e outras que estão por vir. Essa prática se tornaexitosa quando as
atividades pedagógicas estiverem a favor da ética sustentável e planetária.
Considerações Finais
A EA é um campo do conhecimento que auxilia na tomada de decisões éticas do ponto
de vista da sustentabilidade pela forte aproximação da reflexão à ação socioambiental, sendo
extremamente abrangente e intimamente ligada aos estudos e pesquisas sociais e naturais e suas
interrelações. Pensar dessa maneira é estabelecer pontos indissociáveis entre a concepção do
conhecimento e a forma de agir e de construir pontes que levem à informação de caráter
socioambiental, a sensibilização pelo sujeito na condição de aprendiz e o amadurecimento de
atitudes e práticas em prol da sustentabilidade do Planeta Terra em todos os seus ecossistemas
e processos dinâmicos.
A escola tem um papel relevante para a mudança paradigmática de práticas e valores
que sustentam o modelo de sociedade ocidental, que pressupõe os recursos naturais como
eternos e que sua única utilidade é nos servir. É dever dela, também, instruir os alunos à
compreensão de que a continuidade da espécie humana no Planeta Terra nos tempos futuros
está condicionada a intensidade das ações desequilibradas dessa mesma espécie sobre os
ecossistemas que tantos serviços nos prestam. Para isso, exige-se a construção de seres sociais
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e multiplicadores de boas práticas como resultado da compreensão filosófica de vida e da
sociedade a qual estão inseridos.
É sabido que os desafios para efetivação da EA no âmbito escolar existem e são
variados, mas a mobilização de esforços por parte dos professores, da equipe gestora e
pedagógica aliada à vontade de contornar o quadro socioambiental atualmente controverso é o
primeiro passo para a transformação socioambiental. A possibilidade de equalizar por completo
a soma devastadora das maneiras de agir ecologicamente incorretas sobre a natureza é uma
incógnita, mas existe uma certeza de que se não buscarmos modificar nosso modelo de
exploração intenso dos recursos naturais, nossa existência está condenada ao abismo e ao
fracasso.
A Geografia, enquanto uma ciência de síntese, que resulta da complexidade e da
interdependência da relação dos seres humanos com a natureza, é uma ferramenta auxiliar nesse
processo. O investimento em formação inicial e continuada aos licenciandos em Geografia ou
não, a mobilização de metodologias diversificadas em favor de um fazer pedagógico
significativo, o apoio da equipe gestora e pedagógica das escolas e a construção do aluno como
um ator da sua história e que tem em suas mãos o poder de minimizar a intensificação e
antecipação de desequilíbrios ambientais no presente e no futuro são algumas de tantas outras
medidas que podem ser criadas para o fortalecimento da EA no âmbito escolar e,
especificamente, nas aulas de Geografia.
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Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
SILVA, Marcus Vinícius dos Santos, MELO, Viviane Lúcia dos Santos Almeida de. AVALIANDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS
AULAS DE GEOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL NO MUNICÍPIO DE JOÃO ALFREDO PERNAMBUCO, BR. Ensaios de
Geografia. Niterói, vol. 10, nº 22, pp. 151-174, set-dez de 2023.
Submissão em: 01/08/2023. Aceito em: 05/09/2023.
ISSN: 2316-8544
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Ensaios de Geografia
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