Ensaios de Geografia
Essays of Geography | POSGEO-UFF
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZAR A SEGUINTE REFERÊNCIA:
ESPINDULA, Lidiane; MENDONÇA, Eneida Maria Souza. Paisagens e Sentidos Humanos: estudo metodológico na relação rio-cidade.
Ensaios de Geografia. Niterói, vol. 11, nº 24, e112410, 2024.
Submissão em: 23/01/2024. Aceito em: 23/04/2024.
ISSN: 2316-8544
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ou vista (Michaelis, 1998). A etimologia da palavra paisagem também remete ao sentido da
visão e possui significados de identidade territorial. Derivada do francês, paysage significa pay
— terra, países ou região e pagens — habitante ou morador (Machado, 2007). Essa junção
indica conceitos de unidade, de territorialidade, de traços culturais, de hábitos, resultantes da
relação ser humano e meio.
Apesar do privilégio dado ao sentido da visão no entendimento paisagístico, passando
pela representação nas artes sendo o ponto de vista um arbítrio do artista, a paisagem não é
percebida apenas pela visão; é formada de volumes, movimentos, odores, sons etc., ou seja, sua
percepção pode ser percebida por meio de outros sentidos. A audição pode revelar a percepção
dos sons de determinada região, como pássaros, cachoeiras, carros, caminhões, aviões etc. O
odor pode também caracterizar a paisagem, influenciando na percepção desta, a partir da
maresia, das flores, do lixo e do esgoto. O clima também pode interferir na compreensão da
paisagem, uma vez que em um dia chuvoso, a paisagem apreendida pode parecer bastante
distinta quando em dias de sol radiante. Além disso, a paisagem pode ser captada de maneiras
diferentes a depender, também, do humor do indivíduo, da relação e da experiência que o
mesmo tem com o espaço. Em São Paulo, por exemplo, a paisagem é percebida e definida pelas
constantes “garoas”. O clima de Londres também é bem caracterizado pela chuva, compondo a
paisagem do lugar. A paisagem das regiões praianas pode ser percebida não só pelo visível,
mas também, por exemplo, pelo cheiro da maresia. Há, portanto, diversos exemplos dessa
caracterização e percepção da paisagem por meio dos sentidos.
A paisagem também pode ser compreendida por relações sociais e culturais, como
indica Corrêa (2007), quando afirma que a paisagem urbana “permite múltiplas leituras a partir
de diversos contextos histórico-culturais, envolvendo diferenças sociais, poder, crenças e
valores” (Corrêa, 2003, p. 179).
Observa-se, então, que existem diversas abordagens e percepções de paisagem e isso se
deve aos vários campos da ciência dedicados ao seu estudo. Considerando a paisagem
diretamente relacionada à herança e à memória coletiva (Santos, 1997; Ab’Saber, 2003; Lynch,
2011) torna-se importante desenvolver formas de preservação da mesma, ante o processo de
urbanização, com o olhar voltado para os impactos antrópicos, embora reconheça-se, também,