Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
SILVA, Maycom Douglas Menezes da; NUNES, Hikaro Kayo de Brito. Relação Estagiário/Estudantes e a Educação Geográfica: considerações
acerca das vivências em turmas do Ensino Fundamental (Coari/Amazonas). Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 10, nº 23, e102308, 2024.
Submissão em: 20/12/2023. Aceito em: 23/05/2024.
ISSN: 2316-8544
Este trabalho está licenciado com uma licença Creative Commons 1
SEÇÃO ARTIGOS
Relação Estagiário/Estudantes e a Educação Geográfica:
considerações acerca das vivências em turmas do Ensino Fundamental
(Coari/Amazonas)
Intern/Student Relation and Geographic Education:
considerations about experiences in Elementary School classes (Coari/Amazonas)
Relación Pasante/Estudiante y la Educación Geográfica:
consideraciones sobre experiencias em las clases de Educación Primaria
(Coari/Amazonas)
DOI: https://doi.org/10.22409/eg.v10i23.61132
Maycom Douglas Menezes da Silva1
Universidade do Estado do Amazonas (UEA),
Amazonas, Brasil
e-mail: maycommenezes66@gmail.com
Hikaro Kayo de Brito Nunes2
Universidade do Estado do Amazonas (UEA),
Amazonas, Brasil
e-mail: hnunes@uea.edu.br
Resumo
Este artigo reúne contribuições empíricas e científicas sobre a prática docente no ensino de Geografia a partir da
experiência teórico-prática durante o Estágio Supervisionado Obrigatório do curso de Licenciatura em Geografia
da Universidade do Estado do Amazonas. A partir desta experiência professoral, optou-se metodologicamente pelo
Relato de Experiência, pois entende-se que esta é a melhor forma para expor com profundidade e didática a riqueza
científica e humanística desta troca de experiências entre professor-estagiário/professor-estudante, onde a
observação participante teve papel preponderante para a apuração e apreensão de questões-chave, a necessidade
premente de aplicação de metodologias ativas no ensino de Geografia em turmas do Ensino Fundamental em
Coari/Amazonas, sendo observado, durante o estágio, em atividades que concentraram estratégias como
questionamentos, debates, atividades práticas, desenhos/representações e júri simulado, de maneira criativa,
participativa e colaborativa. Diante disso, conclui-se e ressalta-se a necessidade e emergência de uma nova
abordagem de ensino em Coari, sobretudo em relação às abordagens inclusivas e criativas de metodologias ativas,
em detrimento de um ensino fragmentado, mecânico e tedioso de metodologias tradicionais.
Palavras-chave
Geografia; Estágio Supervisionado; Metodologias Ativas.
1
Graduado em Licenciatura em Geografia pela Universidade do Estado do Amazonas (NESCO/UEA).
2
Doutor em Geografia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e Professor Adjunto da Universidade do
Estado do Amazonas (CEST/UEA).
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Abstract
This article brings together empirical and scientific contributions on teaching practice in Geography teaching based
on theoretical-practical experience during the Mandatory Supervised Internship of the Geography Degree course
at the State University of Amazonas. Based on this teaching experience, we methodologically opted for the
Experience Report, as it is understood that this is the best way to expose in depth and didactics the scientific and
humanistic richness of this exchange of experiences between teacher-intern/teacher-student, where participant
observation played a preponderant role in investigating and apprehending key issues, the need to apply active
methodologies in the teaching of Geography in Elementary School classes in Coari/Amazonas, being observed,
during the internship, in activities that concentrated strategies such as questions, debates, practical activities,
drawings/representations and simulated jury, in a creative, participatory and collaborative way. In view of this, the
need and emergence of a new teaching approach in Coari is concluded and highlighted, especially in relation to
inclusive and creative approaches to active methodologies, to the detriment of fragmented, mechanical and tedious
teaching of traditional methodologies.
Keywords
Geography; Supervised Training; Active Methods.
Resumen
Este artículo reúne aportes empíricos y científicos sobre la práctica docente en la enseñanza de Geografía a partir
de la experiencia teórico-práctica durante la Práctica Obligatoria Supervisada de la Licenciatura en Geografía de
la Universidad Estadual de Amazonas. A partir de esta experiencia docente, optamos metodológicamente por el
Informe de Experiencia, por entender que es la mejor manera de exponer de manera profunda y didáctica la riqueza
científica y humanística de este intercambio de experiencias entre docente-pasante/docente-alumno, donde la
observación participante jugó un papel preponderante en la investigación y comprensión de temas claves,
observándose, durante la pasantía, en actividades que concentraron estrategias como preguntas, debates,
actividades prácticas, dibujos/representaciones y jurado simulado, de forma creativa, participativa y colaborativa.
Ante esto, se concluye y destaca la necesidad y surgimiento de un nuevo enfoque de enseñanza en Coari,
especialmente en relación con enfoques inclusivos y creativos de las metodologías activas, en detrimento de la
enseñanza fragmentada, mecánica y tediosa de las metodologías tradicionales.
Palabras clave
Geografía; Pasantía supervisada; Metodologías Activas.
Introdução
O Estágio Supervisionado é de suma importância para a formação professoral do
discente, constituindo-se um momento que possibilita diversas experiências de forma cada vez
mais prática, além de contribuir para compreender e colocar em prática os conhecimentos
aprendidos na formação docente. Diante desta etapa é que muitos acadêmicos terão o primeiro
contato (excetuando aqueles que possuem contato a partir de programa e projetos que
antecedem o estágio, ou até mesmo que atuam como professores) com o dia a dia de uma
sala de aula, além de acompanhar a rotina diária do professor, da escola e de toda comunidade
escolar, favorecendo, assim, o conhecimento das experiências e desafios da profissão de
educador.
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O estágio é, portanto, o momento primordial que contribui com o processo de formação,
momento esse de experiências e práticas educativas, que, juntas, contribuem para uma
construção professoral do acadêmico, sendo “um eixo central na formação de professores, pois
através dele que o profissional conhece os aspectos indispensáveis para a formação da
construção da identidade e dos saberes do dia a dia” (Pimenta; Lima, 2009, p. 153), que, dentro
deste panorama, possibilita ao discente observar, planejar e desenvolver atividades que são
práticas e necessárias ao exercício da docência, contribuindo e refletindo no fazer pedagógico,
estabelecendo o elo entre a teoria e a prática.
Nesse contexto, faz-se necessária a apreensão de metodologias que oportunizem essa
relação realidade acadêmica (campo teórico) e a realidade vivenciada pelos educandos
(campo empírico) pois o discente que está na academia traz consigo um conhecimento
sistematizado pelos vários campos do saber, e, quando se depara com a realidade (meio escolar),
sente uma diferença imediata e um certo impacto, que é natural para aquele momento de
conhecimento de uma nova realidade.
Passará, assim, a ser desafiado a buscar por meios e alternativas didático-metodológicas
para executar sua tarefa que é transformar o conhecimento científico a partir de uma linguagem
mais acessível pelo uso de exemplos e elementos da vivência cotidiana dos educandos. O voltar-
se para a realidade do educando, da escola e do meio que ele está inserido, possibilita que o
mesmo obtenha uma aprendizagem mais eficiente e compreenda melhor a sua realidade,
fazendo dele um agente de transformação para a sociedade.
Em vista disso, este artigo procura contribuir e aglutinar conhecimentos acerca da de
uma prática professoral no ensino fundamental, levando em consideração a vivência durante o
Estágio Supervisionado; bem como nas análises a respeito de uma prática docente/discente,
levando em consideração que, além de colocar em prática os conhecimentos adquiridos na
universidade no decorrer do curso de Licenciatura em Geografia, foi também um momento de
conhecer de perto os desafios e as experiências da profissão e interação entre estagiário e
estudantes da educação básica.
Nesse sentido, ter realizado o Estágio Supervisionado na escola na qual estudei todo o
Ensino Fundamental II e o Ensino Médio foi um dos momentos mais gratificantes, pois
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reencontrar antigos professores e entrar em cada sala me fez perceber como o professor tem um
papel importante e com grande função social.
Assim, garantindo e experienciando novas formas de compreender as vivências no
Estágio Supervisionado, este estudo tem como objetivo analisar, a partir de um relato de
experiencia, a relação existente entre estagiário e estudantes no âmbito da educação geográfica
em turmas do Ensino Fundamental de uma escola pública da cidade de Coari
(Amazonas/Brasil).
Estágio Supervisionado, Prática Professoral e Metodologias Ativas: reflexões teóricas
As metodologias ativas, definidas como formas que possibilitam e envolvem os alunos
em atividades diferenciadas [...]que envolvem vários aspectos e maneiras de ensino a fim de
desenvolver habilidades diversificadas. Mais precisamente quer tornar o aluno mais ativo e
proativo, comunicativo, investigador [...]”. (Dumont; Carvalho; Neves, 2016, p. 109). Dentro
deste contexto, Diesel, Baldez e Martins (2017), expõem os princípios que balisam as
metodologias ativas, sendo: aluno, autonomia, problematização da realidade e reflexão,
trabalho em equipe, inovação e professor.
Assim, tais metodologias podem se tornar cada vez mais uma alternativa a qual
possibilitará e complementará a prática professoral, levando o educador a alcançar um
desenvolvimento maior dos seus educandos no processo de ensino e aprendizagem. Para melhor
visualizar essa problemática, basta olharmos para o passado e vermos como as escolas estavam
organizadas, para assim podermos frisar que a escola tradicional permanece atual e vem se
atualizando desde sempre. Saviani (1991) expõe alguns pontos importantes que estão presentes
na educação tradicional.
[...] cabiam ao professor, o essencial era contar com um professor razoavelmente bem
preparado. Assim, as escolas eram organizadas em forma de classes, cada uma
contando com um professor que expunha as lições que os alunos seguiam atentamente
e aplicava os exercícios que os alunos deveriam realizar disciplinadamente (Saviani,
1991, p. 18).
Importante ressaltar sobre a realidade das escolas de educação básica, as quais se
caracterizam de uma sala de aula tradicional e não construtivista. Soma-se também o fato de
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como se o processo de aprendizagem dos estudantes, colocando-os como basicamente
indivíduos passivos, pois utilizavam-se métodos tradicionalistas de ensino, em que os
estudantes apenas decoravam conteúdos, com base na repetição e na memorização. Tais
metodologias ainda são utilizadas em muitas escolas de educação básica na rede de ensino
público. Ao entender as necessidades de mudança da metodologia, no processo do ensino
Geográfico, precisa-se compreender que:
No passado, a Geografia como disciplina escolar era extremamente vinculada a
conceitos definitivos. Devido a isso diversos materiais didáticos forneciam
informações meramente descritivas que não tinham nenhuma ligação entre aspectos
naturais e sociais, a preocupação do ensino era somente conhecer, ou melhor,
“decorar” dados estatísticos, nome de rios, de países, capitais entre outros. Diante
dessa consideração fica claro que os conteúdos adotados não tinham perspectivas
críticas e sim técnicas e sem argumentação (Freitas, 2015, p. 1).
Moreira e Ribeiro (2016) afirmam que as metodologias ativas são de suma importância
para formarmos educandos cada vez mais críticos, levando-os a serem mais reflexivos,
passando de indivíduos passivos para ativos no próprio processo de aprendizagem. São essas
metodologias que vão de fato contribuir para um ensino mais construtivista, contribuindo para
que haja autonomia e a vontade de saber dos educandos, levando-os a serem agentes ativos de
sua transformação social.
Assim, entendemos que as metodologias ativas visam o educando para que assumam o
papel central no processo de aprendizagem. É avaliado por meio de atividades que possibilitem
a ele maior autonomia com base nos conhecimentos construídos por meio de vivências no meio
escolar. Isso é possível se levarmos em contexto a prática professoral em sala de aula. É
errôneo pensar que tais metodologias partem de uma construção metodológica sem
fundamentos (esse fazer pedagógico parte de situações adjuntas da realidade vivenciada pelos
educandos), possibilitando meios propícios de integração entre as realidades sociais.
Rezende et al. (2013) expõem que alguns professores têm encontrado “certas
dificuldades” e que grande parte desses atritos se encontram na forma/meio de aplicação de tais
metodologias ativas, atrelado ao fato desse desajuste ser derivado do comodismo que se
encontra entrelaçado com o método tradicionalista do processo de ensino, pois requer de certa
forma uma disposição maior dos discentes e dos docentes. Uma vez que esses antagonismos
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forem vencidos, é que de fato poderemos perceber as diversas realidades sociais, fazendo com
que os educandos busquem uma transformação, sendo cidadãos críticos frente à sociedade pós-
moderna.
Marin et al. (2010) nos mostram que as situações do dia a dia influenciam diretamente
na criação pelo gosto do conhecimento e curiosidade nos educandos. Tal hábito contribui com
a formação contínua destes estudantes, inspirando-os a uma motivação autossuficiente na busca
pelo próprio processo de aprendizagem. Ao olharmos para as práticas professorais como algo
a ser analisado nas escolas, passaremos a dar mais importância para o preparo da formação e
criação de metodologias ativas, tornando-as fatores principais que podem contribuir
positivamente no processo de ensino e na aprendizagem na educação básica.
A aplicação dessas metodologias dentro do ensino geográfico deve levar em
consideração a construção do conhecimento geográfico no meio escolar. É leviano esquecer de
observar a geografia em sua origem empírica na qual Moraes (1993, p. 7) nos descreve que “a
Geografia é uma ciência empírica, pautada na observação”. Esse é um aspecto próprio e
particular da ciência geográfica, que é provado e sustentado nos relatos de muitos diários de
campo de estudiosos/viajantes ao redor do mundo, são essas observações e descrições que dão
base à ciência geográfica.
Em vista disso, são essas bases da ciência geográfica que podemos experimentar,
construir e vivenciar no meio escolar durante o Estágio Supervisionado, assim, contribuindo
com a formação e prática docente. Fontana (2016) nos mostra o “espaço tempo da escola” como
principal agente de formação, isso se pelo fato de o discente ter o primeiro contato com a
profissão de educador, contribuindo assim com a construção da prática professoral do
acadêmico.
Nesse sentido, o Estágio Supervisionado promove esse grande espaço de formação e
construção de habilidades que favorecem no processo de desenvolvimento professoral, apesar
dos desafios encontrados do meio escolar. Um dos desafios desse meio ocorre nas escolas de
educação básica, na busca por metodologias ativas e eficazes que contribuem positivamente
para a promoção de aulas mais participativas e que favoreçam de fato o ensino e aprendizagem
dos educandos. É, dessa maneira, um desafio, pois transformar os conteúdos que contêm um
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aspecto teórico e que causam, no geral, uma parcela desinteresse, fato percebido pelo uso de
uma abordagem tradicional em sua transposição.
[...] é vista como uma nova metodologia de ensino que tem como, “fundamento
baseado no materialismo histórico que permite ao aluno e aluna organizar o
pensamento, desenvolver a criticidade para a transformação social, através da
organização de uma imagem caótica para uma estrutura bem organizada do espaço
geográfico (Matias, 2008 apud Parente, 2017, p. 8).
Para isso, é necessário o uso de metodologias ativas que estão atualizadas com as
mudanças do mundo pós-moderno, no aspecto global e local dos estudantes. Uma dessas
mudanças é o uso dos meios tecnológico como práticas e, nesse ínterim, Moran, Masetto e
Behrens (2000) ressaltam as tecnologias digitais como uma forma de interação. Assim, o
professor pode incorporar à sua prática cotidiana o uso dessas tecnologias (interação virtual,
aumento de vínculos pessoais e afetivos, ensino participativo e criativo, sempre com o
planejamento e condução docente, uma vez que a ausência desta presença pode prejudicar o
processo de ensino e aprendizagem), que estão disponíveis para os estudantes e a escola,
fazendo desse meio uma forma metodológica no ensino da Geografia.
Nessa nova perspectiva trazida pela Geografia, a Geografia Escolar ajuda a transpor
ainda alguns paradigmas, principalmente o de apenas transmitir conteúdos, para de fato passar-
se a preocupar-se com a formação de indivíduos mais críticos, levando-os a refletir e a
questionar o mundo e a sociedade em que estão inseridos. A Geografia Escolar precisa ser
ensinada de maneira dinamizada para acompanhar as mudanças do mundo.
Nesse itinerário, é importante ressaltar que o Estágio Supervisionado, além de contribuir
com a formação acadêmica, também é um momento de analisarmos a chamada Geografia dos
Sentimentos (Furnaletto, 2014; Silva, 2016), sendo possível observarmos o ambiente escolar
com um outro olhar, uma outra perspectiva, em que não se considere somente preocupado com
a formação intelectual dos estudantes, mas que se possa alcançar a dimensão do lado do
sentimento dos discentes. Freire (1996, p. 47) reflete que, algumas vezes, mal podemos
imaginar o que está se passando na vida pessoal de um estudante, com isso, um gesto simples
do professor poderia ajudar a contribuir com o desenvolvimento intelectual e sentimental do
discente.
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O estágio possibilita a construção dessas análises das fragilidades, que, muitas vezes,
são encontradas em salas de aula ou nos corredores da escola. Uma boa convivência no
ambiente escolar no âmbito do estagiário e estudante é de suma importância, pois abre nosso
olhar, fazendo-nos perceber como a troca de confiança pode contribuir com o processo de
ensino e aprendizagem. Ter uma boa relação com os estudantes permite-nos mais de perto
perceber como o grupo social interage e como cada sujeito se relaciona com os demais. Uma
boa convivência, trocar ideias, além de conversas, facilitam o processo de ensino e
aprendizagem, também contribuem muito com as escolhas de metodologias
ativas/participativas, fazendo-os serem os próprios motivadores do seu processo de
aprendizagem.
Reflexões Metodológicas
Metodologicamente este estudo é caracterizado como Relato de Experiência, no
tocante a vivência no período de 09 de março a 20 de abril de 2023 que tive durante o Estágio
Supervisionado I em uma escola pública localizada no município de Coari, Amazonas. A
atividade de estágio foi realizada nos turnos matutino e vespertino, nas turmas do 6º ao 9º ano,
tendo no total 16 turmas trabalhadas nesse período, com quatro turmas (cada) do sexto, sétimo,
oitavo e nono ano. Nas classes havia um quantitativo de alunos que variam de 39 a 45 alunos,
tendo nesse grupo um quantitativo de pessoas com deficiência, como sensorial, visual,
intelectual e motora. Nesse cenário, o papel do professor que compreenda e possa atender os
públicos diversos é muito importante em uma escola, pois estimula a inclusão dos estudantes
percebendo suas limitações e o direito de cursarem escolas regulares, além de promover uma
inter-relação entre pais e professores, facilitando o processo de aprendizagem, considerando o
suporte oferecido pela escola.
Freire (1996) expõe que a escola possui um papel mais amplo do que apenas passar
conteúdos; o ato de ensinar também demanda compreender que a educação é uma forma de
mudar o mundo. A percepção sobre vulnerabilidade socioeconômica em sala de aula é um ponto
que precisa cada vez mais ser debatido, tendo em vista ser um assunto importante que influencia
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a aprendizagem e está muito presente na realidade de muitas escolas públicas. Nesse
entendimento, Vasconcelos (2015, p. 95) reitera que:
A realidade dos sujeitos em situação de vulnerabilidade e risco social, os espaços
educativos, que os atendem, [...], requer desenvolvimento de uma educação que
caminhe no sentido da atividade, de modo a posicioná-los como cidadãos incluídos,
mediante uma Pedagogia comprometida com a mudança social e com foco nos
direitos humanos.
Percebe-se, assim, que muito a avançar sobre estudos do meio escolar,
principalmente quando se fala em questões de vulnerabilidade socioeconômica nas salas de
aula, nas escolas de educação básica de ensino público e como essa perspectiva da
vulnerabilidade pode afetar o processo de aprendizagem dos estudantes e o seu
desenvolvimento escolar. O Estágio Supervisionado na rede de educação pública nos
possibilitou observar essa perspectiva socioeconômica dos estudantes como um ponto
importante no processo de ensino e aprendizagem.
As etapas da atividade de estágio consistiram-se, no primeiro momento, na realização
de um levantamento histórico da escola e de todo o seu corpo estudantil, em seguida foram
realizadas as observações em sala de aula da disciplina de Geografia, sempre com o olhar atento
às dificuldades dos alunos e nas atividades que estavam sendo realizadas dentro e fora da sala
de aula. E sempre quando solicitados pelos professores, pedagogos e direção da escola, nos
colocamos à disposição, sempre auxiliando as professoras no desenvolvimento de atividades
cotidianas e projetos, seja na organização das crianças para o início de uma atividade discursiva
coletiva no ano, seja na orientação de atividades em grupos menores no ano e debates
geográficos com as turmas do 9º ano.
No segundo momento, houve a preparação para o exercício da docência, a partir de
todo zelo e responsabilidade, tendo sempre a preocupação de discutir, organizar e planejar as
aulas com a professora da turma e estabelecendo sempre um diálogo mais pedagógico de cada
assunto, bem como os procedimentos a serem realizados em sala de aula, colaborando assim
para a construção de habilidade práticas e metodologias mais participativas e criativas.
O estágio como campo de conhecimentos e eixo curricular central nos cursos de
formação de professores possibilita que sejam trabalhados aspectos indispensáveis à
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construção da identidade, dos saberes e das posturas específicas ao exercício
profissional docente (Pimenta; Lima, 2013, p. 61).
Nessa perspectiva, os autores anteriormente citados explicam que o estágio possibilita
construir novos meios que contribuam com a formação professoral. Assim, Stringer (1996)
reflete a respeito da perspectiva da pesquisa-ação na qual aborda um hábito feito por algumas
ações importantes que podem ser usadas durante o Estágio Supervisionado como: observações
que nos possibilitem adquirir informações sobre o espaço/meio escolar; o ato de pensar para
explorar novas metodologias e análises para melhor argumentar sobre casos que contribuem
com o processo de avaliação.
Elos, afetos e a relação estagiário/estudantes como potencializadores do processo de
ensino e aprendizagem em Geografia
Conforme registros junto às turmas trabalhadas (do ao 9° anos), memorizamos que
ao entrar em cada sala de aula deve-se estar ciente do meu papel de ser o professor, sendo bem
diferente de entrar na universidade na condição de acadêmico, porque de certa maneira pesa
sobre os ombros a grande responsabilidade de contribuir para com a formação de cidadãos
críticos e atuantes na sociedade atual. É possível compreender que o ato de ensinar é por si
uma tarefa difícil, e quando se trata da Geografia que ainda é compreendida em muitas escolas
como apenas uma ciência descritiva, encontrei um grande desafio.
É somente nesse momento que relembrei de tudo o que vimos na universidade e pude
perceber a importância de colocar o saber científico em prática, de uma forma que seja próxima
da realidade do estudante. Dessa forma, o estagiário deve sempre demonstrar disponibilidade e
disposição para contribuir com o desenvolvimento dos estudantes e os mesmos com o professor
estagiário, pois ambos serão potencializadores durante o processo de ensino e aprendizagem no
meio escolar. Uma boa relação com os estudantes contribui para uma boa aula. Um exemplo
dessa boa relação foi perceptível ao preparar a regência na turma do ano “3”, quando cada
aluno ajudou a preparar, debater e organizar de forma criativa e animadora os conteúdos que
lhes seriam apresentados, a partir de leituras e pesquisas prévias do conteúdo que seria
trabalhado, deixando-os como agentes ativos no próprio processo de ensino.
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Assim como em qualquer aula, é necessário um olhar importante sobre o preparo e o
desempenho na exposição, interação e integração das atividades. Assim, durante as práticas do
estágio, os estudantes participaram significativamente da escolha do tema: os povos indígenas
da Amazônia e suas características culturais. A partir dessa definição, realizamos um
levantamento bibliográfico sobre os povos indígenas da Amazônia na biblioteca da escola e
mergulhamos na criatividade, como afirma Gonçalves (1991, p. 23): “Todos os indivíduos são
potencialmente criativos”. Nesse contexto, a criatividade dos estudantes foi trabalhada de forma
expressiva.
A criatividade é compreendida por Taylor (1971) como a maneira em que o indivíduo
possui inteira liberdade de expressar seus sentimentos criativos, a exemplo de desenhos. Assim,
o desenho de forma livre, expressão verbal e outros meios semelhantes contribuíram para esse
processo, proporcionando boa convivência com os alunos, formando um elo de amizade de
quererem buscar e conhecer as diversas realidade que só a ciência Geografia abrange.
Uma vez que se tem domínio dos recursos disponíveis e os utiliza com criatividade de
forma didática e dinâmica, podemos cada vez mais construir metodologias e práticas de ensino
e aprendizagem mais eficientes, que realmente ajudem e facilitem na compreensão do conteúdo
pelos alunos, além de ressaltar a importância de um ensino criativo nas escolas. Vanzin e
Cardoso (2015) afirmam que a finalidade do ensino criativo não é produzir soluções criativas,
mas sim dar energia e manter os esforços criativos das crianças, removendo obstáculos e
criando incentivos.
Vivências no 6º ano
Durante o estágio nas turmas do sexto ano, pude contribuir ajudando e orientando a
professora com os conteúdos previstos para o primeiro bimestre, na organização e interação da
turma em suas necessidades encontradas em sala de aula, relacionadas aos assuntos do livro
didático, dentre outros. Nessa fase da atividade de estágio, foi possível realizar observações,
anotações dos pontos positivos e negativos, além de poder contribuir ministrando algumas aulas
expositivas e dialogadas com os estudantes, tendo como conteúdos trabalhados: O que é
Ensaios de Geografia
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AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
SILVA, Maycom Douglas Menezes da; NUNES, Hikaro Kayo de Brito. Relação Estagiário/Estudantes e a Educação Geográfica: considerações
acerca das vivências em turmas do Ensino Fundamental (Coari/Amazonas). Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 10, nº 23, e102308, 2024.
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Geografia? Quais as categorias do Espaço Geográfico? Quais os tipos de Paisagem? Orientação
e Localização, como mostra a Figura 1.
Figura 1 Aula sobre o tema “Localização e Orientação” no dia 23 de março, no pátio da
escola
Fonte: acervo pessoal (2023).
Conforme os registros apresentados, são nesses momentos de docência durante o
Estágio Supervisionado que exercemos a prática todo o conhecimento adquirido na academia,
como bem reforçado por Martins e Tonini (2016). É com essa preocupação com o processo de
ensino e aprendizagem que as aulas do 6° ano foram preparadas para a melhor compreensão e
interação dos estudantes com os conteúdos. No contexto, todas as aulas foram bem
participativas, de modo que os estudantes socializaram de maneira ativa durante os debates
sobre os conteúdos citados a partir de perguntas e questionamentos, bem como trazendo
aspectos e elementos de suas realidades locais, contribuindo com a aprendizagem e o
desenvolvimento da turma.
Vivências no 7º ano
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Nas turmas do sétimo ano, foram realizadas algumas observações e anotações
importantes durante o estágio, por exemplo: I) o comportamento da professora frente aos
desafios encontrados em cada sala de aula; II) o interesse e o desinteresse de alguns alunos em
fazer as atividades propostas, além dos aspectos criativos de alguns estudantes para com os
assuntos abordados em sala de aula. Os conteúdos trabalhados foram: Latitude e Longitude,
Clima e Vegetação, Democracia do Brasil, Paisagens Geográficas (Figura 2).
Figura 2 Aula sobre Paisagens Geográficas fazendo uso do quadro de acrílico
Fonte: acervo pessoal (2023).
As aulas nas turmas do ano foram realizadas de forma participativa e dialogada,
levando os estudantes a expressarem seus entendimentos empíricos a respeito do conhecimento
geográfico e sobre os conteúdos ministrados. De maneira dinamizada, os alunos puderam
compreender como a Geografia é uma ciência e sua complexidade, levando-os a olhar para essa
ciência de maneira crítica, contextualizada e presente na realidade local. A convivência diária
entre estudante e estagiário nessas turmas e no ambiente escolar proporcionaram uma
participação mais ativa durante as aulas, facilitando a docência e o processo de aprendizagem.
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Vivências no 8º ano
Nas turmas do ano, foi possível observar o comportamento, todavia tais turmas se
destacam pelo simples motivo de possuírem um grau elevado de agitação, prejudicial ao ensino
e a aprendizagem dos estudantes. Apesar desse ponto ser um desafio, foi possível contorná-los
com o uso de metodologia alternativas, como: I) aprendizagem baseada em problema
desenvolvida na dinâmica em que os alunos foram desafiados a encontrarem soluções e
hipóteses para determinadas problemáticas e II) sala de aula invertida que consiste na
criação de espaço de troca de informações que contribuem com a ampliação do conhecimento
aplicado no dia a dia e promovendo uma consolidação maior da aprendizagem e estudos do
meio.
O uso dessas metodologias levou a maior utilização do livro de didático como recurso
despertando a curiosidade e o interesse dos estudantes com os conteúdos abordados em sala de
aula. Alguns dos conteúdos foram: Geopolítica, Diversidade Cultural e Migrações (Figura 3).
Figura 3 Aula sobre Migrações, debate como forma de resolução de problemas
Fonte: acervo pessoal (2023).
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As aulas ministradas nessas turmas foram um grande desafio, mas por meio das
metodologias ativas foi possível conseguir resultados positivos que contribuíram no processo
de ensino e da aprendizagem dos estudantes. Outro ponto importante que contribuiu
positivamente para o desenvolvimento das atividades em sala de aula foi a relação entre
estagiário e aluno, possibilitando compreender as dificuldades de ambas as partes no processo
de ensino e aprendizagem. Nas vivências durante essa prática professoral, o bom conviver e
uso de metodologias novas trouxeram incentivo e curiosidade durante as aulas de Geografia.
Vivências no 9º ano
Nas turmas do 9º ano, as observações e apontamentos nos levaram a conhecer melhor a
dinâmica da turma. Apesar de conter um quantitativo maior de estudantes, essa quantidade não
afetou diretamente no processo de ensino e aprendizagem, tendo em vista que os estudantes se
destacaram por serem discentes calmos que facilitaram a transposição didática para a turma.
Dentre os conteúdos trabalhados nessas turmas de nono ano, destacamos: O que é a Geografia?
Economia global, Capitalismo e Socialismo (Figura 4).
Figura 4 Júri simulado em que os alunos debateram sobre os aspectos do Socialismo e
Capitalismo e foram motivados a criarem um novo sistema com base na realidade atual
Fonte: acervo pessoal (2023).
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Durante essas práticas, foi possível observar a dedicação de cada aluno para
compreender os conteúdos. As aulas poderiam ter sido mais expositivas e dialogadas para
facilitar ainda mais a compreensão dos alunos, mas as limitações encontradas em sala de aula
não contribuíram para que pudéssemos deixar as aulas mais dinâmicas. Apesar da falta de
autonomia em sala de aula, causadas por uma prática professoral não tão sensível às
metodologias ativas, não deixamos de priorizar a observação referente aos estudantes que
possuíam alguma limitação na assimilação dos conteúdos. Isso foi favorável para que ambas as
partes (estagiário e estudantes) pudessem realizar uma troca de conhecimentos que ajudou na
construção de práticas professorais, contribuindo para o processo de ensino e aprendizagem
como maneira de formar indivíduos críticos e comprometidos e que gostem da Geografia
enquanto ciência crítica e emancipatória.
Ainda sobre o juro simulado, os desafios não foram muitos, tendo em vista que tivemos
uma boa relação desde o início, no entanto, cabe ressaltar: o tamanho da sala que não era
suficiente à grande quantidade de alunos, que, mesmo divididos em grupos, havia um
desconforto frente as limitações; falta do livro didático para alguns alunos; bem como a
proibição do uso do celular (norma da escola) e a ineficiência do Laboratório de Informátiva,
que perdeu sua funcionalidade para servir como depósito de livros. Sobre as potencialidades,
pude perceber principalmente as seguintes: aumento e aperfeiçoamento da capacidade de
expressão (melhoria das formas de comunicação e expressão das ideias); trabalho em equipe (a
partir de diálogos e defesa das opiniões com base no conteúdo trabalhado); capacidade
argumentativa (desenvolvimento de argumentos bons e válidos, levando em consideração a
realidade atual); e, por fim, a capacidade de reflexão mais crítica do tema.
Considerações Finais
O Estágio Supervisionado em Geografia foi um momento muito importante para a
minha formação acadêmica e profissional, pois foi possível de fato perceber a realidade escolar
e assim colocar em prática toda a teoria, os conhecimentos e os ensinamentos adquiridos na
universidade. Durante o estágio, foi percebido que realmente há uma necessidade muito grande
de novos profissionais no ramo da educação, profissionais esses com novas metodologias de
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ensino e de aprendizagem, sensíveis a uma educação inclusiva e criativa, tendo em vista que
nossas escolas estão cada vez mais carentes de criatividade tanto dentro de uma sala de aula
como em todo o espaço e meio escolar.
Assim, concluo que a realização do Estágio Supervisionado em uma escola em que
estudei parte da minha educação básica foi muito gratificante e encorajador. Porém, agora, com
uma nova visão, pude perceber como existe alguns pontos que podem ser melhorados, desde
questões administrativas, logística, uso do espaço escolar e metodologias de ensino, mas isso é
somente minha forma de olhar, em um exercício de subjetividade.
Em perspectiva de uma análise conceitual (teoria e prática) muito ainda é preciso
avançar no que diz respeito à emancipação sociopolítica de nossos estudantes, mas as práticas
de ensino precisam ser constantemente aprimoradas através da formação e qualificação dos
docentes, sobretudo a fim de que estas venham melhorar a autonomia dos processos de ensino
e aprendizagem. No entanto, isso será possível quando ambos, professor e aluno tomarem
consciência de seus papeis na sociedade, de modo que o conhecimento seja considerado o
caminho para se buscar uma ação reflexiva e libertadora.
Por fim, compreendo que a universidade precisa chegar até a comunidade e trazê-la para
dentro dela, assumindo o papel social para o qual foi criada. A soma dos saberes para a
promoção de iniciativas que possibilitem melhorias para o bem-estar social de todos. As ações
individuais (perfil profissional) devem visar benefícios para o coletivo, sendo importante
destacar a importância da leitura e do apreço pelo conhecimento por parte dos educandos, ainda
mais quando é urgente que haja o reencantamento pela vida, pela valorização do saber e, por
conseguinte pela valorização da vida.
Referências
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