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CAPA
Rio Daiya, Nikko, Tochigi, Japão, 14 de março de 2019.
Essa foto conta uma história e meia.
De imediato, ela retrata um homem na imensidão, olhando para algo que não se
vê. Obviamente, ela também retrata o meu olhar e conversa com o que me levou
até ali. Da minha parte, a história não é muito distante de todas as histórias de
amor e separação que conhecemos: com o coração partido me vi indo para o Japão
estudar e com o coração novamente partido me vi viajando a Nikko para descansar.
Enquanto minha atividade principal vinha sendo aprender a falar a língua e ler uma
cultura estranha a mim, minha viagem para Nikko foi uma tentativa de escape;
queria encontrar um pouco de silêncio para me escutar.
Essa imagem foi então uma das primeiras que me ocorreu na viagem, um rio bem
maior do que a maioria dos que eu já tinha visto não havia tido a oportunidade
de conhecer os enormes rios brasileiros até então, tendo na memória somente os
pequenos córregos do interior do Rio de Janeiro , mas transformado pela ão
humana. Era uma natureza preservada, porém domada. Como um enorme jardim
construído ali. Meu olhar foi, naturalmente, contemplativo. Estava tentando
contemplar ali o que não conseguia, na época, contemplar em mim: essa natureza
sob controle.
E no meio dessa natureza toda havia mais uma meia história. Meia pois não consigo
contá-la por completo, devido ao fato de que não a conheço. Entretanto, lá estava
ela, materializada em um homem que ocupava uma posição não muito comum. O
acesso não chegava a ser complicado, mas também não era simples. O que mais
me chamou atenção, contudo, era que ele não olhava ou ao menos não parecia
olhar de forma contemplativa para o rio. Muito pelo contrário, seu olhar parecia
focado, como quem buscava ou observava algo. Não sei nem consigo saber o que
era esse algo; ou o quê aquele homem fazia ali no meio da semana. Essa é a outra
metade da história.
Foi diante desse contraste, entre meu olhar contemplativo e o olhar concentrado
do homem, que me ocorreu, despretensiosamente, tirar essa foto. Eu tirei milhares
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de fotos com essa câmera inclusive pela primeira vez naquele dia, mas essa
foto é uma que eu sempre recordo. Ela me lembra um pouco de que, às vezes,
quando olho para o mundo procurando alguma coisa, posso encontrar outra forma
de olhar também.
Canon SX 430IS. Lente 4.3 - 193.5mm
Daniel Henrique Bernar Freitas
Professor de Física para Jovens e Adultos
Contato: daniel.hbfeitas@gmail.com
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A Revista Ensaios de Geografia é um periódico científico quadrimestral
do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade
Federal Fluminense (PosGeo/UFF). O acesso ao seu conteúdo é livre e
sua publicação se exclusivamente no meio digital. A revista tem
como principal objetivo divulgar pesquisas dos estudantes de
graduação e pós-graduação vinculadas à geografia e áreas afins, bem
como ser um espaço de formação acadêmica e profissional, ao contar
com a participação de estudantes nos processos editoriais.
Nesse sentido, busca-se divulgar a produção de artigos que
contenham resultados empíricos relevantes e revisões teórico-
conceituais que contribuam para o processo de ensino-aprendizagem,
fundamental ao desenvolvimento do pensamento geográfico. Além
disso, propõe-se publicitar produções artísticas como fotografias,
poesias, desenhos e similares, desde que estabeleçam um diálogo
com a referida área de conhecimento.
São aceitas contribuições nos seguintes idiomas: português, inglês e
espanhol.
O conteúdo dos trabalhos é de inteira responsabilidade dos autores.
A revista não cobra nenhum tipo de encargo dos autores ou leitores.
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CONTATO
Comitê Editorial da Revista Ensaios de Geografia
Endereço: Avenida Milton Tavares de Souza, S/N - Gragoatá,
Niterói-RJ.
Instituto de Geociências - Departamento de Geografia, Campus Praia
Vermelha. Universidade Federal Fluminense - UFF.
Telefone: (021) 2629-5953
E-mail: revistaensaiosdegeografia@gmail.com
Instagram: @ensaios_de_geografia
Facebook: https://www.facebook.com/revistaensaiosdegeografia/
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EDITORES-CHEFE
Prof.ª Dr.ª Ana Claudia Carvalho Giordani (UFF)
Prof. Dr. Daniel Pereira Rosa (UFF)
Prof.ª Dr.ª Flávia Elaine da Silva Martins (UFF)
EDITORES EXECUTIVOS
Guido Cruz de Assis (UERJ-FFP)
Mateus de Novaes Maia (UFF)
EDITORES ASSISTENTES
Bernardo José Alvarez de Castro (UFRJ)
Débora dos Santos Guerreiro da Costa (UERJ-FFP)
Rhuan Muniz Sartore Fernandes (UFRJ)
ESTAGIÁRIOS
Ana Carolina da Silva Mota (UFF)
Caio Oliveira Portella (UFF)
Felipe da Costa Brito (UFF)
Patrícia Monteiro Peixoto (UNIRIO)
CONSELHO CIENTÍFICO
Prof. Dr. Diego Carlos Pereira (UFF)
Prof. Dr. Flamarion Dutra Alves (UNIFAL)
Prof.ª Dr.ª Rosemary Vieira (UFF)
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CONSELHO EDITORIAL
Antônio Carlos Queiroz do Ó Filho (UFES)
Débora Schardosin Ferreira (UERJ)
Diego Cervantes Ruiz (UAM, México)
Élida Pasini Tonetto (UFRGS)
Evânio Branquinho (UNIFAL) Flávia
Mattos (UFRJ)
Iany Elizabeth Da Costa (UFF) Ilaina
Damasceno (UERJ)
Lucas Tavares Honorato (UFF)
Luis Villacis Taco (UEA, Equador)
Maira Magnani Asencio (UFF)
Maria Adailza Martins de Albuquerque (UFPB)
Tatiana dos Santos Malheiros (UNIR)
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v. 10, n. 21, maio-agosto, 2023
Desde a última edição, não deixamos de lado nosso projeto de expansão e consolidação
da Ensaios de Geografia. Buscamos continuamente afirmar a revista como um espaço
democrático e plural de desenvolvimento acadêmico.
Tivemos uma nova adição à equipe editorial, uma bolsista que irá desenvolver um
trabalho de iniciação científica junto à revista. Também expandimos consideravelmente
nosso corpo de pareceristas, além de criar novos mecanismos para aprimorar a
experiência dos avaliadores e incentivar a elaboração de feedbacks construtivos para os
autores.
Em relação às novas indexações da revista, fomos recentemente incluídos na plataforma
Europub. Outros novos desenvolvimentos incluem a adoção de nosso e-mail institucional
para futuras comunicações (ensaios.egg@id.uff.br) e o cumprimento, desde a presente
edição, das atualizações da norma ABNT 10520, relativa às citações no corpo do texto.
Na foto de capa desta edição, Daniel Henrique Bernar Freitas captura um homem diante
de um rio no Japão e, através de seu olhar sensível, convida a uma reflexão acerca de si
mesmo diante do mundo.
A vasta amplitude da cobertura geográfica e temática dos artigos contidos nesta
publicação é testemunha da diversificação dos autores publicados na Ensaios de
Geografia. Do mesmo modo, a variedade de conexões estabelecidas entre a ciência
geográfica e a subjetividade, juntamente com a sensibilidade autoral expressa através
das visualidades e leituras desta edição, reafirma a validade de nossa dedicação às
diversas formas de engajamento com a Geografia.
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Abrindo a edição, o artigo “A Terra que em Nós: sambas sobre os ‘ensaios’ de uma
procura”, de David Emanuel Madeira Davim e Tiago de Paula, aborda de maneira original
a discursividade sobre a crise ambiental contemporânea no samba.
Em seguida, Edson Abreu também explora as interfaces entre a ciência e a arte em “Notas
Sobre a Escrita Científica e a Literatura”, ensaio em que o autor discute as imbricações
entre a escrita literária e a científica.
Em “Os Determinismos do Mito Ratzeliano e do Anti-imperialismo Diopiano: uma
comparação necessária”, Gustavo Sousa Resende propõe um diálogo entre os dois
autores que busca refletir sobre as contribuições de ambos para a ciência geográfica.
Lorenzo Valfré propõe um rico debate em torno da moradia e sua complexa relação com
a produção e acesso ao espaço urbano em “Considerações Teóricas Sobre a Mercadoria-
Moradia e a Produção do Espaço Urbano”.
“Trilha Interpretativa da Natureza e as Práticas de Turismo Pedagógico e Educação
Ambiental no Povoado de Penedo (São Desidério-Bahia)”, de Manuela de Souza Santos e
Paulo Roberto Baqueiro Brandão, é um estudo que analisa e embasa a criação de uma
trilha de grande valor pedagógico e social na localidade baiana de Penedo.
Com “Mobilizações do ‘Junho Indígena’ de 2021 contra o PL 490 e o Marco Temporal no
Brasil: cidadania, autonomia e resistência”, Marcos Leandro Mondardo e Roberto Lopes
Chaparro analisam a mobilização histórica ocorrida naquele ano e o contexto no qual ela
se desenvolveu.
Mayara Pecora de Araújo Vieira, Flávia Darre Barbosa e Isabela Battistello Espindola
analisam a relevância das iniciativas de capacitação em recursos hídricos para os esforços
no sentido de uma gestão sustentável da água em “Experiências de Capacitação em
Recursos Hídricos: interfaces com o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 6 da
Agenda 2030”.
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No último dos artigos, “Reservas Fundiárias e Dinâmica Imobiliária no Eixo Sudoeste de
Uberaba-MG”, Richard Rodrigues Santos, Marco Antônio Silvestre Gomes e Matheus
Cunha Sestito discutem a produção do espaço urbano nesse recorte espacial a partir de
agentes sociais ligados à sua valorização desigual.
Na primeira leitura, “Vozes Silenciadas: ouvidos tampados?”, Anderson Felipe Leite dos
Santos denuncia o genocídio negro por meio da poesia.
Em “O Tempo do Tempo”, Felipe Costa Aguiar apresenta “uma tentativa de repensar o
sentido do tempo” também em forma poética.
“Trajetórias de Macabéa” é uma poesia dedicada à protagonista de A Hora da Estrela, de
Clarice Lispector, tema da dissertação de mestrado de Rafael Alves de Freitas, autor do
poema.
Dentre as visualidades, Elaine Benedito da Silva reflete sobre o registro da caminhada de
uma camponesa na Bolívia em “Os Passos de uma Camponesa”.
Fechando a edição, “Sem Chão, Sem Teto: metamorfoses da paisagem e impactos da
mineração no desastre-crime da Braskem em Maceió-AL”, de Marcos Vinícius da Silva
Amaral, traz uma denúncia visualmente impactante das consequências da exploração
mineral nessa localidade.
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ARTIGOS
A TERRA QUE HÁ EM NÓS: sambas sobre os "ensaios" de uma procura
David Emanuel Madeira Davim e Tiago de Paula…………...............................p. 14 42
NOTAS SOBRE A ESCRITA CIENTÍFICA E A LITERATURA
Edson Abreu……………………………………………..................................................p. 43 57
OS DETERMINISMOS DO MITO RATZELIANO E DO ANTI-IMPERIALISMO DIOPIANO:
uma comparação necessária
Gustavo Souza Resende…………………...………........................................….….p. 58 – 72
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE A MERCADORIA-MORADIA E A PRODUÇÃO DO
ESPAÇO URBANO
Lorenzo Valfré…...…….………………………........................................................p. 73 97
TRILHA INTERPRETATIVA DA NATUREZA E AS PRÁTICAS DE TURISMO PEDAGÓGICO
E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO POVOADO DE PENEDO (SÃO DESIDÉRIO, BAHIA)
Manuela de Souza Santos e Paulo Roberto Baqueiro
Brandão……..………………………….……............................................................p. 98 129
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MOBILIZAÇÕES DO “JUNHO INDÍGENA” DE 2021 CONTRA O PL 490 E O MARCO
TEMPORAL NO BRASIL: cidadania, autonomia e resistência
Marcos Leandro Mondardo e Roberto Lopes Chaparro............................... p. 130 164
EXPERIÊNCIAS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS: Interfaces com o
Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 6 da Agenda 2030
Mayara Pecora de Araujo Vieira, Flavia Darre Barbosa e Isabela Battistello
Espindola…….......................................................…………………………..…..… p. 165 192
RESERVAS FUNDIÁRIAS E DINÂMICA IMOBILIÁRIA NO EIXO SUDOESTE DE UBERABA-
MG
Richard Rodrigues Santos, Marcos Antônio Silvestre Gomes e Matheus Cunha
Sestito…………………................................................................................… p. 193 224
LEITURAS
VOZES SILENCIADAS: ouvidos tampados?
Anderson Felipe Leite dos Santos…..………...........................................… p. 225 226
O TEMPO DO TEMPO
Felipe Costa Aguiar..…………..................................................................… p. 227 228
TRAJETÓRIA DE MACABÉA
Rafael Alves de Freitas…….....................................................................… p. 229 231
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VISUALIDADES
OS PASSOS DE UMA CAMPONESA
Elaine Benedito da Silva............................................................................p. 232 234
SEM CHÃO, SEM TETO: metamorfoses da paisagem e impactos da mineração no
desastre-crime da Braskem em Maceió - AL
Marcos Vinicius da Silva Amaral...............................................................p. 235 246