Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
SILVA, Bruno Lopes da; TROLEIS, Adriano Lima. O Sistema de Abastecimento de Água numa Perspectiva Geográfica: uma reflexão
teórica. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 11, nº 24, e112408, 2024.
Submissão em: 19/09/2023. Aceito em: 26/02/2024.
ISSN: 2316-8544
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A totalidade (espaço geográfico) organiza-se na condição de sistema, dotado de uma
complexidade funcional que abrange relações de unidade e de multiplicidade em sua estrutura.
Por apresentar essa natureza complexa, o espaço enquanto totalidade, para ser entendido precisa
ser decomposto do ponto de vista abstrato, o que possibilita separar suas unidades e
individualidades, e com isso realizar o processo de cisão das partes, obtendo o todo, pois
segundo Santos (2006, p. 76) “o conhecimento da totalidade pressupõe, assim, sua divisão”.
No caso do espaço geográfico, quando se analisa um de seus recortes, como por
exemplo, um bairro, uma cidade, uma região ou um estado, estar-se-á dissecando as
singularidades e a essência dessas partes, o que será de suma importância para o entendimento
do funcionamento da totalidade, quando todas as partes analisadas forem articuladas e
agregadas sistemicamente (Santos, 1994).
Além da análise relacional e sistêmica dos fatos, vale salientar que uma outra forma dos
estudos geográficos adquirirem concretude, é trabalhar no contexto de uma realidade empírica.
Essa perspectiva de método que engloba o fazer científico, caracterizada pela transição do
conhecimento abstrato para o concreto, foi estudada por também Althusser (1978), segundo o
qual, esse procedimento se constitui em uma estratégia de dar forma (concretude) a um
conteúdo teórico (abstrato), o que na geografia é alcançado por meio da operacionalização de
seus conceitos e categorias de análise, aplicados a uma dada realidade concreta.
Nesse sentido, a noção de espaço geográfico se caracterizaria enquanto um produto
conceitual abstrato, que adquire concretude analítica quando representa empiricamente uma
materialidade espacial específica, ou um sistema ou estrutura geográfica. Uma das sugestões de
método propostas por Santos (2014) para se alcançar essa realidade empírica, é adotando-se a
técnica como critério de delimitação e representação das formas de concretude espacial.
Na concepção de Santos (2006, p. 35):
A materialidade artificial pode ser datada, exatamente, por intermédio das técnicas:
técnicas da produção, do transporte, da comunicação, do dinheiro, do controle, da
política e, também, técnicas da sociabilidade e da subjetividade. As técnicas são um
fenómeno histórico. Por isso, é possível identificar o momento de sua origem. Essa
datação é tanto possível à escala de um lugar, quanto a escala do mundo. Ela é também
possível à escala de um país, ao considerarmos o território nacional como um conjunto
de lugares.