Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
SILVA, Fernando Lopes da; SOUZA, Graziella Plaça Orosco de; FACCIO, Neide Barrocá. Inclusão na Pesquisa na Instituição Museológica:
reflexões sobre adequações. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 11, nº 24, e112403, 2024.
Submissão em: 26/09/2023. Aceito em: 08/12/2023.
ISSN: 2316-8544
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SEÇÃO ARTIGOS
Inclusão na Pesquisa na Instituição Museológica:
reflexões sobre adequações
Inclusion in Research at Museological Institutions:
reflections on adjustments
Inclusión en la Investigación en Instituciones Museológicas:
reflexiones sobre las adaptaciones
DOI: https://doi.org/10.22409/eg.v11i24.60018
Fernando Lopes da Silva1
Faculdade de Ciências e Tecnologia,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” (FCT-UNESP),
Presidente Prudente, São Paulo, Brasil.
e-mail: fernandoeducar.educar@gmail.com
Graziella Plaça Orosco de Souza2
Faculdade de Ciências e Tecnologia,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” (FCT-UNESP),
Presidente Prudente, São Paulo, Brasil.
e-mail: graziella.orosco@unesp.br
Neide Barrocá Faccio3
Faculdade de Ciências e Tecnologia,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” (FCT-UNESP),
Presidente Prudente, São Paulo, Brasil.
e-mail: neide.faccio@unesp.br
Resumo
O artigo busca refletir sobre a inclusão na instituição museológica, partindo da interface Arqueologia/Geografia
em uma abordagem transdisciplinar. Por meio do estudo da rotina de pesquisadores cegos no Laboratório de
Arqueologia Guarani e Estudos da Paisagem e Museu de Arqueologia Regional da FCT-UNESP, campus de
Presidente Prudente, SP, a investigação partiu do estudo da produção sobre acessibilidade em museus. A pesquisa-
ação permitiu inferir os conceitos de espacialização geográfica inclusiva, promoveu a criação de metodologias e
adequações em infraestrutura que possibilitam a participação de pesquisadores cegos, além de aprimorar o
atendimento a visitantes cegos e/ou com baixa visão à sala de exposições e a cursos e oficinas de Educação
Patrimonial oferecidos. Conclui-se que as ações realizadas até o momento contribuem para tornar acessível a
informação museológica, e por incutir nos pesquisadores vinculados ao complexo a vivência do que determinam
as leis de acessibilidade para o convívio empático, respeitando as diferenças.
Palavras-chave
Geografia da inclusão; Acessibilidade e permanência; Museu de Arqueologia Regional.
1
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia. Mestre em Geografia.
2
Pós-Doutoranda do Programa de s-Graduação em Geografia. Doutora em Geografia. Mestre em Meio
Ambiente e Desenvolvimento Regional.
3
Livre-docente em Arqueologia. Doutora em Arqueologia. Mestre em Ciências Sociais.
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SILVA, Fernando Lopes da; SOUZA, Graziella Plaça Orosco de; FACCIO, Neide Barrocá. Inclusão na Pesquisa na Instituição Museológica:
reflexões sobre adequações. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 11, nº 24, e112403, 2024.
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Abstract
The article seeks to reflect on inclusion in the museum institution, starting from the Archeology/Geography
interface in a transdisciplinary approach. By studying the routine of blind researchers at the Guarani Archeology
and Landscape Studies Laboratory and Regional Archeology Museum at FCT-UNESP, Presidente Prudente
campus, SP, the research started from the study of production on accessibility in museums. Action research made
it possible to infer the concepts of inclusive geographic spatialization, promoted the creation of methodologies and
infrastructure adjustments that enable the participation of blind researchers, in addition to improving service to
blind and/or low-vision visitors to the exhibition hall and the Heritage Education courses and workshops offered.
It is concluded that the actions carried out so far contribute to making museum information accessible, and by
instilling in researchers linked to the complex the experience of what the laws of accessibility determine for
empathetic coexistence, respecting differences.
Keywords
Geography of inclusion; Accessibility and permanence; Regional Archeology Museum.
Resumen
El artículo busca reflexionar sobre la inclusión en la institución museística, a partir de la interfaz
Arqueología/Geografía en un enfoque transdisciplinario. Al estudiar la rutina de los investigadores ciegos del
Laboratorio de Arqueología y Estudios del Paisaje Guaraní y del Museo Arqueológico Regional de la FCT-
UNESP, campus Presidente Prudente, SP, la investigación partió del estudio de la producción sobre accesibilidad
en los museos. La investigación-acción permitió inferir conceptos de espacialización geográfica inclusiva, impulsó
la creación de metodologías y adecuaciones de infraestructura que posibiliten la participación de investigadores
ciegos, además de mejorar la atención a los visitantes ciegos y/o con baja visión de la sala de exposiciones y del
Se ofrecen cursos y talleres de Educación Patrimonial. Se concluye que las acciones realizadas hasta el momento
contribuyen a hacer accesible la información museística, y a inculcar en investigadores vinculados al complejo la
experiencia de lo que las leyes de accesibilidad determinan para la convivencia empática, respetando las
diferencias.
Palabras clave
Geografía de la inclusión; Accesibilidad y permanencia; Museo Arqueológico Regional.
Introdução e justificativa
A partir de pesquisa realizada durante o Curso de Mestrado em Geografia na FCT-
UNESP que tratou da necessidade de adequações de materiais de Educação Ambiental com
vistas à acessibilidade , aliada à participação nos trabalhos voltados a inclusão de pessoas
consideradas com necessidades especiais no Museu de Arqueologia Regional (MAR) da FCT-
UNESP, surgiu o interesse em contribuir com a questão da acessibilidade tratada pela ciência e
tornar compreensíveis seus conceitos. Dornelles e Nogueira (2015) tratam das barreiras
conceituais na Geografia e afirmam que “os conceitos acadêmicos também podem ser
limitadores da compreensão do mundo tanto para pessoas com deficiência quanto para pessoas
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que são definidas como ‘normais’. Pois estes conceitos não contemplam a todos” (Dornelles;
Nogueira, 2015, p. 5139).
A busca por tornar os conceitos acadêmicos acessíveis vem ao encontro à necessidade
de incluir toda a diferença em uma sociedade originariamente excludente. Trabalhar com a
perspectiva inclusiva é abrir caminhos para novas possibilidades no desenvolvimento do
ensino, pesquisa e extensão no âmbito da universidade, que têm como premissa o avanço
tecnológico e a melhoria da qualidade da existência humana.
Neste sentido, esta pesquisa justifica-se por contribuir com as atividades científicas
voltadas ao estudo dos assentamentos indígenas pretéritos desenvolvidas pelo LAG/MAR
(FCT-UNESP), com vistas à inclusão de acadêmicos cegos como pesquisadores em seus
projetos, bem como aos visitantes de baixa visão, suas coleções de acesso a público externo.
Trata-se de um trabalho pioneiro ao possibilitar a visualização de aspectos da cultura material
traduzidos no sinestésico, permitindo a real visão no contexto do cego, na busca por
ressignificar seus lugares de vivência.
Tratar da inclusão no MAR abre novas possibilidades para pesquisa geográfica ao
proporcionar a reflexão sobre a apropriação dos espaços e ressignificação dos lugares por meio
da vivência de pessoas cegas, participantes ativas das atividades técnico-científicas propostas
nos estudos sobre assentamentos indígenas. De outro lado, esta dinâmica permitirá a
retroalimentação de saberes ao gerar a troca solidária de conhecimentos, experiências e
vivências entre as pessoas cegas e as que têm visão no constructo de novos paradigmas que
visem desconstruir dogmas enraizados no ambiente acadêmico com isso, abrindo caminho a
um novo conceito, o da “Geografia da Inclusão”.
A interface Arqueologia/Geografia
A pesquisa em Arqueologia constitui-se num campo repleto de metodologias
diferenciadas de análise e interpretação dos vestígios da cultura material pretéritos. De acordo
com Faccio (1992, p. 30), “a interface Arqueologia/Geografia mostra-se, de fato, como uma
das chaves para reconstrução da cultura dos grupos pré-históricos, possíveis de serem
evidenciados em sítios arqueológicos”.
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A Arqueologia, em seu bojo, constitui-se de diversos ramos da ciência, englobando as
Ciências Humanas, Exatas, Biológicas e, no atual contexto, com implicação informacional.
Nesta seara, o agrupamento das ciências tem como base o olhar sistêmico das ciências
geográficas. A Geografia, por sua vez, identifica a “Geo” como sendo a superfície planetária
impactada pelas ações antrópicas. A dinâmica econômica contemporânea não considera a
preservação do patrimônio material de culturas ameríndias. Tal acontecimento, a posteriori,
provoca certa dificuldade nos especialistas no ato de realizar futuras escavações ou
mapeamentos de vestígios materiais e imateriais da cultura a ser investigada. Técnicas de
origem geográfica e geológica são usadas para investigação dos solos e suas estratificações,
com a intenção de revelar todos os tipos de anormalidades causadas pela ocupação das áreas
que devem ser preservadas. No contexto geográfico, a contribuição do geógrafo se insere na
produção de conhecimentos para ões patrimoniais e culturais no que se refere aos usos do
espaço, inferindo sobre a espacialização dos ambientes. Esta conformidade dos arranjos
geográficos favorece o trabalho do arqueólogo, por ser este um indicador das oportunidades
que determinadas localidades podem futuramente oferecer, produzindo e conduzindo a
expedição do grupo de trabalho na pesquisa a ser desenvolvida.
Funari (2006, p. 15) menciona que “[...] a arqueologia estuda, diretamente, a totalidade
material apropriada pelas sociedades humanas, como parte de uma cultura total, material e
imaterial, sem limitações de caráter cronológico”. Para o autor,
A arqueologia nada mais é do que uma leitura, ainda que um tipo particular de leitura,
na medida em que “o texto” sobre o qual se debruça não é composto de palavras, mas
de objetos concretos, em geral mutilados e deslocados do seu local de utilização
original. É impossível ignorar a subjetividade do trabalho arqueológico. Por outro lado
(em função da “busca da verdade”), uma crescente preocupação com a
interdisciplinaridade, em especial, no que se refere à ajuda proporcionada por outras
disciplinas que lidam com “leitura” e “interpretação”, em particular, com aquelas que
se voltam para os objetos também, como é o caso da semiótica, disciplina preocupada
com os princípios teóricos da comunicação (Funari, 2006, p. 32).
O trabalho do arqueólogo, assim como o do geógrafo, compreende as dimensões teórica
e prática. A pesquisa que antecede a visita ao sítio arqueológico envolve o levantamento
documental sobre a área, no intuito de obter o maior número de informações possíveis. As
atividades de campo, em sítios arqueológicos para prospecção, escavação e fotodocumentação
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são atividades posteriores e rotineiras do pesquisador. Nesta etapa, uma equipe multidisciplinar
pode ser contribuinte da prática desenvolvida.
Também faz parte do trabalho a produção de documentos e as análises em laboratórios
dos vestígios materiais encontrados. Por isso, as etapas do trabalho arqueológico envolvem
conhecimentos de outras áreas, como da Geografia e da Geologia, bem como a catalogação e
comunicação dos resultados à sociedade, que busca na Museologia a sua contribuição.
A Museologia Social, ou Sociomuseologia, tem por princípio o relacionamento da
população menos erudita junto ao museu, fazendo da comunicação museológica mais acessível
às diversas camadas da sociedade em termos econômicos e sociais. É preciso entender os
aportes culturais básicos da instituição museológica para agregar, no cotidiano brasileiro, a
ideia de que um simples passeio ao museu, para o adulto considerado como lazer aleatório, para
a criança estará incutindo aprendizagem sociológica descortinando a sombra de que espaços
museológicos devem ser frequentados por indivíduos de posses e intelectualizados e
reescrevendo, desta forma, a apropriação cultural na sociedade por meio da comunicação
museológica acessível.
Isto posto, compreende-se que as atividades desenvolvidas por um grupo de pesquisa
em Arqueologia demandam diversidade de conhecimentos, competências e habilidades, que
nem sempre se encontram acessíveis a todos os públicos. Pessoas cegas e pessoas com baixa
visão, por exemplo, apresentam dificuldades em participar de trabalhos de escavação ou de
curadoria de peças arqueológicas, assim como têm acesso difícil a espaços museais.
Dornelles e Nogueira (2015, p. 5150) em seu trabalho, propuseram o conceito de
“paisagem sensorial” como sendo “uma paisagem onde não se parta do princípio do que se deve
encontrar, mas sim do princípio do que o sujeito deve sentir”. Aqui propomos que esta
apropriação sensorial dos conceitos geográficos seja ampliada e que as pessoas que não têm
visão ou que apresentem baixa acuidade visual possam compreender tais temas por
caminhos que proporcionem significativo aprendizado.
Por isso e em observação à lei de acessibilidade vigente no país, as adequações no
trabalho realizado pelos pesquisadores do LAG/MAR da FCT-UNESP constituem-se num
campo fértil de experimentação desta pesquisa, cujos resultados parciais apresentam-se a
seguir.
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O trabalho de pesquisa em inclusão no LAG/MAR
A equipe de docentes e acadêmicos vinculada ao LAG/MAR encontra-se empenhada
em projetos que visam divulgar a cultura material de comunidades de caçadores-coletores e
ceramistas agricultores do período pré-colonial brasileiro, desvendando o sistema de ocupação
regional indígena, em especial na região oeste do Estado de São Paulo e do norte do Paraná,
conforme apresentado na Figura 1.
Figura 1 Mapa Etno-Histórico de Curt Nimuendaju (1944)
Audiodescrição da imagem: A figura apresenta o mapa do Estado de São Paulo com destaque para a região oeste.
Nela estão destacados em amarelo as ocupações indígenas do tronco linguístico Tupi (com maior ocupação na
divisa com o Estado do Paraná), em verde o grupo (com ocupação dos grupos Kaingag e Kayapó no Estado
todo) e na cor laranja as ocupações indígenas de línguas isoladas (Oiti-Xavante no extremo oeste do Estado).
Fonte: Faccio (2019, p. 4).
Os trabalhos de campo, as curadorias e atividades de produção de documentação
museológica, como expografia e Educação Patrimonial, são ações realizadas com vistas à
divulgação da cultura material encontrada a partir dos estudos dos assentamentos indígenas. As
pesquisas empreendidas pelo LAG/MAR permitiram revelar que o Planalto Ocidental Paulista
apresenta a “densa ocupação indígena”, sendo “147 sítios: um com arte rupestre, 45 Guarani,
um Guarani/Jesuíta, seis Guarani/Kaingang, dois Kaingang, dois Tupi/Aratu-Sapucaí, dois
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Aratu-Sapucaí/Uru e 88 Aratu-Sapucaí” (FACCIO, 2019, p. 9). O mapa a seguir apresenta os
sítios arqueológicos estudados no âmbito do LAG/MAR (Figura 2).
Figura 2 Sítios arqueológicos de grupos agricultores indígenas do Planalto Ocidental
Paulista estudados no âmbito do Museu de Arqueologia Regional e do Laboratório de
Arqueologia Regional e Estudos da Paisagem, ambos da UNESP
Audiodescrição da imagem: Trata-se de mapa do extremo oeste do Estado de São Paulo, com sinalizações em
círculos coloridos dos sítios arqueológicos indígenas organizados por tradições, sendo: vermelho para Tupiguarani,
marrom para Aratu, verde para Itararé, amarelo para Rupestre, vermelho e marrom para Tupiguarani-Aratu,
vermelho e preto para Tupiguarani-Jesuíta e vermelho e verde para Tupiguarani-Irararé.
Fonte: Faccio (2019, p. 4).
As ações de divulgação de toda a informação produzida, no entanto, carecem de
elementos que promovam a inclusão de pessoas cegas e pessoas com baixa visão. As iniciativas
de inclusão vêm ao encontro da necessidade de atendimento especializado a acadêmicos com
necessidades especiais da FCT-UNESP envolvidos nestes projetos, uma vez que “[...] o
desenvolvimento de práticas inclusivas pede àqueles envolvidos em um contexto particular que
trabalhem juntos no sentido de lidar com as barreiras à educação experimentadas por alguns
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alunos” (Ainscow, 2009, p. 14). Além disso, o público externo visitante do museu, por meio da
adequação desses trabalhos e da divulgação de seus resultados com recursos não visuais,
participará deste espaço de interação com igualdade de oportunidades.
O trabalho inclusivo não apenas promove o acesso e a permanência dos acadêmicos
cegos e videntes. A temática inclusiva no contexto do complexo LAG/MAR tem por finalidade
promover a cultura da convivência empática entre pesquisadores e o público em geral,
garantindo, no stricto sensu da palavra, inclusão.
As atividades com vistas à inclusão de pessoas cegas e com baixa visão no LAG/MAR
acontecem desde 2017, com a participação de acadêmicos cegos do curso de Graduação em
Geografia e Pedagogia na escrita do Programa de Acessibilidade do Museu de Arqueologia
Regional. Desde então, as ações vêm sendo aprimoradas e validadas, com a escuta ativa dos
participantes, reorientando as tomadas de decisões para adequações metodológicas, bem como
promovendo a reestruturação física do ambiente.
Recentemente, foi criado o grupo de inclusão do museu, que envolve pesquisadores dos
Cursos de Graduação e Pós-graduação em Geografia, no intuito de implantar o programa
anteriormente redigido, aprimorando-o e atualizando-o. A ação parte de reuniões organizadas
com a equipe de pesquisadores envolvidos com ações de acessibilidade ao museu. A partir do
plano museológico e do estudo de legislações e normativas, os aportes teóricos estudados e
debatidos nessas reuniões vêm sendo colocados em prática, na busca por replicar e refinar as
ações exitosas que ocorreram em outros espaços museológicos.
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Figura 3 Reuniões da equipe de inclusão do LAG/MAR
Audiodescrição da imagem: A foto apresenta o interior da sala de informática do LAG. Nela estão os pesquisadores
Fernando, Thiago Tobias, Elisa e Graziella. Fernando tem a pele clara, cabelos curtos castanhos e olhos verdes.
Fernando usa bermuda bege e camiseta preta com a estampa de um dragão de três cabeças na cor vermelha. Thiago
Tobias é moreno, de cabelos curtos escuros, cego, veste uma caça jeans azul escura, camisa polo azul clara com
listras brancas. Elisa tem a pele clara, cabelos médios ruivos, olhos verdes e usa óculos. Veste shorts jeans e
camiseta preta. Graziella é parda, de cabelos pretos encaracolados com franja azul, veste shorts Jean e blusa branca
com estampa azul marinho. Todos estão sentados em frente a uma mesa branca. Thiago segura um fragmento de
cerâmica enquanto Elisa explica sobre as réplicas confeccionadas.
Fonte: Acervo do autor, 2023.
Além da teoria, vem sendo realizado o trabalho sinestésico holístico, no qual são
confeccionadas réplicas de artefatos em arenito silicificado lascado e em terracota, e modelos
tridimensionais de forma a facilitar a apreensão do significado histórico e arqueológico do
escopo do museu, aflorando o multidimensional no campo dos sentidos. A possibilidade de
tatear artefatos provoca equidade entre cegos e videntes, relacionando teoria e prática por meio
de uma versão tátil das coleções, que produz uma nova linguagem específica à compreensão.
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Figuras 4 e 5 Confecção de réplicas e modelos táteis.
Audiodescrição da imagem: A figura 4 apresenta Elisa em pé, vestindo uma camiseta vermelha com a logo da
Unesp em branco e calça preta. A foto destaca as mãos de Elisa modelando uma réplica de pote de argila em
miniatura a partir da técnica dos roletes. A figura 5 apresenta as réplicas em argila feitas por Elisa e Graziella sobre
uma superfície branca. As réplicas são: duas miniaturas de potes Guarani, três fragmentos lisos, quatro fragmentos
com decoração ungulada, quatro fragmentos com decoração corrugada e quatro fragmentos com decoração
escovada. Fonte: Acervo do autor, 2023.
Figuras 6 e 7 Confecção de réplicas e modelos táteis.
Audiodescrição da imagem: A figura 6 apresenta a pintura de réplica de cambuchi em miniatura. A foto destaca
as mãos de Elisa que segura o pote cerâmico e o decora com tinta puff na cor preto sobre fundo branco. A figura 7
apresenta o modelo confeccionado pela professora Graziella para a oficina de arte rupestre. Trata-se do desenho a
lápis sobre sulfite da capivara representada na Caverna da Serra da Capivara no Piauí. Parte do desenho está
coberto por barbante na cor amarela, de modo a tornar-se perceptível ao toque.
Fonte: Acervo do autor, 2023.
Para a comunidade científica é comum compreender o ambiente da pesquisa como lugar
estéril, baseado na suposta prevalência do “normal”. Porém, o não acesso aos diversos públicos
da temática inclusiva gera a penumbra do olhar científico. A ciência, por si só, é construída
pelos diferentes, fato este confirmado e validado pela presença dos pesquisadores cegos, que
vêm contribuindo para o avanço na construção de uma linguagem adaptada à compreensão
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solidária tanto para os que atualmente fazem parte da equipe LAG/MAR, como para visitantes
e futuros pesquisadores deste complexo, o que legitima as ações realizadas pela equipe.
Figuras 8 e 9 Experimentações e validação das iniciativas empreendidas
Audiodescrição das figuras 8 e 9: A figura 7 destaca Thiago Tobias de perfil, segurando a réplica de um fragmento
de cerâmica modelado em argila com decoração corrugada. Thiago está sentado em frente a uma mesa branca, ao
lado de Elisa, que está em pé. Sobre a mesa, réplicas de miniaturas de cambuchi decorados com grafismo Guarani
feitos com tinta puff nas cores preto e vermelho sobre fundo branco.
Fonte: Acervo do autor, 2023.
O LAG/MAR, em uma proposta inovadora, abriu precedente para a criação do grupo de
pesquisa em inclusão e as ações de Educação Patrimonial inclusivas, sendo possível a
materialização do trabalho em conjunto do grupo de inclusão e do grupo envolvido com a
pesquisa arqueológica, numa fusão que promove a cultura da convivência inclusiva, tornando
possível o multi e transdisciplinar para os que se inserem no complexo de pesquisa,
promovendo a sensibilidade e, acima de tudo, o entendimento refinado em relação às
necessidades especiais. Mesmo porque, em algum período da vida e por questões diversas,
alguma necessidade especial sempre acomete o indivíduo.
Considerações finais
Diante do exposto, a interface Arqueologia/Geografia, antes mesmo da temática
inclusiva ser desenvolvida no grupo de pesquisa, demonstra a solidariedade da investigação
entre as áreas científicas. O elemento inclusivo apenas colabora como aditivo nas estruturas
científicas, proporcionando cientistas afinados com uma sociedade equitativa e igualitária nos
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ambientes acadêmicos, desmistificando o tradicional pesquisador e, também, transpondo o
pesquisador de sua zona de conforto para uma nova perspectiva do olhar científico.
As ações realizadas no âmbito do LAG/MAR desconfiguram a visão vitimista dos
pesquisadores diante de barreiras físicas e sensoriais, evidenciando o preparo em lidar, de forma
assertiva, com as questões inclusivas de ordem prática na rotina do trabalho desenvolvido no
museu. O cotidiano da produção científica evidencia a hipótese de que ações inclusivas em
ambiente acadêmico fomentam, por sua vez, ões de ordem teórica e prática para a ampla
disseminação do conhecimento acessível a diversos públicos. Em suma, o trabalho em
desenvolvimento e relatado nesta comunicação, pioneiro em termos de tornar a rotina dos
pesquisadores inclusiva e acessível a diferentes públicos, tem apresentado resultados
satisfatórios, mesmo que preliminares.
Referências
AINSCOW, M. Tornar a educação inclusiva: como esta tarefa deve ser conceituada? In:
FÁVERO, O.; FERREIRA, W.; IRELAND, T.; BARREIROS, D. Tornar a educação
inclusiva. Brasília: UNESCO, 2009.
BRASIL. Presidência da República. Secretaria-Geral. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei
no 13.146, de 6 de Julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência
(Estatuto da Pessoa com Deficiência).
DORNELLES, T. G.; NOGUEIRA, R. E. Barreiras Conceituais Na Geografia: o problema
visual da paisagem. Anais do XI ENANPEGE, p. 5139-5150, 2015.
FACCIO, N. B. O estudo do Sítio Arqueológico Alvim no contexto do Projeto
Paranapanema. Dissertação. (Mestrado em Arqueologia). Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 1992.
FUNARI, P. P. Arqueologia. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2006.