Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
OLIVEIRA, Guilherme Matos de; SANTOS, Jânio Roberto Diniz dos; SOUZA, Suzane Tosta. O movimento camponês do/no conteúdo social
escolar. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 11, nº 24, e112402, 2024.
Submissão em: 11/10/2023. Aceito em: 22/11/2023.
ISSN: 2316-8544
Este trabalho está licenciado com uma licença Creative Commons 9
que oportunizam a reivindicação de um conhecimento sustentado na valorização dos modos de
vida, de trabalho, da cultura e da política camponesa expressados num movimento epistêmico
dialético e pedagógico. Dessa maneira:
O esforço feito no momento de constituição da Educação do Campo, e que se estende
até hoje, foi de partir das lutas pela transformação da realidade educacional específica
das áreas de Reforma Agrária, protagonizadas naquele período especialmente pelo
MST, para lutas mais amplas pela educação do conjunto dos trabalhadores do campo.
Para isso, era preciso articular experiências históricas de luta e resistência, como as
das escolas família agrícola [EFA], do Movimento de Educação de Base (MEB), das
organizações indígenas e quilombolas, do Movimento dos Atingidos por Barragens
(MAB), de organizações sindicais, de diferentes comunidades e escolas rurais,
fortalecendo-se a compreensão de que a questão da educação não se resolve por si
mesma e nem apenas no âmbito local: não é por acaso que são os mesmos
trabalhadores que estão lutando por terra, trabalho e território os que organizam esta
luta por educação (Caldart, 2012, p. 261).
Consonante a isso, Molina (2009) assevera que a Educação do Campo articula em seus
postulados a compreensão de que é preciso a construção de um outro projeto societal em nosso
país, centrado na busca por uma equânime distribuição social de renda, de terra e do
conhecimento a toda sociedade que se encontra no espaço agrário, advindo de um projeto a ser
edificado por e para seus sujeitos inseridos em seu propósito educacional.
Menezes Neto (2009) coloca que nesse movimento, as análises envoltas à Educação do
Campo são debatidas frente ao antagonismo de classes sociais e aos seus interesses distintos,
materializados de um lado pelo agronegócio e, do outro, pelo projeto educacional do
campesinato, visto que a educação proposta pela agricultura capitalista intenciona configurar
sujeitos funcionais à reprodução ampliada do capital estando agregados às ideologias impostas
pelo sistema de mercado, que consequentemente reiteram as desigualdades sociais na divisão
de classes. Ao se opor a esse ponto de vista, a Educação do Campo pauta-se na formação de
sujeitos que não se fragmentem, mas que levem em conta a unidade de sua classe e que possam
refletir sobre as relações humanas em sua diversidade, diferenças e em suas desigualdades
sociais, econômicas e políticas sob os auspícios do capital; sendo este um projeto de educação
que não pode, em hipótese alguma, ser formulado partindo das pretensões do agronegócio, pois:
Somente quando os oprimidos descobrem, nitidamente, o opressor, e se engajam na
luta organizada pela sua libertação, começam a crer em si mesmos, superando, assim,
sua “conivência” com o regime opressor. Se esta descoberta não pode ser feita em
nível puramente intelectual, mas da ação, o que nos parece fundamental, é que esta
não se cinja a mero ativismo, mas esteja associado a sério empenho de reflexão, para
que seja práxis (Freire, 1987, p. 29).