Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
NASCIMENTO, Livia Danielle Rodrigues do; SANTOS, Maria Francineila Pinheiro dos. Os Murais enquanto Prática Pedagógica no Ensino
de Geografia: evidenciando a RESEX Marinha da Lagoa do Jequiá, Jequiá da Praia, Alagoas, Brasil. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 10,
nº 23, e102310, 2024.
Submissão em: 05/01/2024. Aceito em: 25/05/2024.
ISSN: 2316-8544
Este trabalho está licenciado com uma licença Creative Commons
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SEÇÃO ARTIGOS
Os Murais Enquanto Prática Pedagógica no Ensino de Geografia: evidenciando a
RESEX Marinha da Lagoa do Jequiá, Jequiá da Praia, Alagoas, Brasil
The Murals as a Pedagogical Practice in Geography Teaching: highlighting the Marine
RESEX of Lagoa do Jequiá, Jequiá da Praia, Alagoas, Brasil
Los Murales como Práctica Pedagógica en la Enseñanza de la Geografía: destacando la
RESEX Marina de Lagoa do Jequiá, Jequiá da Praia, Alagoas, Brazil
DOI: https://doi.org/10.22409/eg.v10i23.61358
Lívia Danielle Rodrigues do Nascimento
1
Universidade Federal de Alagoas (UFAL),
Alagoas, Brasil
e-mail: livianascimentodr@gmail.com
Maria Francineila Pinheiro dos Santos
2
Universidade Federal de Alagoas (UFAL),
Alagoas, Brasil
e-mail: francineila.pinheiro@igdema.ufal.br
Resumo
O Ensino de Geografia possibilita uma análise do espaço de vivência do estudante e a tomada de consciência do
mesmo sobre o contexto social no qual encontra-se inserido. O objetivo central deste estudo consiste em discutir
como os murais produzidos pelos estudantes do 9º ano nas aulas de Geografia possibilita aos mesmos
compreenderem a relevância da Unidade de Conservação (UC): Reserva Extrativista Marinha da Lagoa do Jequiá
– RESEX, localizada no município de Jequiá da Praia, Estado de Alagoas, logo, no seu lugar de vivência. Sendo
assim, este encontra-se ancorado na abordagem qualitativa, centrada na pesquisa ação participativa, na qual
estiveram envolvidos 63 estudantes da Escola Municipal José Cursino dos Santos. A análise dos murais produzidos
pelos estudantes demonstra a percepção deles acerca da referida UC evidenciando aspectos relacionados à
importância da UC, a utilização dos recursos naturais, espécies de animais, pesca (apetrechos), problemas e/ou
desafios, e as ações que podem ser realizadas para amenizar e/ou solucionar os problemas explicitados.
Palavras-chave
Prática Pedagógica; Ensino de Geografia; Unidade de Conservação.
1
Mestra em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia - PPGG/UFAL (2023). Graduada em
Geografia Licenciatura pelo Instituto de Geografia, Desenvolvimento e Meio Ambiente-IGDEMA da
Universidade Federal de Alagoas-UFAL (2021).
2
Doutorado em Ensino de Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2012). Pós-doutorado em
Educação Geográfica pela Universidade de Valencia/Espanha (2016). Atualmente é Professora Associada da
Universidade Federal de Alagoas, atuando no Programa de Pós-Graduação em Geografia - PPGG/UFAL. É
professora do Programa de Pós-Graduação Profissional em Ensino de Geografia - PROFGEO da Universidade
Federal de Pernambuco. Lidera o Grupo de Pesquisa em Educação Geográfica - GPEG/UFAL. Tem experiência
na área de Geografia Humana, com ênfase nos seguintes temas: Educação Geográfica, Ensino de Geografia,
Formação Docente, Estágio Supervisionado, Pesquisa Educacional, e Metodologia do Ensino em Geografia.
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NASCIMENTO, Livia Danielle Rodrigues do; SANTOS, Maria Francineila Pinheiro dos. Os Murais enquanto Prática Pedagógica no Ensino
de Geografia: evidenciando a RESEX Marinha da Lagoa do Jequiá, Jequiá da Praia, Alagoas, Brasil. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 10,
nº 23, e102310, 2024.
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Abstract
The Geography Course enables an analysis of the student's living space and awareness of the social context in
which they are inserted. The central objective of this study is to discuss how the murals produced by 9th grade
students in Geography classes make it possible to understand the relevance of the Conservation Unit (UC): Lagoa
do Jequiá Marine Extractive Reserve – RESEX, located in the municipality of Jequiá da Praia, State of Alagoas,
therefore, it is not his place of residence. Thus, it is anchored in a qualitative approach, centered on participatory
research, in which 63 students from Escola Municipal José Cursino dos Santos are involved. The analysis of two
murals produced by students demonstrates the same perception of the aforementioned UC, highlighting aspects
related to the importance of the UC, the use of natural resources, animal species, fishing, problems and/or
challenges, and the actions we can take to encourage and/or resolve explicit problems.
Keywords
Pedagogical practice; Geography teaching; Conservation units.
Resumen
La asignatura de Geografía posibilita el análisis del espacio vital del estudiante y la conciencia del contexto social
en el que se inserta. El objetivo central de este estudio es discutir cómo los murales realizados por estudiantes de
9º grado en las clases de Geografía permiten comprender la relevancia de la Unidad de Conservación (UC):
Reserva Marina Extractiva Lagoa do Jequiá – RESEX, ubicada en el municipio de Jequiá. da Praia, Estado de
Alagoas, por lo tanto, no es su lugar de residencia. Así, se ancla en un enfoque cualitativo, centrado en la
investigación participativa, en la que participan 63 estudiantes de la Escola Municipal José Cursino dos Santos. El
análisis de dos murales producidos por estudiantes demuestra la misma percepción de la UC antes mencionada,
resaltando aspectos relacionados con la importancia de la UC, el uso de los recursos naturales, las especies
animales, la pesca, los problemas y/o desafíos, y las acciones que podemos tomar. Fomentar y/o resolver problemas
explícitos.
Palabras clave
Práctica pedagógica; Enseñanza de la geografía; Unidades de conservación.
Introdução
O Ensino de Geografia por meio da realização de práticas pedagógicas pode
potencializar os conhecimentos prévios adquiridos nas experiências do cotidiano dos
estudantes, e estimular a participação deles nas discussões em sala de aula. Para que isso ocorra,
torna-se essencial a utilização de recursos didáticos que proporcionem uma maior compreensão
dos conteúdos geográficos por meio de um processo de aprendizagem lúdico e significativo.
Entre os recursos didáticos, podemos destacar a construção de um mural didático-
pedagógico enquanto ferramenta para potencializar o processo educativo. Nessa perspectiva,
considerando a relevância da utilização de recursos didáticos nas aulas de Geografia, este
trabalho tem por objetivo discutir como os murais produzidos pelos estudantes do 9º ano nas
aulas de Geografia possibilita aos mesmos compreenderem a relevância da Unidade de
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Conservação (UC): Reserva Extrativista Marinha da Lagoa do Jequiá – RESEX no seu lugar
de vivência.
A pesquisa empírica foi realizada entre os meses de outubro e novembro de 2022, na
Escola Municipal de Ensino Fundamental José Cursino dos Santos, no município de Jequiá da
Praia, estado de Alagoas. A realização da Oficina Pedagógica contou com a participação de 63
estudantes, distribuídos entre as turmas dos 9º anos A, B e C da referida escola.
O trabalho apresenta uma abordagem teórica sobre o Ensino de Geografia dialogando
com autores como Callai (2005), Cavalcanti (2015), Santos e Vilar (2020). O conceito de Lugar
com Relph (1979), Cavalcanti (1998) e Callai (2005). Além destes, dialoga-se acerca da
Reserva Extrativista e as Comunidades Tradicionais. (Brasil, SNUC, 2011)
Nesse sentido, é importante reforçar que o presente trabalho realiza uma análise sobre a
Unidade de Conservação Reserva Extrativista Marinha da Lagoa do Jequiá, considerando a
percepção dos estudantes sobre o lugar de vivência deles. Os quais, evidenciaram em seus
respectivos murais, uma abordagem sobre a referida UC evidenciando aspectos relacionados à
importância da UC, a utilização dos recursos naturais, espécies de animais encontradas dentro
da RESEX, pesca (especialmente no que se refere aos apetrechos utilizados nas atividades
pesqueiras), problemas e/ou desafios, e as ações que podem ser realizadas para amenizar e/ou
solucionar os problemas evidenciados.
Diante do exposto, o presente estudo apresenta parte dos resultados obtidos através da
Dissertação intitulada “A RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DA LAGOA DO
JEQUIÁ/AL E SUAS POTENCIALIDADES PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA”,
desenvolvida no Programa de Pós Graduação em Geografia, da Universidade Federal de
Alagoas.
Nessa perspectiva, a presente pesquisa evidencia a análise dos murais produzidos pelos
estudantes demonstra a percepção deles acerca da referida UC evidenciando aspectos
relacionados à importância da UC, a utilização dos recursos naturais, espécies de animais, pesca
(apetrechos), problemas e/ou desafios, e as ações que podem ser realizadas para amenizar e/ou
solucionar os problemas explicitados.
Conhecendo a Reserva Extrativista Marinha da Lagoa do Jequiá
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A Reserva Extrativista Marinha da Lagoa de Jequiá foi criada para atender à solicitação
da própria comunidade por meio do Decreto s/n.º de 27 de setembro de 2001, com intuito de
garantir as atividades desenvolvidas pela população tradicional, baseadas na pesca artesanal e
proteger o meio ambiente. Dentre as categorias das Unidades de Conservação, a UC deste
estudo, é considerada uma Reserva Extrativista:
[...] área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-
se no extrativismo e, [...], e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a
cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da
unidade (Brasil, SNUC, Art.º 18, 2011, p. 12-13).
Refletir sobre Jequiá da Praia, enquanto município que possui dentro de seus limites
uma UC, sendo essa, uma Reserva Extrativista, é conjecturar sobre um panorama que expõe
um cenário socioambiental. Nessa perspectiva, segue abaixo as figuras de Localização e
delimitação dos limites do município de Jequiá da Praia/AL e da Reserva Extrativista Marinha
da Lagoa do Jequiá/AL:
Figuras 1 e 2 – Localização e delimitação dos limites do município de Jequiá da Praia/AL e
da Reserva Extrativista Marinha da Lagoa do Jequiá/AL
Fonte: Autoras, 2022.
A referida UC, abrange uma área de aproximadamente 10.203,90 ha, sendo parte em
terrenos de manguezais e parte de águas territoriais brasileiras (Brasil - ICMBio, 2022),
incluindo em sua jurisdição toda a lagoa, o rio (canal) e até três milhas náuticas da costa do
litoral do município de Jequiá da Praia/AL. Vale salientar que a lagoa Jequiá é extremamente
relevante para o supracitado município, tendo em vista que a mesma é responsável por
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desenvolver as duas atividades tradicionais mais simbólicas para a população local: a pesca
artesanal
3
e o turismo de base comunitária
4
.
Considerando a relevância da supracitada unidade, apresentaremos a seguir registros
fotográficos da RESEX Lagoa do Jequiá:
Figuras 3, 4, 5, 6, 7 e 8 – Registros da RESEX Lagoa do Jequiá
3
Apesar de não existir um consenso para a definição de “Pesca Artesanal”, em matéria publicada em seu site, o
Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, enfatiza que “pesca artesanal é uma atividade realizada
por pessoas que vivem em comunidades e que realizam pesca em pequena escala, sem visão comercial e/ou de
exportação de grandes proporções. Eles pescam apenas para o consumo da própria família e para vendas locais”.
Ver matéria completa em: https://www.gov.br/dnocs/pt-br/assuntos/noticias/pescadores-artesanais-conheca-o-
trabalho-desses-profissionais-que-vivem-da-pesca-e-mantem-uma-relacao-de-carinho-com-a-natureza
4
“O turismo de base comunitária, portanto, tende a ser aquele tipo de turismo que, em tese, favorece a coesão e o
laço social e o sentido coletivo de vida em sociedade, e que por esta via, promove a qualidade de vida, o sentido
de inclusão, a valorização da cultura local e o sentimento de pertencimento. Este tipo de turismo representa,
portanto, a interpretação “local” do turismo, frente às projeções de demandas e de cenários do grupo social do
destino, tendo como pano de fundo a dinâmica do mundo globalizado, mas não as imposições da globalização.”
IRVING, M. de A. Reinventando a reflexão sobre turismo de base comunitária. In: Bartholo, R, et. al Turismo
de Base Comunitária diversidade de olhares e experiências brasileiras. p. 108-121, 2009.
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Fonte: Autoras, 2022.
Nas figuras 4 e 5, observa-se registros fotográficos do canal (rio Jequiá) e os manguezais
às margens do mesmo. Nas figuras 6 e 7, evidenciamos as belezas do litoral de Jequiá da Praia,
considerando que a RESEX também abrange a faixa litorânea dos limites do município.
Outrossim, nas figuras 8 e 9, é apresentado em destaque a presença dos jiraus às margens do
rio Jequiá e pescadores realizando atividades pesqueiras sobre ele. Nessa perspectiva,
evidenciamos a essencialidade de traçar caminhos de diálogos da UC com o Ensino de
Geografia, evidenciando as potencialidades da inserção de discussões a respeito dela no
processo de ensino-aprendizagem.
Unidades de Conservação e Ensino de Geografia
Sendo assim, corrobora-se com Santos e Vilar (2020, p. 228) ao salientar a necessidade
de que o ensino de Geografia seja “[...] propício para o desenvolvimento do processo de ensino-
aprendizagem com vistas à cidadania e às demandas contemporâneas”. Demandas, as quais
incluem refletir sobre a UC e as possibilidades de uma Educação Ambiental apreendida pelos
estudantes ao discutir o lugar de vivência deles nas aulas de Geografia. Nesse sentido,
abordaremos mais adiante, uma reflexão a respeito dos temas acima mencionados (Educação
Ambiental e o conceito de Lugar, visando entrelaçar as discussões que permeiam a referida UC.
Neste contexto, Callai (2005, p. 228-229) salienta que o Ensino de Geografia deve “[...]
ler o mundo da vida, ler o espaço e compreender que as paisagens que podemos ver são
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resultados da vida em sociedade, dos homens na busca da sua sobrevivência e da satisfação das
suas necessidades”.
Neste contexto, ao discutirmos o lugar de vivência dos estudantes no Ensino de
Geografia, estamos possibilitando que eles construam conhecimentos geográficos
significativos, corroborando para que eles consigam ler e interpretar o mundo. Entretanto, faz-
se necessário, que a Geografia Escolar dialogue com os estudantes, considerando os
conhecimentos prévios deles, suas interpretações e representações.
Quando representamos as experiências dos estudantes em sala de aula, o Ensino de
Geografia torna-se mais interessante para eles, pois reflete sobre sua própria realidade,
dialogando sobre os contextos sociais e ambientais que estão diretamente envolvidos com o
cotidiano desses estudantes. Desse modo, a utilização de recursos didáticos como o mural
didático-pedagógico viabilizou os estudantes refletir sobre a Reserva Extrativista Marinha da
Lagoa do Jequiá, possibilitando a construção dos conhecimentos geográficos, notadamente do
lugar em que estão imersos, isto é, sua comunidade tradicional.
Neste contexto, destaca-se a pesquisa de Santos et al. (2020), sobre Unidades de
Conservação como espaços educativos para a Geografia Escolar, a qual, salientou que uma
parte significativa dos professores participantes da mesma não utilizam e/ou frequentam UCs
para práticas de Ensino na Geografia. Segundo os autores, esses docentes possuem práticas de
ensino restritas aos muros da escola, impedindo que eles tenham “[...] sua própria autonomia e
traçarem novas pedagogias que lhes sejam viáveis e pertinentes” (Santos, et al., 2020, p. 39).
Compreendemos nesse estudo a necessidade de discutir o conceito de lugar. Segundo
Giometti et al. (2012, p.34) “o lugar é resultado de significados construídos pela experiência,
ou seja, trata-se de referenciais afetivos desenvolvidos ao longo de nossas vidas”. Por esse
motivo, a concepção de pertencimento com o município de Jequiá da Praia e a Laguna Jequiá
pelos estudantes, assume uma relevância nas discussões que são impostas nesta pesquisa.
Afinal, é essencial considerarmos que:
[...] lugar significa muito mais que o sentido geográfico de localização. Não se refere
a objetos e atributos das localizações, mas a tipos de experiências e envolvimento com
o mundo, a necessidade de raízes e segurança (Relph, 1979, p. 156)
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Ao analisar a categoria lugar, evidenciamos Castrogiovanni (2017) ao enfatizar que o
lugar é uma fração do espaço totalidade, por esse motivo, ao buscar se trabalhar a ideia do lugar,
automaticamente, devemos considerar o significado que o mesmo tem para os estudantes, assim
como, os sentimentos e as representações dos mesmos. Segundo os apontamentos de Callai
(2005) o estudo do lugar viabiliza a leitura do mundo pois, compreende-se que os lugares
possuem significados diferentes para cada indivíduo, mediado pelas experiências por eles
vivenciadas.
Nessa perspectiva, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), enfatiza que:
Estudar Geografia é uma oportunidade para compreender o mundo em que se vive, na
medida em que esse componente curricular aborda as ações humanas construídas nas
distintas sociedades existentes nas diversas regiões do planeta. Ao mesmo tempo, a
educação geográfica contribui para a formação do conceito de identidade, expresso de
diferentes formas: na compreensão perceptiva da paisagem, que ganha significado à
medida que, ao observá-la, nota-se a vivência dos indivíduos e da coletividade; nas
relações com os lugares vividos; nos costumes que resgatam a nossa memória social;
na identidade cultural; e na consciência de que somos sujeitos da história, distintos
uns dos outros e, por isso, convictos das nossas diferenças (Brasil, 2018, p. 359).
Isso posto, acreditamos que a Geografia assume um caráter essencial ao contribuir com
a formação de indivíduos estabelecendo relações deles com seus lugares vividos, costumes e
sua própria identidade cultural. Pois conforme aponta Cavalcanti (2015, p. 143), “[...] A escola
e a Geografia escolar precisam se empenhar em formar estudantes com capacidade para pensar
cientificamente e para assumir atitudes ético-valorativas”, na qual a Geografia Escolar deve
exercer um papel social na vida dos estudantes.
Para a autora, a Geografia Escolar é construída nas atividades diárias realizadas por
estudantes e professores, por este motivo, o processo de construção da Geografia dentro da
Escola possibilita a construção de conhecimentos sobre o que é produzido, tornando-o assim,
conhecimentos geográficos. Desse modo, a prática cotidiana dos estudantes é, segundo
Cavalcanti (2015, p. 130) “[...] plena de espacialidade e de conhecimento dessa espacialidade”.
Diante do exposto, observa-se a notória importância das representações sociais dos
estudantes para a formação de conceitos, através do compartilhamento de vivências e
conhecimentos individuais, à medida que eles possuem elementos para proporcionar uma
aprendizagem significativa.
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Nessa perspectiva, verifica-se a necessidade de discutir as temáticas propostas pela
BNCC incorporadas no currículo escolar, as propostas pedagógicas, e a abordagem de temas
contemporâneos que afetam a vida humana em escala local, regional e global,
preferencialmente de forma transversal e integradora, conforme aponta o referido documento.
Entre esses temas, destaca-se a Educação Ambiental (Lei n.º 9.795/1999, Parecer
CNE/CP n.º 14/2012 e Resolução CNE/CP n.º 2/201218). O qual, segundo a Política Nacional
de Educação Ambiental, define Educação Ambiental como sendo:
[...] os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade (Brasil, Lei n.º 9.795/1999).
Ainda de acordo com a Lei n.º 9.795/1999, a Educação Ambiental deve ser vista como
um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma
articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-
formal. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental:
A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional da
prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em
sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando potencializar essa
atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social e de ética
ambiental (Brasil, 2012, Resolução n.º 2, de 15 de junho de 2012, Art.º 2).
Diante deste aspecto, a Geografia Escolar e a Educação Ambiental assumem caminhos
que se aproximam, à medida que a Geografia enquanto ciência e disciplina potencializa as
propostas presentes na Educação Ambiental, uma vez que concilia seus principais objetivos
com sua própria constituição e afirmação, visando a construção do pensamento social e crítico
dos sujeitos. Partindo dessa perspectiva, questiona-se: qual disciplina iria dialogar de forma tão
pertinente e com tanta propriedade nesse interessante entrelaçamento senão nossa Geografia?
É o que se verifica nas ideias de Araújo (2021) ao enfatizar que a articulação entre o
Ensino de Geografia e a Educação Ambiental é responsável por proporcionar a discussão
teórica e metodológica de forma correta no que se refere à relação sociedade e natureza. Para o
autor, a Geografia pode contribuir para essa correlação à medida que a mesma se encontra
aproximada com as discussões envolvendo as problemáticas ambientais.
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Dessa forma, evidenciamos as potencialidades do Ensino de Geografia ao trabalhar a
Educação Ambiental, ancorando-se em premissas educativas, sociais, ambientais e culturais, as
quais norteiam este estudo.
Metodologia
Para realização desta pesquisa, utilizamos a Pesquisa Ação Participativa, a qual
Thiollent (1986, p. 14) define como sendo:
[...] pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita
associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os
pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão
envolvidos de modo cooperativo ou participativo.
A pesquisa ação participativa possibilitou a realização de Oficinas Pedagógicas. Em
Baalbaki e Teixeira (2014, p. 90), os autores apontam que a palavra oficina nos reporta a sua
“[...] origem latina (officina), significa lugar em que há grandes transformações”. Nesses
termos, as oficinas pedagógicas apresentam possibilidades para que os estudantes vivenciem
situações concretas e significativas de aprendizagem.
Enquanto procedimentos metodológicos, realizamos o levantamento bibliográfico, a
respeito das temáticas mencionadas anteriormente, enfatizando o Ensino de Geografia (Callai,
2005; Cavalcanti, 2015; Santos e Vilar, 2020), o conceito de Lugar com (Relph, 1979;
Cavalcanti, 1998; Callai, 2005). Além destes, dialoga-se acerca da Reserva Extrativista e as
Comunidades Tradicionais (Brasil, SNUC, 2011).
A oficina pedagógica com a produção de murais e análise dos mesmos considerando os
aspectos abordados pelos estudantes e sua relação com seu lugar de vivência. A respeito dos
aspectos supracitados, evidenciamos a importância da UC, a utilização dos recursos naturais,
espécies de animais, pesca (apetrechos), problemas e/ou desafios, e as ações que podem ser
realizadas para amenizar e/ou solucionar os problemas explicitados.
Como sujeitos da pesquisa, tivemos a participação total de 63 estudantes de três turmas
dos 9º anos A, B e C da Escola Municipal José Cursino dos Santos nas oficinas. A referida
Escola (Figura 9) está localizada no centro de Jequiá da Praia, às margens do rio Jequiá,
situando-se próxima aos limites da RESEX Marinha da Lagoa do Jequiá. Vale salientar que os
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estudantes, professores e demais profissionais da referida escola mantém um contato diário com
a RESEX, pois faz parte do percurso para chegar a mesma.
Ademais, destaca-se a presença de estudantes que moram em torno da RESEX, logo,
fazem parte da comunidade tradicional local, uma vez que em sua maioria são filhos e netos de
pescadores.
Figura 9 – Localização da Escola José Cursino dos Santos
Fonte: Google Earth
Fonte: Autoras, 2022.
A proposta de envolver os estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental 2, deve-se
a dois fatores importantes, o primeiro deles, é que a Escola escolhida para fazer parte da
pesquisa localiza-se no entorno da UC. E a segunda, é que 76% desses estudantes possuem
familiares que são pescadores e estão intimamente ligados a RESEX do Jequiá, embora na
maioria das vezes não disponham dos distintos conhecimentos em relação a mesma.
A atividade de confecção do Mural didático-pedagógico foi construída em duas partes.
Conforme detalhamento abaixo:
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AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
NASCIMENTO, Livia Danielle Rodrigues do; SANTOS, Maria Francineila Pinheiro dos. Os Murais enquanto Prática Pedagógica no Ensino
de Geografia: evidenciando a RESEX Marinha da Lagoa do Jequiá, Jequiá da Praia, Alagoas, Brasil. Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 10,
nº 23, e102310, 2024.
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Quadro 1- Cronograma de realização das Atividades
ETAPA
Atividade desenvolvida
DATA (ANO DE 2022)
9º ANO A
9º ANO B
1
Elaboração dos elementos prévios no mural
pela pesquisadora
03/10 a 07/10
2
Construção do Mural
21/10
28/10
Fonte: Autoras, 2024.
Inicialmente, na Etapa 1, a pesquisadora realizou a junção de quatro cartolinas para o
mural didático-pedagógico, bem como, realizou a colagem e a descrição do ICMBio e da
RESEX Marinha da Lagoa do Jequiá.
Além dos itens elencados, também foi colocado previamente, o mapa de localização do
município de Jequiá da Praia/AL, assim como, os aspectos que seriam preenchidos pelos
estudantes presencialmente. No que se refere aos aspectos acima elencados, observa-se o
Quadro 02:
Quadro 2 - Aspectos que serão abordados no Mural
RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DA LAGOA DE JEQUIÁ
IMPORTÂNCIA
A
UTILIZAÇÃO
DOS RECURSOS
ESPÉCIES
DE ANIMAIS
PESCA
(APETRECHOS)
PROBLEMAS
E/OU
DESAFIOS
AÇÕES QUE PODEM
SER REALIZADAS
PARA AMENIZAR E/OU
SOLUCIONAR ESTES
PROBLEMAS
Fonte: Autoras, 2022.
Os temas acima elencados foram recortados em vários “cartões” e colocados em um
envelope, na dinâmica da atividade, cada grupo pegava aleatoriamente uma das temáticas e
buscava preenchê-la no mural, evidenciando o item da temática e um desenho que representasse
o mesmo.
A base empírica para a identificação dos aspectos importantes que seriam abordados
nessa atividade leva em consideração três aspectos essenciais: primeiramente, a pesquisadora
principal da pesquisa é filha de pescadores tradicionais e reside no supracitado município,
compreendo assim, a realidade local. Em segundo lugar, devido as experiências da pesquisadora
no Estágio realizado durante o ano de graduação na respectiva Unidade de Conservação (2017-
2019). Por fim, ressalto ainda as experiências pedagógicas enquanto professora de Geografia
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da supracitada Escola (2021-2022). Tais experiências contribuíram fortemente para o interesse
no desenvolvimento de ações de cunho educativo direcionadas a Reserva Extrativista Marinha
da Lagoa do Jequiá, as quais, serão discutidas a seguir a partir das potencialidades de utilização
do mural didático-pedagógico no Ensino de Geografia.
As potencialidades do mural didático-pedagógico no Ensino de Geografia
Para os autores Gomes e Martins (2021, p. 164), os murais constituem “[...] artefatos
pedagógicos encontrados com frequência nas escolas brasileiras, como exposição de práticas
diversas utilizadas no ensino, e que possuem como característica básica o trabalho coletivo e
expressivo dos estudantes”. Desse modo, os murais constituem uma forma de socialização dos
conhecimentos produzidos em sala de aula sobre uma determinada temática, que possibilitam
representar as discussões realizadas e compartilhar entre os demais colegas de turma. Desse
modo, os murais produzidos e apresentados nesse estudo possuem como finalidade principal
socializar as discussões realizadas em sala de aula sobre a Reserva Extrativista Marinha da
Lagoa do Jequiá, visando promover uma aprendizagem colaborativa e significativa aos
estudantes.
Dessa forma, é incontestável que as atividades realizadas com a participação dos
estudantes possuem uma maior probabilidade de potencializar o processo de aprendizagem,
uma vez que, quando o estudante participa da construção de uma atividade, especialmente no
que se refere à construção de um mural, desencadeia um sentimento de valorização das
experiências realizadas.
A idealização dos murais enquanto exposição de práticas dialoga com os apontamentos
de Camargo e Daros (2018), onde em seu livro intitulado “A Sala de Aula Inovadora:
Estratégias Pedagógicas para Fomentar o Aprendizado Ativo”, dentre as estratégias
mencionadas pelos autores, destaca-se o mural de fatos e notícias, considerando que a referida
estratégia:
[...] permite aos alunos discutirem ou debaterem assuntos relacionados com
determinado tema, notícia ou fato real. Pode-se, ainda, solicitar que os alunos façam
o exercício de buscar subtemas a partir do tema proposto. O objetivo é proporcionar
uma visão maior a respeito do tema ou assunto, formando ideias e conceitos a serem
aprofundados em outra atividade (Camargo; Daros, 2018, p. 138).
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Ainda segundo os autores, os murais possibilitam o desenvolvimento das competências
através do trabalho coletivo na construção do processo de ensino-aprendizagem, tais como:
Comunicação, Argumentação, Troca de informações, Análise e comparação, Associação e
desenvolvimento de ideias.
Considerando as competências acima mencionadas, observamos que a construção de
um mural é uma excelente oportunidade para trabalhar nas aulas de Geografia as representações
dos estudantes sobre os aspectos presentes da RESEX, especialmente sobre a importância e os
problemas ambientais presentes da referida UC. Cada desenho com sua respectiva legenda
anexado no mural possibilita concretização das reflexões realizadas ao longo da Oficina
Pedagógica. Desse modo, a construção do mural permitiu os estudantes expressarem suas
percepções acerca da UC, partindo das experiências vivenciadas por eles na supramencionada
Unidade de Conservação.
Através do mural didático-pedagógico, buscamos trabalhar as temáticas mencionadas
anteriormente de modo individual com cada estudante e entre os demais colegas de classe, de
forma dinâmica e interativa, por meio de uma união entre as respostas e confecção dos
desenhos.
Nesse sentido, ressalta-se a confecção de três murais, sendo um elaborado por cada
turma (9º ano A, B e C). A princípio, iremos expor os aspectos dos murais que denotam a
importância da RESEX segundo os apontamentos das turmas:
Figuras 10 A, B e C: A importância da RESEX evidenciada nos Murais das turmas A, B e C
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Fonte: Autoras, 2022.
De acordo com os estudantes da turma do 9º ano A, a importância da RESEX está
vinculada ao lazer, à fonte de renda e ao consumo de alimentos. Enquanto isso, os estudantes
do 9º ano B evidenciaram que a importância da RESEX está relacionada ao amparo das
espécies, especialmente no que se refere à proteção do período de reprodução dos peixes, ou
ainda, para a limpeza e a realização de atividades de pesca no município. Por fim, estudantes
do 9º ano C, salientaram a importância da supracitada unidade como fonte de renda, para o
consumo de peixes e a preservação do meio ambiente.
Um aspecto relevante que está presente nos apontamentos das 3 turmas participantes da
pesquisa, é o fato de os estudantes relacionarem a importância da Reserva Extrativista Marinha
da Lagoa de Jequiá a fonte de renda, especialmente no que se refere à pesca. Assim, vale
enfatizar que “[...] um lugar é sempre cheio de história e expressa/mostra o resultado das
relações que se estabelecem entre as pessoas, os grupos e também das relações entre eles e a
natureza” (Callai, 2005, p. 8). Segundo a autora, é possível observar distintas formas de
desvendar a história do espaço, considerando a histórias das pessoas que vivem ali.
Isso mostra o quanto a referida atividade pesqueira é importante para a população do
município de Jequiá da Praia e para os estudantes, sujeitos da nossa pesquisa, que muitas vezes
veem na atividade pesqueira a fonte de sustento e alimento de suas famílias.
Em concordância com esse cenário, ao questionar os estudantes sobre a utilização dos
recursos, obteve-se o seguinte panorama:
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Figuras 11 A, B e C: A utilização dos recursos da RESEX evidenciada nos Murais das
turmas A, B e C
Fonte: Autoras, 2022.
Na turma do 9º ano A, os estudantes evidenciaram no mural apenas o turismo. Em
contrapartida, os estudantes da turma do 9º ano B além de expor os passeios (turismo) no mural,
ressaltaram ainda que a RESEX é utilizada para a pesca e lazer. Além disso, os estudantes do
9º ano C afirmaram que o uso da RESEX está atrelado à pesca, ao banho, a passeios/turismo e
ao lazer.
No que se refere ao detalhamento das espécies de animais (especialmente as espécies de
peixes), nota-se o seguinte cenário:
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Figuras 12 A, B e C: As espécies de animais (e peixes) da RESEX evidenciada nos Murais
das turmas A, B e C
Fonte: Autoras, 2022.
Os estudantes da turma do 9º ano A apontaram nos murais algumas espécies de animais
(e peixes), as quais destacam-se: cobra, siri, camarão, cágado, tartaruga marinha, garça, lontra,
jacaré, caranguejo, peixe-boi, muçum, e espécies de peixes como a tinga, soia, tucunaré. No 9º
ano B, os estudantes relataram a presença de tartaruga, moreia, jacaré, camarão, arraia, tubarão,
cágado, cobra, caranguejo, ostra, como também, peixes, a exemplo da carapeba, curimãn,
bonito, tucunaré, tilápia e agulhinha. Os estudantes do 9º C, evidenciaram a garça, cobra,
lagosta, e espécies de peixes: a carapeba, tinga, tucunaré, tilápia, e outros animais, como o siri,
camarão, caranguejo.
A maior parte das espécies detalhadas pelos estudantes estão vinculadas possivelmente
com o fato destas espécies encontrar-se presente no dia a dia desses estudantes, estão presente
em suas refeições e nas atividades de fonte de renda, como nos peixes (onde relatam peixes de
águas doces e salgadas, evidenciando a pesca na lagoa/rio, como também no mar), e outras
espécies como o siri e o camarão. A aproximação dos estudantes com a RESEX é nítida a partir
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do rico detalhamento das espécies de peixes mencionadas por eles. Esse aspecto está presente
também da descrição dos apetrechos de pesca informados pelos estudantes, conforme apresenta
a Figura 13:
Figuras 13 A, B e C: Apetrechos de pesca utilizados na RESEX evidenciada nos Murais das
turmas A, B e C
Fonte: Autoras, 2022.
Os estudantes do 9º ano A evidenciaram no mural a tarrafa, o anzol, a vara, a rede, o
arpão, o covo, o barco, a teteia, ticuca e a balsa. Enquanto isso, os estudantes do 9º ano B
informaram a vara, a tarrafa, o covo, o barco, a ticuca, a jangada, o arpão, a linha, a ratueira, o
anzol e a rede. E por fim, os estudantes do 9º ano C, que demonstraram em seu mural a tarrafa,
a rede, o covo, o anzol, a ticuca, o barco, o arpão e o jereré.
O barco e a jangada são embarcações utilizadas durante as atividades pesqueiras. A rede
e a tarrafa são os principais apetrechos utilizados para a pesca de peixes, entretanto, além desses,
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os alunos evidenciaram o anzol, a linha, a vara e o arpão. A ticuca e a balsa são apetrechos
utilizados na pesca do siri, enquanto o jereré e o covo estão direcionados à pesca de camarão.
5
Outrossim, além dos elementos acima elencados, no que refere a presença dos
problemas na RESEX, os estudantes evidenciaram em seus murais os respectivos problemas,
enfatizando os impactos ambientais na UC.
Nessa perspectiva, entende-se com impactos ambientais:
Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,
causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas
que, direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da
população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições
estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais.
(BRASIL, RESOLUÇÃO CONAMA nº 1, de 23 de janeiro de 1986)
Outrossim, as figuras abaixo evidenciam a referida abordagem elaborada pelos
estudantes:
Figuras 14 A, B e C: Problemas presentes na RESEX evidenciada nos Murais das turmas A,
B e C
5
Para melhor detalhes e informações a respeito das atividades pesqueiras no município de Jequiá da Praia/AL,
recomenda-se a leitura de CHAGAS, N. Z. As Práticas Pesqueiras na porção lagunar da Reserva Extrativista
Marinha de Jequiá da Praia – Alagoas. Instituto Federal de Alagoas - Campus Marechal Deodoro. Trabalho de
Conclusão de Curso. 77 p. 2017.
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Fonte: Autoras, 2022.
Os estudantes da turma do 9º ano A evidenciaram em seu mural a poluição, a falta de
saneamento, a pesca predatória, queimadas, óleo no mar, desmatamento de mangues e florestas.
Os estudantes do 9º ano B destacaram o óleo, o esgoto, pesca excessiva, queimadas, poluição,
desmatamento e caça ilegal. Ademais, os estudantes do 9º ano C informaram os problemas da
poluição, desmatamento, pesca excessiva, óleo, tratamento incorreto de esgoto.
Nota-se assim, que embora os murais tenham sido realizados em distintas turmas, eles
apresentam entendimentos similares, isso revela que os impactos ambientais presentes da
RESEX são evidentes e notórios, uma vez que os estudantes compartilham dos mesmos
apontamentos.
Figura 15 A, B e C: Ações que podem ser realizadas para amenizar ou solucionar os
problemas presentes na RESEX evidenciada nos Murais das turmas A, B e C
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Fonte: Autoras, 2022.
Os estudantes do 9º ano A, informaram que uma forma de mitigar os problemas na
RESEX é através da reciclagem de resíduos sólidos
6
, da realização de um período de defeso
7
e
o controle da pesca. Enquanto isso, os estudantes 9º ano B relataram as ações de plantação de
árvores, limpeza dos rios, fiscalização, assim como verificar a qualidade da água, e a realização
de saneamento básico no município. E por fim, estudantes do 9º C evidenciaram a destinação
correta do lixo, a fiscalização da pesca, proteção ao meio ambiente, preservação dos mangues
e conscientização ambiental.
Contudo, considerando os apontamentos e detalhamentos evidenciados nos murais
mencionados acima, segue abaixo registros fotográficos que contemplam uma figura geral dos
murais elaborados:
6
LEI Nº 12.305, DE 2 DE AGOSTO DE 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no
9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Art. 3
o
XVI - “resíduos sólidos: material, substância,
objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se
propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em
recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em
corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia
disponível”;
7
Período de reprodução das espécies, onde se estabelece a proibição de pesca, e os pescadores recebem um auxílio
governamental para suprir a carência da fonte de renda diante da interrupção das atividades pesqueiras.
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Figuras 16 A, B e C: Murais das turmas A, B e C, respectivamente:
Fonte: Autoras, 2022.
Os murais da figura demonstram um panorama geral dos aspectos abordados durante a
realização da Oficina Pedagógica, evidenciando temas centrais de discussão realizados entre as
turmas dos 9º anos da Escola Municipal de Ensino Fundamental José Cursino dos Santos.
Outrossim, é imprescindível ressaltar a importância dos murais enquanto recurso
didático para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem e dos conhecimentos
geográficos as quais se baseiam nas discussões estabelecidas com base nos conhecimentos
prévios dos estudantes, possibilitando uma reflexão sobre a supracitada UC e sobre sua
comunidade tradicional.
No que se refere aos estudantes, a proposta de confecção dos murais possibilitou um
aprofundamento dos conhecimentos prévios dos mesmos sobre sua própria comunidade, assim
como, uma reflexão e discussão sobre o panorama socioambiental da Reserva Extrativista
Marinha da Lagoa do Jequiá.
Considerações Finais
Este estudo foi pautado na Pesquisa-Ação-Participativa, na qual os sujeitos participantes
do mesmo não são apenas “objetos de pesquisa”, e sim, são sujeitos críticos e atuantes, os quais
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partiram da compreensão da análise da realidade vivenciada, buscando conhecer as concepções
sobre ela.
Vale salientar a aceitação e intensa participação dos estudantes das turmas A, B e C do
9ºanos da referida escola, possibilitando trocas de experiências, diálogos e a construção coletiva
do Mural, o qual denota uma representação simbólica e artística da síntese das temáticas
trabalhadas no projeto.
O Mural enquanto prática pedagógica demonstrou que os estudantes aprenderam sobre
os aspectos sociais, ambientais, econômicos e culturais da Reserva Extrativista Marinha da
Lagoa de Jequiá, evidenciando os supramencionados aspectos que estão presentes em seu
cotidiano.
Esta atividade evidenciou o quanto é importante considerar na Geografia Escolar os
conhecimentos prévios dos estudantes, pois isso facilita o diálogo, as trocas e o interesse deles
em participar da aula, envolvendo-se na construção dos conhecimentos geográficos voltados
para o lugar e a vida dos mesmos, valorizando o cotidiano dos mesmos na promoção de uma
educação participativa e cidadã.
E, por fim, a análise dos murais produzidos pelos estudantes demonstra a percepção
deles acerca da referida UC evidenciando aspectos relacionados à sua importância, a utilização
dos recursos naturais, espécies de animais, pesca (apetrechos), problemas e/ou desafios, e as
ações que podem ser realizadas para amenizar e/ou solucionar estes problemas.
Desse modo, os resultados obtidos com a realização da Oficina Pedagógica evidenciam
a participação e o envolvimento dos estudantes, e denota como os murais produzidos pelos
estudantes do 9º ano nas aulas de Geografia possibilita aos mesmos compreenderem a
relevância da Unidade de Conservação (UC).
Diante do exposto, conclui-se que a realização do Projeto Lagoa Jequiá trouxe
contribuições tanto para os professores, quanto para a escola participante, no sentido de refletir
sobre formas de aprender e ensinar Geografia, dialogando na prática com as nuances de desafios
e potencialidades de se trabalhar uma unidade de conservação no Ensino de Geografia.
Referências
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Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
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Submissão em: 05/01/2024. Aceito em: 25/05/2024.
ISSN: 2316-8544
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