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CAPA
Píer da Praia da Bica, Jardim Guanabara Ilha do Governador, Rio de Janeiro, 18 de
novembro de 2022.
Sempre que inicio uma sessão de fotos, ao chegar no espaço que evoca um afeto,
dou o meu clique determinante. “Quero falar disso hoje”. Limitar, mesmo que seja
virtualmente, o local onde vou habitar e investigar durante esses olhares, sempre
se mostrou necessário, mesmo sem saber onde vou chegar ao final da sessão.
Esse píer se localiza na Praia da Bica, que fica no Jardim Guanabara, ao Sul da Ilha
do Governador, região administrativa da cidade do Rio de Janeiro. No meio do
quadro, a única pessoa presente no plano parece ir em direção a água, como se
fosse uma extensão da terra. Mas não do centro do píer, houve uma escolha ao se
deslocar para o canto. E depois, como pude presenciar mais tarde, de se sentar ali
para contemplar.
Deixar na perspectiva a altura do homem proporcional à extensão de água em sua
frente parece produzir uma real possibilidade sobre esse caminho que poderia vir
a ser seguido pela baía. Todavia, a impossibilidade do alcançar da paisagem da
cidade Rio de Janeiro se faz mais presente do que antes quando se chega no
extremo. Agora, mais do que nunca, você é convidado a olhar. Extensão de água, o
vazio próximo ao píer, as similaridades estruturais estéticas do píer e da Ponte Rio-
Niterói ao fundo, a densificação de embarcações na medida em que se aproxima
do centro da cidade, os contrastes vão emergindo conforme o olhar vai
percorrendo a imagem.
Esse dia não foi diferente. Porém, tenho a sorte de esse lugar estar a 50 metros da
minha casa e evocar um afeto que, após 3 anos morando fora do país, de fato não
é muito difícil de se alcançar. Ainda assim, esse foi o primeiro clique que ditou o
rumo de uma sessão que me disse muito sobre a cidade, nossa relação com ela
através dos anos, e o momento de parar e olhar para o que importa.
O píer na época sequer estava reformado. Ainda assim, apesar da visível fragilidade
esculpida pelo tempo nas tábuas retorcidas, nos pilares de contenção quebrados e
na ausência das cordas que um dia estiveram presentes ali, a paisagem da cidade
do Rio de Janeiro não é contida. Ela chama pelo olhar, convidando a um breve
trajeto até a borda, trazendo um enorme contraste com a calmaria da baía.
No momento, decidi escrever a partir do píer, agora reformado, mas ainda assim
parece frágil, em paralelo com a ponte. um vento leve e contínuo. A paisagem
do Rio de Janeiro à frente não está tão limpa quanto no dia desta foto. No
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entanto, parece que esse meio suspenso na água entre a terra e o mar, com o som
das ruas do Jardim Guanabara atrás de mim, os ônibus passando, a poda de
árvores, produz um isolamento momentâneo que o urbano geralmente não
permite.
Assim como suponho sobre o senhor da imagem, parece que venho aqui não
procurando tempo, nem mesmo silêncio, mas espaço para pensar. Hoje, com
profundidades de campo tão curtas, saltando de uma tela para outra, sinto, mais
do que nunca, necessidade dessa pausa para avistar o que está mais distante. E
num simples trajeto até a borda do píer, por mais que o corpo fique, quem embarca
é a mente.
Sony A7iii - 85mm 1.8
Gabriel Puente
Fotógrafo
@puentegabriel
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A Revista Ensaios de Geografia é um periódico científico quadrimestral
do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade
Federal Fluminense (PosGeo/UFF). O acesso ao seu conteúdo é livre e
sua publicação se exclusivamente no meio digital. A revista tem
como principal objetivo divulgar pesquisas dos estudantes de
graduação e pós-graduação vinculadas à geografia e áreas afins, bem
como ser um espaço de formação acadêmica e profissional, ao contar
com a participação de estudantes nos processos editoriais.
Nesse sentido, busca-se divulgar a produção de artigos que
contenham resultados empíricos relevantes e revisões teórico-
conceituais que contribuam para o processo de ensino-aprendizagem,
fundamental ao desenvolvimento do pensamento geográfico. Além
disso, propõe-se publicitar produções artísticas como fotografias,
poesias, desenhos e similares, desde que estabeleçam um diálogo
com a referida área de conhecimento.
São aceitas contribuições nos seguintes idiomas: português, inglês e
espanhol.
O conteúdo dos trabalhos é de inteira responsabilidade dos autores.
A revista não cobra nenhum tipo de encargo dos autores ou leitores.
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CONTATO
Comitê Editorial da Revista Ensaios de Geografia
Endereço: Avenida Milton Tavares de Souza, S/N - Gragoatá,
Niterói-RJ.
Instituto de Geociências - Departamento de Geografia, Campus Praia
Vermelha. Universidade Federal Fluminense - UFF.
Telefone: (021) 2629-5953
E-mail: revistaensaiosdegeografia@gmail.com
Instagram: @ensaios_de_geografia
Facebook: https://www.facebook.com/revistaensaiosdegeografia/
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EDITORES-CHEFE
Prof.ª Dr.ª Ana Claudia Carvalho Giordani (UFF)
Prof. Dr. Daniel Pereira Rosa (UFF)
Prof.ª Dr.ª Flávia Elaine da Silva Martins (UFF)
EDITORES EXECUTIVOS
Guido Cruz de Assis (UERJ-FFP)
Mateus de Novaes Maia (UFF)
EDITORES ASSISTENTES
Bernardo José Alvarez de Castro (UFRJ)
Caio Oliveira Portella (UFF)
Débora dos Santos Guerreiro da Costa (UERJ-FFP)
Rhuan Muniz Sartore Fernandes (UFRJ)
ESTAGIÁRIOS
Ana Carolina da Silva Mota (UFF)
Felipe da Costa Brito (UFF)
Patrícia Monteiro Peixoto (UNIRIO)
CONSELHO CIENTÍFICO
Prof. Dr. Diego Carlos Pereira (UFF)
Prof. Dr. Flamarion Dutra Alves (UNIFAL)
Prof.ª Dr.ª Rosemary Vieira (UFF)
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CONSELHO EDITORIAL
Antônio Carlos Queiroz do Ó Filho (UFES)
Débora Schardosin Ferreira (UERJ)
Diego Cervantes Ruiz (UAM, México)
Élida Pasini Tonetto (UFRGS)
Evânio Branquinho (UNIFAL) Flávia
Mattos (UFRJ)
Iany Elizabeth Da Costa (UFF) Ilaina
Damasceno (UERJ)
Lucas Tavares Honorato (UFF)
Luis Villacis Taco (UEA, Equador)
Maira Magnani Asencio (UFF)
Maria Adailza Martins de Albuquerque (UFPB)
Tatiana dos Santos Malheiros (UNIR)
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v. 10, n. 22, set-dez, 2023
Esta edição encerra mais um ano de intensas e frutuosas atividades da revista Ensaios de
Geografia. Com prazer, anunciamos a chegada de novos membros à nossa equipe
editorial, vindos de diversas instituições de ensino: Ana Carolina Mota, Antonio de Lima,
Bernardo Castro, Débora Guerreiro, Rafael Machado, Rhuan Sartore e Samanta Dias.
Anunciamos também mais um avanço da revista com a assinatura do Budapest Open
Access Initiative (BOAI), afirmando nossa vontade de promover o livre acesso ao
conteúdo científico aqui publicado, além do recebimento do selo diamante do Miguilim,
fortalecendo nossa política de boas práticas editoriais e visibilidade ao que é publicado
nos periódicos científicos brasileiros.
Todas essas iniciativas se somam a outros resultados significativos alcançados pela revista
ao longo do ano, como a nova avaliação quadrienal de 2017-
2020 da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
Plataforma Sucupira/Qualis Periódicos, que classificou a Ensaios de Geografia em B1,
assim como ao avanço alcançado no sentido de internacionalização da revista e da
manutenção de boas práticas de editoração, a partir do reconhecimento da revista no
Directory of Open Access Journals (DOAJ) e o Sistema Regional de
Información en línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España
y Portugal (Latindex), entre outros.
Também divulgamos a mudança do formato de publicação da revista, que agora será feito
de modo contínuo. Assim, a partir de 2024, todos os números serão alimentados com
novos artigos mediante o fluxo de manuscritos aprovados dentro do intervalo de cada
número. Com isso, esperamos que o fluxo de publicação seja mais orgânico e que o tempo
entre a submissão do manuscrito, sua aprovação e publicação final diminua.
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Na foto de capa, Gabriel Puente captura uma imagem de um pescador no píer da Praia
da Bica, e também orienta o olhar do leitor para a conexão entre a Ilha do Governador e
o continente evocada pela presença do píer.
Nesta edição, convidamos os leitores a apreciar a viagem a partir de uma vasta amplitude
de temáticas e lugares apreciados a partir de distintas geografias. Esta tem sido uma
realidade nas últimas edições da Ensaios de Geografia. Cada contribuição representa um
passo significativo no entendimento e na exploração do nosso mundo, oferecendo
perspectivas inovadoras, análises detalhadas e descobertas que ampliam os horizontes
do conhecimento geográfico.
Abrindo a edição, o artigo “Espaços de vivências de uma comunidade ribeirinha na
Amazônia” de Agriane Caldeira Souza apresenta as diversas dinâmicas experimentadas
pelos habitantes de Carapanatuba, uma comunidade ribeirinha no coração da Amazônia
Paraense, situada no interior de Santarém.
Em um segundo momento, Anderson Kech, Juçara Spinelli e Marlon Brandt, no texto
“Movimentos sociais e Geografia: perspectivas sobre como a Ação Social transforma a
Ciência Geográfica”, exploram a visão, a partir da Geografia crítica, das ações humanas e
sociais presentes no espaço.
Érica Milena Carvalho Guimarães Leôncio, Gabriel Rodrigues da Silva e Alexsandro
Ferreira Cardoso da Silva analisam a tributação imobiliária e sua relação com a valorização
urbana em “A tributação imobiliária e suas omissões na política urbana: um estudo de
caso da Região Metropolitana funcional de Natal”.
Com “Um relato de experiência para pensar o desenvolvimento regional a partir setor
produtivo de rosas: de Barbacena/MG ao mercado global de flores”, Jayne Mayrink
analisa a rede de produção, distribuição e consumo das rosas a partir de Barbacena/MG
utilizando o conceito de Rede Global de Produção (RGP) como base teórica.
O artigo “Estado e Agricultura Familiar: os avanços e os retrocessos nas articulações do
Programa de Aquisição de Alimentos no município de São Luís MA Brasil”, de Jessica
Neves Mendes, José Mattos Junior e Igor Sousa, propõe uma análise das relações entre a
aplicação de políticas públicas voltadas para o campo e a agricultura familiar a partir do
caso do município de São Luís (MA).
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Em “Geopolítica da Mobilidade na Cidade do México: acidentes e valorização dos
serviços”, Luis Alberto Luna Gómez analisa os efeitos da mobilidade urbana na capital
mexicana, não apenas como uma malha para a circulação de veículos, mas também como
um “arranjo de suportes materiais para os diferentes modos de deslocamento”,
examinando, além disso, como os serviços de seguro e saúde se aproveitam dos acidentes
rodoviários.
O artigo de Marcus Vinícius dos Santos Silva e Viviane Lúcia dos Santos Almeida de Melo,
“Avaliando a Educação Ambiental nas Aulas de Geografia no Ensino Fundamental no
Município de João Alfredo - Pernambuco”, analisa as maneiras pelas quais a educação
ambiental vem sendo abordada nas salas de aula das escolas de João Alfredo (PE) pelos
professores de geografia, evidenciando dificuldades enfrentadas no ensino dessa
disciplina, como a pouca valorização da EA pela Base Comum Curricular e a dificuldade
na formação dos professores.
O último artigo desta edição, “Geografia(s) da(s) Palafita(s): espacialidades, precariedade
habitacional e o habitar entre palafitas urbanas em Manaus (AM)”, de Matheus Vieira
Areb, analisa a geograficidade de uma forma de habitação particular da região norte do
Brasil, as palafitas, mais especificamente no caso de Manaus (AM), propondo uma
reflexão acerca da inserção das palafitas no ambiente urbano e como essa forma de
habitar aponta para uma outra experiência da cidade a partir da interface água-terra.
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ARTIGOS
OS ESPAÇOS DE VIVÊNCIAS DE UMA COMUNIDADE RIBEIRINHA NA AMAZÔNIA
PARAENSE
Agriane Caldeira Souza…………………………………….……................................p. 13 39
MOVIMENTOS SOCIAIS E GEOGRAFIA: perspectivas sobre como a ação social
transforma a ciência geográfica
Anderson Kech, Juçara Spinelli e Marlon Brandt........................................p. 40 59
A TRIBUTAÇÃO IMOBILIÁRIA E SUAS OMISSÕES NA POLÍTICA URBANA: um estudo
de caso da Região Metropolitana funcional de Natal
Érica Milena Carvalho Guimarães Leôncio, Gabriel Rodrigues da Silva e Alexsandro
Ferreira Cardoso da Silva …………………………………………………................….….p. 60 78
O SETOR PRODUTIVO DE ROSAS NA REDE GLOBAL DE PRODUÇÃO: de
Barbacena/MG ao mercado global de flores
Jayne Mayrink …...…….………………………......................................................p. 79 104
ESTADO E AGRICULTURA FAMILIAR: os avanços e os retrocessos nas articulações
do Programa de Aquisição de Alimentos no município de São Luís MA Brasil
Jessica Neves Mendes, José Mattos Junior e Igor Sousa ….....................p. 105 125
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MOBILIDADE NA CIDADE DO MÉXICO: acidentes e valorização dos serviços
Luis Alberto Luna Gómez …………..…………............................................… p. 126 150
AVALIANDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS AULAS DE GEOGRAFIA NO ENSINO
FUNDAMENTAL NO MUNICÍPIO DE JOÃO ALFREDO-PERNAMBUCO
Marcus Vinícius dos Santos Silva e Viviane Lúcia dos Santos Almeida de
Melo………………………………………………………………………………………………….. p. 151 174
GEOGRAFIA(S) DA(S) PALAFITA(S): espacialidades, precariedade habitacional e o
habitar entre palafitas urbanas em Manaus (AM)
Matheus Vieira Areb............................................................................... p. 175 206