Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
SANTOS, Igor de Luccas; COSTA, Benedita de Cassia Ferreira Retratos Cotidianos nos Lençóis Maranhenses: a relação entre água e vida
em Santo Amaro do Maranhão. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 11, nº 24, 112405, 2024.
Submissão em: 03/09/2023. Aceito em: 06/02/2024.
ISSN: 2316-8544
Este trabalho está licenciado com uma licença Creative Commons 1
SEÇÃO VISUALIDADES
Retratos Cotidianos nos Lençóis Maranhenses:
a relação entre água e vida em Santo Amaro do Maranhão
Everyday Portraits in the Lençóis Maranhenses:
the relationship between water and life in Santo Amaro do Maranhão
Retratos Cotidianos en Lençóis Maranhenses:
la relación entre agua y vida en Santo Amaro do Maranhão
Igor de Luccas Santos1
Universidade Federal do Maranhão (UFMA),
Maranhão, Brasil
e-mail: igor.luccas@discente.ufma.br
Benedita de Cassia Ferreira Costa2
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Maranhão (IFMA),
Maranhão, Brasil
e-mail: benedita.costa@ifma.edu.br
Justificativa
O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses - PNLM, criado através do Decreto nº
86.060, de 02 de junho de 1981, destino turístico muito cobiçado, dotado de belezas
exuberantes, é também lugar de reprodução de modos de vida de populações tradicionais que
ainda resistem às grandes mudanças provocadas pela lógica do capital. A unidade de
conservação integra o território dos municípios de Barreirinhas, Primeira Cruz e Santo de
Amaro do Maranhão, e possui características próprias da microrregião dos Lençóis
Maranhenses, de intensa dinâmica sedimentar, com dunas, lagoas, além da diversidade de fauna
e flora.
A paisagem do PNLM é, constantemente, modelada pela ação de agentes erosivos,
sendo o vento o grande protagonista (Feitosa; Souza, 2015). Tal dinâmica é orientada pelo
1
Mestrado, Bacharelado e Licenciatura em Geografia, pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (NEPA/UFMA).
2
Doutorado, Mestrado, Bacharelado e Licenciatura em Ciências Sociais, pela Universidade Federal do Maranhão
(UFMA). Integrante do Grupo de Estudos Rurais e Urbanos (GERUR/UFMA). Docente do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA).
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em Santo Amaro do Maranhão. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 11, nº 24, 112405, 2024.
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regime das chuvas, marcado pelas estações secas e chuvosas (Ferreira, 2008). E, no contexto
local, essa característica climática é popularmente chamada de verão e inverno, tal qual foi tema
de pesquisa do antropólogo Álvaro D’Antona (2002), quando observou que, para os moradores
da região, na ausência de características rígidas para separar as estações do ano, o período de
seca é chamado de verão e o período chuvoso de inverno; do qual é comum dizer, nos anos com
abundância de chuvas, que o “inverno” está bom, sendo o inverso no verão.
Vale destacar também que a história do território de Santo Amaro do Maranhão está
ligada aos indígenas e jesuítas, sendo os Tremembés (ou Teremembés) os primeiros povoadores
do litoral oriental maranhense, com costumes seminômades e habitação em choupanas,
geralmente em planícies que facilitavam a visão ao redor (D’Evreux, 2002). A resistência dessa
etnia acabou gerando conflitos e perseguições após confrontos com portugueses (Marques,
1870). Neste sentido, os Tremembés tiveram influência nos costumes e nas práticas culturais
do município, como: uso de leite de coco babaçu e caju azedo na culinária, fabricação de
embarcações, bancos de madeiras usados para lavar roupa à beira do rio, entre outros (Simões;
Pereira, 2009).
Tal município tem experimentado intensa expansão urbana após a construção da estrada
que liga a sede municipal à rodovia BR-402, sobretudo com ponte sobre o Rio Alegre. A
referida ponte representa um grande marco para a localidade, haja vista que, anterior à sua
construção, a travessia ocorria por meio do próprio leito do rio, mediante veículos tracionados
ou balsas (Santos, 2021).
Dessa forma, o presente ensaio fotográfico apresenta algumas imagens coletadas a partir
das atividades de campo da pesquisa de mestrado em Geografia intitulada “Inundações na
região dos Lençóis Maranhenses: ocorrência e impacto no bairro Alto Formoso, Santo Amaro
do Maranhão”, realizada entre 2019 e 2021, favorecendo uma perspectiva diferenciada da
cidade e sua estreita relação com as águas daquela localidade, as quais pouco aparecem nas
imagens icônicas sobre os Lençóis Maranhenses.
Destaca-se a evidente importância do Rio Alegre e do Lago de Santo Amaro para os
citadinos, onde o referido corpo hídrico abastece o lago de Santo Amaro que, por sua vez,
margeia toda a extensão norte da cidade, sendo também considerado um dos maiores do estado,
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com diversidade de peixes que possibilita a atividade pesqueira, além do refúgio para aves
migratórias, animais de criação e transporte náutico para turismo.
Durante a pesquisa, algumas cenas habituais dos moradores expressavam que, apesar
do frenesi do turismo que ocorre naquele município, a vida parecia correr tranquila, como
quando se realizava as atividades no âmbito da dissertação de mestrado, às margens do Rio
Alegre, e observou-se uma criança cavalgando tranquilamente nas águas transparentes e frias
de um trecho raso. Em outro ponto, foi possível encontrar uma feira popular, em meio às vendas
dos produtores locais, em que a cidade se encontrava para conversar. Tal atividade também está
ligada às águas e os produtos vendidos dependem da boa relação com a chuva, haja vista que
as produções tradicionais dependem da regularidade do regime pluviométrico para o
desenvolvimento de suas culturas.
Nesta localidade, grande parte da ocupação das áreas próximas aos corpos hídricos está
estreitamente relacionada ao ofício da pesca, sobretudo pela proximidade com as águas onde se
depositam os barcos em cheias periódicas, o que possibilita celeridade do trabalho (Santos,
2021). À vista disso, registrou-se cenas habituais que evocam esta prática, tais como a de um
pescador a tecer a rede de pesca em frente à sua casa, com o Lago de Santo Amaro às portas e
o barco já à sua espera. E, ainda, a figura de outro pescador em meio aos canais que surgiram
com o período de estiagem do lago de Santo Amaro, retornando de uma jornada de trabalho.
Por fim, à tarde, observou-se roupas estendidas nos varais, que secavam ao vento,
próximas ao poço manual, que ainda é notadamente presente pela ausência de fornecimento
público de água. Crianças aproveitavam as areias das margens para brincar de bola, enquanto
algumas mulheres lavavam roupas nesse mesmo ponto turístico da cidade. Ao por do sol, a
cidade se misturava em meio ao rio, seus moradores e os turistas, bem como à vida cotidiana
com sabor de resistência de tradições, onde a paisagem é moldada pelas águas. Assim, o
cotidiano se manifesta no trabalho, no lazer e na tradição que reafirmam a identidade de Santo
Amaro do Maranhão.
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Figura 1: Localização do Parque Nacional do Lençóis Maranhenses. Fonte: Acervo de pesquisa, 2023.
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Figura 2: Menino cavalgando no rio Alegre, nas primeiras horas da manhã. Fonte: Acervo de pesquisa, 2019.
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Figura 3: Feira popular, com mercadorias de produtores locais. Fonte: Acervo de pesquisa, 2019.
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Figura 4: Pescador tecendo a rede de pesca, no bairro Alto Formoso, às margens do lago de Santo Amaro. Fonte:
Acervo de pesquisa, 2019.
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Figura 5: Pescador voltando da jornada de pesca, no lago de Santo Amaro, no período de estiagem e, em
primeiro plano, um depósito de resíduos sólidos às margens. Fonte: Acervo de pesquisa, 2019.
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Figura 6: A representação da presença dos poços manuais no cotidiano e as roupas secando no varal. Fonte:
Acervo de pesquisa, 2019.
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Figura 7: Crianças brincando de bola às margens do Rio Alegre. Fonte: Acervo de pesquisa, 2019.
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Figura 8: Pessoas tomando banho no Rio Alegre, ao pôr do sol. Fonte: Acervo de pesquisa, 2019.
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Referências
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Siliviano, 2002.
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Substantia Multimidia, 2002.
FEITOSA, A. C.; SOUZA, U. D. V. Evolução geomorfológica da paisagem costeira leste do
Maranhão: papel dos agentes naturais na modelagem do ambiente na foz do rio Preguiças. In:
FEITOSA, Antonio Cordeiro (Org.). Lençóis Maranhenses: relação homem-ambiente na
comunidade Ponta do Mangue, Barreirinhas – Maranhão. São Luís: EDUFMA, 2015.
FERREIRA, S. S. M. A intervenção do homem na dinâmica geomorfológica na área do
povoado de Travosa, município de Santo Amaro do Maranhão – Ma. 2008, 73 f.
Monografia - Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2008.
MARQUES, C. A. Diccionário Histórico-Geographico da Província do Maranhão. São
Luís: Frias, 1870.
SANTOS, I. L. INUNDAÇÕES NA REGIÃO DOS LENÇÓIS MARANHENSES:
Ocorrência e impacto no bairro Alto Formoso, Santo Amaro do Maranhão. 2021, 111 f.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2021.
SIMÕES, C. M. B. R.; PEREIRA, M. E. M. Santo Amaro: história, vida e magia. São Luís:
Fort Gráfica, 2009.
