Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
SILVA, Pedro Torres de Lima e. Historicidade nos Estudos de Geografia: tempo-espaço como chave metodológica para pensar o Brasil.
Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 11, nº 24, e112414, 2024.
Submissão em: 06/11/2024. Aceito em: 18/06/2024.
ISSN: 2316-8544
Este trabalho está licenciado com uma licença Creative Commons
1
SEÇÃO ARTIGOS
Historicidade nos Estudos de Geografia:
tempo-espaço como chave metodológica para pensar o Brasil
Historicity in Geography Studies:
spacetime as a key method to understand Brazil
Historicidad en los Estudios de Geografía:
espacio-tiempo como clave metodológica para pensar el Brasil
DOI: https://doi.org/10.22409/eg.v11i24.60624
Pedro Torres de Lima e Silva
1
Universidade Federal Fluminense (UFF),
Rio de Janeiro, Brasil
e-mail: ptorres@id.uff.br
Resumo
Nesse texto, buscamos identificar como a geografia entende a realidade geográfica através do tempo histórico.
Para isso, iniciamos nosso raciocínio buscando nos estudos geográficos como se desenvolve a relação espaço-
tempo, suas implicações metodológicas, sua trajetória e influência na elaboração de uma geografia como ciência
social. A geografia crítica, mais recentemente, por meio de Milton Santos e Robert Moraes constituem métodos
para interpretar a relação histórico-geográfica e pensar a realidade brasileira. Ao final, questionamos as
potencialidades e limitações destes métodos, além de apresentar novas categorias que estão a surgir para
compreender o Brasil.
Palavras-chave
Estudos geográficos; Tempo histórico; Espaço-tempo; Método; Brasil.
Abstract
In this article, we aim to identify how geography comprehends geographical reality through historical time. To do
this, we start our analysis by examining how the space-time relationship develops, its methodological implications,
trajectory, and its influence on the advancement of geography as a social science. Critical geography, more re-
cently, through figures like Milton Santos and Robert Moraes, has developed methods for interpreting the histori-
cal-geographical relationship and understanding the Brazilian reality. In the end, we question the potential and
limitations of these methods, as well as present new categories that are emerging to understand Brazil.
Keywords
Geographical studies; Historical time; Spacetime; Method; Brazil
1
Estudante de geografia na Universidade Federal Fluminense, com participação no NETAJ (Núcleo de estudos
sobre território, ações coletivas e justiça) e educador popular no curso pré-vestibular social Reação.
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Resumen
En este texto, buscamos identificar como la geografía comprende la realidad geográfica a lo largo del tiempo
histórico. Para ello, comenzamos nuestro razonamiento explorando en los estudios geográficos como se desarrolla
la relación espacio-tiempo, sus implicaciones metodológicas, su trayectoria y su influencia en la elaboración de la
geografía como una ciencia social. La geografía crítica, más recientemente, por medio de figuras como Milton
Santos y Robert Moraes, constituye métodos para interpretar la relación histórico-geográfica y pensar en la realidad
brasileña. Al final, cuestionamos las potencialidades y limitaciones de estos métodos, así como presentamos nue-
vas categorías que están emergiendo para comprender Brasil.
Palabras clave
Estudios geográficos; Tiempo histórico; Espacio-tiempo; Método; Brasil
Introdução
Para compreender a relação da Geografia com a produção científica sobre o Brasil, neste
texto vamos nos debruçar sobre o modo como a Geografia compreende a história para abrir
caminho a entender como a Geografia entende o Brasil. Como nos lembra Milton Santos (2006),
é necessário criar uma interpretação social brasileira dentro da Geografia, assim como em
outros ramos das ciências sociais brasileiras.
Compreender o Brasil não é uma tarefa fácil, seja devido à sua dimensão ou sua
diversidade. Singularizar um ambiente tão rico em possibilidades é uma tarefa árdua, porém
não deve ser esquecida, pois produzir entendimentos sobre o mundo em que estamos inseridos
faz parte do processo de mudança. Nos últimos anos, temos vivido intensas transformações
espaciais, novas geografias alteram a percepção que temos do meio ao mesmo tempo em que o
alteram, necessitando renovar os métodos que utilizamos para entendê-lo e repensar como nos
manifestamos no mundo, seja como sujeito ou sociedades.
Desta forma, buscamos compreender o entendimento do processo científico geográfico,
suas potencialidades e limitações. O artigo está dividido em três partes:
A primeira se propõe a pensar o espaço, a sua relação com o tempo e a importância
desta para os estudos sociais. Não podemos subestimar a relação que as sociedades criam com
o meio ao obter desse instrumentos básicos para o desenvolvimento de suas vidas. Tecem
vínculos que permeiam o espaço e se perpetuam pelo tempo, tendem a constituir parte de uma
rede de significados que baliza a ação dos indivíduos e sociedades, podendo ser
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compreendida no momento histórico em que é constituída, mesmo que apreendida a partir da
realidade geográfica que contemplamos.
A segunda reflete sobre a institucionalização da Geografia como ciência moderna,
constituindo uma rede de significados específica, instituiu uma série de métodos que compõem
a interpretação cientifica da Geografia. Carregando as necessidades de sua época, a
epistemologia geográfica é um reflexo das necessidades sociais: da constituição do estado
nação, sendo instrumento desse processo social e da ciência que tinha como paradigma um
excessivo isolamento das teorias em campos específicos que buscavam uma explicação
absoluta dos fenômenos a partir de seus métodos.
A proposta de interpretação cientifica da realidade social provoca uma cisão entre
espaço e tempo. A Geografia e a História buscam a formação de campos específicos para
estudar esses fenômenos de forma independente, formalizando as disciplinas da geografia
histórica na Geografia e a história geográfica ou geo-história na História. Hoje, de forma
interdisciplinar, compreendemos a importância de ambas na formação do emaranhado das
relações sociais. Diversas críticas foram elaboradas sobre esta ruptura, a partir das quais
compreendemos a relação entre a escala e periodização como centrais para dialogarmos, a fim
de entender os fenômenos sociais sem buscar sobrepor o tempo ou o espaço nas análises.
Na terceira parte, buscamos entender a ideia de formação socioespacial como
ferramenta para aprofundarmos a análise geográfica sobre a realidade social, principalmente a
brasileira. Começaremos empreendendo uma breve busca sobre o surgimento do conceito, e
nos ateremos mais à utilização do mesmo por geógrafos brasileiros, focando nas obras de
Milton Santos e Robert Moraes, utilizando-as como ferramenta adicional ao processo
investigativo da Geografia.
A partir de Santos, o trabalho social é formador de um espaço habitado que,
transformado pelos agentes sociais, se torna ativo nos processos por conterem objetos técnicos
que são imanentes das relações que nele são projetadas, levando a uma formação espacial
(Santos, 2017). a obra de Moraes não nega os processos elencados por Santos, mas indica a
necessidade de entendermos a valorização do espaço como forma constituinte da realidade
social. A escolha por determinadas técnicas não é por acaso, sendo resultado de disputas
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políticas entre os agentes que atribuem ao mesmo espaço diferentes significados ou valores
(Moraes 2008).
Concluiremos refletindo sobre os métodos e abordagens apresentadas e suas potências
e suas ausências para a produção de uma interpretação geográfica do Brasil.
Espaço, tempo e sociedade
Para pensar como a Geografia é capaz de compreender a realidade brasileira, precisamos
entender melhor o que é o espaço: ambiente natural e cultural. Sendo esse o fundamento básico
a partir do qual a produção científica encontra elementos para entender o mundo.
Casas, ruas, cidades e campos, tudo que vemos e usamos faz parte de uma
“metamorfose” forjada cotidianamente na relação destes com o meio ao seu redor (Santos,
1988). Os seres humanos habitam a Terra, nela imprimem suas impressões e necessidades,
fazendo dela a realidade que projetam.
Podemos assim acompanhar a maneira como a raça humana se expande e se distribui,
acarretando sucessivas mudanças demográficas e sociais em cada continente (mas
também em cada país, em cada região e em cada lugar). O fenômeno humano é
dinâmico e uma das formas de revelação desse dinamismo está, exatamente, na
transformação qualitativa e quantitativa do espaço habitado (Santos, 1988, p. 14).
Corrêa complementa Santos dizendo que os seres humanos, além de serem
transformadores, compartilham conhecimentos de como organizar e viver no espaço, se
socializam ao imprimir no meio sua cultura através da reprodução do trabalho. Ao fixar no
solo os seus objetos, fruto do trabalho social e vinculados à sua necessidade, um grupo
possibilita que as atividades desempenhadas por este alcancem um período de tempo mais ou
menos longo, repetindo, reproduzindo as mesmas (Corrêa, 2003, p. 55).
A partir do estudo de uma base material, podemos observar os instrumentos e as técnicas
criadas para ornar o meio, criando uma realidade socioespacial. Diversas geografias são o
reflexo do trabalho social em uma complexa relação entre o particular e o universal, o que nos
possibilita compreender uma totalidade (Santos, 1982).
Como uma ciência humana, a Geografia também se debruça sobre a história para
compreender no espaço importantes dados. Para a História é o tempo o que mais importa, pois
é na relação dos homens em seus períodos que se compreende as medidas que transacionam
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mudanças estruturais nos processos sociais. É justamente o tempo que atribui ao espaço suas
características e sua organização. Somente de acordo com o momento histórico é possível
compreender o espaço, pois cada objeto ou agente se posiciona estabelecendo relações
específicas em um momento específico.
Pensar o espaço é pensar a relação das formas em sua constante mudança no tempo.
Nessa dialética, cada sociedade produz uma organização que dá sentido às pessoas e aos objetos
que nele estão inseridos, e novas necessidades ou o contato com outros grupos e tecnologias
instigam o desenvolvimento das forças produtivas espaciais. Da mesma forma, pensar o tempo
é pensar no conjunto de momentos cristalizados em diferentes momentos, existindo a partir de
sua interação. A relação tempo-espaço é separável apenas analiticamente, e estes se afirmam
enquanto unidade mesmo quando examinados isoladamente (Correa, 2016).
Moraes (2008), defende que um discurso geográfico faz parte de todos os seres
humanos. Como resultado das disputas entre homem e meio emerge, dessa forma, uma
consciência espacial que advém do aprendizado do viver no mundo. Para o geógrafo, uma
geografia material e outra discursiva que compõe, sempre, parte da cultura de um conjunto
social (Moraes, 2008).
Essa percepção geográfica varia de sociedade em sociedade, e é marcada pelas
condições ambientais e sociais impostas pela espacialidade e a temporalidade. Essa dupla ação
cria qualidades imateriais, imaginativas sobre o meio: “paradigmas da reflexão” que afetam a
própria sensibilidade humana, além de formas materiais ou “técnicas”, objetos na superfície do
planeta que possibilitam a vida, que refletem os valores das sociedades que os construíram
(Moraes, 2008).
Assim, a Geografia se constitui primeiramente fora do campo acadêmico, mesmo que
não datada ou sob uma nomenclatura especial. O senso comum é repleto de saberes geográficos
que florescem longe de um debate sobre sua validade como conhecimento formal e erudito. O
que entendemos como Geografia” é muito mais associado ao conhecimento erudito, como nos
lembra Moraes (1987), sendo esse o conjunto formalizado através de procedimentos
acadêmico-universitários ditos científicos.
Ritmos históricos e escalas espaciais
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Neste momento, tenho que pontuar a limitação desta seção. Para fins acadêmicos-
epistemológicos meu recorte será de uma Geografia balizada nos moldes científicos ocidentais.
Assim, abordarei a formalização do saber geográfico dentro da academia, porém não nego a
existência de diversos saberes geográficos válidos que podem ser abordados sob outra ótica em
outro momento.
A Geografia Acadêmica, ao final do século XVIII, visa formalizar-se como
conhecimento científico e, para isso, associa-se aos procedimentos epistemológicos de outras
áreas na academia. no século XIX, em meio à busca por uma identidade própria, é fomentada
a diferenciação entre o conhecimento geográfico e o de outras áreas da ciência. Em um sentido
bourdieriano, cria-se: “um campo disciplinar razoavelmente autônomo (pedagógico, de
pesquisa, e universitário) e uma comunidade de especialistas (com suas linhagens teóricas e
com uma linguagem próprio)” (Moraes, 2008, p. 26).
Nesse aspecto, a formação de cátedras e linhas de pesquisa que diferenciam e definem
as capacidades analíticas e temáticas dentro da Geografia é motivada por um debate ontológico
e epistêmico. Porém, a proximidade de temas e objetos com os de outras áreas cria atritos entre
pesquisadores, principalmente com o campo histórico, que não quer renunciar seu papel
centralizador de debates em temas já estudados.
Esse movimento leva a uma dissociação entre campos disciplinares, e assim forma-se
uma cisão dentro da ciência social, separam-se o tempo e o espaço. Ao segmentar os estudos, a
forma de compreender o mundo é limitada ontologicamente e se conforma a tentativa de
institucionalizar uma supremacia do tempo ou do espaço em suas respectivas áreas do
conhecimento.
A formalização de dicotomias como “presente/passado, natureza/sociedade,
materialidade/imaterialidade e fixação-objeto/movimentação-ação” (Haesbaert, 2020, p. 6) é
fruto da criação de disciplinas próprias: a geografia histórica” dentro da geografia, e a história
geográfica” dentro da história, cada uma comprometida a analisar o aspecto oposto, externo ao
seu campo original de estudo (na Geografia o tempo, na História o espaço).
A partir de uma concepção do espaço simplesmente estático e descritivo, a geografia
histórica, posiciona a Geografia como um campo associado à História, fazendo o papel de
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SILVA, Pedro Torres de Lima e. Historicidade nos Estudos de Geografia: tempo-espaço como chave metodológica para pensar o Brasil.
Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 11, nº 24, e112414, 2024.
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“introdução ao estudo histórico” (Haesbaert, 2020). Estudando os objetos e os fenômenos de
ordem físico-material, muitos desses objetos se restringem às características morfológicas,
principalmente naturais. Podemos atribuir a este movimento duas concepções:
Na primeira visão, a geografia é uma espécie de ante-teatro da história, um mundo de
plena naturalidade, a partir do qual (e na relação com o qual) os grupos humanos vão
construir suas culturas. O geográfico (confundido com o natural) é, portanto,
concebido como a qualidade do que antecede o trabalho humano, uma matéria-prima
para a história. Na segunda visão, a geografia é oposta como uma realidade pós-
histórica, o domínio de uma atualidade que pode ser apreendida funcionalmente,
isto é, cujo sentido escapa aos contemporâneos, logo, a reflexão da história (Moraes,
2008, p. 23).
Ainda dentro da geografia histórica uma terceira via, como aponta Haesbaert, que
caracteriza a Geografia e a História não diferenciadas nos eixos espacial e temporal, mas sim
através de sua representação: a Geografia no campo da materialidade e realidade, e a História
no campo da imaterialidade e das ideias (Haesbaert, 2020).
Assim, a Geografia tradicional se organiza e se ocupa muito mais com a análise das
morfologias, os objetos que compõem o espaço. Essa perspectiva imobilista propicia uma
posição de complementariedade a outras ciências (principalmente a histórica), devido à
naturalização excessiva das relações que são entendidas como reflexo concretizado de um
momento que passou ou prévia estática de outro que ainda vai se concretizar.
Precisando ainda passar por um processo de maturação, somente nas décadas de 1940-
1960 a geografia histórica ganha corpo como uma área específica da Geografia. Essa situação
foi um entrave devido à existência de uma pluralidade de temas, a qual constrangia os
pesquisadores de transitar entre seus pares, que pouco dialogavam em seus estudos, inclusive
no que tange ao método; o tempo, a marcação temporal ou a temporalidade, passa a ser a
evidência mais clara da existência desse campo (Rodrigues, 2021).
Assim sustenta que a utilização do tempo como marcador não implica em um estudo
histórico, pois para compreender a historicidade é necessário pensar a temporalidade como
autora do contexto social, uma vez que ela conduz “obrigatoriamente, a uma aproximação
dialógica com a História: seus conceitos, procedimentos metodológicos e campos temáticos”
(Rodrigues, 2021, p. 77).
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A Geografia, de modo geral, atenta-se aos estudos da paisagem e sua modificação
através do tempo, buscando compreender mais os objetos do que os processos intrínsecos a eles
(Carneiro, 2018b). É necessário, portanto, adicionar uma camada interpretativa que entenda a
complexidade dessa paisagem em seus respectivos tempos e em seus efetivos impactos através
das épocas. Por outra via, a geo-história que é matéria derivada da história geográfica, se
compromete mais com a relação espaço-tempo, visando a simbiose entre essas escolas de
análise a fim de entender melhor os processos sociais.
Braudel argumenta que a Geografia se encontra como uma ciência vasta e incompleta
e, por isso, se evidencia uma crise (Braudel apud Ribeiro, 2015). O autor desenvolve que o
processo de expansão e recrudescimento da ciência geográfica, o número de questões
levantadas e métodos de análise dificultam a criação de prioridades investigativas, fenômeno
que pode ser percebido até hoje. Ele atinge de forma especial as abordagens históricas na
Geografia, que caminham entre aprovação e reprovação de seus pares a depender do ambiente
onde são desenvolvidas, com dificuldade de atingirem uma difusão mais ampla que permita que
se estruturem como um campo do conhecimento geográfico.
O autor uma Geografia dividida entre o avanço dos conhecimentos sicos e uma
pouca elaboração das interpretações humanas. A centralidade da descrição parte da interação
dos homens (biológicos) com o meio (físico) na elaboração de paisagens, que ficou conhecido,
na França, como geografia da descrição racional”. O concentrado enfoque nas condições
físicas tende a um determinismo geográfico, pois limita a ação dos homens, configurando um
método insuficiente em compreender as relações culturais (Braudel apud Ribeiro, 2015). Dessa
forma, seria (é) necessário reavivar um enfoque as relações econômicas e políticas para
compreender melhor a realidade.
A geografia humana é o estudo da sociedade no espaço configurado por ser um meio
onde as relações humanas levam a compreensão do espaço a uma “substituição da medida do
homem, de uma vez por todas, pela medida dos homens, dos grupos, das sociedades” (Braudel
apud Ribeiro, 2015). A inclusão das relações sociais e as determinações que estas também
atribuem ao espaço partem do conjunto de possibilidades e eventos que forjam um lugar.
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De fato, não existe problema social que não esteja situado em seu quadro geográfico,
quer dizer, exposto no espaço, confrontado a esse espaço. Não há realidade social que
não ocupe um lugar no solo. Esse ou aquele lugar: eis já todo um problema! Situar os
fatos a serem estudados: eis mesmo a primeira démarche de toda pesquisa social séria
(Braudel apud Ribeiro, 2015, p. 618).
É necessário compreender a realidade do social para compreender a realidade
geográfica. Localizar e regionalizar as formas de vida se torna fundamental, pois essas
organizações fornecerão as bases para interpretar e compreender: aqui, o fato geográfico é uma
das malhas da cadeia, nada demais. Todavia, é algo a ser considerado, pois sempre existe uma
malha geográfica, e, às vezes, mais de uma, na cadeia dos fatos sociais” (Braudel apud Ribeiro,
2015, p. 620).
O espaço, como base material, é a todo tempo impactado pelo trabalho dos homens,
sendo este organizado pelas relações entre história, sociologia e filosofia. É isso que torna as
ciências humanas ricas e capazes de compreender dada realidade. A Geografia deve se
posicionar complementando as demais: “Agora, se acrescentarmos ao espaço e ao social a
poderosa coordenada ‘tempo’” (Braudel apud Ribeiro, 2015, p. 622).
Ainda que de forma incompleta, Braudel identifica na geografia histórica alemã um
trinômio físico, econômico e social
2
capaz de organizar um pensamento humanista: “não m
partes independentes, cada um destes se relaciona e fornece condições para o funcionamento
das outras, estando em constante mudança com o passar do tempo, por cada uma destas estarem
também sujeitas a desgaste de suas condições” (Braudel apud Ribeiro, 2015, p. 623).
Para tornar a Geografia ainda mais completa é necessário acrescentar a ela os ritmos
históricos. De um lado, a perspectiva que aborda os grandes ciclos da natureza, a geologia, o
clima, entre outros tempos que compõem ciclos de duração muito longos; neles as alterações
espaciais são de ordem lenta e imprimem grande força sobre a vida. Do outro, o tempo na
perspectiva dos homens e sociedades, que trabalhando as condições naturais, alteram a
organização espacial a partir de suas necessidades em ritmo mais acelerado e menos duradouro.
(Braudel, 2015).
2
O meio físico e suas incontáveis forças (biosfera, litosfera, hidrosfera, atmosfera); a economia, as formas de
conquistar, possuir, trocar objetos terrestres e estas relações entre os homens; o social, referente ao grupo de
homens que vive sob determinadas maneiras de organização política, religiosa, identitária (Braudel apud Ribeiro,
2015).
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Principalmente a partir da escola dos Annales, a geo-história busca cumprir um papel
multidisciplinar, implicando em uma dimensão espacial da ação histórica e a reflexão sobre
temas que não se encerram definitivamente no passado, como fatos dados ou prontos (Carneiro,
2018a). Não negar o ambiente físico dos geógrafos, mas compreender de forma relacional como
os seres humanos interagem em simbiose com o meio e como esse novo meio é fruto de suas
relações torna evidente a existência de um espaço comum à própria natureza, balizando as
relações que se inscrevem de forma política, econômica, religiosa, etc.
É a partir do debate apresentado que a Geografia começa a formular uma base histórica
e social a fim de compreender as relações espaciais. A geo-história apresenta academicamente
uma proposta mais integradora de uma visão tempo-espacial, mas não é como se a geografia
histórica não tivesse elaborado esse caminho.
Em Rodrigues (2021), vemos que o debate historiográfico não está acabado, pois o autor
argumenta que muitos dos problemas apresentados dentro da Geografia não foram ignorados.
A geografia histórica mantém sua predominância no meio geográfico (Carneiro, 2018b),
debatendo, mesmo que de forma difusa, a proposta epistemológica e ontológica sobre a
produção da ciência geográfica histórica.
“A geografia histórica deveria, então, se preocupar tanto com as permanências de
características geográficas dos tempos passados nas paisagens atuais quanto com as mudanças
geográficas ao longo do tempo.” (Carneiro, 2018a, p. 27). Nesse caminho, a formulação da
geografia histórica passou por intensos questionamentos, que vão desde a produção de uma
Geografia que devia ser limitada pela localização dos assuntos humanos às críticas do método
de levantamento de dados, muitas vezes escassos ou imprecisos, e às formas qualitativas de
avaliá-los através de métodos contrafactuais. Culminando nas abordagens mais atuais, a
aproximação da Geografia com a História se ocupa do espaço, lugar ou objetos, sua interação,
através de determinados tempos, e as variações sociais que esse meio cria como agente,
percebendo os processos humanos do decorrer da história, sempre focando no lugar ou na
localização (Carneiro, 2018a).
As categorias de duração, permanência, temporalidade (passado, presente e futuro),
longa duração, conjuntura, evento e historicidade, por exemplo, demandam um
tratamento muito mais rigoroso do que as constatações de que “a paisagem muda”, “o
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contexto é importante”, “a origem histórica dos elementos que estruturam o espaço
(Rodrigues, 2021, p. 77).
Podemos atribuir ao tempo o papel fundamental para entendermos o espaço, sendo
através dele que temos a compressão da amplitude e magnitude dos objetos espaciais. Os
marcos históricos devem ser incorporados à análise geográfica, possibilitando um livre caminho
entre a História e a Geografia, ampliando o leque interpretativo sem perder de vista o escopo
geográfico, o espaço (Rodrigues, 2021). O espaço em sua amplitude social, constituído de
natureza e cultura, é onde as relações históricas se cristalizam, sedimentando a materialidade
das relações sociais (Corrêa, 2016). Dessa forma não podemos compreender um sem o outro.
Assim, o método histórico deve fazer parte da compreensão geográfica.
A interdisciplinaridade na análise geográfica, para Rodrigues (2021), constitui mais um
método do que um campo específico; elaborar uma historicidade a partir de diversos campos
(urbano, rural e econômico) aprofunda a capacidade analítica da Geografia, atrelando a
espacialidade e a temporalidade.
Uma Geografia histórica no Brasil
Ao caminhar para uma maior interdisciplinaridade, o debate passa a ser marcado por
um pluralismo teórico relacionado com questões históricas e geográficas da cultura existente
em cada lugar que produz conhecimento a partir de tradições próprias (Carneiro, 2018a). A
compreensão de uma geografia brasileira também deve se passar por uma geografia histórica
brasileira, desenvolvida de acordo com as necessidades e particularidades do povo que aqui
habita.
Diversos geógrafos se propuseram a constituir um pensamento espacial-histórico capaz
de “superar hierarquias e sobredeterminações entre espaço e tempo, chamando a atenção para
o seu caráter imanente às relações sociais. Portanto, tomamos a espacialidade e a temporalidade
como atributos constitutivos das sociedades, não exteriores, não hierárquicos e relacionais”
(Rodrigues, 2021, p. 78). Toda consideração histórica precisa se passar em algum lugar, assim
como a percepção de lugar atravessa a existência de um agente que o percebe em sua dimensão
histórica (Carneiro, 2018b).
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SILVA, Pedro Torres de Lima e. Historicidade nos Estudos de Geografia: tempo-espaço como chave metodológica para pensar o Brasil.
Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 11, nº 24, e112414, 2024.
Submissão em: 06/11/2024. Aceito em: 18/06/2024.
ISSN: 2316-8544
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Esse movimento se consolida a partir da “Nova geografia”. O pensamento marxista se
torna fundamental, principalmente nos méritos da formação socioespacial e no modo de
produção ao relacionar essas dimensões através das condições materiais que formam o espaço,
buscando desvendar a totalidade das relações sociais. Como desenvolve Sereni (2013), esses
conceitos acima citados são envolvidos por longos debates, devido ao fato de Marx não os ter
definido de forma precisa, cabendo a outros interpretar e justificá-los: Lenin, Goldman,
Althusser e muitos outros fazem parte deste movimento. Geógrafos brasileiros também
participam do debate sobre a real definição dos termos. Milton Santos inicia uma aproximação
dos conceitos a partir dos anos 1970 com o livro Por uma nova geografia” e o texto “Sociedade
e espaço: a formação espacial como teoria do método” (Machado, 2016).
Santos (2017) atribui à Geografia estudar o papel do homem como fato histórico, cha-
mando atenção para a interação entre o meio e a sociedade, tendo o espaço como ambiente de
realização do composto social entre as escalas locais e globais. Para compreender esses concei-
tos, devemos entender a relação entre as técnicas e o trabalho social, pois é por meio deste que
entendemos a transformação do espaço a serviço do homem.
O trabalho das sociedades cria um espaço único, que segue os ciclos provindos da
natureza e do homem, morfologias que se tornam parte desse ambiente, adaptando-o à sua
necessidade, alterando suas formas ao prazer da dinâmica social: “Trata-se de uma estrutura
técnico-produtiva expressa geograficamente por uma certa distribuição da atividade de
produção” (Santos, 2017, p. 4). Em cada tempo, as técnicas empregadas têm maior ou menor
eficácia, seja por existir uma tecnologia mais ou menos propícia para o exercício de
determinada tarefa ou pelas necessidades mutáveis que cada conjunto de seres humanos cria,
tornado algumas atividades inovadoras e outras obsoletas.
Essa relação constitui a possibilidade de juntar frações da realidade sempre em
evolução, e permite desvendar a partir do seu movimento a totalidade de uma realidade social,
como compreende Milton Santos (2017). Os fatores e sua composição são decisivos para a ão
humana como ator espacial, e podem inclusive ser definidores das ações históricas que se
perpetuam com a espacialização.
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Na medida em que Milton Santos busca construir uma metafisica geográfica capaz de
analisar uma totalidade social (Santo, 2006), a interação multiescalar de diferentes grupos
sociais que constituem conjuntos técnicos específicos, os conceitos de modo de produção,
formação social e o espaço (Santos, 2017), ganha uma grande importância: o primeiro é algo
que nunca se faz em absoluto, mas é representativo da sociedade a partir das técnicas e
organizações, estabelecendo as bases inteligíveis para a interação dos homens com o meio. O
segundo entende a realidade material, o ambiente de conflito entre os diversos modos de
produção, como sendo a forma como a sociedade realmente se organiza e trabalha. O terceiro,
o espaço, é um reflexo e condicionante das relações, uma vez que cada lugar tem características
que refletem um modo de produção e uma formação socioeconômica, que são alterados de
acordo com o período histórico e as correlações de força momentâneas (Santos, 2017).
Cada lugar pode ser entendido na trama de relações espaciais e históricas, as quais
formam uma totalidade a partir da escala. O conjunto de relações que podem ser materiais ou
imateriais, bem como a distribuição qualitativa e quantitativa desses eventos sociais, depende
das técnicas e necessidades produtivas da sociedade, as quais são historicamente variáveis: O
modo de produção guia o processo de espacialização das sociedades, direcionando-as a atender
suas necessidades mediante conhecimento e ideologia. Entretanto, à medida que as técnicas são
inseridas no espaço, elas transformam-se devido às condições materiais variáveis de cada
formação social específica, de forma que o espaço trabalhado constitui uma realidade própria
que reflete significados trabalhados em seu corpo no decorrer do tempo. A formação espacial
resulta na totalidade por caminhar entre as possibilidades e se prender a uma realidade
espacialmente percebida (Santos 2017).
Os objetos espaciais são as formas particulares que intermedeiam a relação universal
com a realidade material, assumindo maior ou menor relevância na medida em que se
concretizam no espaço e permanecem com o tempo. O movimento dialético entre o espaço e o
tempo é um reflexo das diferentes velocidades históricas em que a divisão técnica do trabalho
é materializada no espaço. Para a compreensão da formação espacial através de uma leitura
mais estritamente da geografia, Milton Santos (2006) busca nos objetos espaciais uma dimensão
emanente das relações sociais, elaborando o conceito de rugosidades (Santos, 2006).
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Nesse sentido geográfico histórico, Rodrigues (2019) nos chama a atenção para a rela-
ção entre escala e período, pois é a partir desses que determinados eventos sociais em suas reais
medidas. Milton Santos atribuiria isto a sucessões (diacronia) e coexistências (sincronia), esta-
belecendo nesse movimento comparativo entre os espaços e suas alterações no tempo a chave
para a razão social (Silva, 2019).
O espaço ou seus objetos tendem a ser vistos como atores históricos que medeiam as
relações sociais. Sendo atributos da produção intelectual e ideológica, são contendores das re-
lações do modo de produção vigente, carregando em si as finalidades por ele posto em deter-
minado tempo, e funcionam como freio ou acelerador das relações com o presente e em uma
escala espacial de ação (Santos, 2006).
Uma dificuldade inerente à reflexão sobre os eventos sociais é o dimensionamento da
importância dos eventos considerados significativos no espaço-tempo. Para isso, podemos usar
as rugosidades (Santos 2006) como pivôs espaciais na história. Observando um objeto espacial
ou um sistema de objetos, podemos entender como estes se materializam suas ações sociais e
suas transformações através do tempo, dialogando com as sincronias e diacronias sugeridas por
Silva (2019). As rugosidades (Santos, 2006) emanam das ações sociais, pois refletem a relação
dialética entre a totalidade e a particularidade do espaço, sendo suporte à formação espacial
(Santos 2017) em escala prática.
Também defendendo uma perspectiva marxista, Moraes (2008) chama atenção para uma
“historicidade materialista dentro da perspectiva dialética” como forma de observar os
movimentos da sociedade, pois esta permite o entendimento do todo sem isolar as partes
(Moraes, 2008). A relação entre as diversas escalas temporais e locais pela intermediação de
“ações particularizada” (Moraes, 2008) molda a totalidade, e busca entender o espaço a partir
de seu caráter mediador das relações sociais e do processo histórico que as constitui, chegando,
assim, à razão de ser desse espaço.
Esse método analítico pretende entender o objeto sem descola-se da realidade. Atribuir
ao espaço o caráter central da Geografia ou toma-lo como método implica entende-lo como
aglutinador de processos que se concretizam no fluxo histórico. Além disso, o espaço é formado
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a partir de seus modos de produção correspondentes, fazendo da Geografia uma “modalidade
da história”, como atribui Moraes (2008).
É em determinado tempo que compreendemos os objetos geográficos, e “isto remete a
apreensões angulares da realidade, justificado recortes analíticos que não esgotam a temática
tratada, mas contribuem para a explicação da teia de mediações responsável por seu
movimento” (Moraes, 2008, p. 40). A partir de imperativos espaciais, compreendemos como a
temporalidade é freada por processos locais: “a relação de uma sociedade específica com um
espaço localizado, num intercambio contínuo que humaniza o local, materializando as formas
de sociabilidade reinante numa paisagem e numa estrutura territorial” (Moraes, 2008, p. 44).
Esse espaço produzido é ao mesmo tempo transformado e valorizado, hierarquizado,
disputando essas características que remetem não só a uma simples transformação cnica, mas
também a uma apropriação política por meio de projetos e atores específicos que planejam a
produção espacial em uma temporalidade mais longa, inclusive produzindo técnicas e
instituições que se mantêm contribuindo e formando o espaço mesmo que os atores originários
não façam mais parte do processo. Uma dinâmica política é necessária para compreender a
formação espacial. Nas palavras de Moraes: “sem captar o jogo político que objetiva, e as
determinações políticos culturais que o enredam, não se consegue entender em profundidade
um processo concreto de valorização do espaço. O território nesse sentido, expressa combates
e antagonismos entre interesses e projetos sociais” (Moraes, 2008, p. 46).
Para que a Geografia seja interpretativa, ela necessita do social e da História (Moraes,
2008), pois assim ela pode buscar uma capacidade de analisar os fenômenos a partir de sua
totalidade. Essa totalidade, entendida como formação espacial, é constituída de múltiplos
fatores, nos quais o trabalho impresso no meio forma tecnologias espaciais que, agindo em
conjunto aos conflitos no seio da sociedade, compõem singularidades. Somente através dessa
combinação podemos entender uma formação espacial, por isso Moraes (2008) posiciona a
geografia humana como uma história territorial.
Essas propostas, principalmente a dialética, levaram à produção de uma grande
quantidade de estudos relacionados ao recorte espacial brasileiro. Porém, como vemos em
Horta (2015), grande parte desses estudos era focado em uma compreensão econômica desse
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espaço. Ao ver as obras de Robert Moraes, Ruy Moreira e Milton Santos, observa-se uma lógica
de difusão do capital que tende a homogeneizar o espaço dentro de funções próprias de sua
sociabilidade. O estado-nação se mostra central para entender esse processo, posto que é agente
hegemonizado do modo de produção capitalista.
Pensar um espaço geográfico brasileiro nos remete a esse recorte nacional, o qual,
devido às dinâmicas de poder (Sack, 1983), o torna também território. Porém, esse território é
uma forma específica de se apropriar do espaço, correspondendo às cosmologias próprias
(Saquet 2022) de grupos que criam representações de valor vinculadas à colonização e à
reprodução do capital, como vemos em Moraes (1987).
As obras e trabalhos feitos até hoje pelos autores da “nova geografia” são fundamentais,
pois é inegável o papel que o Estado tem no cotidiano. Não podemos, no entanto, negar outros
agentes que fazem parte desse processo, e para isso a Geografia deve encarar de outras formas
o espaço e buscar compreender também a territorialidade, uma vez que é o território que nos
permite compor a formação socioespacial com as formas não-hegemônicas.
A fim de compreender outras lógicas de se espacializar, Saquet (2022) propõe perceber
o território como uma forma de ser e viver no mundo, compondo leques próprios de valorização
do espaço como práxis territoriais distintas e únicas na forma pela qual diversos povos
estabelecem vínculos com o meio. Hurtado (2021) sugere uma formação socioterritorial e busca
colocar na equação como diversos grupos que se posicionam na fronteira da estrutura
hegemônica de poder “coexistem e se enfrentam em relações desiguais (Hurtado, p. 313, 2021,
tradução livre
3
).
O método analítico dialético tendeu a sobrevalorizar o poder e o controle emanado pelos
agentes hegemônicos, no geral incumbidos pelo Estado (Moraes, 2008) e Corporações (Santos,
2006), o que por si não está errado. Porém, não podemos nos esquecer de que outros agentes
espaciais também são capazes de mobilizar o espaço em sua trama de interesses.
A constituição do espaço territorializado parte das disputas políticas (Moraes, 1987) e
das formas de apropriação e regulação (Sack, 1983) que criam no espaço rugosidades (Santos,
2006), sendo os entes não-hegemônicos também produtores e modificadores destas feições. O
3
No original: coexisten y se enfrentam en relaciones desiquales”.
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espaço não pode ser visto como veículo de via única, mas sim antro de disputas. Para
compreender a formação socioespacial, devemos considerar todos os agentes em uma dinâmica
política desigual a fim de compreender a formação socio territorial (Hurtado, 2012).
Conclusão
Para entender como os próprios geógrafos investigam seus objetos, olhamos o espaço.
Porém, a historicidade é um importante instrumento que fomenta a capacidade analítica da
Geografia, em especial quando pensamos realidades nacionais como a brasileira. Essa interação
é fundamental para entender sua estrutura (organização, população, cultura), sua sociabilidade
específica.
Como podemos observar, principalmente em Carneiro (2018a, 2018b), através do
debate entre história geográfica e geografia histórica são formuladas teorias que buscam alinhar
a Geografia com as ciências sociais. Em Rodrigues (2019), pensar o tempo concomitante ao
espaço em suas escalas foi ferramenta estruturante, pois é de acordo com essa relação (dimensão
do espaço, em determinada quantidade de tempo) que é possível compreender objetos de estudo
sociais na Geografia.
O Brasil, como objeto geográfico, é o espaço territorial que ocupa determinada extensão
do planeta, e é também uma condição social. O estado-nação é constitutivo da sociedade que o
forma, sendo expressão de sua organização no tempo. Por isso, para compreender o Brasil, um
método geográfico é tão importante quanto um método histórico.
Dessa forma, concordamos com Rodrigues (2021), que propõe usar a História não como
um campo específico, mas sim como um método que atravessa a geografia humana, fazendo
parte de todos seus campos e temas. Ao mesmo tempo, temos que ter clareza em relação a quais
objetos estamos analisando e qual é sua real importância na dinâmica social a escala de ação
espacial e temporal para chegar assim em sua perenidade. Isso nos leva a complementar o
pensamento histórico com as rugosidades (Santos 2006) advindas da formação espacial, fruto
da dialética entre a formação socioeconômica e o modo de produção, o que é representativo
desse espaço vivo, dotado de objetos técnicos é agente da realidade social (Santos, 1988).
O método histórico junto da interpretação dialética nos permite entender o espaço a
partir do momento em que a sociabilidade é trabalhada em diversos ritmos, podendo migrar,
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fixar, intensificar, mudar ou acabar. O meio é condutor dessas relações, sendo importante não
esquecer das relações políticas que envolvem esse espaço, pois nele se desenvolvem cadeias de
valor estabelecidas através dos atritos entre os diversos modos de produção (Moraes, 2008), e
que sinalizam a importância desses objetos que estamos analisando na dinâmica social.
O espaço, a sociedade e seus objetos são produtos da história, e têm suas próprias
dinâmicas. O espaço é agente, cada objeto é latente das relações sociais historicamente
produzidas e, em função delas, exerce um trabalho no conjunto ambiental (natural e social).
Para entendê-lo seria necessária uma história territorial (Moraes, 2008) na qual sejam
evidenciadas as cadeias de valor em disputa ao mesmo tempo em que a formação espacial
(Santos, 1988). Essa formação é evidenciada por rugosidades que, em sua dimensão escalar,
temporal e espacial, dialogam com o passado e o presente ao mesmo tempo em que implicam
em uma normatização das ações sociais a partir das técnicas (Santos 2006).
É necessário um olhar mais minucioso desta formação para mediar a totalidade com o
particular. A partir das rugosidades (Santos, 2006), percebemos estruturas espaciais que nos
mostram como o trabalho humano usado para imprimir valores ao meio (Moraes, 1987)
mobiliza diferentes cosmovisões de mundo (Saquet, 2022) e dialoga de forma desigual na
construção do espaço, em uma trama política e técnica, moldando um tecido socioterritorial
(Hurtado, 2021).
Podemos concluir que a Geografia que abrange os ritmos históricos compreende sua
importância sem excluir a espacialidade como ponto central. Para compreender o Brasil, faz-se
necessário incluir o povo no espaço a partir de suas geografias próprias, tomando-o como
aspecto fundante da formação socioespacial do território pois é analisar todos os tipos de
trabalho social como parte da relação espaço-tempo para entendermos o nosso país,.
Referências
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Ensaios de Geografia
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